7.24.2015

Parecida com quem?

Acho que é o caso de toda a gente: quem conhece o pai diz que ela é cara do pai e quem conhece a mãe diz o contrário.

Mas, vocês que "não conhecem" nenhum dos dois (apesar de já saberem mais da minha vida do que mais de metade da minha família), o que acham? 








7.23.2015

Como é que os pais da Irene se conheceram.

Não nos conhecemos numa noite de stand-up. Era uma noite de stand-up só de mulheres, em Lisboa, a convite da Luísa Barbosa (ex apresentadora MTV/5 para a Meia Noite e agora Fama Show). Fui uma das comediantes. Já não actuava há muito tempo e estava só a "fazer texto novo" estava, portanto, muito insegura, mas a treinar o meu "estou-me a borrifar para isto" para não morrer com um AVC. 

A Rita Camareneiro (ex tudo, até psicóloga, mas actual apresentadora do Curto Circuito), depois de olhar para o público, disse-me: "Sabes quem está ali? É o Frederico Pombares!". Eu, para não me fazer de inculta disse: "Ah, 'tá bem, boa!". Ela depois disse: "não vais lá dizer nada?". Eu: "não sei quem é!". Ela: "é um dos que fez o Último a Sair, rubricas do É Como Diz o Outro para o 5, etc, etc, etc". Eu: "Ah, sim, ouvi falar do Último a Sair, mas não tenho nada para lhe dizer". 

Lá foi ela dizer qualquer coisa. Que o admirava, provavelmente. Eu não fui, porque não tinha mesmo nada para lhe dizer e, também, porque sou falsa tímida. Estava sozinho numa das mesas do bar com um copo raso à frente. Mais tarde vim a saber que estava à espera de alguém. Que, por acaso, também conhecia. Era um colega meu comediante (ele continua a ser comediante eu é que acho que já não) e que também já me tinha dado umas dicas de improv (teatro de improviso).

Antes de actuar, pensei em adicionar esse tal Frederico no Facebook porque gostava de ter contactos do meio para saber o que andavam a fazer. Adicionei-o. Mais tarde vim a saber que ele recebeu imediatamente o invite no iphone, ele que estava ali sentado e eu tão perto e que achou isso muito infantil. 

Estava muito nervosa, há vários meses que não fazia stand-up e, naquela altura, estava mais virada para improv já que actuava semanalmente na Comuna. Levei até as folhas comigo para não me esquecer de nada e ia apalhaçando por cima. Não sem antes andar a ir lá para fora e voltar para fumar 5 cigarros dizendo sempre em voz alta (era muito barulhenta e sem classe, hão de reparar pelos "gajos e gajas e putos" no vídeo mais abaixo hehe) que estava muito nervosa. 

Actuei. Diverti-me. Depois fui sair com toda a gente que me tinha ido apoiar. 

              

Pronto. Fica aqui o vídeo de texto que nunca tinha experimentado antes e de todo o meu nervosismo. Podia dizer que sempre fui melhor do que isto, mas nem por isso. Já agora, este era o meu aspecto antes de ser mãe. 

Pronto. Fui sair. E já não me lembro quanto tempo depois, recebo uma mensagem do grande Frederico Pombares a dizer que eu tinha graça, que tinha uns "pensamentos" engraçados e que tinha pena que eu tivesse levado folhas. Fiquei histérica e lá me dei ao trabalho de ir ver o currículo do homem à net para ver se me iria arranjar trabalho. Depois lá percebi que não. Que ele trabalha com malta que ja anda nisto há anos e a única coisa na qual eu ando há anos é nuns All Star pretos. 

Conversamos. Daquelas conversas que duravam muito tempo e depois não se falava durante mais tempo ainda. As coisas foram-se arrastando, tranquilamente, ambos fazíamos a nossa vida. 

Apresentei o Rock in Rio desse ano com a SIC Radical e, deixem-me dizer, que houve dias em que eu estava fabulosa. O Frederico tem por hábito ver os concertos na televisão dos festivais e apanhou-me por lá. Decidiu mandar umas bocas. Ele dava-me feedback nos meus directos e eu desabafava com ele e ria-me com ele e tentava fazê-lo rir nos directos. Retomamos a conversa. 

(tão giro estar a relembrar-me de tudo isto e ele agora estar ali na cozinha a fazer o jantar...)

(se tiverem curiosidade em ver os directos  que fazia com ele a ver, estão todos aqui)


                             

Este é um dos vídeo de que as pessoas mais me falam (como se me falassem muito disto), que é "eishh e aquilo dos óculos!".  Depois lá trocava mensagens com ele sobre o que ele tinha achado.

O resto não preciso de vos contar. Obriguei-o a pedir-me em namoro tal e tal. Começamos rapidamente a morar juntos (ambos sabíamos que era a sério). Sete meses depois pediu-me em casamento. E casámos em Las Vegas. Essa história já vos tinha contado aqui no post "Até que a morte nos separe". Claro que quis um casamento válido em todo o lado e obriguei-o a casar/transcrever  em/para Portugal também. Não, brincas!

Agora somos pais. A filha do humor: Irene Pombares. 

(depois conto-vos o resto da história, se vos interessar - interessa? - que ele voltou com o jantar e agora tenho mesmo de ir comer).







Menina ou menino?

Quando a Isabel começou a ter noites seguidas de sono ou a acordar só uma vez para beber leite, começámos, devagarinho, a colocar a hipótese de avançar para um segundo. Mas depois lá nos vai surpreendendo e acordando novamente, como que a dizer-nos "não, não, quero ser the one and only" e de manhã juramos que só nos metemos noutra daqui a 40 anos. 

Só estou a falar nisto porque ontem publiquei uma fotografia no meu feed do Facebook com a Isabel...


e o meu irmão Frederico, um fofinho, disse "ainda que pequenina, já se nota a barriguinha do segundo!" 

O segundo não vem aí, mas gostava que eles não tivessem 8 anos de diferença. Para o ano, pensamos nisso. Mas, o mais estranho, é que quando visualizo a cena, não consigo imaginar uma menina ou um menino. Nem sei o que desejo. Não me vou pôr com a história do "que venha é com saúde", que isso é ponto assente, mas a verdade é que não consigo decidir a minha preferência. Achava lindo a Isabel ter uma mana (amo o meu irmão e não o trocaria por ninguém neste mundo, mas, depois dele, adorava ter tido também uma irmã). Por outro lado, e porque não sei se iremos ao terceiro - o mais provável é que não aconteça, até porque a probabilidade de ganhar o Euromilhões é nula, porque não jogo - gostava muito de ter um rapaz.

E vocês? Tinham preferências? Ou era totalmente indiferente? As que têm dois filhos, são rapazes, raparigas ou casal? Como se dão eles?


Coisas que me dão vontade de lhe partir os ossinhos.

E isto é num bom sentido. Era o que o Frederico me dizia no início do nosso namoro. "Até me dás vontade de te partir os ossinhos todos". Fiquei com algum medo, depois passou a dizer isso à minha gata e ela nunca foi tão mimada, por isso... fiquei descansada. 

Obviamente que não dá para enumerar e muito menos por ordem as coisas que nos fazem gostar ainda mais deles, as que nos fazem sorrir quando pensamos nelas e eles estão a dormir, mas ela está a comer melão sozinha e vou aproveitar para tentar. 



(ui, já apaguei e rescrevi 3 vezes, está a ser mais difícil do que o que pensava)


Quando a vejo a brincar sozinha

Quando se diverte a brincar comigo

Quando pergunta pelos avós

Quando pergunta pela Joana (uma amiga do parque onde vamos)

Quando quer uma coisa, vai à procura dela e encontra

Quando pede maminhas

Quando adormece rápido

Quando gosta da comida

Quando dança

Quando canta

Quando a vejo de cabelo apanhado

Quando se ri e diz "pipi" enquanto lhe troco a fralda

Quando nos tenta fazer rir

Quando trepa para a nossa cama para lhe fazermos brincadeiras

Quando aponta para as coisas que não pode fazer e diz "nanã"

Quando persegue o Noddy

Quando, por nada, se põe em biquinhos dos pés

Quando a vejo de vestido

Quando a vejo de calções

Quando anda de baloiço

Quando brinca com as pedrinhas

Quando vamos à praia

Quando pede para lhe cantar uma música específica

Quando estou no quarto "a dormir" e ela, de vez em quando, se lembra de mim

Quando percebo o que ela quer dizer

Quando ela diz que não

Quando simula que está ao telefone connosco

Quando o pai lhe dá banho

Quando eu lhe dou banho

Quando a vejo nua

Quando lhe ponho creminho ou água hidratante depois do banho

Quando a vejo a andar um bocadinho "sozinha" pelo centro comercial

Quando diz "Olá" a toda a gente e sorri para toda a gente

Quando bate palminhas por ver um peluche ou boneco que goste

Quando tenta calçar meias minhas ou sapatos

Quando acorda de manhã e me diz olá

Quando pede colo

Quando quer comer da nossa comida

Quando tomo banho com ela

Quando se tenta pentear

Quando está tão feliz que perde a força nas perninhas

Quando apanha algo no chão que está "sujo" e dá à mãe

Quando pede uma história em particular

Quando está a repetir a mesma piada durante uma hora

Quando se esconde atrás de uma grade no berço e espreita por outra

Quando dá pinotes na cama 

Quando mostra os dentinhos todos

Quando diz não, com birra

Quando responde que não tem cocó e tem

Quando fica toda feliz durante um dia inteiro por andar com uma colher que tem um leão

Quando pede para lhe dar peixinho e depois dar uma colher de sopa e depois peixinho

E, coisas como hoje, que não queria comer nada e lembrou-se duma coisa chamada melão e agora está a comê-lo sozinha.


Falta tanto... tentei ;)

7.22.2015

Mais uma voltinha

No fim-de-semana passado fomos até um sítio totalmente desconhecido para nós: o Vimeiro. Já tinha estado em Santa Cruz e, mais acima, em Peniche, mas ali nunca. Excelente escapadinha.

O hotel Ô Hotel Golf Mar tem tudo para umas férias em família: piscina exterior para adultos e outra para crianças, piscina interior, ginásio, sala, com animador, para os mais pequenos desenharem, jogarem, fazerem trabalhos manuais, verem desenhos animados, ou seja, entreterem-se um bocado enquanto os paizinhos relaxam, que também merecem. 

No exterior, há o Fun Kids, com insufláveis, trampolim, jogos tradicionais, slide, bicicletas, tiro com arco, bolas gigantes... um sem número de actividades divertidas para eles se cansarem até mais não. 

Depois, uma vista deslumbrante, com a qual se acorda bem-disposto, mesmo que seja às 7h. Apesar do nevoeiro cerrado da manhã, estava calor e deu para ir à piscina. A praia, com umas barraquinhas à antiga, é muito agradável (o que não estava nada agradável era a temperatura da água, horrível, horrível). 

O serviço, uma maravilha. Confesso que estou um bocado queimada com buffets de hotéis em que cogumelos, massada de peixe e arroz doce conseguem saber ao mesmo, mas ali come-se mesmo, mesmo bem (muitos petisquinhos, muitas saladas saborosas e as sobremesas, senhores!). 

Os quartos têm uma decoração pouco moderna (o hotel já tem uns belos aninhos), mas são simples e as camas são super confortáveis (pude desfrutar bem delas, porque a Isabel dormiu a noite todinha, abençoados ares do Vimeiro) e os lençóis de um branco imaculado (sou picuinhas com lençóis).

Tivemos a sorte de apanhar um Concurso de Saltos, no Centro Hípico, e foi mais uma actividade diferente para a Isabel, apesar de, mesmo assim, continuar a dizer que o cavalo faz "ão ão". 

Depois do meu paleio, levam com um álbum enorme de fotos:






 





 
 Laço Nini Lace

 









 








Uma leitora pediu-me, no post do Facebook de sábado, uma review do hotel. Espero ter ajudado na decisão.
Fotos Love Lab

Logo à noite ele não me escapa!

Não, filhotas, não é o que estão a pensar. Isso escapa certamente, que esta semana há muito trabalho e muitas dores de cabeça, se é que me entendem. 

O que logo à noite não escapa é um post com as melhores fotografias do nosso fim-de-semana e, claro, o meu reencontro com o anónimo fofo que deve ter um fetiche qualquer comigo e não me larga. Sempre que há fotos de férias, ele passa por cá e dá o ar de sua graça. Não sei se está à espera de me ver de biquini ou assim - e se calhar um dia destes tem sorte (ou azar...), que não sou rapariga de grandes vergonhas. Só das madeixas que fui fazer, uma desgraça franciscana!

No post de sábado disse-me: "Também tive saudades suas, Joana. Com tanta vez que fala de mim, até já acho que merecia um fim de semana à borla, ou então um pastel de Belém. Um abraçinho, e bom fim de semana." Apesar do erro ortográfico que me dá um "arrepio na espinha" (já agora, serviço público: abracinho e não abraçinho, quando o "i" e o "e"  são precedidos por c, não leva cedilha), o que conta é a intenção (aqui sim, leva cedilha) e eu recebo o abracinho de bom grado. Foi simpático, teve piada, e por isso foi parar ao mural dos comentários. Assim vale a pena alimentar esta relação. 

Fica uma mão cheia de fotos como teaser do que poderão ver logo à noite, ou aquilo a que se chama "encher chouriço num blogue":






Fotografias: LoveLab

7.21.2015

O nosso livro (#01) - Vamos a isto?

A ilustração que a Sara-a-Dias fez da Irene e de mim. 
Olá mamãs, papás, adolescentes que me ouviam na rádio e/ou viam na televisão e que não sabem muito bem o que fazem por aqui. Ah! E outras pessoas que nos leiam, tipo todos os milhares de amigos da Joana Paixão Brás e que fazem com que este blogue seja um sucesso. 

Muito pouco provavelmente nos acompanharão mesmo mesmo desde o início e, por isso, sinto que vos estou a dar uma novidade. Logo no primeiro mês, se não estou em erro, foi-nos feita a proposta de editarmos um livro. E iremos fazê-lo. Temos é de o escrever. Temos milhares de ideias, mas queríamos mesmo apalpar-vos à grande para construirmos algo mesmo à vossa imagem e que se sintam incluídas também neste projecto.





Pode ser frase feita, mas é verdade que nós não seríamos nada sem vocês. Quer dizer, seríamos quase tudo "sem vocês", menos isto do blogue, que é a isso que me refiro. Bem, vocês percebem. 

Para já posso só avançar que vão estar tão envolvidas neste projecto quanto quiserem estar (menos na parte das receitas, acho que, quanto muito, os livros - se não formos o Dr. Mário Cordeiro - só dão para pagar um donut). 

O que gostariam que fizesse parte deste livro da MEQS? 

Vou dar algumas ideias para haver mais gente a participar e terem que pensar menos (mas não se inibam de dar sugestões que não estejam na lista, ok?): 

  • Os nossos melhores posts
  • Reflexões sobre o blog (o que nos levou a começar, a continuar, a continuar e a continuar)
  • Respostas a perguntas vossas (uma espécie de best of de "A mãe desbronca-se")

  • Fotografias inéditas em que até eu estou com um ar lavadinho e quase podia ter "Paixão Brás" no BI (ou cartão de cidadão, pronto)
  • Posts inéditos sobre assuntos à vossa escolha ou sem ser à vossa escolha (para descansarem um bocadinho)
  • Entrevistas a algumas das nossas leitoras
  • ... 
Podemos fazer tanta coisa, já repararam?

Venham daí as vossas sugestões. Vamos fazer isto juntas para que fiquemos com um "recuerdo" giro e também para que outras mães fiquem a sentir-se mais acompanhadas e se sintam menos "malucas". ;)

Não será cedo demais?

Aproveitei a hora de almoço para vir arranjar as unhas. À espera da mãe, uma miúda, de sorriso rasgado, que parece ter dez, onze anos. 

Afinal não está à espera da mãe, está à espera para arranjar as unhas. "Adora! Agora tem ido para a escola de lábios vermelhos e já teve madeixas cor de rosa", diz a mãe. "Quantos anos?" "Oito". "E não lhe estraga a sua maquilhagem? A minha neta..." "Não, tem a maquilhagem dela."
Pus-me a pensar nisto tudo, até porque, não tarda muito, a Isabel vai chegar lá.  Devemos ou não limitar estas escolhas das nossas filhas? 
Não vejo mal nenhum em ver as miúdas de unhas pintadas, brilhantes e purpurinas. Muitas adoram este mundo das princesas e do cor-de-rosa. Mas qual será a idade em que deixa de ser uma brincadeira ingénua e em que estamos a estimular, sem nos apercebermos, a sexualização precoce? Ir, aos oito anos, com lábios vermelhos para a escola deve ou não ser apoiado pelos pais? E as madeixas? Ter as unhas arranjadas por uma manicure profissional?




Quem já tem filhas mais velhinhas, conte-nos tudo! 
O que acham disto? Estou a exagerar e não tem mal nenhum ou devemos reflectir sobre estas coisas?

Oops....

Adoro ver a minha filha nua. Tenho pena das fraldas não poderem ser transparentes. Adoro o rabinho dela, as perninhas, tudo. 

Aproveito quando ela vai para o banho para ela fazer um desfile até à sala e apanhar uns ventinhos. 

Lá foi. Com as carninhas todas a abanar. Pôs-se de cócoras e eu pensei: "tão querida, está mesmo a explorar o corpo". Claro que está.

Deixou-me foi um corpo no chão da sala. 

Eu estava confiante porque ela já tinha feito naquele dia, mas afinal... tinha este guardado especialmente ali para ao pé da mesa de jantar. 

Gostaria só de fazer uma agradecimento público por me ter poupado o tapete. 

Obrigada, filha.




PS - Mesmo assim foi muito menos preocupante que o pior acidente de cocó que tivemos até hoje e já tivemos dois, dos quais vos falei aqui e aqui. É muito cocó? Foi o que também achei. 

7.20.2015

Afinal Havia Outra (#27) Cara avó com quem me cruzei hoje

Eu sei que ama profundamente a sua neta. Eu sei que ficou contente quando a sua filha lhe pediu para tomar conta dela, as creches fecham, ou não existem, ou são caras, mas mesmo que assim não fosse, tomar conta de um neto é muito bom, os meus próprios pais consideram tal coisa um privilégio que ainda não podem ter.

Também sei que nem sempre acordamos de bom humor. Tenho a certeza que aquele café que pediu era mesmo muito necessário para acordar, pôr os pensamentos em ordem e começar o dia.

A sua neta não tem mais que 15 meses, pouco mais de um ano. Acordou, tomou o pequeno-almoço e agora veio à rua com a avó. Até é criança que gosta de carrinho, acredite ou não, eu tenho quase sempre que carregar com a minha às costas porque se recusa a andar no carrinho. Está cheia de energia. No entanto, a avó teve mesmo que parar para beber aquele café. De certeza que a neta compreende, apesar de ser tão pequena. Mas passado um bocadinho começa a ficar inquieta. Pensa "Que se passa? Porque é que não estamos a andar?". A avó parou o carrinho mesmo ao pé de si, mas a menina tem o as pernas da mesa ao nível dos olhos, e a avó não está a olhar para ela.

A menina lança um som de desagrado. Não é choro, não é grito, mas não são palavras porque ainda não consegue. 

O café ainda não fez o efeito pretendido, a avó está impaciente. A menina não precisa de café, acordou bem disposta, tem 15 meses, já anda, quer correr e estatelar-se no chão e aprender a não cair. Mas a avó não está a perceber isso, e dá-lhe algo para as mãos, um pacote de açúcar, um molho de chaves.

Cara avó, lembra-se certamente de quando os seus filhos eram pequenos. Nada fica muito tempo nas mãos dos pequenos, a não ser aquele cotão sujo que teima em aparecer, a sujidade das unhas e das preguinhas das mãos. Vai tudo ao chão.

Por qualquer razão, a avó não antecipou isso. Achou que a menina ia segurar no objecto e entreter-se por tempo indeterminado, e que além do café, a avó conseguia ainda ler a TV Guia e fazer o Euromilhões. Mas não. Ela mandou tudo ao chão, e avó, que tinha a certeza que isso não ia acontecer, irrita-se.

"Estás parva, tu?"

O meu irmão era parvo quando fazia caretas para as fotografias. Eu era parva quando gastava o dinheiro do almoço em rebuçados. A sua neta não é parva, nem está a ser parva, está a tentar dizer-lhe que se quer ir embora.

"És feia. És má".

A sua neta não é feia. É uma menina bonita, loirinha e de olhos azuis, e veste um vestidinho mesmo daqueles só de passeio. Talvez a avó nem queira levá-la a brincar para não sujar o vestido. Não é má, não há qualquer ponta de maldade naquilo que ela está a fazer, há uma necessidade muito básica, ancestral até, de chamar a sua atenção, de dizer que está ali, de mostrar que precisa de ser cuidada. Não é essa afinal a função da avó?

O pão, o banho, o leite, vestir e despir, se calhar qualquer um faz, mas a avó deve cuidar. Devia cuidar.

"Se não paras, vou-te bater"

Aqui a menina já estava a chorar a sério. Lembra-se, avó?

Daqui a uns anos a avó vai ser muito velhinha e vai precisar de cuidados. Se calhar a neta até vai pagar a uma enfermeira, que lhe dê o banho, mude a roupa, trate da casa. Mas a avó não vai querer estar sempre acompanhada por uma pessoa estranha. Vai querer a neta de quem cuidou. 

Na cama onde estiver, de preferência ainda lúcida, a sua neta vai ignorar a sua tentativa de conversa enquanto bebe o seu café. São as suas últimas palavras, mas que importa isso, é só uma velha, não diz coisa com coisa. Se a avó fizer um bocadinho mais de barulho, a neta vai ficar impaciente e mandá-la calar. Se a avó não parar mesmo, a neta vai partir para o insulto. Feia e má não são maus o suficiente, dirá uns nomes piores. E se nada disto resultar, vai ameaçar bater.

Ou então nada disto vai acontecer, porque no caminho da vida a menina vai perceber que não é assim que tratamos as pessoas de quem gostamos.

O respeito é uma relação que se cria, com duas pontas. A avó tem de respeitar a neta, só assim a neta lhe terá respeito. A avó não pode ameaçar bater na neta, senão a neta vai achar que podemos bater nos mais fracos, nos mais pequenos, ou apenas naqueles que não compreendemos. Ou mesmo na própria avó.

Quer a avó, quer a neta têm o direito de ter dias maus. Mas a avó já aprendeu tanto com a vida, será que não aprendeu que não devemos descarregar as nossas frustrações nos outros? Ou vá, pelo menos naqueles de quem gostamos?

Provavelmente a avó pensa que ela própria também levou palmadas e não foi por isso que ficou mal. Bom, avó, o facto de pensar assim comprova precisamente o contrário: ficou mal e quer que os filhos, netos, bisnetos e por aí fora tenham sempre a mão mais preparada para bater do que para abraçar. Algo está seriamente errado nisso.

Respire fundo, avó. Conte até dez. Ignore os olhares das pessoas do café que devem estar a achar que a sua neta é mimada: também eles têm filhos e netos e sabem como é. Quando acabar de contar, explique à neta que são só mais 5 minutos e que depois vão fazer o que ela quer. Ela também lhe está a fazer companhia a si. Ela gosta de si. Aproveite enquanto dura.


Atenciosamente,

Uma mãe que acabou de deixar a sua bebé na creche e que dava o braço direito para ter a avó (a da sua filha e não a senhora, obviamente) a cuidar da filha
Vanessa Borges

A Vanessa, mãe de uma menina de 21 meses, escreveu-nos hoje, dizendo que seguia o nosso blogue, gostava dele e que nos achava graça. Resolveu partilhar o que lhe tinha acontecido hoje de manhã. Disse-nos, com muita piada, que até podíamos usurpar o texto, dizendo que era nosso, num dia em que estivéssemos menos inspiradas. Hoje não estou menos inspirada, mas este texto acertou em cheio na mouche. Esta manhã custou-me particularmente ir levar a Isabel à creche, apeteceu-me prolongar o fim-de-semana de amor, atenção, carinho, gargalhadas, brincadeiras. Estando mais frágil e cheia de saudades da minha filha, li este texto num trago. Custou-me cada palavra. Obrigada pela partilha, Vanessa. JPB