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4.24.2017

Afinal o que é a Parentalidade Consciente?



A Parentalidade Consciente é uma forma de estar na vida em que o foco está no desenvolvimento conjunto de pais e filhos. Sendo os pais a génese em que tudo se inicia, é também neles que a Parentalidade Consciente se foca em primeiro lugar. 



Exercer uma Parentalidade Consciente é uma escolha que se faz por amor. Em primeiro lugar, amor por nós, pois só nos amando somos capazes de amar. Depois, alargando esse amor e estendendo-o aos filhos. Transformando-nos a nós próprios e fazendo o nosso percurso de desenvolvimento pessoal, estaremos então aptos para podermos empoderar os nossos filhos. 

A Parentalidade Consciente possibilita um autoconhecimento dos pais, e estes, ao conhecerem-se melhor, têm depois a possibilidade de poderem partilhar com os seus filhos a melhor versão de si próprios. 

Esta transformação pessoal tem por base o Mindfulness e a definição dos valores e intenções dos pais, o que significa que a Parentalidade Consciente é a vivência da parentalidade baseada na prática de Mindfulness e nos nossos valores e intenções.  

Vamos por partes. Então o que é Mindfulness? 

Mindfulness é “uma forma de prestar atenção de propósito, no momento presente e sem julgamento perante o que esteja a surgir no seu campo de experiência.” (Jon Kabat- Zinn). 

De uma forma mais simples, é a atenção plena, no momento presente sem julgamentos. 

O Mindfulness vai então permitir que esteja mais presente e mais consciente em todos os momentos da sua vida e pode escolher fazê-lo especialmente com os seus filhos. Esta forma de estar, como tudo na vida, treina-se por isso vai precisar de prática, paciência e persistência. Com o tempo verá que vale muito a pena, pois vai ser capaz de responder a algumas questões com mais clareza, harmonia e paz interior. Por exemplo: 

  •  O que se está a passar com o meu filho neste momento? 
  •  O que é que o meu filho necessita? 
  •  O que é que eu estou a sentir?

Estando de uma forma inteira, completa, em cada momento que se convida e disponibiliza a estar com os seus filhos, vai poder aproveitar cada instante tal como ele é, dando-se conta das suas verdadeiras necessidades e das dos seus filhos. Vai poder estar mais atento às situações que geram conflito e poderá também reduzir os momentos de tensão, causados na maioria dos casos por preocupações ou pensamentos relacionados com o passado ou o futuro. Por exemplo, o seu filho convida-o para brincar com ele. Você vai, mas durante a brincadeira está a pensar no que vai fazer para o jantar, na reunião que deveria estar a preparar para o dia seguinte. Ou seja, não está com atenção plena nem a aproveitar verdadeiramente esse tempo precioso que está a passar com o seu filho. O seu filho também sente isso, por isso começa a exigir cada vez mais a sua presença, o que poderá resultar num momento desafiante. Numa próxima vez, poderá expressar ao seu filho o quanto é importante para si brincarem juntos e escolher que naquele momento estarão ali totalmente um para o outro. Se a idade o permitir, pode também explicar-lhe que terá uma reunião no dia seguir e que não poderá estar com ele tanto tempo como gostaria, mas que o tempo que estiver, estará realmente presente.  

No que concerne aos valores e intenções, é fundamental que os tenha bem presentes, para poder avaliar mais facilmente o que é verdadeiramente importante neste momento da sua vida. Se sentir algum bloqueio, no início é totalmente normal, pois pode ser a primeira vez que está a pensar sobre o assunto. Lembre-se que está tudo bem e que é importante tê-los escritos para poder relê-los sempre que se sinta perdido ou a desviar do seu caminho. Os valores e intenções guiam as ações, por isso, se estiverem bem definidos será mais fácil saber o que fazer em qualquer situação. 

Por vezes poderá ser útil uma ajuda para desbloquear este processo de encontrar/relembrar os seus valores e intenções. Vou tentar dar essa ajuda! 

Pense nos valores que hoje, a pessoa que é, consegue praticar, neste momento da sua vida, e que vão apoiar a relação que quer desenvolver com o seu filho. Tenha presente que não existem valores certos nem errados e que o único que sabe quais os valores que melhor o servem a si e à sua parentalidade é você. 

A Parentalidade Consciente assenta em quatro valores base que acredita serem os alicerces da vida em família: 

  •  Igual Valor – Os seus desejos, as suas opiniões, as suas necessidades e as suas emoções são respeitadas exatamente da mesma forma que as do seu filho. 

Exemplo: A minha filha partilhou comigo a sua vontade de jantar no quarto. Falámos sobre as necessidades de ambas e encontrámos uma solução que fizesse ambas felizes. Uma vez por semana, a minha filha passará a jantar no quarto. 

  •  Autenticidade – É honrar e exprimir aquilo que somos em qualquer situação. 

Exemplo: Regresso de um dia de trabalho extenuante e explico à minha filha que preciso de deitar-me cedo. Admito que estou cansada e comunico-o. 

  •  Respeito pela Integridade – Refere-se a limites e a necessidades físicas e psicológicas. Vai permitir distinguir desejos de necessidades centrais e limites pessoais. 

Exemplo: A minha filha quer uns ténis All Star. Explico-lhe que compreendo o seu desejo, mas que considerando que está a crescer, prefiro investir nuns ténis que sejam mais em conta. 

  • Responsabilidade Pessoal – É assumir a responsabilidade pela sua vida, ações e escolhas, e é deixar que o seu filho assuma as responsabilidades adequadas à sua idade. 

Exemplo: A minha filha quer vestir-se sozinha e eu deixo-a assumir a responsabilidade pessoal pela sua escolha. 

No que concerne às intenções, elas ajudam-nos a manter o foco no que realmente queremos. São diferentes de objetivos, porque não têm um fim. Por exemplo, uma das minhas intenções é manter a calma e cultivar a paciência em momentos desafiantes com a minha filha. Quando isso não acontece, regresso às minhas intenções e investigo com abertura, curiosidade e sem julgamento o que me levou a desviar do meu caminho. Ainda sobre este assunto poderá ler este artigo 

Deixo aqui alguns exemplos de perguntas que poderão ajudá-lo a definir as suas intenções enquanto pai/mãe que tencione praticar uma Parentalidade Consciente: 

  •  Que valores gostaria de transmitir ao meu filho? 
  •  Como posso ajudar o meu filho a ser feliz? 
  •  Como gostaria que fosse a nossa relação? 
  •  Como gostaria que fosse a nossa família?
  •  Como devo agir, se quero que o meu filho seja uma pessoa respeitadora e empática?

Ao decidir percorrer o caminho da Parentalidade Consciente é muito importante refletir acerca dos seus valores e intenções, pois eles serão os seus guias daqui para a frente, sempre que lhe surgirem dúvidas e momentos desafiantes.
Agora, gostaria de partilhar as respostas a algumas perguntas que me têm sido colocadas: 

Na Parentalidade Consciente, as crianças podem fazer tudo o que querem?

Não. Na Parentalidade Consciente existem limites gerais, os normalmente estabelecidos pela sociedade, e limites pessoais. Os limites pessoais são a escolha individual de cada um e deverão ser comunicados de uma forma autêntica, respeitadora e construtiva, para que a criança se desenvolva de maneira comportamental e emocionalmente madura. 

É verdade que na Parentalidade Consciente não existem castigos nem time outs? 
Sim, é verdade. A Parentalidade Consciente não tem castigos, tem consequências naturais. Por exemplo, a minha filha está a escrever na parede e eu não concordo com isso. Digolhe onde é que ela pode escrever, por exemplo numa folha e dou-lhe um pano para ela limpar a parede. Limpar o que sujou é uma consequência natural da sua ação e vai permitir uma aprendizagem direta, tendo em conta a ação que estava a praticar.  

Não existem time outs, existem time ins. Quando a criança tem um comportamento desafiante o que mais precisa é que lhe demonstremos o nosso amor incondicional. Colocá-la à parte só a vai fazer sentir-se rejeitada. Uma vez que a intenção da Parentalidade Consciente é fomentar uma maior conexão, acolhemos o que a criança está a sentir e esperamos, tendo presente que o comportamento é apenas o comportamento, não é a criança. Independentemente do seu comportamento, a criança deve experienciar que o que sentimos por ela não muda e que continuamos a amá-la, independentemente do comportamento que esteja a ter.  

Ao exercer uma Parentalidade Consciente deixo de ter situações de conflito com os meus filhos? 
Não. As situações de conflito vão continuar a existir, só que passarão a ser vistas como oportunidades de crescimento conjunto. A forma como lida com estas situações de conflito é que irá mudar pois, em vez de ver o comportamento do seu filho como algo pessoal contra si, entenderá que quando o seu filho tem um comportamento desafiante ele está centrado apenas nas suas necessidades. Por isso será necessário encontrarem um espaço de calma e serenidade, onde exista lugar para encontrarem soluções win win que funcionem para ambas as partes e que deixem ambos felizes, em vez de serem os pais a imporem soluções. 

Com a Parentalidade Consciente o meu filho vai passar a obedecer-me? 
Não. A Parentalidade Consciente não se baseia no controlo, na obediência nem no “portar bem”. A Parentalidade Consciente tem o seu foco na promoção da responsabilidade, possibilitando à criança fazer escolhas de acordo com as suas experiências, apoiando-a e promovendo a sua autoestima. A criança poderá ser mais cooperante devido à relação de amor e empatia que estabelece com ela, o que não quer dizer que faça tudo aquilo que você quer. 

Para finalizar, na Parentalidade Consciente terá a sua maior oportunidade de crescimento e mudança. Se permitir que essa mudança ocorra, irá construir com o seu filho uma relação baseada na cooperação, onde a conexão e a comunicação autêntica, aliadas a uma maior presença, potenciarão a maior viagem evolutiva que alguma vez fará, ao mesmo tempo que reforça a autoestima, responsabilidade e autonomia do seu filho.
  
Até já!
(Professora do 1.º Ciclo, Facilitadora de Parentalidade Consciente da AdPC, 

4.21.2017

Caguei no blogue.

Há dias em que não apetece. Como em qualquer trabalho. Como em qualquer relação. Até como em alguns momentos no papel de mãe.
Há dias em que apetece faltar ao trabalho, mas não convém. Não sem justificar a falta. Não sem dizer alguma coisa às pessoas que aqui aparecem religiosamente todos os dias (obrigada).
Publicamos por aqui todos os dias - começámos a saltar o sábado, porque achámos que merecíamos algum descanso. De resto, é muito, muito raro falharmos (muito menos às 21h, o primetime). É como se fosse um canal de televisão, nunca encerra, muito menos a esta hora. Podia escrever um post sobre a vacinação e o sarampo, mas sinto que já fui tudo dito (blogues, imprensa, FB). Podia desabafar sobre estar 24h/24h horas com um bebé em casa, mas não estou para aí virada. Podia fazer um compile do que foi acontecendo estes dias, mas para isso há o instagram.

Há dias em que gosto mais de estar por lá. Será que é porque o sinto mais como um hobby? Será porque adoro fotografia e acho um piadão aos stories? Será porque dá menos trabalho? Não sei. É injusto e sinto-me muitas vezes como se estivesse a trair esta relação com o blogue, uma relação muito mais duradoura e que me dá muito mais: mais prazer, mais leitoras, mais feedback e também mais dinheiro (sim, não vou negar o evidente). É este casamento que eu quero manter e é também por isso que dá tanto trabalho (e prazer, tipo pescadinha de rabo na boca).

Mas hoje... hoje caguei no blogue. 

Vou aproveitar que elas já estão a dormir para:
- ver um episódio do Por Treze Razões (sabem do que estou a falar)?
- comer um quadradinho de chocolate 75% cacau e beber um cafezinho
- desfrutar um bocadinho do sofá até adormecer. [ou até uma delas me acordar rrrrrr].

O meu patrão vai compreender. Sou eu.










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4.11.2017

Cedo Demais?

Ui. O que tenho ouvido ao longo da vida tooooda da Irene (3 anos) que compro as coisas "cedo demais". Eu gosto de ter para quando já estiver pronta. Nunca fui a mãe louca por estímulos e gosto muito de respeitar o crescimento e desenvolvimento dela (tanto a nível físico como emocional). Há pressões de todo o lado para as fraldas, para o desmame, aqueles negócios que estimulam as crianças fisicamente com o pretexto de que estão a ganhar competências "para a escola" (supostamente o sítio para onde eles vão para ganhar competências - onde é que já vamos!!)

Gosto, porém, que ela tenha os instrumentos que a possam deixar mais contente e que se possa divertir com eles, quando lhe fizer sentido. E como havia uma trotinete na escola e me tinha parecido muito entusiasmada, foi essa a prenda dela de aniversário. 

Ando louca para andar em cima daquilo, já andei um bocadinho pequenino só para matar "o bicho" (falo da vontade de andar de trotinete e não o sujeito da canção do Iran Costa). Na volta temos a trotinete só por minha causa, ahaha. Ela ficou mesmo muito feliz e assim que for desenvolvendo as skills, vai-se apercebendo que se vai tornar mais e mais divertida. 

E é muito mais leve e prática que andar com um triciclo depois quando ela não quiser mais em cada passeio. :)









Coisinhas que possam ter achado giras: 

Roupa - Zara
Ténis - Vans (dah)
Trotinete - Imaginarium
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4.10.2017

Não deixem o amor morrer.

Já todos sabemos que não é um bebé que sustenta uma relação. Aquela máxima de "engravidar para segurar um homem" ou ter um filho para tentar salvar um casamento é crendice do passado. 

Neste momento, acho que já todos temos consciência de que a relação do dia-a-dia, o amor, a cumplicidade, a união na saúde e na doença, a noção do lado lunar do outro, o respeito e a empatia já têm de vir de muito antes. Se não vem - porque nunca antes havíamos sido confrontados com esse teste - tem de passar a haver. E a verdade é que um filho vem mudar muita coisa. Muda a casa, muda os horários, muda os estados de espírito, muda corações. E, ao mesmo tempo que os muda, acrescenta. E ao mesmo tempo que nos acrescenta uma força que não sabíamos que existia, acrescenta medos, acrescenta incertezas e traz ao de cima algumas das nossas maiores inseguranças e fragilidades. Perante o assoberbamento que é ter um filho a depender totalmente de nós, ficamos expostos. Totalmente nus.

Com o nascimento a paixão, como todas as outras, deixa-nos meio anestesiados no início e com borboletas na barriga. É uma explosão tão grande de emoções que choramos, rimos, ora estamos tranquilos e orgulhosos a olhar para aquele ser a dormir, tão perfeito, tão nosso, ora estamos em rebuliço a achar que não damos conta. E é na soma desses dias, em que começamos uma nova vida - todos -, em que nos vamos conhecendo e redescobrindo, em que vemos nascer e crescer uma criança, mas também dois pais, que o amor se sustenta.

Se não conseguirmos esperar que o outro se reencontre, se não conseguirmos colocarmo-nos no lugar do outro e perceber que há muito por curar, há um corte e um luto com o passado por fazer, há até memórias de infância que surgem, inesperadas, há um nós que às vezes não reconhecemos e que demora a reconstruir-se ou a aceitar-se, há sono, há cansaço e há - acima de tudo - mais uma pessoa na equação.

Nem tudo vai continuar a ser igual. Arrisco-me a dizer que nada vai continuar a ser igual. E se no meio desta mudança, a relação não sobreviver, então não é amor. Porque o amor é compreensão, é paciência, é abertura para tentarmos encaixar novas rotinas e novos "eu" na história. Amar é tentar, é dar uma nova oportunidade, sabendo esperar. O amor sobrevive a maus feitios, a zangas miúdas e a grandes, sobrevive a dias ou semanas com falta de sexo, a muito sono e a birras, de todos. Mas só sobrevive se for alimentado - mesmo com períodos de jejum-, só sobrevive se relativizarmos palavras afoitas ditas a meio de uma noite mal dormida, só sobrevive se dermos e recebermos e se tivermos noção de que amor não é só o prazer momentâneo e auto-satisfação. É abdicar também, é procurar também a felicidade do outro. Amar dá trabalho, ao mesmo tempo que não dá trabalho nenhum, porque, se de coração aberto, não custa nada.



Fotografia: Joana Paixão Brás



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4.04.2017

A qualquer hora, em qualquer lugar.

Sempre dei mama em qualquer lado. Quase. No local de trabalho, se íamos visitar o pai, não me sentiria bem a sacar da mama e a dar ali à frente do chefe, nem via grande necessidade ou urgência nisso. Mas quando digo "em qualquer lado" é basicamente não sentir que tenho de ir para o carro ou para uma casa de banho. Vou se quiser, não tenho de. Custou-me, numa ida a um hospital privado, que me tenham sugerido por duas vezes ir para um cantinho da amamentação, quando eu disse que preferia ficar ali na sala de espera normal, simplesmente porque tinha a minha filha mais velha ali e não a queria abandonar nem privá-la de estar a brincar com os bonecos. Da segunda vez que a mesma pessoa me veio sugerir ir para o cantinho da amamentação, senti que já não era para que eu me sentisse mais confortável, era porque ele não estava confortável OU não queria que os outros utentes ficassem desconfortáveis. Poderia ter ido se estivesse só com a bebé. Não tinha de. E é isso que eu defendo: a escolha. 

Já dei mama no carro porque naquele momento era o mais confortável para as duas (e assim não se distraía tanto), já dei mama com um paninho a cobrir parte da mama, tentei dar à Isabel com um avental e não corria bem porque a miúda suava em bica (nesta nem experimento), já fui de propósito para espaços e cantinhos de amamentação. Agora também vos digo: há cantinhos de amamentação/fraldários que não lembram ao diabo. Ou cheiram a cocó (e eu levo na boa com o cheiro a cocó das minhas filhas, mas dos outros dispenso), ou estão ao lado de uma zona de fumadores e aquilo está empestado, enfim... 

Depende do momento, mas regra geral, se a miúda tem fome ou sede o que seja, saco da mama, com discrição (como penso que qualquer mãe, pelo menos nunca vi nenhuma a puxar para cima o vestido para amamentar ou a andar a passear por aí sem camisa), sem pudores e sem grandes alarmismos. Quando sentirem que estão a fazer algo de errado ou a incomodar alguém - que estupidez sentir-se isto - pensem que até o Papa já falou pelo menos duas vezes sobre este assunto: amamentem "sem medo e com naturalidade, tal como a Virgem", referindo-se às mães dos bebés que estavam a ser baptizados.

Eu sou das que acha bonito ver um bebé a ser amamentado. Não têm de achar, claro. Mas todos temos de respeitar. Tenho fotografias a amamentar em museus, em parques, em restaurantes, em casa. Desta vez foi na festa da Isabel e da Irene. É onde calha, a qualquer hora, em qualquer lugar. Tão natural como a sua sede. 

Susana Cabaço Fotografia


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3.31.2017

Calem-se!!!

(uau um post que não é sobre a festa de aniversário) 

Adoro sentir que aprendi qualquer coisa e que, ao mesmo tempo, pratiquei o bem. Não sou daquelas pessoas que me sinta gratificada a doar coisas a instituições, apesar de já ter feito voluntariado numa casa de acolhimento de emergência (só para que não fiquem a pensar que sou um monstro - foram só dois dias, mas a fingir que foi durante anos). Sinto-me muito mais compelida a ajudar pessoas que tenham passado ou passem por situações pelas quais já tenha passado. É o clássico do "sentir-me mais identificada". 

Tenho sentido muita vontade de ajudar mães a todos os níveis (menos financeiro que isso, filhas, vá, não há capacidade para estes lados) e, ao mesmo tempo, tenho sentido que é benéfico se me acalmar um pouco. Facilmente as coisas que eu digo podem ser vistas como intrusivas ou podem ser a minha perspectiva das coisas e quando não se conhece a história de alguém por completo, as boas intenções podem surtir um mau efeito e isso está longe da minha vontade. 

O lovelab agora é The Love Project

Aprendi muito com a amamentação e essa foi uma das coisas. Comecei por julgar e muito as mães que não amamentaram porque não quiseram, as que que não conseguiram, porque supostamente "se eu consegui toda a gente consegue", as que não se informam, as que... "De repente", apercebi-me de que todas nós temos histórias que nos compõem e que isto da maternidade vai buscar tudo o que há de mais intenso em nós: amor, abandono, desespero, vontade, sonho, esperança, incapacidade, segurança... É impossível sermos perfeitas nesta natureza tão falível e cuja aprendizagem se faz esfolando-nos também. 

Aquela mulher não é a mulher que não amamenta. Aquela mulher tem um nome e tem história e o não amamentar foi o resultado de uma existência que não conheço e que não me compete julgar (apesar dos meus julgamentos também serem consequência de uma existência que vocês não conhecem). 

Não acredito que a palavra seja compreensão, mas talvez respeito. Respeito pela existência dos outros, pelos seus condicionalismos e pelas suas formas de verem o mundo. Tenho vindo a aprender. É um processo (que nunca terá fim, desconfio). 

Um casal amigo contou-me que estava a dar leite artificial. Sugeri uma conselheira de amamentação. Agora é com eles, não tenho nada que ver com isso. 

Uma rapariga no ginásio, grávida, disse-me "é amanhã". Dei o meu melhor para não dizer tudo o que senti e pensava, sugeri que falasse com o médico para perguntar se podia ficar mais tempo "no forno" se era essa a vontade da mãe (e, vim a saber que falou e vai ficar mais uma semaninha - gosto de pensar que tive algo que ver com isso). 

Muitas mães explicam de forma não correcta os problemas de amamentação que fizeram com que a experiência acabasse. Digo onde podem ir buscar mais informação num segundo filho e que podem falar comigo sempre que precisarem e saio de cena. 

Ok. Isto não é ficar calada, mas também não acho que devamos fingir que não vemos algo onde possamos fazer a diferença. Comparativamente com tudo o que me apraz dizer nessas alturas, eu sinto que é quase um silêncio absoluto o que me sai. 

É pensar que quando falo não é por mim, mas que é pelo outro. É "ajudar" e não interferir. Estou a aprender. 

Faço novamente aqui um pedido de desculpas a todas as mães (até amigas) que julguei alto e bom som, outras em silêncio e que fui demasiado intrusiva e desrespeitadora. Não havia más intenções, havia um descontrolo e falta de reconhecimento do outro. 


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3.23.2017

Agora sim, ter duas filhas é bom.

Agora sim, ter duas filhas é bom. Para mim, não foi logo bom. Aliás, foi logo bom para logo deixar de ser. Uma semana depois da Luísa ter nascido e dos primeiros dias em casa, onde não notámos grande mudança no comportamento da Isabel, começaram as primeiras dificuldades. Sentia-me incapaz. Chorávamos muito. Eu e a Isabel. No segundo mês de vida da Luísa chorávamos as três. Precisava bastante de ajuda, a todo o momento, para conseguir atender a todos os pedidos delas. Foi um desafio e tanto, afinal estamos a falar de uma bebé de dois anos e três meses, que ainda precisa e MUITO de uma mãe presente. Além disso, ela tinha aproveitado - e bem - a mãe muito disponível (antes da irmã nascer estive 3 meses sem trabalhar e só para ela) e deve ter sido um contraste bastante grande. Mesmo com toda a ginástica e com todo o colo, ela sentiu a grande mudança. Se a isso juntarmos os terrible two e a threenager em formação, a confusão instala-se. E eu nem sempre dei conta. Da casa, delas, muito menos de mim.

Quase 10 meses se passaram e posso dizer-vos que está tudo muito melhor. Acima de tudo, eu lido melhor com a situação e isso reflecte-se também muito nelas. Nela, na Isabel, que a Luísa é uma bebé muito calma e (ainda) fácil de gerir. A primeira grande mudança que fiz foi em mim. Consultei a Eugénia, de que já tanto ouviram falar aqui, amiga da Joana Gama e psicóloga, e fez toda a diferença. Comecei a olhar para tudo de outra forma, a fazer exercícios simples e a treinar o cérebro para escolher aquilo que eu quero sentir.
Já consigo ficar sozinha com as duas à noite sem que o meu coração bata ansiosamente. Já consigo dar-lhes banho, jantar, brincar, lavar dentes, mudar fraldas, contar histórias, dar mimos e adormecê-las sozinha, com prazer e, às vezes, no meio de birras, sem me passar da cabeça ou querer desaparecer. Sem querer apressar as coisas. Todas sabemos o que é isso da "hora do fim do mundo", o final de tarde. Soma-se cansaço a tarefas fisicamente mais desgastantes e rotineiras e, às vezes, a sobreestímulos e nem sempre é fácil "domar as feras". Mas agora já faço isso com uma perna às costas, quase sempre. Não choro - nem por dentro - há dois meses e meio.

Coisas que tenho feito:
  • Sei que quando vou buscar a Isabel lhe tenho de dar atenção por alguns minutos. Sem telemóveis, sem compras por arrumar, sem desculpas. 
  • Depois, quando ainda não tenho tudo pronto para o jantar, peço-lhe ajuda. Dou-lhe, por exemplo, uma faca de barrar manteiga para as mãos para cortar algo simples e fácil (banana aos pedaços por exemplo), envolvo-a na preparação da salada, o que seja. Eles gostam de se sentir parte do processo.
  • Quando tenho comida de forno (o que faço muitas vezes, porque é o mais fácil), ponho no forno enquanto lhes dou o banho.
  • Como a Luísa faz BLW (leiam aqui mais), é relativamente fácil dar-lhes jantar, porque ambas comem sozinhas e eu aproveito logo para comer. Às vezes petisco só e espero pelo pai para jantarmos juntos, outras vezes - quando me sinto mais cansada - como mesmo a sério e fico logo despachada.
  • Deixo a arrumação da cozinha para depois.
  • Adormeço-as ao mesmo tempo, na cama da Isabel.
  • Levo a Luísa para a cama dela.
  • Às vezes fico a dormir logo e a arrumação da cozinha fica para a manhã do dia seguinte, onde já peço ajuda à Isabel para arrumar alguma louça e organizar os talheres, enquanto faço as torradas dela ou a papa está ao lume.
Mas, acima de tudo, estou confiante, encho-me de calma, respiro fundo e ando a saber muito, mas muito melhor, como lidar com as birras da Isabelinha. Aliás, até acho que tem feito menos, tem se dado melhor com a irmã (adora-a profundamente e o quando se vêem as duas de manhã é uma coisa de ir às lágrimas de emoção) e temos aproveitado muito melhor todos os momentos.

Agora sim, ter duas filhas é maravilhoso. Nunca deixou de o ser, mas agora sim, posso dizer que me sinto realizada.

Claro que outras dificuldades virão, claro que encontrarei outras batalhas, mas pelo menos esta parece estar ganha. E é tão bom ser mãe de duas. 
















Fotografias na festinha em casa dos avós do Alentejo 

Coroas de flores - Mademoiselle's Bow
Camisa Isabel - JasmimGirls
Vestdido e fofo (verão passado) - Mimichic

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3.21.2017

Então e já dorme no quartinho dela?

Não, não dorme. Dorme no quarto dos pais e estamos todos bem com isso. Não temos pressa.

Não foi bem assim que respondi na consulta, mas devia ter sido (a resposta à minha resposta foi algo como "já devia ter sido"). Não sei porquê amedrontei-me, como se estivesse a fazer alguma coisa errada, talvez porque são muitos os anos de formatação e de "tem de". 

Já vos tinha dito aqui que a Isabel foi para o quartinho dela com 3 meses e, apesar de me parecer na altura benéfico para todos, porque de facto durante uns tempos dormimos melhor porque ela acordava menos para mamar ou com os roncos do pai (eu não disse isto, ele não ronca... não...), depois acabou por ser mais chato para mim, que tinha de me levantar para lhe ir dar de mamar no cadeirão, despertava bastante e depois custava-me voltar a adormecer. Ficava com o braço dormente a tentar readormecê-la, curvada sobre a caminha, às vezes depois de estar imenso tempo com ela ao colo. O David também lá ia, íamo-nos revezando. Uma noite estatelei-me no chão no percurso até ao outro quarto, não sei o que me aconteceu mas até hoje acho que adormeci no caminho. Não me lembro sequer de me ter levantado.

Agora? Agora temos uma filha mais velha que ainda acorda uma ou duas vezes por noite (a não ser que nos sinta por perto), temos uma bebé de 9 meses que, depois de dormir a noite toda durante 6 meses, agora acorda algumas vezes e que pede mama, por isso - e sabendo que se acordam uma à outra - queremos minimizar estragos e queremos, acima de tudo, DORMIR. Por isso, metade da noite a Luísa dorme na cama dela, no nosso quarto, o tempo restante na nossa cama, ora com o pai, ora comigo, ora com ambos, quando não estamos cá e lá. Parece o jogo das cadeiras, mas não nos importamos. Já assumimos que faz parte e, felizmente, apesar de acordarmos durante a noite, não temos grandes dificuldades em a readormecer e em readormecermos.

Até quando? Não sei, mas não temos pressa. Um, dois anos? É a velha história "não há de ir para a faculdade e dormir ainda na cama dos pais". Quando acharmos que vamos todos, em conjunto, beneficiar da mudança de quarto, assim o faremos. Para já, está bem assim. 





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3.16.2017

Temos que ser nós!

Temos que ser nós a reconhecer-nos primeiro. Temos que ser nós a olhar para dentro, a olhar para trás, a olhar para os lados e para a frente e a reconhecer o caminho que fizemos, fazemos e que nos falta fazer. 

Depender do outro para nos avaliarmos é um risco e cansativo - falo por conhecimento próprio e, por isso, hoje, estou de parabéns. 

Depois de toda a viagem atribulada que tem sido grande parte da minha vida lidando com a ansiedade, hoje quase que me esqueci disso. Hoje, fui ao Ikea com a Irene comprar algumas coisas (que achamos sempre que são muito necessárias, mas porque não queremos pensar muito nisso...) e, quando dei por mim, a hora de "saída" já tinha passado. Às 7 já é mais do que suposto ela estar à mesa para jantar (são as nossas horas cá em casa, cada família terá as suas). Às 7 ainda estávamos na caixa. Sem pressas. Ainda a agradecer a todos os santinhos por haver uma fralda na mochila visto que a miúda ainda só quer fazer o número 2 na fralda, apesar de andar de cuecas todo o dia e não haver nenhuma casa de banho minimamente perto e prática no andar de baixo e já com as compras feitas, enfim. 

Era tarde, mas e então? O meu cérebro pensou: vamo-nos divertir, "um dia não são dias". Isto, para quem é "normal" é algo perfeitamente usual de acontecer, mas para quem via o mundo e o tempo como eu via, não. É uma aventura que nos parece perigosa e que nos faz sentir com fracas possibilidades de sobrevivência, por muito estúpido que pareça e percebo que pareça e ainda bem que vos parece.

Fomos jantar lá acima. A Irene comeu umas almôndegas, umas colheres de sopa, uma pêra e eu comi um hambúrguer e algumas colheres de sopa. Foi um jantar fora de mãe e filha, sendo que havia tudo o que ela precisava para se sentir incluída. Cadeira alta, babete, talheres, pratos, .... 

Acabou por perguntar se também íamos descansar por lá (na escola dela não falam em "dormir") e até achei uma ideia gira. Provavelmente acusar-nos-iam de um crime qualquer, mas quase que valeria a pena. :)

Não dei pelas horas. Comemos com calma. Com calma ao ponto de por todos os pensos que tínhamos comprado para feridas nos dedos dela para fingir que eram anéis. Ao ponto dela, a caminho do elevador, ir metendo conversa com toda a gente e fazendo caretas e sem eu sentir mais nada do que gratidão. Não senti o coração acelerado, não me senti aflita, não me senti num beco e, mais importante que tudo isso: não passei nada de negativo para a Irene. 

Compensa ter dado atenção a mim própria. Ter reconhecido parte de mim que precisava de reconstrução e de ter mudado a minha vida toda. 

Estou grata por o tempo passar de forma mais normal. Grata por mim e pela minha família. 

Mais sobre a minha ansiedade aqui

Agora o LoveLab chama-se The LoveProject, cusquem que vão adorar! 


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3.14.2017

A mãe que hoje sou.

A mãe que hoje sou é uma. 
A mãe que eu achava que ia ser é outra. 
A mãe que eu serei daqui para a frente outra será.

Todas nós já enchemos, pelo menos uma vez na vida, o peito e dissemos, do alto da nossa segurança, que não iríamos ser como "aqueles pais". "Filho meu não fará aquilo" ou "eu não serei assim". Depois, na prática, muitas coisas mudam. Antes ainda de os conhecermos, o quarto deles ganha forma, compra-se o berço, monta-se a estante e erguem-se, também, muitas teorias de como iremos reagir, educar e orientar. 

Depois, quando eles nascem e a nossa vida muda, caem também por terra muitos dos preconceitos que criámos. Passamos a entender outras escolhas, passamos a compreender que há excepções à regra e que se calhar, daquela vez, naquele restaurante, estávamos perante uma excepção ou daquela vez, no supermercado, aquele pai falou mais alto para o miúdo, excepcionalmente. Descobrimos que, afinal, também nós gritamos. Mesmo que excepcionalmente. E que isso é humano. 

Seja porque tentámos outras opções e todas elas falharam e queremos testar também essa (mesmo que não nos faça muito sentido, mas já estamos por tudo), seja porque nem sempre conseguimos ser a melhor versão de nós próprios e também erramos, os pais que somos afastam-se - às vezes até demais - daquilo que delineámos.

A mãe que eu achava que ia ser é diferente da que hoje sou. Achei que fosse ser mais paciente, achei que nunca iria mandar a minha filha parar de chorar (e já o fiz, várias vezes até), achei que - vejam só o optimismo [e puro desconhecimento das fases de crescimento de uma criança] - a minha filha não faria birras. 

A mãe que hoje sou é uma mãe com mais experiência, mas com muito por aprender. 
A mãe que serei daqui para a frente será uma mãe mais confiante, mas cheia de dúvidas. Porque já percebi que estes pólos vivem lado a lado, sempre, pela vida fora. 
A mãe que serei daqui para a frente é alguém em permanente melhoria, mas alguém que já decidiu deixar de tentar ser perfeita, simplesmente porque isso não existe. 

Agora? Julgo menos, muito menos.
A Mãe que sou e que serei? 
Uma mãe cheia de amor para dar. 
Cheia de empatia, carinho e mimo. 
Cheia de "sins" e de alguns "nãos", os que forem precisos. 
Uma mãe que fala baixo, que desce ao nível delas, que olha nos olhos, mas que às vezes também solta um ou outro grito.

#workinprogress

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