7.17.2015

Coisas que não vou repetir com um segundo filho.

Não é que tenham sido grandes erros, mas são coisas que, depois de ter visto o resultado, não vou voltar a fazer. Se vocês o fizeram ou quiserem fazer é convosco. Estou a falar de mim e das minhas decisões. Nota-se muito que estou com uma dor de cabeça enorme pela Irene ter passado o dia todo meio birrenta? Ui. Está-me a "apanhar" a parte em cima dos olhos e tudo. Credo. É o que dá escrever em cima da hora. ;)

Bom, coisas que não pretendo repetir:



  • Não vou insistir na chupeta. - a Irene nunca usou chupeta durante o dia, nem nunca a pediu. Quando usava é porque me apetecia ou porque achava que um bebé devia ter chupeta. Não é necessária, a meu ver. Não é suposto ser assim. Falei sobre isso aqui.
  • Não vou permitir que me impinjam leite de lata no hospital. - Não estava devidamente informada, o início da amamentação não correu bem e não estava num hospital amigo da amamentação. Por causa disto, a Irene tornou-se alérgica à proteína do leite de vaca. Falei disso aqui.
  • Não vou mudar de casa nos primeiros dias logo a seguir ao parto.  - o Frederico gostava muito da casa de solteiro dele onde morávamos e era ao lado do hospital. Disse-lhe que, para ele ficar mais contente e descansado que ficávamos na casa dele até eu ter alta. Erro. Piores momentos de sempre: estar toda hormonal, preocupada, ansiosa, bebé recém nascido e ter a casa de pantanas e pessoas a trazerem coisas (obrigada na mesma, sogrinhos).
  • Não vou mudar o filhote para o quarto dele no 2º dia de vida. - não sei o que me deu, se foi falta de apego, por causa do baby blues, mas não via motivo nenhum para não a por no quarto dela, até porque não conseguíamos dormir com ela lá. Agora será diferente. Falámos disso aqui, neste artigo do Observador. E falei disso aqui também quando ainda não tinha mudado de opinião.

  • Não vou usar Aero-Om para o calar. - eu sabia lá o que estava a fazer e a aflição era muita, agora sei que a maior parte das vezes, quando um recém nascido chora é porque se sente inseguro, porque precisa da mãe. Lá estarei e menos nervosa, de maneira a não precisar disso.
  • Não vou dar leite de lata quando tiver a paranóia de que me falta leite nas maminhas. - não há leite fraco nem pouco leite (na maioria das situações). A Joana Paixão Brás falou sobre isso recentemente aqui, num texto lindo, lindo, lindo.
  • Não vou ficar três meses em casa por ordem da pediatra por uma questão dele não ter vacinas. - levei mesmo a sério o que ela me disse e acho que acabei por ficar menos bem ainda da cabeça. 
  • Não vou evitar por batata na sopa.  - que parvoíce, acreditam? Via a batata como um legume mau e afinal é só "mau" porque as pessoas que estão de dieta não devem comê-lo na sopa. Burra.
  • Não vou misturar 42 vegetais por sopa. - queria que ela tivesse uma alimentação equilibrada, eheh, a verdade é que nem eu eu conseguia comer aquilo.

  • Não vou obrigá-lo a comer quando não quiser.  - Agora já sei que temos de confiar neles e que, se não comem é porque não têm fome ou porque não gostam ou porque não estão bem. Pelo menos, no caso da Irene, pronto. Falei sobre isso aqui.
  • Não vou dar papas de leite artificial. - Há alternativas sem ter que dar leite das maminhas de outro animal. Há papas casairas, há papas naturais, há papas com leite materno. À pala disto a Irene foi parar ao hospital e assim descobrimos que ela era alérgica à proteína do leite de vaca.
  • Não vou cortar-lhe o cabelo. - cada macaco no seu galho, credo! Falei disso aqui. 
  • Não vou ser fuça e fazer eu tudo - vou deixar o pai participar mais mesmo que não lhe apeteça tanto ou que a mim me apeteça mais, vou permitir-lhe ter as mesmas etapas de aprendizagem que eu.
  • Não vou ficar acordada durante as sestas dele para limpar a casa ou arrumar coisas ou ver programas da trampa na televisão. - isso está mesmo aprendido.

  • Não vou estar sempre a ver o Facebook enquanto lhe dou de mamar nos primeiros meses, vou aproveitar para descansar. - até porque ter o telemóvel sempre ao pé do bebé é capaz de não ser muito bom. 
  • Não vou ao quarto dele dar-lhe mama sempre que ouvir um gemido. - e não é que a miúda até a dormir grita mamã? Agora é que eu sei que ela dantes nem dormia assim tão mal, tem é mau dormir!
  • Não vou usar medicamentos para provocar a descida do leite. - por ter andado muito ansiosa, inibi a produção de oxitocina que é a a hormona (entre outras coisas) responsável pela ejecção do leite (e não da produção) e, à pala disso, tentei usar um medicamento perigoso. Não. O segredo está no relaxe e noutras técnicas que vim a aprender. Resultaram.
  • Não vou limar-lhe as unhas em vez de as cortar com uma tesoura. - ficavam todas mal amanhadas, uma tesoura não é assim tão perigosa. Conseguimos dar conta do recado.
  • Não vou comprar-lhe brinquedos antes dos 6 meses, para aí. - é mesmo parvo, não lhes liga nenhuma e um pedaço de papel ou uma tampa fazem o mesmo efeito.

  • Não vou dar-lhe medicamentos para as cólicas só porque não percebo bem o que ela tem. - o que os nervos nos fazem. Os bebés não têm tantas cólicas quanto pensamos. Ou melhor, nem sempre que choram têm cólicas. Eles precisam de nós, ponto. Aconselho a leitura do livro "Os Bebés também querem dormir" de Constança Ferreira. 
  • Não lhe vou fazer um Bebegel precocemente só por estar preocupada com o cocó. - Vim depois a saber que os bebés amamentados podem demorar mais um pouco a evacuar. Sem stresse.
  • Não vou tirá-lo do ovo demasiado cedo só porque tem calor. - Que erro. Andar de cadeirinha no carro, numa daquelas que dá desde o nascimento até aos 2 anos ou lá o que é. Não estão feitas para eles, não como um ovo. Que parvoíce. Falei sobre isso aqui.
  • Não vou fazer a cama com lençóis de cima e edredão. - Não vale a pena. Saco de dormir.

  • Não vou acordá-lo enquanto estiver a mamar para mamar mais rápido. - Vou estar mais disponível, mais calma. Usar um sling se for preciso ou amamentar deitada. 
  • Não vou andar com ele no carrinho enquanto for confortável para ambos andar numa mochila porta-bebés ou sling. - o ideal é estarem sempre perto de nós.
  • Não lhe vou comprar sapatos até ele começar a andar. - Dah!
  • Não lhe vou comprar pijamas de marca. - Para quê? É indiferente sair cocó da fralda nuns ou noutros.
  • Não vou deixá-lo adormecer de exaustão. - Estarei mais informada sobre os ritmos de sono e saberei melhor os timings antes dele estar a gritar de exaustão. 

  • Não vou pedir só uma baixa de 5 meses e depois "logo vejo". - Sei que vou querer estar mais tempo com ele. 
  • Não vou stressar tanto quando recusar a maminha aos 3 meses ou aos 9. - tudo é ultrapassável e mais ainda se se estiver calmo.
Não me lembro de mais, neste momento. Vivendo e aprendendo. 

E coisas que não pretendam repetir com o próximo filho?  

Playlist da Irene para adormecer.

Acabei de adormecer a Irene para a sesta da manhã. E dei por mim a pensar no que vos iria escrever. Achei por bem partilhar as músicas que tento cantar à Irene. Nunca é minha primeira opção cantar-lhe porque: 

1) não tenho jeito e acho que tem o efeito contrário nela,

2) tenho uma colocação de voz sussurada que faz com que a desgaste depressa (uma boa qualidade para radialista),

3) as músicas que lhe canto são demasiado aleatórias e pouco viradas para o adormecimento e relaxe.

A Joana Paixão Brás, segundo um dos últimos posts dela sobre isso, canta-lhe músicas da igreja. Não podiamos ser mais diferente. Até porque ela conhece mais do que uma "música da Igreja" e eu, além de só conhecer o Pai Nosso cantado, pior, chamo-lhes "músicas da igreja". De certeza que devem ter um nome. 

Não tive grande contacto (que me lembre) com músicas infantis, as que tenho mais presentes são as duma colónia de férias que fazia em pequena (APCC) ou, então, as dos desenhos animados da Disney (em português do Brasil, claro).

Estas são as músicas que "canto" à Irene até ela adormecer (quando canto): 



  • Hakuna Matata - Rei Leão
  • Parte do Seu Mundo - Pequena Sereia
  • Aladin (não sei o nome, mas aquela em que estão em cima do tapete)
  • Bruno Mars- Billionaire
  • No Doubt - Don't Speak
  • Havia um cuco que não gostava de couves (é só estúpida esta, só sei até aqui: "Depois Deus não mata a morte que não mata o polícia que não prende o homem que não mata a vaca que não bebe a água que não apaga o fogo que não queima o pau que não bate no cuco)
  • Há um poço no fundo deste mar (ainda mais imbecil, só para terem uma noção do quase-final: "Há o homem que prime o insecticida que mata o piolho da pestana do olho do sapo no pau no poço no fundo deste mar..."
  • Todos os patinhos
  • Atirei o pau ao gato
  • Uma que inventei para o meu irmão Pedro quando o embalava (que tem uma letra espectacular): "Dorme, Dorme, Bebé. Dorme, Dorme, Bebé. Sonha com Carneiros Mémé. Se beberes o leitinho, se beberes o leitinho, receberás miminhos. Não chores bebé, não chores bebé, que eu estou aqui pertinho, se quiseres bebé, se quiseres bebé, dou-te um miminho". 

E vocês? Cantam o quê? Para ver se, da próxima vez, já levo mais armas melodicas para a despachar mais rápido. ;)



7.16.2015

Amo-a tanto!

É a minha dentuças. O pai jura que ela é sopinha de massa. Sorri com os olhos. Dá-me muitas dores de cabeça quando não quer comer. Vai para a cama de estômago vazio vezes sem conta. Chama-me muitas vezes. "Mamã" ou "mã". Depois de eu responder "sim?", fala na língua dela, mas vai variando entre o tom de pergunta e o de afirmação. Conversamos assim. Diz poucas palavras, mas entendo-a tão bem. Às vezes não, mas finjo que sim. Às vezes tento adivinhar o que ela quer, até ela se rir, nervosa, por eu não estar a perceber nada. Vê as nossas poucas fotos espalhadas pela casa e dá-lhes beijinhos. Fica triste quando alguém se vai embora. Não gosta do som da porta a bater. Gosta de ouvir chegar alguém. Não gosta que lhe apontemos uma colher. Para a seduzir, tenho de estar a comer, sentada no chão, sem lhe dizer nada e lá vem ela, petiscar. Não gosta muito de meninos da idade dela. Gosta menos ainda quando têm bolas ou livros na mão. Quer todos, nem que para isso tenha de fazer autênticos malabarismos. Explico-lhe que temos de partilhar, mas é como se lhe estivesse a arrancar um mindinho. Adora comandos e sabe ligar a televisão. Damos com ela, inúmeras vezes, espojada no chão. Dá voltas e mais voltas a dançar e faz um jeitinho com o ombro, que intercala com agachamentos ritmados. Adora o banho e ler o livro das frutas. Gosta de o ler para chegar ao fim e dizer "já 'tá". No fim de tudo e mais alguma coisa bate palmas. Gosta de explorar. Chega-se ao pé da guitarra, na sala, e toca, à maneira dela. Tem uma pancada por sapatos. Não gosta de nos ver descalços. Se for preciso, anda minutos atrás de nós, com ténis 41 nas mãos pequenas, a ralhar, até nos calçarmos. Passa minutos a tentar calçar-se. Brinca muito sozinha, mas vai espreitando, para ver se a estamos a ver. Sorri. Faz birras grandes quando não quer dormir. É quase sempre fácil, mas nem sempre. Adormece connosco ao lado. Às vezes parece que já está a dormir mas começa a falar e a rir-se. Acorda uma vez por noite. Adora passear, ir aos escorregas e à praia. Tem um sinal pequenino na ponta do nariz abatatado. Tem um umbigo perfeitinho. As unhas dos dedos grandes dos pés são imperfeitas e vão dar-lhe dores. Já gosta de laços, ou já se habituou a eles. Desvia o cabelo dos olhos. Gosta de se pentear. Ou despentear. Vem a correr para nós para nos dar abraços e beijos. Odeia que estranhos a peguem ao colo. Ou mesmo conhecidos. Já comeu uma batata frita ou duas. Não gostou de gelado de banana. Sorri no supermercado para quem lhe sorri. Já a vi fazer moche a meninos e ser brutinha. Também já a vi ser meiga. Bebe no copo ou de palhinha. Às vezes faz repuxo com a boca e ri-se. "Danadinha", chamo-lhe. Gosta de me ajudar a espalhar-lhe o creme pelo corpo, depois do banho. Nasceu com o cabelo preto e agora é castanho com umas nuances louras. Gosta de vir para a nossa cama, aninhar-se em nós, de manhã. Adora estar de cabeça para baixo e fazer ginástica e cambalhotas. Faz hoje 16 meses. É a Isabel. 

Amo-a tanto!





Espero que não me odeie um dia por ter publicado esta fotografia.
Pode não a favorecer nada, mas espelha bem o amor de menina que ela é.

Sou só eu ou ficam ridículos?

Eles têm fases em que toleram os óculos porque ainda não sabem levar as mãos à cara para os tirar. Depois (fase da Irene) querem é tirá-los da cara porque lhes faz confusão, etc. Acho, porém, que os bebés com óculos de sol ficam com um ar parvote. Isso não implica que não os ponhamos, claro. Apesar de haver teorias para tudo, claro. Protegidos do sol devem estar, mas usar óculos de sol em crianças tão pequenas também pode não fazer bem (não me lembro porquê, mas tinha algo que ver com não se adaptarem à luz ou qualquer coisa). Eu preferi pôr, mas não foram muitas vezes, confesso. 

Agora que acho que ela fica linda com os óculos, não os aguenta! Que nervos! Há algum truque?






Parece que lhe falta um pianinho para começar a tocar "I Just Call to Say I Love You", não é?

7.15.2015

What? Mãe de gémeos, grávida de... gémeas!

Fiquei pasma. A Mariana, com 31 anos, é a mãe dos gémeos Matilde e Tomás e está grávida, de 32 semanas, de gémeas! Pelos vistos, na vida dela, tudo acontece Aos Pares, um blogue que nasceu ontem e que tenho muita curiosidade em acompanhar. Se com um já é o que é, com quatro, em idades muito, muito próximas, deve ser uma grande prova de coragem! 



"Já diz o ditado: “Depois da tempestade, vem a bonança”… Pois é, passado o susto de saber que estava novamente grávida de gémeos, em especial por ser em tão pouco tempo, vem a felicidade de assumir um novo barrigão.
E tem sido com essa felicidade e graça que tenho levado este momento. A gravidez está a correr lindamente, nada de anormal ou preocupante, apenas um pouco de anemia, mas nada que uma dose de ferro não ajude!
Claro que ser mãe de 2 + 2, em tão pouco tempo, tem os seus efeitos menos bons. Tive que parar de trabalhar pelas 19 semanas, pois já não aguentava estar todo o dia sem descansar. Claro está que o médico nem me deu hipóteses!
E mais: os esforços físicos foram proibidos e já não posso andar com eles ao colo. Assim, para nos ajudar nesta empreitada, tivemos que contratar uma empregada. Tivemos imensa sorte, a nossa empregada além de ser nova e ter muita energia, apegou-se imenso aos nossos gémeos. E como uma sorte nunca vem só (sei que a expressão é azar, mas nunca é tarde para a inverter e dar graças pelas coisas boas que nos rodeiam) a ajuda das nossas famílias e amigos tem sido muito importante.
Ainda que a palavra de ordem no meu dia-a-dia esteja a ser descanso, aprendi a dar muito sentido a uma outra: planeamento! De facto, com as coisas bem planeadas, há tempo para descansar sim, e tratar destas novas princesas que aí vêm, mas não descurar dos gémeos que já cá andam!
Temos vivido muitos bons momentos juntos. Entre idas à praia, à piscina, ao parque, ao jardim… uma coisa sempre se impõe: eles não perdem o sorriso que tanto os caracteriza. E enche-me o coração, vê-los a rir, deixando aparecer aqueles dois dentes da frente que lhes dá um ar de que fizeram asneira."






A página de Facebook do Aos Pares, aqui.

Corte de cabelo estúpido na gravidez

Vou aproveitar o embalo de no outro dia ter falado de quando me arrisquei e cortei o cabelo à Irene (no outro dia... tinha ela 7 meses e já tem 15 - ver aqui), para vos contar de uma coisa que suspeito ser uma mania junto das grávidas.

Todas as mulheres, de vez em quando, têm a necessidade de mudar de visual e, ao que me parece, durante a gravidez, queremos fazer algo ainda mais radical. Fala-se muito de não podermos pintar o cabelo por causa do amoníaco (podermos? mas eu estou grávida?), vá, de não podeREM pintar o cabelo por causa do amoníaco (assim é que é) e, então, acho que entramos numa de desespero por algo diferente. Não podemos pintar o cabelo (podemos outra vez? ai o caraças), não podem fazer tatuagens, piercings... Vai daí e faz-se um corte estúpido. 

Foi o meu caso.

Houve quem me chamasse a Linda Hunt do CSI... 

Vou devagarinho para irem tendo uma noção dos estragos.

Ai que linda e fofinha.

O problema nem é fazer uma franja, é não saber "mantê-la". O que vale é que, trabalhando em rádio, passou despercebida...

Tadinho do meu irmão que está a ser exposto ao lado daquilo. Isto foi um dia depois do corte. Está magnífico, não está? To poop on!

Bom, aqui sou facilmente a mais bonita mesmo com o corte de cabelo. Do lado esquerdo o  comediante gordo dos cartazes que foi ao Got Talent (Hugo Rosa), no meio o comediante Juan Pereira (que é espectacular) e o apresentador de televisão, guionista e comediante Guilherme Fonseca. Eles fazem parte do grupo de comediantes (do qual eu saí elegantemente para parir e dormir) Saia na Saída. 

Vocês também se meteram nisto do corte estúpido? Ou vivem as vossas mudanças com orgulho? ;)


Agora, como estou traumatizada, estou a deixá-lo crescer para sempre. Até parecer uma Amish sem touca.



Nota: Prometo que não falo de cortes de cabelo durante uns 20 posts, só para desenjoar.

Tinha um mês aqui!

"A Isabel está a ficar crescida. Esta noite deixou-me dormir sete horas. Sete horas! Depois mamou e voltou a dormir mais duas. Pronto, já dormi para o próximo mês. Rejuvenesci. Estou pronta para tudo: cólicas, choro e noites mal dormidas. Ela agora está calminha deitada - coisa rara - a olhar para mim atenta. Acabou de espirrar.

Com 1 mês e 10 dias

A Isabelinha já sorri muito. Franze o sobrolho. Já nos segue com o olhar. Já passa mais tempo acordada. Tossiu ontem pela primeira vez. Gosta de estar nua e de esticar as pernas. Está compridona. Adora mudar a fralda. Tomar banho então, nem se fala. Se a tirar do banho com a toalha aquecida não reclama muito. Gosta mais de se virar para o lado esquerdo. Adora colo. Da mãe, do pai, dos avós, dos tios, de quem for. Se for embalada, melhor. Gosto de tê-la na vertical, colada a mim, com a cabeça pousada no meu ombro, pronta a receber beijinhos. Aqueles sons de satisfação perto do meu ouvido.

No colo da bisavó

Cada vez a conheço melhor. Cada vez gosto mais dela e não percebo como isso é possível.
O coração é elástico."
Texto escrito no dia 26 de abril de 2014


Gosto de revisitar os meus textos antigos, o meu diário, as fotografias dividas por pastas e datas. Rever e reviver momentos. Sou muito apegada às memórias, uma saudosista por natureza.

Também espreitam fotografias antigas e acham incrível como é que eles já cresceram tanto, em tão pouco tempo?

Mas... o que é isso da Disciplina Positiva?

Comecei a tomar contacto com "isto" da Disciplina Positiva através duma amiga minha (obrigada CP), juntei-me a um grupo sobre isso no Facebook, fiquei mais curiosa ainda e comecei a ler um livro sobre isso. Algum tempo depois apareceu a Natália, fundadora inicial desse grupo, que além de bastante solícita, sempre muito informada nas respostas que dá a todas. Achei que poderia ser interessante para todas nós. 


Por que é que estou a entrevistá-la sobre Disciplina Positiva, Natália? Porquê a si? Vá, isto é uma maneira pseudo-discreta para pedir que se apresente e para dar motivos às outras mães para confiarem em si.

Imagino que me esteja a entrevistar porque leu algo que escrevi em resposta a alguma questão sobre educação ou porque mais recentemente ouviu algo que disse num vídeo ou num áudio que publiquei. E, além disso, imagino que outra razão  possa ser o facto de eu ser mãe de 4 filhos e de ter adquirido algum conhecimento sobre Disciplina Positiva e outras abordagens que podem fazer sentido às pessoas, mesmo sem saber o que significam ao certo. A curiosidade e a vontade de educar os filhos para um mundo melhor poderia ser igualmente uma razão. Não sei como é que as pessoas me encontram, mas espero que seja útil e, se gostarem da minha forma de estar e de não julgar, se calhar até ficam com uma ou outra ideia de como poder alcançar o sonho de educar os filhos da forma como idealizam em vez de cair em padrões de como foram educadas e que, no fundo, não querem repetir.

Sei que a Natália não acredita em "certificados", mas pode mencioná-los? Assim talvez consigamos chegar a mais mães que leiam a sua conversa com mais atenção. O que me diz?

As minhas qualificações mais importantes são os meus 4 filhos, o meu marido e outras pessoas chegadas que me ensinam a manter uma relação com eles de forma autêntica e compassiva, sempre que me é possível. E, provavelmente, os mais de 11 anos de parentalidade e comunicação não-violenta que tenho estudado na "escola da vida". Além disso, "formei-me" (são formações para  voluntariado e sem reconhecimento oficial de alguma "autoridade", acho eu :)) para ser moderadora da Attachment Parenting International (mais recentemente chamam isso de Parentalidade por Apego em Portugal, mas há anos dizíamos Educação Intuitiva) e  também da Liga La Leche. Também tenho estudado e vivido isto da comunicação não-violenta (com a BayNVC e com a "minha" professora Sarah Peyton www.empathybrain.com). Sou também educadora parental de Disciplina Positiva e estudei um ano num seminário avançado com o autor do livro Playful Parenting (Educar a brincar). Fiz mais coisas, mas enumerá-las, a meu ver, não prova nada. Por isso, comecei a fazer recentemente áudios e vídeos para que as pessoas me possam ver e ouvir, decidir se gostam de mim e das coisinhas que tenho para dizer. No fundo, quero que as pessoas descubram por elas próprias se aquilo que eu lhes apresento faz algum sentido.




Por que é que as pessoas associam a disciplina positiva àqueles "hippies que mesmo que mesmo que a filha bata, dizem que está tudo bem, apesar dela continuar a bater" (a frase é de alguém que nunca leu sobre isto)?

Na minha opinião, é pelo  desconhecido nos causar, muitas vezes, desconforto que resistimos essas coisas, por não sabemos o tipo de problemas que poderia causar. As pessoas tendem a associar a palavra "disciplina" a coisas más (eu associo à  imagem de um militar que grita para um grupo de soldados ;)) e, frequentemente, essas associações estão relacionadas com "algo que tem que ser aprendido de forma dura" e com a disciplina física (a tal palmada que não faz mal a ninguém por ex). No mundo da parentalidade parece haver muitos "extremistas": há os que defendem a não-violência e há os outros que acreditam que só com violência é que se chega ao destino.. Sendoo destino um adulto funcional e inserido na sociedade, digo eu.

O que é, afinal, a disciplina positiva? E por oposição a quê?

A Disciplina Positiva é uma abordagem que combina a amabilidade com a firmeza e que se baseia no respeito mútuo, no envolvimento das crianças na resolução de problemas e que se foca no desenvolvimento de pessoas capazes.

A Jane Nelsen (que escreveu grande parte do livros sobre a Disciplina Positiva, alguns em conjunto com a  Lynn Lott) fala em 3 abordagens principais de parentalidade. A Severidade que é o controlo excessivo, a Permissividade que significa a ausência de limites e a Disciplina Positiva baseia-se na firmeza com dignidade e respeito.





Todos os pais conseguem por em prática os pilares da disciplina positiva? Mesmo os mais enervados? Mesmo os mais cansados? Mesmo os que trabalham muito? É só uma questão de querer muito?

Bem, eu quero muito acreditar que sim,  que mesmo em circunstâncias difíceis é possível aplicar os conceitos da Disciplina Positiva. Digo isso porque a Disciplina Positiva protege os pais do cansaço extremo e permite guardarmos os nossos escassos recursos para quando forem mesmo necessários. A Disciplina Positiva defende que as crianças devem ser autónomas e encorajadas a contribuir para o bem-estar da família e para terem consideração por outros seres e também para com o planeta, diria.

Vejo a DP como um conjunto de linhas orientadoras e ferramentas que facilitam a vida à todos. Ajudam os mais enervados manterem a calma (por gritarem e ralharem menos), aos cansados permite encorajar os filhos a ajudar e fazerem o que sabem fazer sozinhos, aos que trabalham muito dá umas ferramentas valiosas para que possam aproveitar o tempo que têm de forma positiva (porque oferece boas ferramentas de gestão de tarefas e de conflitos e ensina  cooperação e o respeito mútuo). Quanto a ser uma questão de "só querer muito" não tenho bem a certeza, porque  acredito que, para atingirmos algo, às vezes é necessário orientação, suporte e dedicação, mas para isso estou cá eu e imagino outras pessoas que possam ajudar a manter o foco naquilo que queremos atingir. 

Contudo, o primeiro passo terá que ser dado pelos pais e depois sim poderá tornar-se numa viagem em conjunto com outros pais e com a minha ajuda da minha, se for desejado.

Falhar não é fracasso, certo? Na disciplina positiva pode-se pedir desculpa e tentar de novo, certo?

Na Disciplina Positiva vemos os erros como oportunidades de aprendizagem, focamo-nos numa possível solução em vez de apontar o dedo e procurar o culpado. Aliás, reconhecer perante os nossos filhos que erramos, ensina-lhes muita coisa importante, como por exemplo que os adultos não são perfeitos e que, muitas vezes, temos o poder de emendar os nossos erros, assumindo responsabilidade pelos nossos actos e aprender com isso.

Pode dar alguns exemplos de como aplicar a disciplina positiva para resolver as seguintes situações? Claro que tudo depende da idade das crianças.





- A criança que, no supermercado, não para de apontar para tudo e fazer birra caso a mãe não lhe dê as coisas para a mão.

Aconselho a ferramenta chamada "Escolha limitada". Pode dizer à criança que pode escolher entre duas coisas: ou brincar com o brinquedo ou ler o livrinho que trouxe (não se esqueça de ir prevenida). Às vezes deixava que os meus filhoa vissem fotos no telemóvel, durante as compras. Se os filhos querem ajudar nas compras, acho que é algo a encorajar, de forma adequada à idade. Quando uma criança pede coisas que não estão na lista, isso pode ser uma boa justificação. Ex.: a criança quer gomas, nós olhamos para a lista e dizemos "Ohhh não tenho aqui gomas na minha lista, eu acho que só compramos essas gomas para as festas de aniversário...e quando é que fazes anos? Ah já só faltam 3 meses e quantos anos fazes...". Com alguma sorte a criança ficou distraída ;)

Também quero chamar à atenção para o facto de que o tipo de relação que pais e filhos têm, tem muito a ver com este tipo de comportamento. Por isso, se quer mudar algumas coisas mais enraizadas na sua dinâmica familiar, mais vale pensar em investir um tempinho para participar num workshops ou num curso virtual para aprender algumas ferramentas novas e receber eventualmente orientação personalizada para que a mudança seja duradoura e à medida da sua família.

- A criança que não empresta os brinquedos a ninguém e que "tira os brinquedos de todos os outros".

Conheço poucos adultos que me fossem emprestar o portátil ou telemóvel, muito menos num parque público ou numa instituição (digamos no hospital ou na sala de espera nas finanças) ;).

Há muitas formas de lidar com uma situação destas, depende um pouco da personalidade do adulto e se o mesmo se sente capaz de optar por uma brincadeira ou se está numa situação desconfortável - pode estar rodeado de pessoas estranhas e querer ficar bem-visto. Aos olhos da Disciplina Positiva a partilha não é algo que se deva esperar antes dos 3 anos de idade e meso depois a aprendizagem da partilha é complexa e exige tempo e passos pequenos. Podemos modelar a partilha (e se pensar bem não é algo que as crianças observem com muita frequência) por exemplo na mesa ou durante o dia com outros membros da nossa família.

Também pode ajudar ter brinquedos que são para partilhar e outros que claramente que não. É igualmente importante aprender a respeitar que algo pertence a alguém e que não o podemos ter tal como é valioso saber partilhar. Mas tudo ao seu tempo e com a devida e necessária maturidade. Partilhar é um conceito complexo e podem-se partilhar mais coisas do que só brinquedos, não se esqueça de ensinar ao seu filho a partilhar sentimentos ou acontecimentos.


- A criança que não quer dar beijinhos aos outros familiares quando os vê.

Aconselho a ferramenta de oferecer uma alternativa (eu pessoalmente acho importante ensinar aos meus filhos que eles são donos do seu corpo e não têm que deixar, à partida, ninguém fazer nada que não queiram...e convido-o a pensar uns anos mais à frente quando, por exemplo, a sua filha já é uma adolescente e um rapaz pede beijos ou algo que ela no fundo não quer dar/fazer). Podia dizer, por exemplo, "Não precisas de dar beijinhos, mas podias dar uma festinha ou dizer olá (agora imagino familiares e amigos a derreterem-se igualmente com uma festinha do que com um beijinho). Forçar não me parece ser uma opção, por isso resta-nos pedir para a criança cooperar ou oferecer alternativas aceitáveis.


- A criança que não pára de chamar pela mãe enquanto a mãe não lhe responder e vai subindo o volume.

Dependendo da verdadeira disponibilidade da mãe, que tal prestar atenção ao que a criança precisa e depois continuar a fazer o que estava a fazer? Se for um problema constante ou muito recorrente aconselho a olhar para a razão deste tipo de comportamento e observar mais de perto a dinâmica familiar.


- A criança que não quer ir dormir e que faz uma birra enorme.

Agora teria que saber mais detalhes... Por exemplo, será que a criança está com muito sono e passou da hora de deitar? Será que a criança tem medo e não quer ficar sozinha? Geralmente há ferramentas que facilitam as rotinas, mas muito depende da idade e do tipo de desafios.



No entender da Disciplina Positiva, o que são birras?

A meu ver, uma birra é a expressão de frustração, de uma maneira algo infeliz. Na Disciplina Positiva defende-se que qualquer comportamento é, no fundo, um pedido para ser amado. Por isso, da próxima vez que o seu filho faça uma "birra" imagine que ele vestido tenha uma t-shirt a dizer, em letras grandes  "Só quero ser amado!"

Por que é que o castigo não funciona?

O castigo funciona (geralmente a curto prazo, porque a longo prazo causa danos indesejáveis para a maior parte dos pais), mas vem a com um preço que nem toda gente está disposta a pagar. O preço do castigo a curto prazo é uma disrupção imediata da proximidade e de diminuir ou até eliminar a vontade de cooperar por parte da criança. Qualquer bom comportamento que venha a seguir a uma palmada ou um castigo está baseado em medo de violência ou de retirada do amor parental. A mensagem dada a curto e a longo prazo é a de que o comportamento é mais importante do que a relação e que não queremos saber o que se passa com a criança, mas sim que só queremos que se porte bem. Assim, ensinamos valores que a curto, médio e longo prazo causam mais problemas do que resolvem.



O que faz uma palmada? Mesmo os "enxota pó" das fraldas são de evitar ou dar-lhes um incentivo para se desfocarem das situações é aceitável?

Uma palmada pode fazer muita coisa, dependendo do tipo de relação que existe entre o palmador e o palmado ;). E também importa se é a primeira palmada ou a milésima. Eu acho que a pergunta "O que vai aprender com esta palmada?" mais interessante para ser sincera, mas também sei que quando estamos sem recursos (exaustas e sem paciência), não é disso de que nos vamos lembrar.  Se calhar, podemos antes pensar a) o que podemos fazer se não queremos dar palmadas ou incentivos e b) o que podemos fazer se o fazemos na mesma? Neste caso eu ia responder que ter ideias e ferramentas para saber como lidar com situações difíceis sem recorrer a palmadas e incentivos exige alguma aprendizagem e estudo.  Mas vale a pena porque são ferramentas que ajudam a fomentar relações duradouras e saudáveis que se baseiam em respeito mútuo e assim tornam-se num modelo de estar na vida para os nossos filhos. Quanto aos casos em que já aconteceu, temos a oportunidade de aprender (e ensinar) como ser responsável pelos nossos próprios actos e em vez de dizer "A culpa de te ter dado uma palmada foi tua porque te portaste mal", podemos dizer "Peço desculpa por ter te dado uma palmada, no fundo nem acredito que isto melhora a situação e também não quero que aches que não te amo. Estou cansada e está calor e se calhar preciso um copo de água e duma uma pausa, podes ajudar-me?"

Não sou amiga de incentivos, pelo simples facto de colocar a motivação no exterior em vez desta ser interna. Isto é obviamente  um assunto complexo, mas de forma resumida pode se comparar ao "fazer algo de bom porque queremos fazer isso" ou se "fazer algo de bom porque queremos receber algo em troca". Eu prefiro que as pessoas actuem de forma genuína, sem quererem algo em troca.

O que devem os pais fazer para conseguir implementar as sugestões da Disciplina Positiva? O que pensar quando se erra?

O primeiro passo, no meu entender, é ter noção daquilo que é a Disciplina Positiva. Aprender os critérios e as ferramentas que a mesma oferece. Infelizmente o livro da Jane Nelsen - Disciplina Positiva está esgotado em Portugal e não me parece que vai ser re-editado tão cedo. 

Quando se erra, o melhor, digo eu, é  assumir a responsabilidade. Por isso,  procurar alguém que não nos julgue para poder expressar os nosso sentimentos e depois disso pensar numa maneira de aprender com o sucedido, pode contribuir para uma aprendizagem. Isto pode ser num grupo onde haja algum conhecimento sobre as ferramentas da Disciplina Positiva ou falando comigo, por exemplo.



Vai haver um encontro em breve, onde a Natália irá dar as suas dicas. Quer falar-nos nos detalhes e nos conteúdos? Estamos todas convidadas?

Vai haver dois eventos no mês de Julho, um é virtual no dia 18 de Julho e o outro vai ser em Oeiras no dia 26 de Julho. Vou falar dos critérios da Disciplina Positiva e de algumas ferramentas. Estarei disponível para perguntas e abordaremos situações que tenham surgido na vida das pessoas.

Estão convidados. No evento virtual há 25 lugares, mas quem não conseguir entrar pode ouvir a gravação. Em Oeiras não coloquei limite de vagas porque quero que as pessoas tenham a oportunidade de encontrar outras pessoas igualmente interessadas na Disciplina Positiva. Podem ver os detalhes dos eventos aqui.

Para além da disciplina positiva, que outras "correntes" sugere que as mães se informem ou tenham atenção?

A resposta mais sincera que posso dar é: "Investiguem SEM FALTA ;) o Educar a brincar (Playful Parenting)!"

Quer recomendar alguns livros para ler?

Infelizmente não há muitos livros em português que eu tenha lido acerca desses assuntos, eu leio muito em inglês e às vezes em alemão.


As nossas leitoras podem deixar dúvidas nos comentários que a Natália depois vem cá dar uma ajudinha? Ou, o que recomenda para que elas tenham ajuda quando precisarem?

Venho cá com todo o gosto responder aos comentários e para terem ajuda podem juntar-se ao grupo da Disciplina Positiva no facebook aqui e para ficarem informadas podem subscrever a minha newsletter aqui.

7.14.2015

O teu leite não é pouco nem fraco!

Sim, este texto é para ti. Tu que estás agora perante essa tarefa, muitas vezes hercúlea, de amamentar. Eu sei, nem sempre é fácil. Também, como tu, sofri muito. Pensei várias vezes em desistir. Pedia ao David para me apertar o pé enquanto a Isabel mamava da mama direita, para ver se me distraía daquela dor e se parava de chorar. Dei de mamar à frente de enfermeiras do centro de saúde para ver se era preciso corrigir a pega, mas não, estava tudo certo. Ela recuperava peso a olhos vistos, estava bem. Então por que é que me custa tanto, perguntava-me? Nunca tive resposta. Passou. A dor passa. E depois vem uma das sensações mais mágicas de sempre. 


Nem sempre é assim. Há quem não tenha uma única dor a amamentar. E há quem nunca chegue a gostar. Somos todas diferentes. Eu não teria sido pior mãe se tivesse desistido, naqueles dias em que só me apetecia morder a língua de tantas dores. "Nem o parto me custou isto", disse mil vezes. Compensou? Muito. Consegui ultrapassar um obstáculo dos grandes que, depois, me deu uma grande felicidade. Ver a minha filha crescer com o meu leitinho, sabendo que era o melhor para ela, enchia-me o coração. Além de todos os benefícios largamente conhecidos, quer para o bebé, quer para a mãe, amamentar sempre foi um ideal romântico para mim. Talvez por ter visto fotografias minhas, com quase dois anos, na praia, a mamar. Sempre achei que aquilo fazia sentido.

Ainda acho. Mas, depois de ter passado por aquele terrível mês, já não julgo. Não me vou esquecer nunca do que disse para mim mesma, repetidamente. "Percebo as mães que desistem. Percebo as mães que desistem." Percebo. Até hoje percebo.

Não percebo é quem nos está sempre a mandar bitaites sobre amamentação, sem dominar minimamente o assunto. Quem nos faz duvidar das nossas capacidades. Quem não acha normal o bebé pedir mama fora das 3 horas, de um relógio que só inventaram para nos stressar. Como se as pessoas tivessem relógios internos e comessem sempre a mesma quantidade e ficassem sempre satisfeitas a cada refeição. Como se a mama fosse somente para alimentar e não para confortar. 
 
Não percebo quem diz que a mama é um vício ou que se eles não largam a mama é porque o leite não é forte ou não é suficiente. É suficiente, sim! Estás a ler isto? Se praticares a livre-demanda, sem relógios, o teu corpo vai produzir precisamente o que o teu bebé precisa e vai-se adaptando às necessidades dele. Nunca ninguém nos explica isto, mas há picos de crescimento (por volta dos 7-10 dias, com 2-3 semanas, 4-6 semanas, 12-13 semanas, aos 4 meses, aos 6, aos 9...) e nessas alturas eles podem precisar mesmo de passar a vida na mama. É natural! É uma forma de comunicar ao nosso corpo as novas necessidades deles. Se tentares acalmar-te, respirares fundo, fizeres ouvidos moucos a quem te está sempre a deixar insegura, vais conseguir.

Vai por etapas. Eu, cheia de dores, pensei "dou um mês a isto". Depois que a tempestade passou, "vamos aos três meses pelo menos", até ir trabalhar. Depois, comecei a fazer reserva para prolongar a amamentação exclusiva, até aos 5 meses. Não, não fiz os 6 meses em exclusivo mas não sinto que tenha falhado. Ganhei, foi sempre tudo um bónus. Depois daquele mês infernal, depois de vários episódios de recusa - porque introduzi, estupidamente, o biberão (há várias formas de lhes darmos o nosso leite, para que não haja o nipple confusion) - foi sempre a somar. E estamos sempre a aprender. Da próxima vez, estarei mais informada e, sobretudo, mais confiante, por isso acho que vou conseguir prolongar a amamentação para lá dos nove meses, que foi a última vez que a Isabel mamou, depois de ter sido internada com uma pneumonia (e de eu, que dantes extraía litradas, não ter conseguido tirar mais leite). Ainda tentei, mais uma vez, com ajuda da Amamentos, voltar a amamentar, mas já não consegui. Se tenho saudades? Muitas. Mas agora posso não ter aquela coisa do "amor em estado líquido" de que tanto se fala, mas tenho Amor, muito, em estado sólido, gasoso, o que quiserem, a transbordar do meu peito. E esse basta-nos.

Se quiseres amamentar, tenta, pede ajuda*. Vai compensar.
Se não conseguires, se não quiseres, se não der mais, a vida segue. 
E serás tão Mãe como qualquer outra.


Outros textos sobre a minha experiência:
Amamentação: ultrapassei, com a 2a filha, o tempo da primeira!

Como sobrevivi ao primeiro mês de amamentação (dicas essenciais)


Amamentação: o que vou fazer diferente da 2a vez

Acabou-se a mama 


VÍDEOS EXCELENTES:
Este vídeo devia ser obrigatório para perceberem melhor como funciona a pega, as várias posições, a melhor postura do corpinho deles: é óptimo, mesmo, mesmo!
Este vídeo ajuda-nos a perceber como se extrai leite manualmente, para aliviar um bocadinho por exemplo na subida do leite (só consegui começar a extrair assim um mês depois).
AJUDAS:
*Amamenta Setúbal - devem ser todas fantásticas mas eu recomendo a Patrícia Paiva (quem me ajudou com a segunda filha)
Amamenta Lisboa
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Não sei vestir um bebé

Isto são fotografias que acabo por encontrar no meu disco quando faço umas vistorias e acabo por me rir por ter tomado algumas decisões. Esta, porém, deveu-se ao facto de não ter mesmo mais nenhuma meia que não fosse tipo daquelas de andar por casa. Os sapatos são mesmo do mais engraçado que há. Gosto mesmo muito deles (apesar de ter vindo a descobrir que um 20 da Zara é um 32 para a Pés de Cereja), mas com aquelas meias, por favor. Mais depressa lhe ficaria melhor vestir-lhe um cantil. Ou um oboé. Ou um reco-reco. Ou um... já chega de palavras que me fazem rir só por si. Ou uma botija (pronto, não aguentei). 

Acho que o segredo (mas não sou eu a fashion adviser deste blog), para quem não tem um armário gigante para os bebés, é fazer tudo com o mais básico possível e ter um vestido ou dois para uma ocasião especial. Neste caso acho que só falharam mesmo as meias.... e os sapatos, para muita gente, acredito.

Estão prontas? Estão? Acham que não vai ser chocante? Vai, vai!!! Isto é pior que juntar uma sweat da Leopoldina com uns calções da Elsa.



Ela aqui já está a olhar para o lado porque sabe que vai ser fotografada ao que está pior...


Aqui está. Perninha de gesso de quem era para ir a um baptizado mas acabou por ter uma mãe que bebeu uns copos a mais.


Vá, confessem. Os sapatos até são giros. As meias também são engraçadas... Tudo juntos é pior que ouvir uma vez aquela música popular do "O meu nome é Rebeca" e cantá-la até dois meses depois.



Vá, assim ao longe, ninguém nota. ;)


7.13.2015

Como não nos passarmos da cabeça quando temos que os adormecer.

Este texto acaba de ser escrito imediatamente a seguir a ter adormecido a Irene. Bonito, não é? É, claro. Demorei uma hora e meia, senhoras, uma hora e meia! Passei por várias fases (durante estes quase 16 meses) até conseguir aguentar este tempo todo sem me irritar, sem chorar, sem vir para a sala frustradíssima e "atirar" a miúda para o pai. Sinto que estou numa fase mais Zen. Confesso que houve uma fase de alguns Valdispert pelo meio, mas agora já não preciso deles. Atenção que às vezes há dias e sestas boas, em que só tenho de lá estar 15/30 min. Ah! E se não perceberem a minha obsessão com o facto dela adormecer e com estas coisas, deixem-me só dizer que sou sempre eu a adormecer a miúda desde que ela nasceu, de todas as vezes que ela adormeceu e ainda são três vezes por dia... 




Já escrevi um texto bem mais engraçado (este não é) sobre isto e mais pragmático. Quem estiver interessado está aqui "Querem stressar quando for para os por a dormir?".

Vamos, então, à lista de dicas que vos quero dar. Dicas que, que eu saiba, só funcionam comigo, mas pode ser que vos ajude, não sei: 

(depois, se tiverem paciência leiam as notas no final porque podem ser interessantes para quem sofra do "mesmo mal", não sou especialista do sono, mas sou muito interessada e já cruzei informação com quem estudou o assunto, a Verina Fernandes da Sono de Sonho, além de já ter comprovado por mim mesma)

  • Ela quer descansar, mas não consegue adormecer sem ajuda. Ela não está a fazer birra para me contrariar, nem para ser uma chata enorme. Eu é que preciso de descobrir como a acalmar. E como me acalmar.
  • Se me irritar prejudico-a e a mim e à missão, as duas ganhamos se me mantiver calma. Adormecê-la é como só haver uma estação de rádio naquelas frequências todas, quanto mais enervada tiver, menos perícia consigo ter com os dedos para a sintonizar. 
  • Eventualmente ela irá adormecer, não iremos estar nisto para sempre.
  • Como está escuro, nem sempre consigo sentir-me carinhosa com ela. Às vezes estou tão enervada que só me parece um bebé que me está a impedir de fazer o que me apetece. Nessas alturas tento visualizar coisas que ela tenha feito durante o dia e que me tenham derretido, fotografias mentais. Acalmo-me e, às vezes, quando dou por ela, já adormeceu.
  • Não a deixo chorar muito tempo (se possível, nenhum, é só o tempo que demoro até conseguir que ela pare) porque os níveis de cortisol (stress) sobem e, portanto, torna-se gradualmente mais difícil acalmá-la e adormecê-la e mesmo que adormeça por exaustão, vai ter um sono muito menos descansado porque o stress mantém-se. 
  • Pego-a ao colo, dou-lhe tapinhas no rabo, faço-lhe massagens, festas no cabelo, canto ou não canto, conto histórias, respondo a perguntas ou a pedidos que ela faça, dou mama, dou chucha, dou o coelho, não dou o coelho. É o que for preciso para que ela se vá acalmando, mas com o mínimo de estímulos possíveis de luz e de som (cantamos baixinho e falamos baixinho e o mínimo possível). 
  • Tento sempre que ela adormeça na cama, sem maminha e com o mínimo de intervenção minha na fase mais final, para depois, quando acordar, não sentir falta da "bengala" para adormecer. Hoje não tive paciência, por exemplo, depois de uma hora e meia...





As tais notas que vos falei ali em cima: 

Passei pela fase de sempre que ela não adormecia imediatamente na mama, de me vir embora. "Se ela chora, é porque não quer dormir, volto para a sala e depois tento outra vez". Péssimo, péssimo. Nenhuma mãe quer que o filho adormeça por exaustão por sistema e se há algo que todas saibamos pela nossa experiência é que não há pior puto para adormecer que aquele que tenha "passado do ponto". Com o tempo sabemos "qual é o ponto" ou, então, arranjamos sistemas de fé, como o meu. Tive de ganhar mesmo muito auto-controlo e muita manobra de distracção para a adormecer, visto que só a mama já não chegava.

Eu acredito que a Irene (salvo raras excepções em que se nota que está a cair de podre ou em que a noite foi ainda pior que o costume, etc) só tem capacidade para adormecer 3h ou 3/3h depois de ter acordado a última vez. Seja verdade ou não, como acredito piamente nisso, só nessa altura tenho capacidade e/ou sanidade mental para insistir que ela fique no quarto, mesmo que estrebuche um bocadinho. Antes disso tenho medo de estar a forçá-la a dormir, o que acho uma estupidez se ela efectivamente ainda não tiver cansada. 

Sei que, na idade dela, o normal é dormir uma ou duas sestas (é uma fase de transição). Dou-lhe o desconto na sesta da tarde. Sei que não deve começar nenhuma sesta depois das16h30 porque senão poderá ter que dormir depois das 9h e isso não é o ideal para a idade dela. Começando o ritual 3h/3h30 desde a última vez que acordou, se vir que ela não está birrenta mas está cheia de vontade de brincar, não insisto muito. Nesta fase de transição, pode mesmo não ter necessidade de dormir à tarde, se tiver dormido de manhã. Depois tenho é de fazer todos os possíveis para a deitar após as 6h30 para garantir que não faz "mais uma sesta", mas que começa o sono da noite. A melatonina (hormona do sono) começa a ser mais produzida a partir das 6 da tarde e, portanto, ao deitá-la às 6h30/7h, isso faz com que as probabilidades de ter um come back do monstrinho diminuam.

E pronto. É isto. Tiveram acesso a parte da minha cabeça. Espero ajudar alguém com alguma dica, pelo menos.



A sorte de se ter uma bisavó.

Têm 78 anos e dois meses de diferença. Dão-se bem, muito bem. Mas, às vezes, não sei porquê, a Isabel ralha com ela, naquela língua que bem tentamos perceber. Fartamo-nos de rir.

A minha avó é a melhor cozinheira de que há registo e só à conta dela engordei uns dois quilos esta semana, em que ficou cá em casa para me ajudar na recuperação. Arroz doce, torta de laranja, torta de côco, bolo chiffon... estão a imaginar, não estão? No final da semana, quando eu já me sentia bem para ir passear, fomos as três ao parque e ao jardim. A Isabel insistiu em levar a cesta do piquenique, com os bonecos lá dentro, a fazer óó.










Esta bebé foi a melhor coisa que aconteceu na vida da minha avó. Meses depois de ter perdido um dos filhos inesperadamente, o meu tio Jorge, nasceu a Isabel para lhe devolver alguma alegria. As gargalhadas que a bisavó dá à conta dela são lindas de se ouvir.

 Macacão - Laçarote
Laço - Fitas para Chuchas & Companhia
Cesto de Piquenique - Tiger
Maria Fininha (a boneca que é uma lavadeira de Lisboa) - Pom Pom



A propósito, lembrei-me deste texto que escrevi em Janeiro de 2014, quando aguardávamos a chegada da Isabel:

"As mãos que hoje sentiste, filha, estão carregadas de vida, de dor, de anos, de histórias. São umas mãos velhinhas, com veias salientes, com socalcos. Os dedos são irregulares, de diferentes tamanhos e feitios, tortos como a vida tantas vezes foi. A pele macia como o veludo, a contrastar com a dureza de tantos anos de trabalho.
São as mãos ternas e meigas da tua bisavó Rosel. As mãos que farão o melhor arroz doce que alguma vez provarás, os melhores pastéis de massa tenra, o magusto a saber a natal. As mãos que te embalarão com a ternura de quem já te ama tanto. És a esperança, a esperança de anos melhores, de uma alegria devolvida depois de tantos dias cinzentos. Isabel, a bisavó aguarda a tua chegada com o coração cheio. E tu verás o quão grande é o coração dela. 
A avó Rosel fez hoje 78 anos. Oferecemos-lhe aquilo que ela mais gosta: um livro. A rainha branca, para se juntar à vasta coleção de livros históricos e ficcionais de reis e rainhas. Mas ela deu-nos um presente ainda mais doce a seguir ao jantar: arroz doce com canela. Gostaste, eu sei. Mexeste-te tanto!
Mas o melhor da noite, que nada supera, foi o momento em que estivemos as três tão próximas. A minha mão, a mão da avó e tu, filha, tão perto, cada vez mais perto, a dares-nos tanto sem saberes."



Há por aí sortudos com bisavó?