7.03.2017

Vais ficar viciado no colo.



Vais ficar viciado no colo. Na mama. Nas minhas mãos que te confortam até adormeceres. Nos meus beijinhos pelo corpo todo logo pela manhã. No facto de assim que choras eu pegar em ti e mostrar-te que estás em segurança. Em adormeceres na nossa cama de madrugada quando tens noites mais agitadas. É isto que me dizem de ti, filho. Que tens um mês de vida mas já tens manha, que sabes manipular-nos a fazermos o que queres. Que vais ser uma criança dependente. 

És o meu primeiro filho, não sei se estou a fazer tudo bem ou tudo mal. Estou a fazer o melhor que sei. A seguir o meu instinto. Aquilo a que já quase ninguém dá importância. Preferem regular-se por horários, biberons, regras estipuladas e choros constantes. Eu prefiro seguir o amor. Porque dar-te colo quando choras, alimentar-te quando queres e mostrar-te que estás em segurança quando acordas no meio da escuridão e do silêncio, é fazer-te crescer com amor. E o amor é a base de tudo. Pelo menos de tudo o que está certo. É a base de uma infância feliz, das hormonas que te dão leite, de uma família equilibrada e de adultos conscientes e humanos. É o amor que vence sempre. Qualquer luta ou batalha, qualquer medo que se atravesse à nossa frente. 

Fala-se tanto de traumas de infância, de adolescentes rebeldes, de psicoterapeutas para resolver problemas psicossomáticos, de dizer sim ou dizer não. Mas continuamos a cruzar-nos com pessoas que assim que olham para nós decidem aconselhar “não o habitue ao colo”, “deixe-o acalmar-se sozinho”, “não lhe dê mama sempre que quiser, senão não quer outra coisa”, e tantas outras barbaridades. Pais que se queixam de não compreender os filhos, mas que os deixam horas a chorar no berço ignorando completamente os pedidos dos mesmos. Que fazem cursos pré-parto, pesquisam todos os sites possíveis, lêem todos os livros sobre bebés, mas ignoram tudo porque a vizinha lhes disse que as teorias estão todas erradas.

Não sei se tens manha, se me manipulas, se já vens ensinado, se nunca mais vais adormecer sozinho ou aos dez anos ainda vais queres passar a madrugada na minha cama. Mas sei do que precisas agora. Do que me pedes. Do medo que tens do escuro e do silêncio. Do colo que te faz já sorrir para mim. Do amor que tenho para te dar e da segurança que me exiges. É por isso que vamos ignorar o mundo à nossa volta e crescer os dois no que é certo para nós, no que nos faz felizes, com ou sem manha, mas com muito colo pelo meio.





Joana Diogo
A Joana escreve no O que vem à rede é peixe
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19 comentários:

  1. Que texto tão bonito... Também nunca deixei de dar colo ou de ir sempre em auxílio da minha filha sempre que ela precisava só porque algumas pessoas me diziam que devia fazer o contrário. O nosso instinto é tudo. Ser mãe não é regermo-nos por teorias, é fazer o que o nosso coração acha melhor

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  2. É isto mesmo!

    "Os bébés têm manha, não lhe pegues sempre que chora, não o ponhas na tua cama, não o adormeças ao colo, não apareças logo que começa a chorar, deixa-o chorar..." Tanta Barbaridade junta!!!

    Sónia Barreto

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  3. Porque é que agora publicam posts de outro blog?!

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    1. Fazemos isto há bastante tempo. São colaborações. :) [também há sites que publicam textos nossos, com o nosso consentimento, claro].

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    2. Também me faz muita confusão, se eu quisesse acompanhar esse blog seguia-o como sigo o vosso. Mas pronto, your blog, your rules.

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  4. Parabéns por estas palavras! É isto mesmo que eu sinto.... E é tão bom tê-los no nosso colo e sentir o seu cheirinho��

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  5. O meu filho tem 20 meses e estou gravida de 33 semanas, com gravidez de risco nao lhe posso pegar e cuidar dele e a verdade e que acho que nota esta a comer pior, dormir pior e faz muito mais birras e a familia diz deixa o chorar ate que se cale, isso nunca.

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  6. Texto muito bonito.
    Anonima Catarina

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  7. Actualmente, os pais preparam-se para a maternidade/paternidade quase como se se estivessem a preparar para um exame ou a preparar provas de doutoramento... Lêem tudo, fazem cursos de preparação pró-parto e cursos pós-parto, e workshop sobre a fralda, o biberão, a amamentação, o BLW, o sono, e sei lá mais o quê... E complicam muito!
    Credo! A maternidade é tão natural como a nossa própria existência; acompanha-nos desde o início dos tempos... Relaxem um pouco; não são precisas muitas teorias e filosofias... A maternidade é um processo constante de aprendizagem muito baseada na tentativa/erro, tal como tudo na vida, de resto... E em que há dias em que corre tudo bem e outros em que parece que corre tudo mal.

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    1. Concordo tanto com este comentário :)

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    2. Gostaria de não ter errado tanto com os meus filhos, como gostaria que a minha mãe não tivesse errado tanto. Não sei o que é BLW, mas sei que perdi um primo quando os pais erraram ao aquecê-lo demais, sem saberem que isso propicia a morte súbita. Nem sempre a tentativa/erro é a melhor estratégia, sobretudo quando os erros são detectáveis muitos anos depois. A maternidade acompanha-nos desde o início dos tempos e a cultura, racionalidade e transmissão de conhecimentos também. Há coisas em que consigo ir contra o socialmente aceite, outras não. Há 12 anos ninguém escrevia que os bebés devem andar o dia todo ao colo e muito menos que não há problema em os bebés dormirem a noite toda com os pais. Consegui parir os filhos em casa (ouvindo chamarem-me assassina, entre outras beldades...) mas não dispensei o máximo de segurança que me era acessível: cursos pré-parto e pós-parto, o máximo de informação escrita e muita conversa com a enfermeira que me viria a acompanhar. A maternidade é natural e a segurança através do conhecimento (informação filtrada criticamente) também é natural. Se o conhecimento prático já não vem da experiência porque já não se têm 8 ou 9 filhos como antes, pode vir através de workshops. Assim esses 1 ou 2 de agora terão menos probabilidade se virem a levar com erros como muitos dos 8 ou 9 de antes...

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  8. Sou mãe há um mês. Estaria rica se recebesse um euro por cada bitaite idiota recebido. Toda a gente acha que pode vir visitar e opinar. Deve ser a única fase da vida em que é socialmente aceitável fazerem-se de convidados. E depois opinar.
    Rita

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  9. O seu texto fez-me o clic. Não sou de deixar o bebé chorar, mas a sociedade está smp com essa conversa, então passo os dias numa luta interna em pergar ou não pegar ao colo quando chora. Acabo sempre por pegar ao colo, como é óbvio e fico smp a pensar: " pq que não pegaste mais cedo?". Mas é isso que tenho de fazer...para o bem da minha sanidade mental. Um bem haja.

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  10. Fantástico! Limpo, claro... escrito e descrito de uma forma assombrosamente amorosa.
    Obrigada por esta partilha que me aqueceu o coração.

    A Mulher do 31 | Blog | Instagram | Facebook

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  11. Colo, muito colo. Maminha para os acalmar e os nutrir. E muitos miminhos, muito contacto físico. Esta é a natureza que tantos tentam contrariar. Nestas coisas, a evolução não entra porque nascemos desprotegidos e totalmente dependentes. Adorei o texto.

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  12. Obrigada Joana, podia ter sido escrito por mim porque é exatamente este amor ❤️ infindável que sinto! Obrigada ��

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  13. Sandra Almeida6:50 da tarde

    Obrigada por fazer parte da mentalidade sa...

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  14. Muito bom texto

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  15. Eugénia Nunes2:18 da tarde

    Concordo inteiramente! Mais amor, por favor ❤️

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