Nem gosto muito de escrever, mas gosto tanto do vosso blog que quis contar a minha/nossa história.
Tive uma primeira gravidez, mas o coraçãozinho da nossa estrelinha deixou de bater às 10 semanas e tive que ser internada para fazer um aborto com direito a raspagem, crises, asmas, muitas infecções, mas sempre com esperança que, dali a um ano, estaria naquele mesmo hospital de barriga grande para ter o meu bebé.
Finalmente fico grávida novamente, mas até às 12 semanas não vivi a gravidez. Tive algumas perdas de sangue e andava sempre a ouvir o coração do bebé. Pensava eu que depois das 12 semanas é que ia andar tranquila. Errado.
Depois das 12 semanas começaram umas dores difíceis de explicar, parecia que estava com cólicas de período, daquelas em que temos vontade de nos deitarmos no chão, mas não o fazemos com vergonha... Várias idas à GO, às urgências, nada de contracções, bebé a evoluir bem, análises óptimas, só poderiam ser os músculos que estava a custar esticarem. Apesar do meu trabalho ser sedentário, às 20 semanas fico de baixa, mas como as dores não passavam, nem todo dia deitada na cama, a minha GO internou-me, por precaução, no dia antes das 23 semanas.
No dia a seguir, nova equipa médica, e vamos lá dar alta à menina, que isto não é um hotel e ela só tem umas dorzinhas, nada de especial. Mas pelo sim pelo não decidiram fazer uma ecografia antes de ir, por descarga de consciência... Ligam o aparelho e os dois médicos gelam, ficam brancos mesmo. Vi logo que algo se passava. Antes de dizerem uma palavra, ligaram o som para ouvir o coração, mas nem o som forte de um coração a bater conseguiu quebrar aquele gelo. Pouco depois, diz um para outro: "vamos dar já as injecções de maturação de pulmões". Resposta do outro médico: "és louca, o bebé só tem 300 gramas, 23 semanas, é impossível sobreviver". Não sei como mantive a calma e não desci pela cadeira...
Nesse instante viraram o monitor para mim e explicam-me que o bebé está bem, mas a bolsa está a descer pelo canal vaginal e pode rebentar a qualquer segundo e o bebé nascer, sendo que, com aquelas semanas, estou a ter um aborto. Nem consigo explicar os sentimentos que tive...
Disseram que não havia nada a fazer e que era esperar por um milagre. Se não rebentasse, seria mesmo milagre, pois a bolsa estava a sofrer pressão, como se fosse um balão cheio de ar a ser esmagado...
Perante tal cenário, fui novamente para o quarto, a acreditar que ia haver um milagre e ele ia aguentar assim até, no mínimo, às 35 semanas (muito positiva, eu). Fui para o quarto, fiquei deitada, pernas erguidas ao máximo, não me podia mexer nem para comer, não podia rir, necessidades era deitada e cocó era rezar para que não tivesse que fazer força...
Acaba a hora das visitas e o marido tem que ir embora. Estávamos sem chão. Eis que, pouco depois, sinto um balão a rebentar dentro de mim e fico toda molhada.
No dia em que fazia as 23 semanas, no dia em que fazia um ano que eu tinha estado naquele mesmo hospital para fazer um aborto retido, foi o dia em que a bolsa rompeu. Irónica, a vida. Lembrei-me do que tinha dito um ano antes: "daqui a um ano estarei aqui novamente para ter o meu bebé", mas, naquele momento, era tudo o que eu não queria...
Toquei a campainha e veio logo um batalhão de médicos e enfermeiros. Estava a ter um aborto e iríamos deixar o corpo fazer o trabalho dele. Fiquei a soro. Mas teimoso como o meu rapaz é, passou um dia, passou outro, e entre análises e medicação, cheguei às 24 semanas com a bolsa rota e o seu coração forte a bater.
Nesse dia, se nascesse, já teriam que investir nele. Deram-me as injecções para maturação de pulmões e enviaram-nos para o hospital distrital, que tinha neonatologia. Lá fomos nós na ambulância de cuidados intensivos, com toda a equipa que nos acompanhou nervosa, com medo que o bebé nascesse ali...
Chegámos ao hospital, nova ecografia. O bebé nem 400 gramas teria, e veio outra realidade, as estatísticas: o nosso tão desejado bebé só teria 0.01% de sobreviver e 99.9% de ficar vegetal. Só tinha líquido amniótico à volta da cara (que foi o que o ajudou a não sufocar).
Ficando na barriga a probabilidade era morrer sufocado, mas se nascesse, também teria morte certa, pois nem nos limiares de sobrevivência estava.
Então, como estava tudo perdido, iria ficar 100% acamada, com as pernas erguidas o mais possível e aguardar um milagre...
Lá fui para o quarto: pernas erguidas, davam-me de comer, banho à gato, punham-me a fazer xixi, análises ao sangue uma a duas vezes ao dia, soro sempre a correr, várias injeções (que nem sei para que eram), ecografias diárias, cintas várias vezes ao dia, vários comprimidos com vitaminas, 2 antibióticos para prevenir infecções e as horas foram passando. Três litros de água diária, músculos todos a atrofiar (já não tinha músculos nas pernas, parecia os braços de uma velhinha), dores de cabeça da mesma posição, sempre toda molhada mesmo com pensos enormes, pois todo o líquido amniótico que repunha, perdia. O pouco que o bebé se mexia doía horrores pois, sem líquido, não tinha o amortecedor nem espaço para ele se mover à vontade...
Milagrosamente lá fomos aguentando, até que numa das análises ao sangue, foi detectada uma bactéria. Teria que fazer uma cesariana, pois não era viável nascer de parto normal, mas nesse dia não podia ser, pois não havia incubadoras. Teriam que aguardar pelo dia seguinte para conseguirem uma. No dia seguinte, novas análises e os níveis da bactéria baixaram, por isso iríamos adiar mais um dia, por falta de incubadoras...
Na madrugada seguinte comecei com dores, mas fui aguentando e não disse nada. De manhã, vem o médico com o resultado das novas análises, com valores mais baixos, por isso iríamos aguardar mais um dia. Fez uma ecografia muito rápida e o peso estimado era igual ao do dia anterior, cerca de 800g. Eu digo-lhe que tinha a sensação que desse dia não passava, pois estava a ter umas dores que eram contrações, apesar do aparelho não marcar. Ele responde que era de estar acamada. As dores não passavam, até que deixaram de ser suportáveis. Não conseguia recuperar de uma, pois tinha outra seguida. Toco a campainha, vem a enfermeira com uma médica, e eis que estava já com a dilatação feita, mas teria que ser cesariana para o meu bebé não apanhar nenhum bicho... Foi uma verdadeira correria depois, cesariana de urgência, ninguém estava à espera, tinha que fazer força para apertar as pernas para o bebé não nascer por baixo e ligaram para a neo para preparem a incubadora...
E eis que, passadas duas horas, nasce o nosso herói M., às 27 semanas e 6 dias, muito inchado, com 1100g (quando o previsto eram 800g). O nosso milagre nasceu vivo e chorou, tipo gatinho, muito baixinho mesmo, mas a melhor das melodias. Não o toquei, não o beijei, não o cheirei. Só o vi de touquinha branca a sair num castelo de cristal...
Depois daquele dia tivemos ainda três longos meses de batalhas e vitórias, mas hoje o herói M., como gostamos de lhe chamar, tem 21 meses e é feliz, cheio de energia e com uma evolução fantástica!
Ana Ferreira
Esta mãe é uma guerreira. Uma heroína!
ResponderEliminarParabéns pela sua força e coragem. Parabéns pela sua maravilhosa família.
Uau! Emocionante! Parabéns mãe guerreira e filho lutador!
ResponderEliminarUau! Que força!
ResponderEliminarEstamos de 24semanas e desde o início que tenho muitas dores. Depois de repetidas idas às urgências dizem que são os ligamentos do útero. Assim espero, porque apesar das dores até estamos bem.
Este relato é a prova de que nem tudo corre mal e há finais felizes e é, certamente, uma lufada de força.
Obrigada pelo testemunho Ana <3
Parabéns. ..mesmo! Grande coragem
ResponderEliminarLavada em lágrimas...
ResponderEliminarTão bom :)
Parabéns!!!
Um beijinho grande para si e para o pai... Não deve ter sido nada fácil para ele também...
Uma vida feliz e cheia de alegrias
Lavada em lágrimas...
ResponderEliminarTão bom :)
Parabéns!!!
Um beijinho grande para si e para o pai... Não deve ter sido nada fácil para ele também...
Uma vida feliz e cheia de alegrias
Acabei de ler e a palavra que me ocorreu não deve ser escrita! Só digo que começa por f! Tanta coragem! Tanto amor! Os 3 merecem ser mesmo muito felizes! ;) <3
ResponderEliminarEste texto deixou-me em lágrimas. Tudo de bom para o M. e papás.
ResponderEliminarPorque ás vezes também acontecem milagres!!! Que testemunho incrível! Comovente e envolvente! Que sejam muito felizes! :))))))))))))))))))))))
ResponderEliminarQue história emocionante!!!
ResponderEliminarFico contente de saber que no final tudo correu pelo melhor é que todo o vosso esforço e sofrimento foi recompensado.
Desejo-vos as maiores felicidades <3
É um orgulho para nós mamãs :) Saboreei cada palavra parece que estava a ler um livro com vontade de chegar ao fim e conhecer um desfecho feliz mas não é um livro é uma história real, que nenhuma mamã está à espera que aconteça, esse é que era o meu medo, só quando a minha médica me disse se queria ficar internada até nascer é que parei para pensar e abrandar e fazer tudo o que ela me pedia.
ResponderEliminarParabéns mamã e obrigada por partilhar a sua grande história :)
Parabéns a todos. Ser mãe é tudo isto e algo mais. obg pela partilha
ResponderEliminarNem sei o que dizer mas MUITOS PARABÉNS e MUITAS FELICIDADES!
ResponderEliminarEstou a chorar baba e ranho neste momento, mas ainda bem que acabou tudo bem!
ResponderEliminarÉ bom ler finais felizes! Felicidades :)
Olhos encharcados :-(
ResponderEliminarParabéns! À mãe que tanto passou, que não haverá ninguém capaz de saber o que sentiu; ao bebé que foi realmente um herói com H gigante; ao pai, porque regressar a casa todos os dias sozinho, também não deve ter sido fácil. E também à equipa, que esteve sempre lá, e ajudou a levar esta grande batalha até ao fim.
:-)
O M. tem quase a idade da minha filhota, a minha tem 22 meses.
O esforço que estou a fazer para não chorar é enorme... Isto de ler estas coisas no intervalo do lanchinho no trabalho tem os seus riscos... Foi um alívio tão grande quando cheguei ao fim do texto! Que o M continue a crescer feliz e saudável, é o que desejo!
ResponderEliminarFiquei em lágrimas e sem palavras. Parabéns pela vitoria e pela coragem
ResponderEliminarMeu deus fiquei toda arrepiada , grande mulher , ter passado pelo que passou! Muita saude é o que vos desejo e tudo de bom ,pois sofrimento já tiveram que vos chegue para uma vida , agora é aproveitar :) beijinhos.
ResponderEliminarEstou boquiaberta a ler esta historia.
ResponderEliminarQuanta coragem e nem imagino a força e a coragem que a Ana Ferreira teve!
Fiquei felicissima neste momento quando acabei de ler e vi que tudo acabou em bem!!!
Desejo-lhe tudo de bom para si e para o seu bebé <3
Pensei mesmo que tinha corrido mal mas estava a torcer até ao final por um fim feliz. Ainda bem :) Muitas felicidades para todos
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