As duas. Já vos explico porquê.
Às 4 da manhã da quarta-feira passada, a Irene acordou com febre baixa mas a queixar-se de dores no pipi. Não a consegui readormecer. Dei-lhe algo para baixar a febre e adormeceu. Quando acordou - com febre já a subir - voltou a mencionar dores no pipi.
Tenho, de vez em quando, infecções urinárias terríveis. Tive de dar atenção, ainda para mais sendo a primeira coisa que me disse assim que acordou.
Fomos às urgências, saímos de lá com um parâmetro positivo para infecção urinária, antibiótico e vigiar a febre. Assim foi. Fiquei em casa com ela.
Por volta das 22horas ouvi barulhos muito fortes, pensei que era a miúda toda irritada por não conseguir respirar - super entupida, parece alérgico - e, então, estar a virar-se zangada de um lado para o outro. Eram, porém, barulhos ritmados e pareciam até mecânicos.
De repente fez-se luz:
"Joana, a tua filha tem convulsões febris!".
Quando lá cheguei, ela estava de barriga para cima, de olhos fechados, sem conseguir respirar. Já tinha parado o som que tinha ouvido pelo intercomunicador. Virei-a para o lado esquerdo e tentei falar com ela. Não me respondia. De olhos fechados, com as mãos a tremer em movimentos cíclicos e a fazer estalinhos com a boca, mas desta vez sem revirar os olhos ou sem se espumar.
Tinham-me dito que era possível que numa convulsão com mais de 5 minutos já pudessem existir danos cerebrais. Isto depois de eu já ter dado o primeiro ansiolítico e de não ter feito efeito. Com o pânico e enquanto dizia a mim própria "ela era demasiado perfeita para ficar tudo assim", resolvi dar-lhe mais um que também não fez efeito. Desesperei e liguei para o 112.
Demoraram 6 minutos a atender-me. Quando olhei para o relógio já tinham passado 20 minutos em que a miúda não me respondia, não abria os olhos, não chorava e só tremia. Comecei a temer o pior. Eu a tentar dizer-lhe que está tudo bem enquanto não me conseguia mentir.
Quando desliguei a chamada, demasiado tempo depois, voltou a si. Desatou a chorar, assustada. Ela e eu. As duas. As duas sozinhas. Ela tinha voltado. Estava completamente mocada do ansiolítico e também da própria reacção do corpo, mas mexia as mãos e os pés. Talvez o anti-pirético tivesse feito efeito.
Chorei e chorei. Os bombeiros chegaram, naquilo que me pareceu uma hora.
Cuidaram dela e de mim e levaram-nos a Santa Maria. Isto com a Joaninha, o novo membro da família (<3 uma amiga muito especial que nos tem apoiado muito), a cuidar de nós. Chegamos às urgências, foi vista. Tudo ok. Mandaram para casa.
Estou a poupar-vos aos pormenores sórdidos. Ainda estou mecânica. Ela tem estado doente desde 4ª feira sem conseguir respirar em condições e sempre com febres altíssimas, não consigo ter uma escrita que não seca.
Agora, dias depois, talvez não tenha tido uma convulsão febril de 20 minutos, mas uma de dois, seguida de 18 minutos de subida de febre tão alta que só tremia de frio até o ben-u-ron fazer efeito. Mas, para mim, todos os segundos daqueles 20 minutos foram reais e julguei que a minha filha nunca mais iria ser aquela que conheci.
Foi o meu maior susto até agora.
Caramba, porque é que quando parimos, também nos sai o coração com eles?
Nota: Um beijinho enorme à médica que parece a Jasmine do Aladino que nos atendeu nas urgências do Santa Maria. Aos restantes já agradeci com tudo o que tenho. Um beijinho ao bombeiro giro que também me soube acalmar, dizendo que eu podia chorar. Chorei.