Foi (quase) assim que te conheci. Conheci-te quando nasceste, e tive a oportunidade de te dar um beijo e um olá. Mas depois levaram-te. Levaram-te de mim. Da tua mãe.
Voltei a ver-te no dia seguinte. Não pude pegar-te ao colo. Só tocar-te. Senti o teu calor. Estavas quentinho, lá dentro, mesmo despido.
Estavas ligado aos monitores que apitavam quando deixavas de respirar ou quando o teu coração fazia coisas esquisitas. Tinhas o oxigénio a entrar pelo nariz. Eras pequenino. Não tão pequenino como outros meninos que te acompanhavam na neonatologia. Afinal, não te tinhas adiantado muito. Só 5 semanas. Os tubinhos que te ajudavam com o oxigénio pareciam enormes para as tuas pequenas narinas.
Tinhas também uma sonda na boca. Não sabias comer. Não sozinho. O leitinho tinha de chegar ao teu estômago com ajuda. Um leitinho. Não era o meu. Depois passou a ser o meu, também. Com algum esforço consegui ajudar-te a crescer, embora não chegasse. Bebeste sempre mais algum leitinho.
Tinhas uma mão negra. Tiveram de te picar. Num dia numa mão. Noutro na outra. Noutro talvez no pé. Foste muito corajoso.
Estavas muito sereno, quando te conheci, quando pude finalmente sentir-te como meu. Mesmo assim ao longe, na tua caixinha. Que te protegia de mim, deste mundo para o qual não estavas preparado. Eu queria tanto abraçar-te! Sentir o teu cheiro, encostar os meus lábios na tua pele. Fazer-te sentir que eu estava lá, que não estavas sozinho.
Tive medo. Muito medo, de te perder. Embora me dissessem que a probabilidade de te ires ser ínfima, eu não conseguia deixar de olhar para ti, tão frágil, e pensar que da próxima vez que as máquinas apitassem seria a última que te veria com vida. Felizmente, não passou disso. De um medo.
O tempo passou. Primeiro tiraram-te o oxigénio. Já sabias respirar sozinho! Que grande vitória! Nessa altura ainda estava internada. Ia ver-te sempre que podia, que sabia que poderias estar mais tempo acordado para nos conhecermos melhor. Enquanto dormias tentava descansar, para recuperar da cesariana e para que, quando regressasses a casa, pudesses contar comigo a 100%.
Tive alta. Mas tu ainda não sabias comer. Não pudeste vir comigo para casa. Para a nossa casa. Doeu-me muito. Sabia que estavas em boas mãos, que era o melhor para ti, mas não conseguia deixar de pensar que te tinha falhado. Ainda agora tinhas chegado e eu já estava em falta para contigo. Doeu-me tanto.
Quando regressei ao pé da tua caixinha pude, finalmente, pegar em ti. Foi um momento mágico! Eu não estava nada à espera. A senhora enfermeira virou-se para mim e perguntou-me, com a maior das naturalidades, se queria pegar-te. Se queria? Claro que queria!
Passei a visitar-te duas vezes por dia, embora pudesse ficar mais tempo. Não o fiz pois apenas poderia ficar a olhar para ti, enquanto dormias. Aproveitei esse tempo para descansar e recuperar. Queria ser só tua quando fosses para casa. E queria poder receber-te. Como vieste mais cedo, ainda faltavam coisas importantes para ti. Às vezes penso se terei sido má mãe por fazer isso. Por não ter estado sempre contigo. Mas a minha consciência diz-me que não. Fiz o que devia ter feito. Não ganhaste nada se eu tivesse lá estado o tempo todo. E ganhaste uma mãe mais presente sempre que estive contigo. Ia ver-te e ia tirar leite, para que pudesses continuar a tê-lo quando fosses para casa.
À medida que o tempo ia passando ias evoluindo cada vez mais. Passámos a poder dar-te banho. Era o ponto alto do nosso dia. Meu e do pai. O pai também ia sempre visitar-te. Eras todo dele enquanto eu tirava leite. Depois eu reclamava-te para mim. Já só faltava teres alta e vires para casa. Mas não conseguias aprender a comer. Fizeste fisioterapia. Aprendeste a mamar. Agradece à terapeuta Paula, ela foi muito importante para que o conseguisses fazer. Passámos a dar-te biberão. Muito devagarinho. Não tinhas força para mais. Apertávamos-te as bochechas para perceberes como se fazia.
E, um dia, quando menos esperávamos, bebeste um biberão inteirinho! Por precaução ficaste mais uma noite na tua caixinha, e no dia seguinte passaste a ser só nosso. Foram só 12 dias. Mas foram 12 dias que pareceram uma eternidade. Hoje contas já com 9 meses. Ou 7 meses e meio, como algumas pessoas gostam de dizer. Obrigada por teres lutado e por estares hoje connosco, Lucas.
Obrigada a toda a equipa de neonatologia do Hospital da Luz. Aos enfermeiros Hugo, Patrícia, Andreia e aos outros cujo nome não me lembro, um especial obrigada por nos terem feito sentir em casa, por terem ajudado o Lucas a recuperar tão bem, e por nos terem ensinado a cuidar melhor dele.
Tive medo. Muito medo, de te perder. Embora me dissessem que a probabilidade de te ires ser ínfima, eu não conseguia deixar de olhar para ti, tão frágil, e pensar que da próxima vez que as máquinas apitassem seria a última que te veria com vida. Felizmente, não passou disso. De um medo.
O tempo passou. Primeiro tiraram-te o oxigénio. Já sabias respirar sozinho! Que grande vitória! Nessa altura ainda estava internada. Ia ver-te sempre que podia, que sabia que poderias estar mais tempo acordado para nos conhecermos melhor. Enquanto dormias tentava descansar, para recuperar da cesariana e para que, quando regressasses a casa, pudesses contar comigo a 100%.
Tive alta. Mas tu ainda não sabias comer. Não pudeste vir comigo para casa. Para a nossa casa. Doeu-me muito. Sabia que estavas em boas mãos, que era o melhor para ti, mas não conseguia deixar de pensar que te tinha falhado. Ainda agora tinhas chegado e eu já estava em falta para contigo. Doeu-me tanto.
Quando regressei ao pé da tua caixinha pude, finalmente, pegar em ti. Foi um momento mágico! Eu não estava nada à espera. A senhora enfermeira virou-se para mim e perguntou-me, com a maior das naturalidades, se queria pegar-te. Se queria? Claro que queria!
Passei a visitar-te duas vezes por dia, embora pudesse ficar mais tempo. Não o fiz pois apenas poderia ficar a olhar para ti, enquanto dormias. Aproveitei esse tempo para descansar e recuperar. Queria ser só tua quando fosses para casa. E queria poder receber-te. Como vieste mais cedo, ainda faltavam coisas importantes para ti. Às vezes penso se terei sido má mãe por fazer isso. Por não ter estado sempre contigo. Mas a minha consciência diz-me que não. Fiz o que devia ter feito. Não ganhaste nada se eu tivesse lá estado o tempo todo. E ganhaste uma mãe mais presente sempre que estive contigo. Ia ver-te e ia tirar leite, para que pudesses continuar a tê-lo quando fosses para casa.
À medida que o tempo ia passando ias evoluindo cada vez mais. Passámos a poder dar-te banho. Era o ponto alto do nosso dia. Meu e do pai. O pai também ia sempre visitar-te. Eras todo dele enquanto eu tirava leite. Depois eu reclamava-te para mim. Já só faltava teres alta e vires para casa. Mas não conseguias aprender a comer. Fizeste fisioterapia. Aprendeste a mamar. Agradece à terapeuta Paula, ela foi muito importante para que o conseguisses fazer. Passámos a dar-te biberão. Muito devagarinho. Não tinhas força para mais. Apertávamos-te as bochechas para perceberes como se fazia.
E, um dia, quando menos esperávamos, bebeste um biberão inteirinho! Por precaução ficaste mais uma noite na tua caixinha, e no dia seguinte passaste a ser só nosso. Foram só 12 dias. Mas foram 12 dias que pareceram uma eternidade. Hoje contas já com 9 meses. Ou 7 meses e meio, como algumas pessoas gostam de dizer. Obrigada por teres lutado e por estares hoje connosco, Lucas.
Obrigada a toda a equipa de neonatologia do Hospital da Luz. Aos enfermeiros Hugo, Patrícia, Andreia e aos outros cujo nome não me lembro, um especial obrigada por nos terem feito sentir em casa, por terem ajudado o Lucas a recuperar tão bem, e por nos terem ensinado a cuidar melhor dele.
Tanto que me revi neste post... 35 semanas, 6 dias de Neo, parto normal, sempre biberon,
ResponderEliminarSe tive descanso até ele vir para casa? não, não tive... tive alta ao fiim de 2 dias...teria sido 1, se ele não estivesse na Neo...
Se valeu a pena passar 9 horas por dia na Neo? Valeu... aprendemos muito... muito mesmo; não me refiro à coisas de pais de primeira viagem... afinal desde cedo que dava voltas a crianças ... a minha irmã mais nova 7anos um primo quando tinha 13... sobrinho aos 27... enfim essas voltas sabia dar... mas sabias que os beijos nas mãos dos bebés são milhentas vezes piores que uma beijoca na bochecha??? pois isso não sabia! eles levam as mãos à boca...
bj,
Marta Cruz
Tive a "sorte" de ter de ir para cesariana porque não conseguiram que entrasse em trabalho de parto. Só assim consegui ficar lá 4 dias. Mas o que interessa é que eles estão bem Marta! Ah, e a história dos beijinhos nas bochechas por acaso sabia, mas foi a sabedoria transmitida pela minha mãe :) Bjn
EliminarMaravilhosa partilha de momentos e emoções. O Lucas foi um herói e a sua mamã a melhor do mundo. Fizeste as coisas certas nos momentos certos e hoje o Lucas é um rapagão! Parabéns aos dois.
ResponderEliminarObrigada pelo apoio Marg! :)
EliminarParecia escrito por mim, exceto nos 12 dias que ficou ainda no hospital. No meu caso foi apenas 1 dia a mais (5 dias no total) com o compromisso de engordar em 4 dias...tarefa muito difícil, mas tudo correu bem e está cheio de genica com 1 ano e meio! Mas custa tanto...no meu caso lembro-me de estar no recobro, todas as mães à volta com os seus bebés e eu sem saber se o meu vinha para o meu lado ou não. Duas gravidezes e em nenhuma das duas tive a experiência de estar com os meus filhos logo desde o primeiro dia...
ResponderEliminarPois é Rita, às vezes penso no quanto gostava de o ter tido logo ao pé de mim... De ter tido essa experiência, pelo menos. Consigo deve ser igual! Tinha a visão romântica de que teria um parto normal, de termo, que o colocariam logo ao pé de mim para mamar... Enfim! Não foi assim, e tive outras experiências. É a vida! LOL! O que importa é que eles estejam bem! :)
EliminarSei o que é ter um parto de separação. Também o meu filho esteve nessa neo do HLuz 16 horas, longas horas. Mas pior que isso foram os 7 dias de UCI quando aos 2 meses foi operado ao coração. Nunca consegui separar-me dele a não ser para vir dormir, faz-me impressão que se pense que para um bebé é indiferente se a mãe está uma hora ou vinte perto dele, porque a mim o que me foi sempre dito (nem seria preciso porque sempre o soube) foi que os bebés sentem tudo e que a presença dos pais é fundamental. Lamento que o vosso início tenha sido assim ...
ResponderEliminarAnónimo, espero que o seu bebé já esteja bem. Não consigo imaginar a dor de ver um filho tão pequenino a ter de fazer uma cirurgia ao coração... Por curiosidade, foi operado na Luz ou noutro hospital?
EliminarNão acho que seja indiferente ter ou não a mãe 24 sobre 24h, mas tal como é verdade que um bebé deve estar com a sua mãe, também é importante que, quando a têm por perto, esta esteja serena, calma e a 100% para o seu filho. Naquelas circunstâncias, creio que foi mais positivo para o Lucas ter-me quando teve, pois de outra forma era possível que eu não estivesse bem, que tivesse a cabeça em todas as coisas que tinha para preparar a chegada dele a casa.
Fomos muitas mamãs a sofrer contigo e a torcer pelo Lucas! Ainda bem que tudo correu bem :)
ResponderEliminarTantas mães que passam pelo mesmo... eu também, nunca imaginei que numa segunda feira, gravida (de risco) de 35 semanas, o diagnóstico "este bebé tem que nascer hoje." Não foi o dia mais feliz da minha vida, longe disso... o momento em que o vi, lhe toquei, dei um beijo e disse "é tão pequenino..." sim, foi o melhor, mas o dia não... nada foi como sonhei, ele não foi para o meu peito como nos filmes, foi cesariana... Também tive slta e ele não... a primeira noite fui dormir a casa na esperança de descansar um pouco, mas as restantes fiquei no hospital.. 9 dias! Que pareciam não terminar... no final correu tudo tudo bem... parabéns ☺e beijinhos para todas as mães. .
ResponderEliminarAinda bem que no final tudo ficou bem! Foi com certeza um sofrimento, e o nosso lado racional diz-nos que foi, de facto, o melhor para eles, mas olhamos para trás e não podemos deixar de ficar um bocadinho tristes por não ter sido como tínhamos idealizado... Felicidades Rabiscos de Amor!
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