8.07.2019

Querem desanuviar o cérebro?

Óptimo. 

Tenho arranjado algumas artimanhas para "desaparecer" quando preciso porque, sejamos francas, às vezes é mesmo preciso. Um dos meus sítios preferidos para estar é a piscina do Hotel Intercontinental Cascais-Estoril.

Chamem-me betinha por ter ali a praia à mão de semear e preferir a piscina, mas quando digo "desaparecer" é evitar também muito contacto com pessoas. Não que as odeie muito mas, nestes dias, quero higiene visual de seres humanos. 

Além de ser um sítio onde me sinto com alta privacidade (as cadeiras têm disposições pontuais em que sentimos até que a piscina é só para nós), a piscina é de um extremo bom gosto e claro que tem um serviço de bar a acompanhar. 

Já é a segunda vez que lá vou e continua a ser, pela localização, dos meus sítos preferidos na linha. Obviamente que a companhia também faz toda a diferença ;) Não vale a pena irem lá com alguém que não gostem muito porque não vai ser o hotel que vos vai salvar... digo eu! ;)

Vejam só esta entrada com o paraíso como destino... 

Vá, só para terem uma ideia melhor do que falo... 

A menina até se deixou fotografar relaxada. 

E este não é o caso daqueles hóteis que é tudo muito lindo e, depois ao jantar, afiambramos um bitoque com medo do resto do menu. Até eu que não como peixe nem nada que venha do mar tive um jantar fabuloso. E não foi do vinho a falar. Só bebi um copito (embora isso em mim chegue para cantar Shania Twain em 2019). 


Se repararem olhei para uma foto minha na banheira e tive vontade de beber. Vida de pseudo influencer é assim. Lidar. 



Obviamente não fui eu a comer isto, mas quem o comeu adorou. ;)


Filetito (isto sei dizer o que é, apesar de não comer ;))

E algo que pedimos numa de "não entra mais nada", mas evaporou em 3 ou 4 minutos. A sobremesa de chocolate... 
Fotografar comida é sempre injusto, mas neste caso confirmo que o sabor era... acho que voltarei só por ela, até. 

Se foi esquisito terem impresso fotografias minhas e terem colado no quarto? Foi um bocadinho, mas não foi isso que não me permitiu descansar e aproveitar o hotel ;)

Nem o pequeno almoço com esta vista... estão convencidas? 
Eu estou.

O problema de conhecer estas coisas boas é de nos ficar a apetecer ir vezes sem conta... Oh well.

Quais são os vossos hóteis preferidos e, já agora, piscinas em Lisboa ou arredores onde possamos ir sem estadia? ;)



8.06.2019

Já quis morrer.

Estou sempre a pensar em maneiras de vos animar a noite. Achei que este post vinha a calhar. 

É mentira. 

No outro dia, quando fui passar férias com a minha melhor amiga a Armação de Pêra, num dos últimos dias decidimos ir dar um longo passeio pela praia. Sem levar telemóveis. Fizemos praticamente a praia toda. Soube-nos bem. Cantámos, dançámos, conversamos e, por fim, tivemos de parar um pouco por me doer um pé. 

Quando nos sentamos, no pareo que a minha amiga tinha comprado numa das lojas preferidas dela em Armação, olhámos para as gaivotas bebés que voavam por cima de nós. Ainda a aprender a voar, isto sob um wallpaper natural perfeito: um pôr do sol em cima do mar, um espelho.

Não nos poupámos às palavras nestas férias. Depois de ter sido mãe, de me ter casado e tudo o resto, ainda que a nossa amizade tenha perdurado, o formato foi-se moldando. Chamavamo-nos de namoradas antes, ainda que nunca tenha havido nada entre nós nem qualquer tipo de atracção. 

Como não tenho irmãs é um pouco fora de mão para mim estar a dizer que é "como se fosse ter uma irmã", mas é mais do que isso. A família - por vezes - poderá dar-nos algum conforto no sentido em que sabemos que teremos para sempre um laço que nos ligue e que nos faça voltar mas neste caso não. Neste caso, construímos mesmo a nossa relação tendo por base preferência, amor e respeito. Sendo que recentemente aprendi que um é indissociável do outro. Lição aprendida. 

Sentámo-nos no pareo. E, mais uma vez, não nos poupámos às palavras. Não me poupei eu. Apesar da Susana e eu sempre nos termos dito que nos amávamos, sinto que só agora estou a compreender a magnitude e a sorte de nos termos uma à outra. Somos perenes. 

Sentei-me. Parei. Sem telemóvel. Ao lado da minha melhor amiga. E expliquei-lhe que estava a tentar absorver tudo o que estava a ver e a sentir. Tinha a perfeita noção, a certeza, de que este seria um dos melhores momentos da minha vida, ali. 

Expliquei-lhe o quão grata estou por nos amarmos tanto assim, por toda a história que partilhámos juntas e que tenho a certeza que nunca nos iremos perder. Que bom sentir isto. 



Que bom sentir isto porque ainda me lembro. O meu corpo ainda se lembra. Ainda que o meu cérebro, para funcionar, tenha criado algumas gavetas, tenha racionado memórias e tenha tido a capacidade de me ir apresentado o que preciso de processar devagarinho. 

Grande parte da minha vida foi sentida como uma corrida. Um acto de sobrevivência. Compreendo que tal não seja compreendido por muitos por nunca me ter faltado onde dormir, roupa lavada, comida e até bons colégios. Por alguma razão ou - outra lição aprendida - por várias razões senti tudo muito à flôr da pele. Tanto, tanto que, às tantas, deixei de sentir. Senti tanto que a minha única ferramenta foi desligar-me de tudo. 

A única coisa que era capaz de sentir e que me fazia sentir viva era a tristeza, a dor, a mágoa e o abandono. Tudo junto dá uma tristeza gigante. Ainda para mais na cabeça de alguém que, por estar focada na corrida, na sobrevivência, não conseguia sentar-se num pareo na praia e fazer uma digestão do que poderia estar a entupir-lhe o coração. 

Lembro-me que durante muito tempo (sendo que qualquer pouco tempo a sentir isto será muito) quis morrer. Vou explicar-me melhor: não queria sair da cama, só queria dormir, não conseguia sentir prazer em nada, apenas medo e dor. 

Mesmo as coisas boas que me rodeavam ou as sortes a que sentia ter direito me passavam completamente ao lado. Tornando-se até, por vezes, maldições em vez de coisas boas. Eram mais coisas com as quais teria que lidar e sozinha. Sempre sozinha. Porque por sentir tudo na pele como sempre senti e não conhecer mais ninguém como eu, também me sentia estragada. 

Viver era um tormento e não uma dádiva. O tempo passava rápido demais por não sentir nada de bom com ele e lento demais para quem queria um dia estar bem. 

O que pensei para continuar a corrida foi "um dia, se não quiser mais... mato-me". Sabia que, ao final do dia, da semana, dos exames, o quer que fosse, teria sempre essa opção. Não era obrigada a suportar mais do que conseguisse. Não tinha que enfrentar todas essas emoções sozinha para sempre. Por isso "vou esforçar-me ao máximo", mas tendo consciência que, se quiser, um dia, ponho um fim a isto. Talvez fosse o medo também a falar mais alto e a querer procurar algum controlo. 

Era real, porém. Por duas vezes ia tendo dois desastres grandes de carro: num deles ia caíndo num buraco gigante que tinham aberto para fazer um prédio na Amadora e noutro na A5 na entrada para Caxias, aquela curva a 90º. Em qualquer uma das duas, quando estava prestes a embater (nunca cheguei, tentei sempre virar o carro e travar) senti que o meu corpo e cabeça estavam em sintonia: "se morrer, morro tranquila, pode ser". Não um tranquila de "fiz tudo o que tinha a fazer", mas mais numa de "ok, óptimo, já está, posso sair". 

Fui-me arrastando, o melhor que soube. Usando sentido de humor, lidando com a ansiedade o melhor que conseguia e podia, sentindo-me sempre estragada. Não havia mais ninguém como eu. E sei também (ou julgo que sei) que pessoas que se sintam assim raramente têm os ouvidos e os olhos limpos para conseguir ver algo mais para além de nós mesmos. Isto é, mesmo que existisse mais alguém como eu, seria incapaz de a ver. Estaria destinada a sentir-me sozinha para sempre. Mesmo entre namorados, algumas saídas com amigos, cafés no bar da faculdade, tudo. 

Um dia estive noutra situação em que senti que podia morrer num desastre de automóvel. Na volta seriam só toques ou mazelas superficiais mas a minha cabeça pintou a morte como das outras vezes. Dessa vez já não senti o mesmo. Senti o contrário. Senti "não quero morrer, não quero mesmo morrer". 

Arde-me agora o nariz por estar a começar a chorar. 

Quase que não me lembro do percurso até esse dia. Não me esqueço do trabalho sobre suicídio que escrevi na faculdade. Lembro-me deste sentimento e pensamento: "não querro morrer, mesmo". 

Depois de me desviar ou de me salvar ou de deixar de estar em perigo chorei. Chorei imenso e ri. Imagem excelente do que é estar insana, mas nunca me tinha sentido tão sã na vida. Afinal queria viver. Agora quero. 

E agora sou capaz de sentir os melhores momentos da minha vida enquanto acontecem e não como culpabilidade à posteriori por não os ter conseguido sentir, por não ter estado presente. 

Ainda que a primeira parte da minha vida tenha sido sentida assim com toda esta dor, acabei por receber uma grande biblioteca de emoções negativas que também me tornam capaz de sentir grata e feliz hoje. 

Orgulho-me de sempre, mesmo quando totalmente perdida, me ter orientado para a luz (não essa, mas esta que sinto hoje). 

E este blog também faz parte do processo. Tal como a psicanálise. Tal como a pesquisa sobre como ter referências para educar e amar a Irene. O yoga, o pilates, a natação, a alimentação, os treinos, os amigos, o amor, a comédia. 

Só quando somos tudo o que somos é que nos sentimos por completo. 

On my way. Everyday. 


Duvido que alguém tenha lido até aqui, mas só a partilha já me alegra. <3


8.05.2019

Este nosso Algarve

Seja a ir para fora, até a ficar por casa ou em casa dos avós, as férias, só por sim, já são dias de partilha, em que nos olhamos nos olhos durante horas, em que conseguimos fazer jogos e ter tempo para tudo. Mas confesso que vir até à Fuseta com o meu pai, o David e as miúdas, é especial. É como se o tempo parasse. Tudo é simples neste nosso Algarve. Desde a vizinha Rosa, que nos emprestou uma cabeça de alho, aos pimentos grelhados e às sardinhas compradas no mercado, aos bolsos cheios de conchas, aos barcos a deslizarem e às gaivotas em pontinhos brancos no horizonte. As crianças a brincarem nas pocinhas, nós na toalha a vê-las serem felizes enquanto ouvimos música na coluna. Sozinhos na praia. Gostamos disto. De ir para a festa quando nos apetece (e aqui já começaram, com música pimba, farturas e um gelado chamado Palhacito, que elas adoram), mas de estarmos ao nosso ritmo no resto do tempo.

E elas acordam bem-dispostas, com um sorriso nos lábios, e um “tenho fome”, invariavelmente. Procuram-me com um “mamãzinha”, entre abraços e beijinhos. Ouço da Luísa um simpático “cheiras mal” e um “tens de ir lavar os dentes”, que me faz rir mas a tentar conter a respiração. Depois, comem flocos ou iogurte com a granola do avô e as manhãs são vagarosas, que não há pressa nenhuma. Praia ou piscina, decidimos no momento, consoante o vento, assim como os almoços, que se querem práticos. Caprichamos mais nos jantares, com grelhados e petiscos homemade. E vinhaça ou minis bem geladinhas. O dia estica e estica entre brincadeiras e apanhadas, birras e gargalhadas. Em casa há o Rex, o cão da Dona Rosa, o coelho, que já mordeu uma sandália da Isabel, para lá de 16 porquinhos da Índia e um gato desconfiado. Passamos muito tempo em casa.
Quando decidimos ir para a praia, vamos normalmente até à Barra Velha (Ria Formosa) de barco e lá ficamos, praticamente sozinhos, com areal e descobertas à nossa espera. Mas já experimentámos também a Praia do Barril (linda!) e, claro, a Barra Nova, na ilha da Fuseta.

É tão bom estar de férias com esta minha gente que, tenho a certeza, vou sair daqui ainda mais cheia de tudo. Mas que sorte!

Parece-me que encontrámos, há três anos, o nosso lugar, o nosso Algarve.




















Isto da Irene ser filha única...


Ontem, a Irene e eu quisemos marcar alguma coisa para hoje, para irmos à praia com casais com filhos ou até só com os filhos. Fizemos videochamadas a torto e a direito - depois vim a reparar que foi precisamente à hora de jantar - e ninguém podia ou estava cá ou atendeu. 

Estar de férias em Lisboa em Agosto não é esperto nesse sentido, acho que é a minha primeira vez. Dantes, quando trabalhava numa empresa, era a minha altura preferida para estar cá: pouco movimento, pouco trabalho... era um sossego. 

Agora preciso de amigas com filhos. Liguei a todas (vá, são menos que 10 ou assim). É nestas alturas que compreendo as famílias com mais de uma criança (só nestas). Não precisam de combinar coisas com malta para animar as coisas ou, pelo menos, para a animação não depender dos crescidos - gostava de, às vezes, poder ler um bocadinho ou assim. 

Bom, pelo lado positivo: ensinei a Irene a fazer planos com pessoas. A como reagir perante a recusa e como adaptar os planos perante o resultado. Isto é ir buscar optimismo ao fundo do saco, bem sei, ahah. É um talento que tenho agora. Gostam?

Mais alguém que esteja por cá em Agosto? 

A Irene de férias com os pais e com os avós. Por acaso também foi num hotel sem muitas crianças, daí achar que ela está a ressacar também ;)


8.04.2019

E lidar com o corpo no Verão?

No Verão isto pesa mais. Isto de termos de mostrar o corpo a toda a gente. Bem, nem "temos", nem é a "toda a gente", mas é assim que muitas de nós nos sentimos por estar calor e, enfim, já não dar para nos escondermos atrás de t-shirts mais largas na barriga ou de vestidos que pareçam um saco. 

São das que andam a pular de dieta em dieta? De fé renovada em fé renovada? A sentir o fracasso de cada vez? A piorar a nossa auto-estima por não termos conseguido e, por isso, comermos mais até aquele dia em que nos voltamos a sentir tão mal outra vez que nos apetece voltar a tentar?

E a Joana Paixão Brás tem de parar de aparecer nua nos vídeos, sim. Está a tornar-se um hábito e ainda nos tornam o blog para maiores de 18. 

Queremos fazer com calma, mas os resultados não são imediatos. Queremos fazer rápido, mas a privação é muita... 

Andamos quase todas na mesma luta, verdade? Aproveitem para desabafar como nós aqui no vídeo... e... boas férias! ;)





7.31.2019

Estou longe dela e a adorar.

Connosco tem sido assim, o tempo passa e tem ficado tudo mais fácil. Acredito que tenha a ver com um respeito mútuo enorme, o máximo de calma possível e também por tanto eu como ela todos os dias assumirmos que há sempre espaço para melhorias. 

A Irene está numa fase adorável - embora todas tenham sido - mas está muito meiguices, calma, a aceitar muitos mimos e a dar. A saber verbalizar o que precisa, a compreender quando não pode fazer o que quer. Estou mesmo muito muito feliz. Claro que é difícil ser a única pessoa que vive com ela diariamente, mas confesso que cada vez menos sinto o esforço. Também é Verão e tudo fica mais bonito no Verão, não é? 

Bem me lembro daquele rapaz em Linhares da Beira que conseguiu saber o que era um bate-chapas meu por não haver mais ninguém. E, do que me lembro, ele parecia e soava como um filtro de um aquário. 

A Irene está com o pai e com os avós paternos. Foram para o Alentejo passar uns dias em família. Sinto que está bem, que está entregue e, ainda para mais, depois de um mês inteiro em que o pai esteve a trabalhar fora, ela que não costuma dizia a torto e a direito que tinha saudades dele. 

Às vezes parece que a ausência nos aproxima. Já dizia o outro do pressuposto da existência dos contrários. 


Quando me lembro da primeira noite que ela não passou comigo, do primeiro fim-de-semana em casa do pai. Agora é uma semana e está a saber-nos bem. Que bom. 

Vim para o Algarve com a minha melhor amiga. Divirto-me muito e preciso muito disto. 

Foi obrigatório comprarmos estas t-shirts. Quero torná-las uma moda.

7.30.2019

Estaremos a criar miúdos-reis?

Tenho sempre algumas dúvidas quando o tema é este: decisões e escolhas dos nossos filhos. E as nossas. Claro que nem tudo tem de ser 8 ou 80 e que podemos ir decidindo, enquanto pais, ao longo do tempo, que espaço lhes dar para fazerem as suas escolhas. O reforço da autonomia é importantíssimo e acho castrador e limitador quando, apesar de já terem 5 anos, lhes continuarmos a escolher a roupa do dia-a-dia sempre ou a ditar quando devem parar de comer. A escolher que livro vão ler ou com que brinquedos devem brincar. A não os deixar participar em conversas à mesa ou a alimentar o espírito crítico deles. Ou, como a Joana Gama disse aqui, a não deixar que ouçam a sua voz interior.

Agora, preocupa-me que (não sendo esse o caso porque não conhecemos as razões nem o contexto em concreto), sejam os nossos filhos a ditar quando devemos ir embora de algum sítio em que nós queremos estar [a não ser, claro, que estejam doentes ou que não estejam em algum sítio apropriado e em horários porreiros para crianças], que comida vão comer num buffet, mesmo que para isso, escolham 79 pratos diferentes e "não gostem de nenhum", ou, como li, em comentário, se queiram ir embora porque não estão a gostar das férias. Não queria com isto estar a julgar (porque não conheço a missa à metade), mas eu acho que as crianças podem passar por momentos em que não estão felizes nem realizadas. Momentos de frustração, de tédio, são essenciais e só lhes faz bem aprender a lidar com escolhas "infelizes". Não era aquele o gelado que queriam ter escolhido e comido, paciência... Para a próxima, escolhem outro. E já muita sorte têm.

Não lhes podemos fazer as vontades todas, mesmo. Não podem ser eles a ditar irmos uns dias mais cedo das férias para casa. Lamento, mas não. É importante eles perceberem que não estão sozinhos neste mundo e que os outros também têm vontades. Que não há justificação para termos investido dinheiro numas férias para os meninos quererem "ir para casa". Faz-lhes bem passarem por esses dias de puro aborrecimento (mesmo que isso implique, para nós, ter de lidar com um feitio mais especial), porque vivemos em família, em sociedade, e eles não são reis. E isto estende-se até à adolescência. Se formos a pensar na quantidade de vezes que eu e o meu irmão quisemos ficar a dormir até às 16h da tarde, mas "temos pena, vivemos em família e devemos respeitar as regras da casa". Pelo menos almoçar em família e levantar o prato... é o menos! E, mesmo assim, já me cheira a hotel mamã que chegue! 

Não estaremos, quando desejamos que os nossos filhos sejam livres e façam as suas escolhas, também a colocá-los num pedestal enorme e a esquecermo-nos de que a vida é feita de contrariedades? A queda não será maior? Não será melhor irem caindo de sítios mais baixinhos, com pequenas lições dadas com muito amor? Estando lá para amparar a queda?

Eu acho que sim. Acho que não devemos ligar ao primeiro "não" que eles nos dão porque, às vezes, até eles estão a testar esse não. Nem eles sabem bem. Acho também que nem tudo é negociável.

Sei que se eu não tivesse incentivado a Luísa, aula após aula, a ir para a piscina, na natação, já não lá estava. Nunca disse que "tinha de ir" mas usei estratégias porreiras, como dizer para ir molhar os pézinhos, mostrando-lhe que eu estava lá, e passados 5 minutos já lá estava dentro e feliz. E isto aconteceu numas 3 aulas. Íamos no carro para lá e já me estava a dizer que não ia entrar na piscina. O que é certo é que agora adora as aulas. 

Fotografia The Love Project

Claro que eu tenho várias dúvidas, sempre. Mas também acho que lhes passamos inseguranças, quando lhes passamos a mão pelo cabelo e lhes legitimamos todas as contrariedades. Eu prefiro estar perto delas, validando as suas tristezas e vontades, mas fazendo-lhes frente, mostrando-lhes o lado bom de cada situação, até mesmo das que achavam que não iriam gostar.

Isto sou eu. E atenção que não sou irredutível nem inflexível. Vou avaliando, caso a caso. Como em tudo na vida.







7.29.2019

Perco tudo! Help!

Serve esta foto para vos dar conta de que perdi o meu multibanco mas foi entregue na gnr e que os meus óculos são dos chinocas porque eu não posso continuar a dar 100€ por algo que sei que vou perder mais tarde ou mais cedo. E normalmente é mais cedo. Muito cedo. Assim logo. E não há fitas que me valham. Acho que só colando com supercola à fronha. E mesmo assim eu arranjaria forma de os perder. É esta a minha vida. Não se pode ser perfeito, não é? 🤓 Valeu pelo passeio até Tavira e façamos de conta que foi a única foto que tirei de forma totalmente circunstancial a mim própria com o coiso dos 10s. O vestido é muito fofinho. Espero não o perder.


"Mãe, não quero estar mais aqui".

Ainda estou para perceber a razão pela qual nos faz confusão que os bebés e as crianças tenham vontade própria. Não só na parte da comida em que, quando dizem que não querem mais, temos de dar mais uma colher (já falei disso aqui em "somos más, muito más"). Ou que, quando dizem que não têm frio, os obrigamos a vestir um casaco - ainda que seja dúbio que se está frio ou não na prática. 

Claro que não ajuda vê-los a cair de sono e fazerem uma birra a dizer que não querem ir dormir (às vezes porque os ameaçamos com a cama ou ir dormir como uma coisa má, outras porque já passaram do ponto), mas há coisas que só eles sabem e que se devem manter assim. 

Ontem, a Irene pediu-me para ir embora. Disse-me - estávamos a saltar a sesta - "Mãe, não quero estar mais aqui, quero ir para casa". Sinto que talvez tivesse sido uma surpresa para quem estava presente (eu incluída), mas perante esta afirmação creio que tivesse duas hipóteses (sendo que não precisava de estar ali mais tempo também): ficar ou sair. 

Saí. 

A Irene soube ouvir-se, sentir como se sentia e chegou à conclusão de que não queria estar mais ali. Da mesma maneira que tinha decidido ir à piscina e, depois de por o protector, sentiu que afinal não queria a meio de um choro. Ela própria ficou surpreendida quando sentiu que afinal não queria ir. Obviamente que não a obriguei, ainda que já estivesse besuntada de óleo. 

Validei a pesquisa que ela fez e a voz que ela ouviu e que era a sua. Algo lhe disse "não quero estar aqui". A mãe ouviu-a e fomos embora. 

Muito orgulhosa de ainda não ter estragado a voz interior da Irene. Aquilo que acredito que quando for maior fará dela uma adulta independente e que não se deixe engolir por outros adultos mais territoriais ou menos equilibrados. A Irene sabe ouvir-se. E, assim, quando for para se adaptar a situações, são decisões ponderadas porque existem dois lados da balança e não só porque "é assim que tem de ser". 

No outro dia, a almoçar com um primo meu também reparei que ele utiliza a técnica do "comer tudo o que está no prato", ainda que depois no final "perdoe um bocadinho". Não quero fazer isso com a comida dela. Decidi que ela lá sabe quando tem fome, deixando bem claro que depois não há snacks "fora de horas" para compensar, explicando-lhe que se não comer naquela altura, depois vai dormir de barriga vazia, etc. O apetite é importante. Talvez depois não coma compulsivamente. Talvez depois só coma quando tiver fome e até deixar de ter fome. O que tem isso de errado? Não vou ser eu a mudar isso. 

Quero mantê-la o mais intacta possível. 








7.28.2019

As piores coisas que vocês nos disseram

Houve quem já tivesse dito, em comentário no blogue, que as minhas filhas eram feias (mais do que uma vez até), ou a família toda, já me disseram que eu tinha o corpo de uma adolescente sem formas, já disseram que a Joana Gama era pxxx ou que ainda bem que a filha tinha outros cuidadores.



Mas também já nos disseram coisas que nos motivaram a sermos melhores, construtivas, e até um comentário que fez com que uma de nós reatasse uma relação. Outro que fez com que terapia fosse procurada. Muitos outros que nos ajudaram em momentos de dor, de angústia, de doenças. 

Têm sido quatro anos cheios de coisas boas, de outras que nos fizeram querer desistir, chorar e que nos tiraram o sono. Cá estamos e falamos sobre tudo isso no vídeo de hoje.





Obrigada por estarem desse lado, sim? ❤️ subscrevam, comentem e partilhem o canal destas youtubers trintonas. Somos as melhores no YouTube em maternidade na zona de Benfica, não somos? 

Beijinhos (ah! E “piretes” também constam do vídeo, que classe)

7.22.2019

À minha melhor a amiga e todas as outras e outros.

Será depressão ou felicidade? Ou, se calhar, nenhuma das duas. Estou tão habituada a mexer-me em pólos, extremos que, para mim, é sempre um caso de vida ou de morte. 

Ando a chorar desalmadamente, super sensível e grata por tudo. Pensando melhor depressão não é porque quando sinto que estava deprimida estava adormecida. Não sentia nada além da dor. Era como um daqueles robots que aspiram a casa. Seguir em frente à procura de cáca, bater nas coisas e dormir ao final do dia. 

Agora não. Continuo a bater nas coisas às vezes por distracção, outras vezes porque tem graça, mas não ando à procura de caca - sou muito gozada pelos meus amigos por causa destas imagens tontas, mas são mesmo a melhor maneira de me explicar. Não incluem sempre aspiradores, porém. 

Faz sentido chamarmos a uma amiga de "melhor amiga"? Sendo que não há uma competição e, apesar do amor assumir formas diferentes de dinâmica para dinâmica, premiar alguém com um título? Ou é apenas o sublinhar merecido de algo mais especial que tudo o resto, pela história, pela intensidade, pelo respeito? 

Tenho uma melhor amiga. Na verdade, vou tendo algumas melhores amigas, mas esta é a melhor melhor amiga. Aquela que tem durado desde sempre e com quem tenho uma história gigante em conjunto. Não quer dizer que as minhas outras amigas não sejam das melhores e que esta seja melhor, simplesmente o nosso amor já teve tempo para evoluir e para maturar e temos muitas certezas sobre cada uma e sobre as duas. 

A minha melhor amiga joga no Euromilhões. E, à semelhança do cliché, os números que põe no boletim são os aniversários das pessoas que lhe são mais próximas, talvez da família. Intimamente perguntei-lhe quais os aniversários na esperança (parva e infantil) que um deles fosse o meu. Ao mesmo tempo saberia que não era. Amamo-nos muito, mas chegar a este ponto é... todo um nível que não sei se alguma amizade alcança (bem sei que "só" estou a falar do Euromilhões, mas nada é "só").

E era. 

Um dos números era o 17. 

O meu aniversário. 

"Joana, eu gosto mesmo de ti". 

Claro que não preciso que seja um bilhete do Euromilhões a dizer-me, mas estava ali, no papel. Como se ela me tivesse escrito uma música ou pintando um quadro. Nem o meu pessimismo pode destruir isto. De maneira nenhuma. 

Que sorte tenho. Alguma coisa devo ter feito para merecer pessoas que me adorem assim. Reparem no plural. Tenho-me apercebido cada vez mais de que sou amada.

Foto do meu aniversário há dois anos ou terá sido o ano passado? 


Há outra amiga que também surgiu agora e que sinto que me adora incondicionalmente. Digo incondicionalmente porque pensamos de forma igual em milhares de coisas mas de forma muito diferente noutras. Nunca conheci pessoa alguma em que a minha matriz fosse tão simétrica. Vem-me a música do Toy à cabeça "duas vidas separadas pelo tempo" e sei que nunca a irei largar. Somos muito mais além de parcerias de comédia, somos uma espécie de gémeas, daí a merda da música, talvez. 

No sábado fui jantar a casa de um outro melhor amigo meu. Era meu colega de turma desde o 6º ano, imaginem. Preparam-me o jantar, perguntaram o que queria beber e, acima de tudo, disseram-me para me deixar de merdas e não levar nada. Adoro quando as pessoas borrifam nestas cerimónias. Adoro sentir que tenho intimidade ao ponto de não levar nada ser sinónimo que faço parte da casa. Sem merdas. Escolhi não levar. Porque posso. 

E quando, depois de meses de turbulência numa relação - daquelas em que ponderamos mesmo se ouvimos quando a hospedeira nos disse para pôr a máscara - somos recebidos como se ainda houvesse mais amor? Como se não importassem as nossas asneiras, passeios, erros, confusões porque, onde quer que nos percamos para nos encontrar, temos a nossa casa para voltar? Que sorte. 

"Chateia-me na semana do Sudoeste", disse-me uma das minhas outras amigas. Porque nos conhecemos e porque sabemos que, das duas, vou ser eu quem não se vai esquecer e que, para que o almoço aconteça, sabemos que o melhor é que fique eu responsável para aconteça. 

"Joana, estamos a morrer de saudades tuas, falamos imenso de ti" dizem as minhas ex-colegas que se tornaram minhas companheiras. Ainda que durante um processo de luto e de transformação e de aceitação da minha identidade, tenho a certeza que não há família laboral com mais carinho que aquela que cresce ali, naquele lugar. 

Mais amigos, que me aceitam como sou. Que me fazem sentir com o triplo do valor que sinto que tenho. Que me conheceram ainda se iam fumar ganzas para descampados em Oeiras e falar a noite toda. 

Outros com quem não falo durante um ano mas que não hesitam em aceitar o meu convite para o meu jantar de aniversário. Outros que dizem estar preocupados comigo e que me acenam à janela quando vão passear o cão e que desde sempre - ainda que com interregnos de presença - estão e para sempre estarão na minha vida.

E a uma ex-cunhada, da minha família adoptiva durante aqueles anos. A alma pequenina que desde sempre admirei e que nunca nos largámos. Continuamos a ser manas, melhores amigas, almas que se entendem e que se expandem. Vê-la crescer e a rebentar tudo faz-me feliz. Não é bombista, como poderão ter percebido.

A outras amigas que o tempo nos afasta, mas que nos irá aproximar quando for certo. Que nunca esquecemos o que nos ligou e a compatibilidade, mas que por alguma razão a nossa dança não é agora como já foi, mas que talvez volte a ser. Pessoas que alcançaram as entranhas e que nos preencheram tão bem que nos ajudaram a encher pneus para seguir viagem. Continuamos a adorá-las e talvez volte a música. 

À minha companheira de blog que à custa de guardar muito para si e de ter muito amor pelos outros, ao longo de todos estes anos foi aceitando e tentando encaixar na minha disciplina e estrutura e por meio de muitos suspiros vai sabendo apreciar o que tenho de bom e que ainda ontem me perguntou se a compreendia. Compreendo, Joana. Cada vez melhor. Temos uma relação longa, intensa, de carinho e de dança. E que espero e tenho feito para que se vá tornando cada vez mais fácil e divertida. Obrigada. Obrigada por me dares esse espaço e obrigada por veres ou quereres acreditar no que há de melhor em mim. 

Tenho muita muita sorte na família que me escolheu.

Quero fazer-vos rir para sempre. 


7.21.2019

A sentir-me a Oprah!!!

Estou doida com isto. A irmã da vencedora do nosso “A Mãe é que sabe ajudar” já tem instaladas, na sua cozinha, a placa de indução e a máquina de lavar roupa da AEG que lhes oferecemos! Senti-me automaticamente a Oprah, com menos uns mil zeros na conta, mas com uma sensação quentinha no peito por termos ajudado alguém com dois electrodomésticos fantásticos, que lhe vão facilitar a vidinha. Obrigada AEG por se terem associado a nós nesta missão!

Então... a Joana Gama já foi a casa da irmã da Paula, que tem uma filhota de um aninho, ver se estava tudo instalado em condições (ela é especialista em muita coisa) e se a Lúcia estava contente. Estava muito!

Se há coisa boa neste movimento que quisemos criar, de entreajuda, é sentir que as mães estão de olho nas outras mães, que estamos mais unidas do que nunca e que estamos lá para o que precisarem. Uma sopa. Um tempo com o bebé para tomarem banho de porta fechada (Spa!). E, neste caso, uma placa toda XPTO e uma máquina de lavar roupa.

Ora bem, vamos por partes:

A Placa de Indução AEG Maxisense com Função Ponte que, só por curiosidade - é a que esta na casa da Cristina (sim, sim a Tininha, a Cristina Ferreira, a Senhora Televisão). É uma placa incrível, tem a tecnologia culinária mais avançada para gerar calor de forma mais eficiente e este modelo tem duas particularidades - vejam-me isto (!!!):


  •  ajusta-se ao tamanho e forma dos tachos e panelas, ou seja, a placa ajusta a dimensão de aquecimento de acordo com a panela
  •  tem uma “função Ponte”, que mais não é a que a opção de converter duas zonas de aquecimento numa só, maior, que dá para um grelhador ou para recipientes maiores!
E tem ainda outras vantagens:
- Aquece mais rápido do que qualquer outro tipo de placa
- O calor é gerado diretamente na base do recipiente
- O resto da superfície da placa permanece fria ao toque, sendo mais seguro
- São muito fáceis de usar e manter – podemos limpar imediatamente um derrame acidental na sua superfície (eu sou óptima nisto do entornanço) - basta usar um simples pano húmido e fica sempre impecável.




Já a máquina de lavar roupa da série 7000 AEG com a tecnologia ProSteam usa vapor no final dos ciclos para reduzir os vincos. Todas queremos isto, certo? Passar menos a ferro, please! O sonho de qualquer mãe!

Além das peças ficarem mais suaves também elimina odores, como os das roupas da estação anterior [já mudaram os armários, com este julho-outono? Eu ainda não...]


Já conheciam estes electrodomésticos? Quem sabe não são vocês as selecionadas para o próximo A Mãe é que Sabe Ajudar! De que electrodoméstico mais precisam?

Sou gaga - como lido com isso?

É verdade, não sei se quem nos segue há mais tempo sabe disto, menos ainda quem nos segue há pouco: sou gaga, desde que me conheço.

Há duas teorias sobre a minha gaguez, já passei por alguns momentos constrangedores, fiz anos de terapia da fala, tive um professor a dizer-me que não poderia vir a ser jornalista de televisão... 



Conto-vos tudo neste vídeo, em que revelamos a importância de ter alguém que nos diz que isto não é um problema e que nos impulsiona a ser o que quisermos ser.



Esperamos que gostem e que ajude alguém que possa estar no meu lugar ou até a lidar com quem esteja (tipo, acabar frases nem sempre é fixe - porque pode não ser o que queríamos dizer e torna-se só parvo). Saber esperar, neste caso, que a outra pessoa complete a palavra ou o raciocínio é o que prefiro.

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7.20.2019

Tu és grande e gorda, disse a uma menina

“Tu és grande e gorda” disse a Luísa a uma menina com uns 8, 9 anos, que não estava a conseguir entrar numa casinha com escorrega. Ela respondeu, a olhar para mim: “vou ignorar a segunda parte”.


Não soube bem como reagir. Primeiro porque, para a Luísa, chamar alguém de gordo não tem qualquer tom pejorativo associado. Tem três anos e nunca me ouviu dizer (nem me parece que tenha acontecido no nosso núcleo, mas não posso pôr as mãos no fogo) que eu estava gorda ou magra ou a comentar o que quer que seja sobre alguém.

Mas, para ela, ser gordo é ser grande. O cão come muito e é gordo. O senhor é gordo. Aquele gato que não tem pelo, sabem?, é magro. A menina é gorda. A palavra, na boca dela, é neutra. E deveria ser assim sempre, não?

A menina não a sentiu assim, talvez habituada a lidar com essa palavra há muito tempo e com tom de crítica, certamente. Percebo. Deve ser duro.

Eu tentei remediar, no momento, mas nem sei o que deveria ter feito. Disse: “ela tem 3 anos, não sabe o que se deve ou não dizer. Ela também diz que é gorda quando come muito. E fica com barriga grande. Não foi por mal”. E ela respondeu: “sim, mas eu sou gorda.” E eu: “mas não há nada de mal eu ser-se gordo, és linda. (...) E muito simpática”. E era. De uma educação tremenda. Foi buscar os ténis das miúdas à areia para as ajudar. Um amorzinho de miúda. E ela continuou: “eu gostava de não ser tão gorda. Também não queria ser só ossos, mas gostava de ser ... ali no meio”. E eu disse: “então mas um dia vais conseguir”. E, depois pensei: mas se não conseguir e se for saudável, não faz mal. E disse “desde que haja saúde, o resto não tem importância. Sabes o que eu fazia aos miúdos que gozavam com os meus pés grandes? Nada, deixei de ouvir (e fiz o sinal de “não estou nem aí” com as mãos, deslizando os dedos, sabem?).”

Eu não estou apta para ter estas conversas com ninguém, muito menos com uma criança. Mas senti que não podia deixar de lhe responder. Só que... o quê? Primeiro, porque não sei se está a ser feito algum trabalho com ela numa psicóloga, numa nutricionista, não sei se tem algum problema de saúde associado, não faço a mais pálida ideia se eu ter dito que “não há problema nenhum em ser-se gordo” é precisamente o contrário do que lhe têm dito em consultas, imaginem. Depois, porque não estou informada sobre o assunto suficientemente. A nossa sociedade é gordofóbica e, por mais que eu possa querer afirmar que não sou, acho que também eu tenho alguns preconceitos, mesmo que lá no subconsciente. Como é óbvio, não discrimino, não escolho os amigos pelo peso, vejo beleza em diferentes tipos de corpos e de pessoas, mas ainda associo, principalmente em idades destas, em crianças e jovens, a obesidade (que, atenção, não faço ideia se é sequer o caso), a alguma falta de informação da família ou de acompanhamento. Nem sempre o será. Sei lá eu as causas. E daí eu dizer que não estou plenamente preparada para falar com uma miúda de 8, 9 anos sobre isto. Mas surgiu.

A minha questão agora é: aproveito este caso para explicar o quê às minhas filhas? Se digo à Luísa que não se chama gordo às pessoas, não vai entender e, às tantas, vai passar a chamar a todas as que vir na rua (tal como quando dizem uma asneira e nós damos demasiado ênfase àquilo). A Isabel até já pode ter entendimento para isto, mas, por exemplo, quando a Irene a imita a falar (a Isabel é “sopinha de massa”) não noto nada que fique triste. É uma característica dela e ela também não sentiu ainda nunca isso como algo com tom pejorativo. A Irene imita-a por achar essa característica diferenciadora e não é num tom jocoso. É porque a adora. É como se imitasse uma língua diferente. Ou um tom de voz bastante agudo. Percebem? Eles estão em idade de experimentar muita coisa, de serem teatreiros, não estão a ser bullies.

A Luísa não estava a querer ofender a miúda de 8 anos chamando-lhe gorda. Mas gostava muito que não repetisse, porque imagino que a miúda tenha ficado triste.

Explico-lhe numa próxima vez? O quê e como? Espero que tenha mais uns dois anos? Algum livro?
Obrigada!

7.15.2019

Acabou o namoro da mãe.

Pois, nem sei o que vos diga. Sei que preciso de escrever sobre isto, porque preciso de fazer algo. Sei que namorar quando se tem uma filha está longe de ser namorar quando não se tem uma filha. Primeiro por causa da filha, claro, mas depois também porque quer se queira quer não ou quer se tenha consciência disso ou não, há um lugar que parece ter que ser ocupado. E provavelmente pela pessoa com quem estamos a namorar. 

Tudo dependerá das expectativas que ponhamos na relação, mas acho muito difícil (pelo menos para mim) namorar com alguém sem a expectativa de que venha a ocupar um lugar minimamente definitivo e absolutamente marcante. Ainda para mais tendo uma filha. 

Tendo uma filha, só lhe apresento pessoas de relações sérias como tal. Honestamente depois de ter casado e divorciado, não tive tempo pelo meio para nada mais (e/ou vontade). Também talvez por causa disso. O outro lado das relações, aquele que associo a que seja o lado mais descontraído, sem “casting” talvez não exista para já. Ou talvez nunca mais venha a existir enquanto a Irene não for adolescente ou assim. 



Sinto que estou numa espécie de limbo (além de estar muito triste com o final do relacionamento) entre “precisar” de uma relação desse género e de não ter capacidade emocional, física e temporal para ter uma relação assim. Sinto ou sei que a relação que tenho com a Irene me consome muita da minha energia e vontade de trabalhar e de estar consciente numa relação. 

Não consigo estar naquela do “logo se vê”. This is serious. Nem sei em que mindset se conseguirá estar sendo “mãe solteira”. 

E lidar com as perguntas dela? Como se faz? Tento mostrar-lhe que nada acabou, que tudo se transforma, mas como falar sem dor de algo que ainda se vive com dor ou, noutra perspectiva, qual o motivo para sentir que devo esconder a dor? 

De alguma maneira, por ser quem passa com ela mais tempo, sinto-me responsável por lhe passar também uma imagem de força e de estabilidade, mas o conceito de força pode não ser o da “força bruta” ou “indiferença”. Quanto mais cresço, mais me vou apercebendo que a consciência das nossas vulnerabilidades nos tornam mais fortes e que está certo sentir coisas tristes e que a tristeza tem um papel fundamental na alegria e vice-versa. 

Mas agora ficam três corações partidos em vez de dois. E sei que é uma fase, mas caramba. Quase que sugiro à Jorja Smith para escrever sobre a single-motherhood fantasy. 

Querem dar-me alguma força e/ou piparotes para deixar de me lamentar e arrumar as trouxas e seguir em frente, mesmo que vá limpando o ranho ao braço? (Eww)