Acho que é
normal sentir-se que não se deve publicar fotografias dos filhos na Internet. Acho que o mais normal é mesmo sentir que é tudo
demasiado íntimo para estarmos a expor a tudo e a todos. Foi o que senti. Ainda na maternidade, no primeiro dia de internamento, queria fazer um post na minha página de facebook "profissional" (é
esta, daí eu por o profissional entre aspas) a dizer que estava bem, que a Irene era magnífica, que estava tudo maravilhoso (apesar de, claro, não estar). Não achei que devesse publicar uma fotografia dela. Que
nojo ter essa vontade de quebrar as barreiras de intimidade de um ser que nem um dia tem e publicar uma fotografia dele para todo o público ver. Ganhei uns tomatinhos (coagida por mim própria, que estupidez) e lá publiquei esta maravilha:
A minha cara não é assim e não me refiro ao filtro. Pelo meu ar, parece que fui eu a ser parida e não a minha filha. Ainda tinha eu a boca a saber a sangue (não sei porquê, mas é verdade) e ainda a miúda estava por ser lavada à séria. Velhos tempos.
Já agora, um à parte (vou tentar que não seja tão longo como os da Teresa Guilherme), tive a Irene num hospital público e foi tudo espectacular à excepção da falta de apoio à amamentação - forte encorajamento do leite artificial, não tendo tempo para se dedicarem a mim e à Irene também- e a questão do meu marido não poder ficar comigo. Sentimo-nos ambos muito, muito sozinhos (claro que me estava a borrifar para o que ele sentia na altura ou deixava de sentir).
Como vêem na fotografia, a Irene está protegida. Foi isso que senti, além de não saber o que é que o Frederico queria fazer com essas questões das fotografias. Eu já estava numa luta interna enorme, porque sempre fui de partilhar tudo o que fazia (e a Irene é algo que eu fiz, certo?). Sou daquelas que tira fotografias aos ténis novos, à comida, às amigas (era menos uma e já não era verdadeiro usar o plural hehe), etc. Como é que agora, com a coisa mais preciosa do mundo, a mais bonita de se ver, iria conseguir restringir-me? Durante quanto tempo conseguiria ser criativa ao ponto de lhe tirar fotografias sem que se percebesse como é que ela era?
Depois pensei. Sim, pensei. Aconteceu. Pensei e não consegui perceber o porquê de não se publicar as fotografias dos nossos bebés na internet. O meu caso é um pouco diferente porque, numa das minhas páginas, tenho mais de 20 mil pessoas, por isso estou mesmo a torná-la pública, mas e então?
É suposto que nos nossos perfis normais só tenhamos gente conhecida, gente em quem confiemos, certo? Mesmo que assim não seja, há maneira de restringir quem vê as nossas publicações através das listas ou mesmo escrevendo o nome das excepções.
... mas e mesmo que vejam as fotografias dos nossos bebés?
Não consigo perceber. Os pedófilos poder-se-ão rebarbar com eles? Verdade, mas e então? Vão fazer-lhes mal? Não consigo publicar fotografias sugestivas da Irene, mas também não é meu hábito tirá-las.
Se publicar fotografias da minha filha, ela vai ser raptada? Por quem? Por terem visto fotografias dela na Internet? Como assim? Os miúdos que fazem publicidade nos catálogos de roupa são os que estão mais em perigo?
Cuidado com os emblemas das creches e isso. Porquê? Vão lá buscá-los e as educadoras de infância dão os bebés a quem apareça?
Não estou a ridicularizar os medos, também os tive, mas não os soube explicar a mim própria e a minha vontade de estar à vontade foi maior.
Nem eu, nem o meu marido conseguimos materializar os nossos medos no que toque a essa questão.
Alguém consegue? Sem ser só com os argumentos "eles andam aí", "e os pedófilos?"?
Uma coisa mais concreta, por favor, em que efectivamente, publicar fotos da minha filha tivesse o efeito que alguém lhe pudesse fazer mal.
Adorava que me fizessem mudar de ideias.
Há sempre uma parte de nós que não tem certeza, não é?