Foi isso que esteve na minha cabeça durante os 10 minutos da viagem de comboio. Não é muito tempo, mas intrigou-me ao ponto de não ter vergonha nenhuma e de ter ficado especada a olhar para este homem e para esta bebé.
Eu, que geralmente não largo o telemóvel, borrifei-me para ele. Estava perante todo um Louvre, um momento que merecia uma contemplação inegável. O que terá acontecido a esta mãe?
Vi um pai. Um homem muito parecido com o Xzibit mas de olhos claros. Tinha em si o ar mais másculo do mundo, como se só com um braço conseguisse amochar uma multidão, mas a transmitir a doçura de uma sobremesa com culpa à mistura.
Ele era doce. Tinha a sua filha de um ano e meio (não mais) ao colo - estavam em pé no comboio. Ambos equipados para o frio. O pai de gorro e de quispo, a filha com um gorro em forma de urso, um quispo e duas calças. Não levavam carrinho. Ela estava ao colo dele. Com toda a força que o pai tinha, agarrava-a só com um braço. Sentiu-a cansada e, com a outra mão, encostou-a ao peito e sussurou-lhe algo, sonhei que disse: "descansa, bebé, descansa um bocadinho".
A bebé, silenciosa, encostou a cabeça ao peitinho do seu pai e começou a fechar os olhos. Transmitiu-me aquela sensação que temos quando chegamos a casa depois de umas férias grandes: "cheguei, é aqui que pertenço".
Segundos depois a bebé espirra e lança imenso ranho para cima da cara do seu pai e dela mesma. O pai sorri carinhosamente e, ainda com ela ao colo, procura calmamente um lenço no bolso do seu quispo. Limpou.
Voltaram a ser um só durante mais uns minutos.
Estavam só os dois. Dois que pareciam um. Um um tão bonito que senti que podia tirar pedaços da imagem com os meus olhos. Vi um monumento de amor.
O que terá acontecido a esta mãe?
Se calhar nada.
Aconteça o que tenha acontecido - se é que aconteceu alguma coisa - está bem entregue. Muito bem. Este homem só poderá ser amado por uma mulher igualmente bela e uma criança, filha de dois pais assim, tem só amor pela frente.