5.08.2015

Ontem fartei-me de chorar

Ela chorou. Eu chorei. Ou eu chorei e ela chorou.

Ontem era a vez do David ir buscar a Isabel à creche. Eram 18h e veio a correr dizer-me que não ia conseguir despachar-se a tempo. Eu, que ontem tinha de trabalhar à tarde e à noite, também não podia.
Mas alguém tinha de conseguir. Disse-lhe que ele tinha de ir. Esperámos até às 18h30 para ver se ele se despacharia ou se tinha de ser eu a deixar um trabalho a meio e deixar pessoas à minha espera. Assim foi. Cheia de nervos no meu corpo, remorsos e sentimentos de culpa, lá fui eu enfrentar o trânsito. Já sabia que só chegaria depois das 19h. Nunca tal tinha acontecido. Estávamos a bater todos os recordes. Os minutos a passarem e os nervos a apoderarem-se de mim. As lágrimas, sem pedirem autorização, já caíam cara abaixo. A nossa filha tem de ser a nossa prioridade. Sempre. Não temos mais ninguém que a possa ir buscar, que possa colmatar a nossa ausência.
Somos só os dois. Dois dois, algum tem de ceder, tem de dizer "não", tem de interromper o trabalho, tem de ser menos profissional e ser mais pai. E mais mãe.
Quando lá cheguei, estava ao colo da Lola, olhos inchados e rosados, nariz vermelho. Virou a cara e desatou a chorar. Os soluços. As queixas. Toda a razão do mundo. O meu pedido de desculpa e as minhas lágrimas. Sim, chorei na creche.
A culpa foi mais forte.
"Batemos todos os recordes hoje." "Não, não aconteceu nada. Está tudo bem. Era a vez do David, mas ele não conseguiu vir." "Não chore, mãe", ouvi.
Não consegui. Vê-la assim, triste, cansada, à hora a que costuma estar já no conforto de casa, com aqueles que lhe são mais queridos... mexeu muito comigo. 

Foi o caminho todo até ao trabalho a soluçar e a fazer queixas. E eu a pedir desculpa e a fazer a voz mais doce possível.

Nem quis ir ao colo do pai, estava zangada, com fome, desnorteada.

Hoje, acordou a rir-se. Deu-nos abraços. Brincou connosco. Fez caretas. 
O meu coração voltou a crescer, a amolecer. Respirei fundo. Eles perdoam-nos tudo. Esquecem tudo. Nós é que não. E disto não me quero esquecer tão cedo. Para que não volte a acontecer.

25 comentários:

  1. Sei bem qual a sensação :( ontem deixei o meu na creche a chorar em silêncio, sem birra, a olhar muito triste. Fiquei para morrer. Claro que quando cheguei estava super bem disposto. E hoje ficom bem. Deu um beijinho e fez adeus.

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  2. Desatei a chorar porque já me aconteceu isso algumas vezes. E uma sensação horrível! Eu estou em casa, sem carro, nem mobilidade. O meu marido tem uma vida alucinante e às vezes torna-se dificil.
    Agora com duas meninas vou ter de pensar seriamente nos meus horários.
    Os filhos em primeiro lugar em tudo! Sempre!

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  3. Entendo bem e quando são só os dois as coisas tornam-se difíceis então numa cidade eu nem me quero imaginar, é tão bom viver numa pequena vila onde tudo é perto mas que não há nada ao mesmo tempo mas há qualidade de vida :)

    Sou eu que faço os salários e pago ao pessoal mas desde que nasceu o meu filho quem está às 18 está se não está que fique alguém a pagar se quiser, eu tinha dias de sair daqui já passava bem das 18:30 agora não, nestas alturas temos opções, isto aprendi com o meu colega que foi ele que fazia este trabalho quando estive de licença, que não ficava a pagar os salários ai é olha deixei de ser burra :D Eu também não tenho culpa que insistem em receber em dinheiro que raiva... :)

    Mas não te culpes que ela também não te culpa <3

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  4. Entendo perfeitamente. É lindo.
    Ah, descobri hoje que estou grávida pela segunda vez, tenho um bebé de 14 meses em casa. A culpa é vossa (salvo seja, brincadeira). :D

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    1. O mesmo aqui Cláudia! Um de 17 meses e outro a caminho...surprise!

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    2. Acontece, não é? Não estava nada à espera.

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    3. Eheheh!

      Aqui tb! um de 12 meses quase, em casa, e um de 3 meses na barriga!

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    4. Totalmente de surpresa! Só não identifico o comentário porquw quero dar aquela margem de segurança :) mas não estava nada à espera! Um beijinho e felicidades!

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  5. Durante a semana estou sozinha, pois o marido trabalha a 300 km de casa. Sei bem o que é esse sentimento de culpa, quando por vezes temos mesmo que ficar até mais tarde e no meu caso, estou mesmo sozinha. Claro que há sempre um amigo que em ultimo caso até poderia ir buscar o meu bebé, mas não é o mesmo e a dor que nos fica no coração... Infelizmente já tive de deixar o meu bebé às 07.45 no infantário e só ir busca-lo depois das 19 e a dor de o ter feito permanece.

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  6. Um abraço solidário Joana. Infelizmente sei bem o que isso é e às vezes a maternidade é um salto sem rede. :(
    Hoje chorei contigo. Bj

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  7. Solidária consigo Joana. Sei tão bem o que isso é! Imagine se em vez de dois fossem só um@... todos os dias são uma aventura, uma luta, mas uma grande vitória de amor! :) Tudo se arranja! bj

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  8. Vera Afonso1:59 da tarde

    Compreendo tão bem esta mãe!
    Sempre tive a possibilidade de ir buscar o filhote cedo, porque sempre assim o quis e os horários sempre o permitiram. Mas quando por infelicidade fiquei no desemprego, tive que ir trabalhar para sítios onde tinha de sair mais tarde, porque se me recusasse perdia o direito ao subsídio.
    Também chorei na creche, no primeiro dia em que ele teve que ficar até mais tarde. A agonia consumiu-me durante todo o dia, porque sabia que ele iria estranhar.
    E não me enganei, passou a hora do lanche e eu não cheguei, foi para a sala brincar e eu não cheguei, começou com as perguntas, " A minha mãe nunca mais chega?" " A minha mãe não vem buscar-me?" Os amigos foram saindo e eu não cheguei, anoiteceu e eu não cheguei.
    Também chorei na cresce quando entro na sala e era o último menino a sair, quando me abraçou desesperado, um abraço que disse tudo, tão sentido. Também ouvi a educadora dizer "Não chore, ele está bem" .
    Eu sabia que sim, que ele estava bem entregue, mas o coração de mãe é assim, e doeu ver aqueles olhos pequeninos cheios de tristeza.
    Felizmente voltei a ter trabalho com bom horário, voltei a poder ir buscá-lo cedo. Já está na pré-escola e eu vou sempre cedo, porque quero, porque gosto, porque felizmente posso, porque apesar de haver dias menos bons, com muitas birras é a minha companhia.
    É com quem mais converso, com quem brinco, com quem dou gargalhadas, com quem também me zango. Porque se não fosse ele estaria sozinha em casa, porque o pai chega sempre muito tarde. Estaria sozinha em casa sem birras, sem desenhos animados, sem me zangar, sem ouvir a cada 5 min, "mãe isto, mãe aquilo". Estaria sozinha, com tempo para mim, com tempo para fazer mil e uma coisas, mas de coração vazio, completamente vazio.
    Vou sempre buscá-lo cedo e gosto tanto que assim seja.
    Compreendo tão bem Joana e tantas outras mães. <3

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  9. Nao pude deixar de te "dar" um beijinho!
    Ja me aconteceu, desempregada, dia de entrevista de emprego e greve de comboios... Quando cheguei ele brincava no pateo da cresce sozinho (salvo seja, com um educador). E eu lavada em lagrimas preocupada com o meu piolho...
    Hoje trabalho, mas continuo a ir para casa com o coracao partido, porque por estes lados as instituicoes fecham as 17h, ou seja, nao tenho hipoteses de o ir buscar. Tenho uma babysister que o faz. E quando o tempo esta bom doi horrores saber que nao sou eu que estou la a espera do sorriso e do abraco...
    Enfim, um dia vou conseguir :-)

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  10. Ate senti um aperto no coraçao ao ler isto ... so de pensar que eu nao tenho horario de saida , e quando passar o tempo da amamentaçao volta tudo ao caos que era , nem sei como vai ser! Acho que tambem vai haver muitos dias de choro!!! bjs

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  11. Sente-se um aperto no coração sim, mas tem de ser! Não os vamos buscar tarde para irmos para a praia ou cinema, ou beber uma cervejinha na esplanada mais proxima, eles estão na escola 8h/9h/10h porque os pais precisam de trabalhar. E mesmo que fossem 12h, seria sempre porque os pais necessitam de trabalhar e não porque preferem trabalhar a estar com os filhos. Sinceramente, havendo confiança na escola e em quem cuida deles, não é por ai que eles são mais ou menos felizes, garanto-te! Os meus tanto ficam 6h como ficam 10h, se for preciso ficarem 11h também ficam, para eles o infantário é uma 2ª casa. O nosso sentimento de culpa passa para eles, se nós choramos, mesmo que por dentro, eles também choram. É normal, faz parte da vida, e eles vão ter tanta dificuldade na vida que certamente ficarem mais uma ou outra hora na escola em um ou outro dia não há-de ser a maior delas.

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    1. Obrigada pelo seu comentário, Cátia. Sinceramente, estava a sentir-me noutra dimensão!

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  12. Olá Joana, é normal... Também já nos aconteceu uma situação semelhante mas o dia a seguir é outro dia!!!! :)
    E aqui que ninguém nos ouve, a Lola é uma querida!! ;)

    Beijinhos.

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  13. Joana, já me aconteceu (acho que acontece a todas), mas passou. Se não é um hábito, eles perdoam. Sei isto pela minha experiência, não só de mãe, como de filha. Quando era pequena, os meus pais esqueceram-se de mim no colégio. Passei lá uma noite (longa história). Na altura fiquei muito magoada, mas acabei por perdoar. Hoje é só uma anedota divertida e algo com que aborrecer a minha mãe de vez em quando. Beijinhos, outra Joana

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    1. Gostava de conhecer a historia

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  14. Sei o que isso é.... Está segunda na festa do dia da mãe tb chorei...
    A mh filha viu me chegar mas eu não pude ir logo para a beira dela, fiquei na secretaria á espera que dessem ordem para irmos para a sala da festa. Qd cheguei a sala chorei. A mh bebê estava sentada na cadeira com o olhar mais triste que já tinha visto. Olhos rasos de lágrimas e tristeza no rosto. Quando a abracei ela soluçou no meu colo e agarrou me muito. Não sei que terá ela pensado mas aquilo doeu. Senti que ela se sentiu perdida sozinha.... Chorei tanto... Parecia uma tola agarrada a ela a chorar.
    Infelizmente são situações que acontecem... Eles são pequenos esquecem rápido mas nos... Nos ficamos marcadas.... Um beijinho Joana e a todas as meninas que fazem de super mulheres para os seus filhos.
    Mônica Gomes

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  15. Não sou mãe e enquanto tal não posso falar.
    Sei que ao ler o texto também me vieram as lágrimas aos olhos e o coração sentiu um aperto.
    Mas sou filha - e apesar dos meus quase 41 anos - não me esqueço das duas ou três vezes que fiquei no colégio até tarde, tão tarde que a lua já brilhava no céu, as alunas internas já tinham recolhido aos quartos e eu ainda esperava que me fossem buscar...
    Não se esquece, mas perdoa-se. Compreende-se. Acredita-se que não volta a acontecer.
    É mesmo assim o amor que se sente pelos pais.
    Para os filhos, os pais serão sempre os seus super-heróis. Os meus ainda o são.

    Não vale a pena culpabilizar-se. Vale a pena sim fazer com que não volte a acontecer.
    <3

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  16. Eu nem quero imaginar quando a Lara for para o infantário...

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  17. Compreendo perfeitamente a vossa preocupação. Tenho uns constanca de 4 anos que vive numa cidade e não temos apoios de familiares. Amigos... Boas amigas que muitas vezes me safam. As tias do coração. E eu como professora digo vos que ela muitas vezes sai docolegio as sete e ri se dos meninos chorões....hihihi . Tive muitas conversações ela..., e ela percebeu que o pai vai para Angola e a mãe para a escola e qd a vão buscar dão lhe o maior carinho do mundo e estão para ela e dão lhe atenção. Isso é muito importante.

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  18. Aqui mãe sozinha ou solteira. Sem qualquer apoio. Exceto uma ama que por vezes tenho de recorrer quando faço noites. Graças a Deus nas folgas o meu bebé de dezassete meses fica comigo. Mas há dias que entra no infantário às oito e só o vou buscar às dezanove. Por vezes é o ultimo é sinto me uma péssima mãe. Sei que é normal e ele tem a sorte de só ir dois ou três dias. Mas a culpa e tristeza ficam comigo. Na passada terça tive que ir trabalhar para trinta quilómetros de distância. Saí às dezoito e trinta e só cheguei às dezanove e quarenta e cinco. Quinze minutos atrasada. Nunca o tinha ido buscar depois da hora! Odiei toda a gente. Já avisei que não voltarei a desenrascar ninguém prejudicando meu filho. Raiva, tristeza e impotência. É muito duro ser mãe. Sozinha é muito muito duro. Mas vai se levando.
    Beijinhos grandes.

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