12.05.2014

Blogger da semana (#01) - O Copinho de Leite

Há blogs para todos os gostos, verdade? Até para pessoal que tenha fetiches esquisitos, com peças de lego, por exemplo. 
Não é o caso.

Este blog tem uma missão.



Se ainda não conhecem O Copinho de Leite, fico contente por vos dar a conhecer. É um blog alérgico à proteína do leite de vaca (APLV), tal como a minha filha. Depois do terror das análises (escrevi sobre isso aqui), encontrá-lo fez-me sentir que é possível lidar com isto de uma maneira menos dramática, caso não passe por volta dos 12 meses. 


Quais foram os primeiros sinais de que o seu filho poderia ser APLV?

A APLV tornou-se evidente aos quatro meses, quando o eczema se alastrou ao corpo todo e, também, quando comeu a primeira papa (e era não-láctea). Ficou com uma enorme crise de urticária e ligeiramente inchado. Com os conhecimentos que tenho hoje sobre a matéria, vejo que as manifestações começaram muito mais cedo. Era um bebé que não dormia (nem de dia nem de noite) e estava sempre a chorar (sobretudo depois de ter comido), dando mostras de um grande desconforto. 


Qual foi o seu processo? Análises, especialistas, retirar imediatamente tudo o que tivesse leite de vaca da dieta do seu filho e da sua quando (se) amamentou? 

O pediatra que o seguia na altura não estava minimamente sensibilizado para as questões das alergias alimentares. Por nossa iniciativa, procurámos uma alergologista que pediu análises. Os resultados foram inequívocos: alergia às proteínas do leite de vaca, em grau elevado. Eu comecei a fazer evicção total do leite e da soja, pois amamentei até ele ter um ano. 
Também consultámos um dermatologista pediátrico, por causa do estado caótico da pele. Ah, e mudámos de pediatra… duas vezes!


Sentiu que não existia informação organizada de forma útil para mais mães, nesta situação, consultarem, daí o blogue?

Eu tive a sorte de encontrar uma alergologista que me facultou toda a informação necessária, para aquela fase de “arranque”. Todavia, é um facto: não havia quase informação nenhuma disponível, com excepção de alguns sites brasileiros. Entretanto, tive conhecimento da Alimenta – Associação Portuguesa de Alergias e Intolerâncias Alimentares, o que acabou por contribuir para não me sentir uma perfeita extraterrestre. 
Sim, pode dizer-se que o blogue cumpre esse propósito. Fui incentivada por várias pessoas a fazê-lo, quiçá fartas das minhas palestras informais sobre alergia alimentar!


Qual será, na sua opinião, a percentagem de diagnósticos acertados de APLV em bebés? Poderá ter-se tornado numa "alergia da moda"?

Quiçá condicionada pela minha experiência, em que houve um diagnóstico tardio que poderia ter tido consequências muito graves, acho preferível que se coloque a hipótese de alergia alimentar, do que não se coloque de todo. 
Não creio que se trate de uma alergia da moda, trata-se de uma questão de saúde que, infelizmente, tem vindo a crescer a um ritmo preocupante. 


Considera que é um "problema" ou, apenas, uma questão de cuidado extra?

É uma condição de saúde, que exige um milhão de cuidados extra, muitos dos quais nem passam pela cabeça da maioria das pessoas. Meter um iogurte dentro de um saco fechado, antes de o deitar no lixo lembra a alguém? Pois… a nós sim. 



Se não fosse a APLV, estaria tão activamente envolvida na alimentação do seu filho, fazendo iogurtes caseiros, por exemplo?

Não, de todo. A APLV veio revolucionar por completo os hábitos alimentares e de consumo da família. 


Sente que a falta de apoio à amamentação nalguns hospitais poderá ser uma das principais causas para o despoletar da APLV visto que facilitam um contacto prematuro com o leite artificial?

Existem algumas evidências científicas que o contacto precoce com o alérgeno pode desencadear estes quadros. Porém, há muitos casos de crianças com alergias, que só ingeriram as proteínas do leite já tarde e são alérgicas na mesma. 
Concordo, todavia, que existe falta de apoio à amamentação nos hospitais. Eu senti isso e de que maneira! Valeu-me a minha obstinação e a forte convicção de que amamentar era o melhor que eu podia fazer pelo meu filho. Não estou arrependida! 


No vosso dia-a-dia, que produtos  sente que faltam para crianças com APLV?

Imensos produtos: papas, bolachas, iogurtes, leite com sabor decente, etc. A oferta ainda é muito escassa, limitativa e dispendiosa. 


O que falta fazer para melhorar a vida dos copinhos de leite?

Acho que falta “empowerment”! A criação do meu blogue é também para colmatar isso. As pessoas com alergias alimentares, os pais de crianças com alergias alimentares, têm de começar a criar um “buzz” em torno destas questões. Reclamar um lugar seguro para si e para os seus, nos meios onde estão inseridos. Têm de parar de pedir desculpa por uma condição médica, que não escolheram nem as define! 


Conselhos a futuros pais para estarem em cima do acontecimento?

Diria que, ninguém conhece tão bem os vossos filhos como vocês, mesmo que sejam pais de primeira viagem. Atenção à pele, aos cocós, aos padrões de sono, etc. Não tenham medo de parecer chatos, de fazer perguntas aos médicos, de pedir segundas opiniões, se for caso disso. 


Conselhos para mães copinhos de leite?

É importante aceitar que, por mais que nos custe, não podemos controlar tudo. Essa coisa do mundo almofadado e “milk free” não existe. 
Aligeirar a culpa que sentimos constantemente (pelo cheeseburguer que comemos aos nove meses de gravidez, pela tosse nocturna, pelos iogurtes que ficaram uma porcaria, pelo chocolate comido às escondidas deles, pelo buraco na camada de ozono… ) também é importante. 

Obrigada, mãe Copinho de Leite, pela disponibilidade não só para a entrevista, mas também para ajudar outras mães!

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