Ainda estou para perceber a razão pela qual nos faz confusão que os bebés e as crianças tenham vontade própria. Não só na parte da comida em que, quando dizem que não querem mais, temos de dar mais uma colher (já falei disso aqui em "somos más, muito más"). Ou que, quando dizem que não têm frio, os obrigamos a vestir um casaco - ainda que seja dúbio que se está frio ou não na prática.
Claro que não ajuda vê-los a cair de sono e fazerem uma birra a dizer que não querem ir dormir (às vezes porque os ameaçamos com a cama ou ir dormir como uma coisa má, outras porque já passaram do ponto), mas há coisas que só eles sabem e que se devem manter assim.
Ontem, a Irene pediu-me para ir embora. Disse-me - estávamos a saltar a sesta - "Mãe, não quero estar mais aqui, quero ir para casa". Sinto que talvez tivesse sido uma surpresa para quem estava presente (eu incluída), mas perante esta afirmação creio que tivesse duas hipóteses (sendo que não precisava de estar ali mais tempo também): ficar ou sair.
Saí.
A Irene soube ouvir-se, sentir como se sentia e chegou à conclusão de que não queria estar mais ali. Da mesma maneira que tinha decidido ir à piscina e, depois de por o protector, sentiu que afinal não queria a meio de um choro. Ela própria ficou surpreendida quando sentiu que afinal não queria ir. Obviamente que não a obriguei, ainda que já estivesse besuntada de óleo.
Validei a pesquisa que ela fez e a voz que ela ouviu e que era a sua. Algo lhe disse "não quero estar aqui". A mãe ouviu-a e fomos embora.
Muito orgulhosa de ainda não ter estragado a voz interior da Irene. Aquilo que acredito que quando for maior fará dela uma adulta independente e que não se deixe engolir por outros adultos mais territoriais ou menos equilibrados. A Irene sabe ouvir-se. E, assim, quando for para se adaptar a situações, são decisões ponderadas porque existem dois lados da balança e não só porque "é assim que tem de ser".
No outro dia, a almoçar com um primo meu também reparei que ele utiliza a técnica do "comer tudo o que está no prato", ainda que depois no final "perdoe um bocadinho". Não quero fazer isso com a comida dela. Decidi que ela lá sabe quando tem fome, deixando bem claro que depois não há snacks "fora de horas" para compensar, explicando-lhe que se não comer naquela altura, depois vai dormir de barriga vazia, etc. O apetite é importante. Talvez depois não coma compulsivamente. Talvez depois só coma quando tiver fome e até deixar de ter fome. O que tem isso de errado? Não vou ser eu a mudar isso.
Quero mantê-la o mais intacta possível.
Sim. Respeitar mais as crianças!
ResponderEliminarBom dia.
ResponderEliminarEu acho que em todas as ocasiões a resposta é: depende.
Muitas vezes digo à minha filha para irmos dar um passeio, para irmos à praia, ao parque, etc. Como ela é muito “caseira” diz sempre que não quer sair de casa, que está a brincar. Às vezes cedo, outras vezes não e, depois de chegarmos ao sítio diverte-se tanto que já não quer voltar para casa.
Se fosse decidir sempre conforme as vontades dela, ela não percebia que de vez em quando temos de ceder.
Em relação à comida, também depende. Claro que estar a obrigar comer tudo a uma criança que por norma come bem e de tudo, não concordo. Mas quem está ao lado a ver muitas vezes não conhece o dia a dia dessa criança. Há crianças que comem bem quando gostam da comida e quando não gostam estão “cheias”...
Com crianças não há preto no branco e cada caso é um caso.
Cristina
Concordo plenamente. Isso de "ouvir a voz de uma criança" tem muito que se lhe diga. Nem sempre nem nunca. Há decisoes que, nesta idade, têm de ser os pais a tomar.
EliminarOuvir 'A voz da criança' é o melhor que uma Mãe pode ter para lhe dar 💙
ResponderEliminarParabéns por estar a permitir a um ser humano, existir ;)
Sim, pq mesmo pequeninos, existem 💙
Confesso que não questão da comida me faz confusão por exemplo que não jantem e depois pedirem comida e não dar.
ResponderEliminarOu não quererem pequeno almoço e item para a escola sem nada!
Será o problema meu?
Ben sei que não morrem de fome, talvez seja cultural, mas este ponto custa-me deixar livre arbítrio
Desde que a comida seja a do jantar...
EliminarO que eu me rio a ler isto! Vai ser tão giro “ouvir a voz interior”, e a exterior também, quando ela chegar à puberdade!!! Quando nunca querem ir a lado nenhum, quando acham tudo uma seca, quando tirá-los da vidinha deles (tv, computador, telemóveis...) é um tarefa hercúlea!
ResponderEliminarEu cá sou então uma péssima mãe! Porque os obrigo a ir/ficar/sair! Também eu não vou só onde quero , senão ficava na praia todo o ano....
Só desejo boa sorte para vocês as duas, e ainda bem que só tem uma filha, senão como ouviria duas vozes, na maioria das vezes dissonantes?
Pensei o mesmo... Quando são 2? Um quer ficar e um quer sair.. Fazem à vez... As crianças precisam que tomem decisões por elas... Sentem-se mais seguras apesar de refilarem por vezes... Vários estudos de pedopsiquiatria e psicologia dissem isso. A criança tem necessidade de saber que está ali alguém que olhe por ela... Respeitar as crianças é aceitar quando pode ser e explicar quando não pode.. Não é fazer tudo o que eles pedem. Às vezes estão só a testar-nos... Tenho um bocadinho de medo desta geração "disciplina positiva". Nunca bati nos meus filhos mas já os castiguei quando achei que devia, levantei a voz e abri bem os olhos... Conversamos sobre o que se passa e se tiver que haver birra que haja, mas eles crescem a saber que são importantes, que a sua opinião é valorizada, mas que as outras pessoas tb têm opinião e importância. Pelo menos aqui em casa tem funcionado assim...
EliminarNunca comentei no vosso blogue e esta questão tocou-me particularmente porque cresci a não ser obrigada a fazer nada que não me apetecesse. Depois em adulta estive vários anos a "levar sovas da vida" até conseguirencaixar aquilo que me deveria ter sido ensinado em criança - que às vezes temos que fazer coisas que não queremos e que é importante aprendermos a lidar com isso. Como eu nunca tive que lidar com isso em criança mais tarde sofri de ansiedade e ataques de pânico quando me via em situações em que "tinha que ser".
ResponderEliminarPor isso um conselho que dou é - nas situações em que for importante ficar, ensine-a a aceitar essa obrigação da melhor forma possível. Isso vai dar-lhe ferramentas de extrema importância para o futuro.
O que eu me rio a ler isto! Vai ser tão giro “ouvir a voz interior”, e a exterior também, quando ela chegar à puberdade!!! Quando nunca querem ir a lado nenhum, quando acham tudo uma seca, quando tirá-los da vidinha deles (tv, computador, telemóveis...) é um tarefa hercúlea!
ResponderEliminarEu cá sou então uma péssima mãe! Porque os obrigo a ir/ficar/sair! Também eu não vou só onde quero , senão ficava na praia todo o ano....
Só desejo boa sorte para vocês as duas, e ainda bem que só tem uma filha, senão como ouviria duas vozes, na maioria das vezes dissonantes?
Tenho sempre o cuidado de ouvir a minha filha, e de compreender o tom e a vontade. Se por vezes pode ser uma "raivinha de dentes" momentânea que um abraço pode acalmar, ficamos... Se for algo que é acertivo respeito é seguimos...
ResponderEliminarAcho que somos melhores pessoas quando as deixarmos serem elas próprias..
Como disseram noutro comentário, depende de uma série de factores. Se a Irene dissesse isso a meio de um casamento, vinha logo embora? Provavelmente não. Se a Irene tivesse passado o dia em festa a comer 'porcarias' e ao jantar se recusasse a comer sopa (sopa como ex da única refeição saudável durante o dia)? Eu insistia, por ex.
ResponderEliminarAcho muito bem que se ouça as crianças. Mas da mesma maneira que elas ainda não têm plena capacidade de gerir as emoções, o que origina as birras, também nem sempre estarão aptas a tomar outro tipo de decisões, mesmo que pareçam seguras para tal.
Eu não obrigaria a minha filha a comer sopa depois de um dia de porcarias caso ela estivesse com o estômago cheio. De que vale estar a forçar a comer uma refeição saudável se ela nem fome tem?
EliminarAcho que se deve ouvir mais as crianças sim e muitas vezes obrigamos a que cumpram coisas só porque a nós faz sentido (como vestir o casaco porque nós temos frio). Dito isso também é importante saber que não estamos (adultos e crianças) no mesmo plano e por isso há decisões e coisas que só os adultos sabem, porque nomeadamente conseguem pensar a longo prazo e antecipar consequências. Nesse caso especifico do "quero ir embora" não percebi qual era a ocasião e acho que fará todo o sentido ir embora se for algo feito à medida de Irene, já acho menos se for algo que diga respeito a outras pessoas. Não creio que seja o melhor dizer a uma criança que se pode ir embora no segundo em que estiver farta se tivermos sido convidados para casa de uma pessoa, se o programa for com outras pessoas.
ResponderEliminarAí Joana, como te compreendo!
ResponderEliminarCancelei as minhas maravilhosas férias no Algarve, porque o meu filho que como sabes tem 3 anos se lembrou de pedir que nos viéssemos embora. OK!
Respeitei a vontade dele. Arrumei as malas, falei no hotel que não dava mais e vim embora! Se me apetecia ficar mais tempo, apetecia. Mas de que me vale ter umas férias com uma criança que não lhe apetecia lá estar? De nada!
Respeitar a vontade, para termos adultos conscientes e independentes. Acho que é muito importante!
A tua colega do Maria Amália. :p
A sério? Ou isto é a brincar...
EliminarIsto é a sério?
EliminarVocês são doentes!!!! Pra bem era... Um ano à espera de férias e pequeno ditador quer, pequeno ditador tem...
EliminarQue situação ridícula, desculpe lá. Continue nesse caminho que vai criar um pequeno tirano, ditador e mimado.
EliminarIsto é a sério? É uma brincadeira, certo?
EliminarQuero acreditar que este comentário foi uma brincadeira.
EliminarE assim vai o mundo...
EliminarEspero que não tenha mais filhos e que seja sozinha com esse. porque se um miúdo de 3 anos tem direito a estar farto o resto da família também tem direito a gozar férias. não me parece que isso crie adultos conscientes e independentes mas si adultos convictos que só as suas vontades são válidas. Teresa
EliminarQuando o seu filho for para a escola, dentro de dois anos, se não quiser estar lá também não o vai contrariar,certo? Não o habitue e fazer coisas que não quer e um dia não vai ter um filho, mas sim um ditador que lhe tornará a vida num inferno! Consciência e independência nada tem a ver com umbiguismo, com egoísmo, e é isso que está a criar no seu filho.
EliminarNo primeiro dia que chegámos ao Algarve, quando se viu de pijama e percebeu que ia dormir ali, o meu filho com quase 4 anos também disse que queria ir para casa, choramingou mas com conversa e distração passou! Resultado, adorou as férias e a casa de férias, só voltou a falar em vir para casa na véspera!
EliminarTeria eu vindo embora mesmo que ele insistisse? A resposta é Não! Só viria embora se ele ficasse doente, nunca iria abdicar do dinheiro gasto,da viagem de 600 km feita, e das férias que tanto estávamos a precisar, os papás, a família... Realmente também sou da opinião que isto é o cúmulo da cedência às vontades da criança, ele não tinha a mínima noção do que implicava o pedido dele, ele só queria ir para casa dormir na cama dele e bincar com os brinquedos! Tento ouvir sempre o que se passa na cabeça do meu filho mas com limites, assim como não sabem ainda gerir emoções também não têm capacidade ainda para tomar determinado tipo de decisões.. Se fosse um pedido para vir embora do parque ou do shopping, que não me fizesse diferença, não teria problema nenhum em respeitar a vontade dele, agora há muitas outras situações em que não posso fazer isso e apenas explico porquê que não posso. Claro que às vezes aceita muito bem, noutras lá vem a birra, mas faz parte, e um dia a incapacidade de lidar com a frustração passa e não vou ter uma criança que governa a casa e que quer ver a sua vontade atendida a toda a hora, sendo incapaz de gerir uma recusa. E vai ter tantas ao longo da vida...
E se o seu filho, ao chegar a casa, se lembrasse que afinal queria ir de férias? Marcava tudo novamente para não contrariar o menino?
EliminarA minha pergunta é: E se tiver 2 ou 3 filhos e cada um tiver a sua opinião qual é que se "respeita"?
EliminarEste comentário é uma brincadeira, só pode!
EliminarEstamos é a educar adultos que não sabem lidar com contrariedades nem respeitar a vontade alheia nem chegar a compromissos para conseguirem viver em sociedade... Cancelar umas férias já pagas pq uma criança com 3 anos o pede? E se ao final do dia já mudou de ideias? O meu filho com 9 anos tb não queria ir de férias para poder passar os dias em casa a jogar Fortnite... Aínda bem que não respeitei a sua vontade! Lol
ResponderEliminarJoana concordo plenamente ! Todas as situações devem ser analisadas claro e gosto muito das rotinas mas também quando o meu filho diz que já não quer mais não insisto nem deixo acontecer eu enfiem comida só pq sim . Mas ajudem me numa coisa , e quando eles utilizam a voz para não quererem ir para o outro progenitor ? Quando no meu caso , o meu filho não quis voltar para o pai ? Tem 2 anos , é super bem tratado pelo o pai mas teve um ataque indiscritível audível e muito agressivo quando tive de o entregar ao pai . O que fazemos aqui ? Obrigada , daqui outra Joana
ResponderEliminarJoana concordo plenamente ! Todas as situações devem ser analisadas claro e gosto muito das rotinas mas também quando o meu filho diz que já não quer mais não insisto nem deixo acontecer eu enfiem comida só pq sim . Mas ajudem me numa coisa , e quando eles utilizam a voz para não quererem ir para o outro progenitor ? Quando no meu caso , o meu filho não quis voltar para o pai ? Tem 2 anos , é super bem tratado pelo o pai mas teve um ataque indiscritível audível e muito agressivo quando tive de o entregar ao pai . O que fazemos aqui ? Obrigada , daqui outra Joana
ResponderEliminarO meu filho com essa idade também o chegou a fazer. Gritava, chorava, partia-me o coração, mas uns minutos e passava-lhe.
EliminarNo meu entendimento, se possível for, é dar um tempinho para se ambientar à passagem para o pai. Acalmar, explicar, distrair e não passar nunca a aflição de mãe para a criança nessa hora (o coração fica destroçado).
Por vezes tem a ver com o afastar da mãe, com o afastar do seu aconchego (casa, quarto, brinquedos..).
Boa sorte na próxima vez :)
Fazer-lhe todas as vontades não a vai tornar independente e autónoma, vai fazer dela uma miúda mimada e insuportável daqui a uns anos...
ResponderEliminarTenho sempre sentimentos mistos neste tipo de posts (e mais ainda com alguns comentários). Se percebo que se deve ouvir mais as crianças, já não sei se concordo tanto que se deva sempre dar primazia às suas decisões e sermos nós o adulto que sucumbe a todas as decisões. Dar-lhes a (falsa) sensação que podem tudo, tomar qualquer decisão sem considerar consequências, não mostrar empatia pelos outros (isto no caso de ser um evento em que estivesse com outras pessoas) ou pondo nas mãos deles decisões como cancelar as férias de verão (?) quando bem sabemos que as vontades deles demoram pouco mais do que 5 minutos até virarem a atenção para outro lado, acho claramente excessivo e acima de tudo algo que vai mais no sentido de lhes dar um poder que não devem ter (a sociedade não são os pais) e nesse sentido contraproducente. Pode tentar-se perceber o que o que os incomoda, fazer ajustes, alterar rotinas, ajustar planos, mas nunca me passaria pela cabeça tornar uma criança dona e senhora de decisões que afectam toda a família. Empatia também é um belo sentimento a ensinar...
ResponderEliminarSer ouvida como qualquer outra pessoa implica respeitar também a vontade dos outros. Apreender a ceder e a fazer pelos outros. A existir para além do seu umbigo mesmo que a sua opinião e vontade tenha o mesmo valor dos adultos.
ResponderEliminarIsso!! Mto bom
EliminarCompreendo o ponto de vista, mas fica-me uma duvida... e a vontade da Joana? A Joana também tinha vontade de vir embora, ou prevalece a vontade da Irene?
ResponderEliminarExatamente o que pensei. Tb oiço as minhas filhas, mas também faço com que sejam empaticas com as minhas vontades. Tb conto!
EliminarE eu que não ouvi a voz interior da minha criança de 14 anos durante todo o ano lectivo, que dizia que não queria estar nas aulas de matemática....
ResponderEliminarPéssima mãe!
Curioso... o meu desde pequenino que quando começa a dizer "estou farto quero ir embora", ouve logo "vamos embora quando eu decidir". E está o assunto arrumado. Eu também apanhei muitas "secas" com os meus pais e só vinhamos embora quando eles decidiam. Acho que me aumentou a resiliência e a criatividade mental para aturar grandes secas
ResponderEliminarIsto é ridiculo!!!! Uma bela forma de lidar com a frustração da pequena e depois admiram-se das barbaridades que vemos nas televisões. É uma criança com 4 anos(?) Com sentimentos sim que devemos ouvir e estar profundamente atentos mas daí a fazer todas as cedências para que se torne uma pessoa autónoma e independente!!! É ridiculo. Está a criar uma pequena ditadora e quando quiser por fim já não vai conseguir. Por vezes, quem precisa de ajuda não são as crianças mas sim os pais.
ResponderEliminarConcordo que deveremos de ouvir a criança e caso a tenha de contrariar, qie6se possa é deva explicar. Mas já pensou que ela como adulta e não conseguindo sempre impor a sua vontade não se sinta depois mais frustrada? Penso que muitos pais optam, por ser muito permissivoa e não sei se mais tarde não terá impactos negativos. Mas eu não sou mãe! Mas acho interessante o tema da educaçao apesar de só poder considerações de fora. Beijo a todas as mães e não mães que podem ajudar as crianças a serem adultos melhores, educados, bondosos e inteligentes
ResponderEliminarO importante é que haja equilíbrio. Como já referiram algumas pessoas, deve-se avaliar situação a situação. Ouvir a criança é sempre possível (e é importante distinguir entre aquilo que ela necessita e aquilo que ela quer). Depois, algumas vezes, vai ser possível atender àquilo que a criança precisa/quer e outras vezes não será possível. E explicamos o porque.
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