Aos pouquinhos o meu coração ia (achava eu) ficando preparado para este dia. A Irene começou a falar muito cedo (pelo menos é o que diz toda a gente que a ouve, mas sei que não há datas certas para os desenvolvimentos deles, em contrapartida só ontem começou a ponderar aprender subir para o sofá - brincadeira) e, aos poucos, lá anda a fazer frases mais complexas. Derreto-me toda a ver o cérebro dela a trabalhar e a conjugar alguns verbos pela primeiríssima vez.
Desde o "tenho frio" que aconteceu numa noite há alguns meses e que me deixou muito descansada (finalmente) em relação à temperatura, agora foi este diálogo que me espetou uma faca de pão no coração:
- A mãe volta? - isto enquanto hoje de manhã me via a preparar-me para sair.
- Claro que volta, bebé. Volta todos os dias e dá muitos muitos? Beijinhos! - uma "lenga-lenga" nossa para, no meu regresso ao trabalho, a ajudar a desdramatizar a coisa.
- Não. "A mãe volta", não! - Zangada e a olhar para baixo.
- A mãe tem de ir trabalhar para ganhar dinheirinho para fazer compras. - outra parte da "lenga-lenga".
- Não! Dinheirinho e compras não!
- Ó meu amor, então? O que queres?
- Mãe fica em casa! Mãe fica em casa!
Seguiu-se um silêncio grande em que... ouvi aquelas palavras que nunca quis ouvir. Com as birras conseguimos desculpar (passado uns largos tempos de virmos trabalhar) com "ah, já lhe passa" (apesar de doer sempre um bocadinho). Com estas palavras, foi como se me tivesse esquecido durante todo este tempo que ela era uma pessoa. A Irene quer que a mãe fique em casa, mas a mãe tem de ir trabalhar para ganhar dinheirinho para fazer compras. A mãe gosta de ir trabalhar, gosta mais da Irene, mas o "precisar de dinheirinho" é aqui mais importante para a Irene ter coisinhas para comer e brincar.
Tenho o coração muito pequenino hoje. Ainda por cima a uma segunda. Sacana da miúda. Amo-a com tudo o que tenho.