10.04.2017

A tortura do sono



Há quatro meses que não durmo mais de quatro horas seguidas. É esta a nossa realidade. Mantive sempre a esperança de que os primeiros meses eram os piores e depois melhoraria. Era e é o que toda a gente me diz. Mas agora que atingimos os quatro meses estamos piores que nunca. Um bebé que adormecia relativamente bem ao cair da noite, embora mantivesse as suas rotinas de mamar de duas em duas horas ou de três em três, neste momento não adormece. Cheio de sono, chora desalmadamente, ao colo, no berço, na nossa cama, em movimento. Já tentámos várias abordagens, banho, sem banho, muita mama nas horas antes, biberão com o meu leite para ter a certeza que o deito de estômago cheio, nada. Se antes conseguia adormecê-lo em alguns minutos e ter pelo menos quatro ou cinco horas de sono na primeira parte da noite, agora nem uma coisa nem outra. Durante o dia dorme lindamente. Faz três sestas de meia hora a duas horas e nem precisa de ajuda para adormecer, assim que detecto os sinais deito-o logo e assim fica serenamente. Mas já me custa, ao fim de tanto tempo, fazer qualquer tipo de racíocinio. Noto-o em coisas pequenas. Esqueço-me de coisas importantes quando saio de casa, não tenho paciência para conversa de circunstância, não tenho vontade de escrever, quase nunca encontro as palavras. Fico a matutar imenso tempo em listas de coisas para fazer e nunca as dou por terminadas. O pior é ao cair da noite. Fico exausta. Apetece-me chorar por saber o que me espera. Tenho posto todas as técnicas que vou lendo em prática, todos os livros, posts, textos que encontro sobre o sono dos bebés. Leio em demasiados sítios diferentes que após os três meses os bebés começam a dormir mais horas e, mesmo sabendo que, nestas coisas da parentalidade, o pior que podemos fazer é comparar, encho-me de desalento ao constatar que o meu filho é a excepção à regra. Pode ser que seja uma fase, um pico de crescimento, que com a introdução da comida daqui a um mês/dois meses melhore. Mas caio em mim ao pensar que dois meses são ainda 60 noites em que não vou dormir. Agora sim, percebo o que toda a gente me dizia quando estava grávida, para aproveitar para dormir. O problema é que o sono não é cumulativo. Posso dormir uma semana seguida agora, mas se nos dois dias seguintes não durmo, volta tudo ao mesmo. É a verdadeira tortura do sono. Daqui a uns anos, quando ele entrar na adolescência e quiser dormir até ao meio dia, vou vingar-me. Já tenho as tampas das panelas guardadas para essa fase. Aí vamos ficar quites.






Joana Diogo
A Joana escreve no O que vem à rede é peixe
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Divorciei-me e pediram uma fotografia da famíla na escola.

Até me vieram suores frios. Imediatamente a primeira solução: "cada um tira uma com ela e leva duas.". Pronto. 

Não. Isto não é pensar na miúda. Pensar na miúda é a representação daquela fotografia e qual será o impacto dela na parede comparativamente com as dos outros pais. Nós somos uma família. Diferente daquela que tanto o Frederico como eu consideravamos a ideal, mas somos. É o pai e a mãe dela e a filha dos dois.



Estamos os três a fazer caretas. O humor desempenha um papel fulcral, lá está, na nossa família e é esta a fotografia que a Irene vai ter da família na parede da sala dela na escola.

Tivemos por de parte alguns constrangimentos, mas achamos que foi a decisão certa para nós. Ela quer uma destas fotografias no quarto da casa do pai e outra no quarto da casa da mãe e assim será. Faz sentido.

Para nós.

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10.03.2017

Não é por falhar uma vez que sou má mãe.



Não é por não ter a sopa feita uma vez ou outra que sou má mãe. 

Não é por não lhe ter dado banho um dia ou outro que sou má mãe. 

Não é por lhe ter gritado uma vez ou outra que sou má mãe. 

Não é por não lhe ter feito comida fresca hoje ou no outro dia que sou má mãe. 

Não é por aquecer a comida no microondas que sou má mãe.

Não é por não amamentar que sou má mãe. 

Não é por não ter sempre paciência para a adormecer que sou má mãe.

Não é por às vezes a deixar comer coisas com açúcar que sou má mãe.

Não é por nem sempre acertar na resposta que sou má mãe. 

Não é por a por a ver desenhos animados de vez em quando que sou má mãe.

Não é por ter chegado atrasada à escola uma vez  ou outra que sou má mãe.

Não é por às vezes me stressar com as birras dela que sou má mãe. 

Não é por nem sempre perceber o que ela precisa que sou má mãe.

Não é por ela nem sempre ir "à princesa" para a escola que sou má mãe.

Não é por termos um dia de merda ou outro que sou má mãe.

Não é por ela ter ido despenteada que sou má mãe.

Não é por ainda amamentar que sou má mãe. 

Não é por ela ainda usar fralda que sou má mãe.

Não é por nem sempre me apetecer ir ao jardim que sou má mãe.

Não é por nem sempre querer brincar com ela que sou má mãe.

Não é por as vezes me apetecer continuar a conversar no Whatsapp que sou má mãe.

Não é por me ter esquecido de por o bibe na mochila que sou má mãe.

Não é por a apressar desnecessariamente que sou má mãe.

Não é por lhe impingir aquela última colher quando ela está cheia de fome que sou má mãe.

Não é por não conseguir ler-lhe histórias antes de adormecer que sou má mãe.

Não é porque às vezes só conseguir ter força de lhe responder "porque sim" que sou má mãe.

Não é por às vezes lhe abrir os olhos que sou má mãe.

Não é por me ter divorciado que sou má mãe.

Não é por não lhe ter cortado as unhas hoje ou ontem que sou má mãe.

Não é por não ter adivinhado que ela ia ficar doente que sou má mãe.

Não é por ela fazer birras que sou má mãe.

Não é por lhe dizer que sim que sou má mãe.

Não é por lhe dizer que não que sou má mãe.

Não é por nada disto que sou má mãe.





Por não ser perfeita não quer dizer que seja má.

Por ser óptima quer dizer que sou óptima (ou, pelo menos, por tentar ser).

E ela também. 

Por não ser perfeita, não quer dizer que seja má.

E por não ser perfeita, não significa que falhei. 



Acessórios de cabelo - Lemonhair Lovers



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10.02.2017

Deixei-me de ser enojadinha: vou usar copo menstrual!

Desde que engravidei da Luísa ainda não tive a menstruação, mas uma coisa já está decidida: assim que o período volte (confettis, alegria, danças, como nos anúncios a tampões - #not), vou experimentar o copo menstrual.

Se há uns anos me fazia confusão esta ideia de ter um copinho dentro de mim a armazenar sangue e depois ter de esvaziá-lo, lavá-lo, etc, agora acho a melhor invenção de sempre e deixei-me de ser enojadinha: é mais ecológico (estima-se que com um copo menstrual se poupe até 12 mil tampões, já que dura até 10 anos), mais prático - dura um dia inteiro, bastantes horas, sem nos preocuparmos com a pouca duração de um penso ou de um tampão; é feito com silicone medicinal; e fácil de colocar e confortável, dizem (está aqui explicado).

Por isso, já cá canta um copo menstrual. Mandei vir este da Ruby Cup do site Amama.pt - e escolhi esta marca essencialmente pela sua vertente social: por cada copo vendido é doado outro a meninas de países desfavorecidos em África que, imaginem, não vão à escola quando estão com o período.  Ideia maravilhosa!

Quem mais usa?



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Ainda mama?

16 meses. Mama. E acho que é a coisa que mais gosta de fazer na vidinha dela.

Eu também gosto. Muito. Menos durante a noite, confesso (ainda se fosse de 3 em 3 horas ou 4 em 4 horas... mas não, é quase de hora a hora) - calma, não são todos assim, não vamos culpar a mama (provavelmente sem mama também acordaria), e, assim que passe o período de adaptação à escola, iremos a uma consulta tentar descortinar o que se passa e ver se há coisas, que não sejam agressivas, que se possam fazer para melhorar as nossas vidas.

Não me espanta o espanto com que reagem ao facto da Luísa ("ainda") mamar. As pessoas não estão habituadas a ver. Perdeu-se, ao longo dos anos, esta partilha, principalmente no ocidente. Por isso, considero importante fazê-lo, com naturalidade, quando tiver de ser. Já houve sítios onde a distraí com outras coisas porque não me apetecia; mas, na maioria das vezes, não me incomoda absolutamente nada. Percebo que cause estranheza - já anda, já come com a própria colher, já parece tão autónoma e "ainda" mama? Habituámo-nos a achar que só os bebés até aos 6 meses mamavam (máximo dos máximos, 1 ano...). Mas, não, os bebés devem mamar, caso a mãe queira e tenha essa possibilidade, no mínimo, até aos dois anos. A partir daí, acontece o desmame natural que se poderá situar, segundo estudos antropológicos, entre os 3 e os 8 anos. Isto seria o "desejável", mas defendo que não tem de ser necessariamente a nossa escolha.

Todas conhecemos uma tia, uma avó, uma vizinha que deu de mamar até tarde, até o puto "ir para a escola". E, lá está, por falta de hábito, achámos estranho. Eu, com uns 19 anos, confesso, achei estranhíssimo quando uma miúda se levantou da sua cadeira e foi pedir maminha à mãe. Preconceito meu. Falta de hábito. Desinformação.

Agora, e respeitando quem não o queira - ou não possa - fazer, respeito igualmente quem faz amamentação prolongada. Já não me causa estranheza. Já sei que é normal. Que não é sinónimo de carência, de falta de autonomia, do que quer que se acuse, infundadamente, apenas por preconceito e desconhecimento.

Eu não sei até quando irei amamentar a Luísa. Por enquanto, estamos bem assim e não me imagino sequer a cortar-lhe com a coisa que ela mais gosta no mundo. E que, ainda por cima, lhe faz tão bem, nutricional e emocionalmente falando (porque, ao contrário do que se possa pensar, lhe traz segurança). Irei fazer ouvidos moucos a quem me disser, apenas por achismos, que já não faz sentido amamentar.

E com esta minha experiência quero passar-vos apenas isto: quem decide a hora do desmame é o bebé, a mãe, o bebé e a mãe. Os outros não entram nesta equação.






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Estou com rugas...e cabelos brancos...e...

Estou cheia de cabelos brancos. Não é algo que tenha que ver exclusivamente directamente com a idade porque já tive colegas na escola, no 11º ano que tinham cabelos brancos. 

Lembro-me da primeira vez que soube que tinha um cabelo branco. O Frederico (meu ex-marido) é mais alto que eu e, no Ikea, viu que tinha um. Apontou para ele a rir-se e eu acho que não evitei uma lagriminha ou outra. Não sei bem porquê.

Também me lembro da minha primeira ruga. Num cruzeiro (ganhei por sorteio interno). Tive tempo para me olhar para o espelho devagar e reparei que estava a "envelhecer" - tinha uns 23 anos.

Tenho uma amiga que está em pânico por já ter 30 anos, por trabalhar com pessoas muito mais velhas, ao ponto de estar a usar cremes anti-rugas e anti-envelhecimento... A minha mãe diz que já estou na idade de "cuidar de mim" e isso inclui também usar cremes "apropriados", nomeadamente estes anti-âge (acho que é assim). 

Sempre senti alguma resistência. Talvez porque não sinta - para já ou de momento - que a solução para esta "vaidade" e vontade de conservar a  juventude passe por cremes. Acho que tenho tentado combater isso com água e tentando ter algum controlo positivo na minha alimentação. Os cremes parecem-me uma solução "final de linha", já. Talvez seja também não ter dinheiro para esse tipo de coisas, também.

Uso cremes hidratantes, mas tenho tentado hidratar-me em vez disso, percebem?

Li isto neste fim-de-semana: "A revista Allure não utilizará mais o termo anti-envelhecimento". E foi isso que me fez pensar. 

É natural que nos assustemos com o envelhecimento. É visto como perda de faculdades, de beleza e de poder, de... mas será? 

Fotografia random da net.

Estamos a ser más para nós mesmas. Ainda não sei bem como vou lidar com tudo isto, mas esta notícia, para mim, foi food for thought. 

Como têm lidado vocês com o amadurecimento? :)


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10.01.2017

Estou a acenar com uma nota de 50 euros, quem quer?

Qual foi a última vez que alguém vos deu 50 euros para a mão e vos disse "vá, vai lá e compra qualquer coisa para ti!"? Ahh, como era bom receber dinheiro sem ter que trabalhar horas a fio por ele e podermos gastá-lo sem pensar que "devia antes estar a poupar ou a comprar águas". Isso acabou-se para sempre. Mais ou menos.

Nós temos "50 euros para irem comprar qualquer coisa" ali ao Jumbo. Aproveito e recomendo não só a secção da roupa para as crianças (e bebés) como também os produtos Bio da marca Auchan. Extremamente satisfeita com ambas as frentes. Com 50 euros, literalmente "já fazem a festa". 

Ainda hoje fui lá e descobri uns sumos bio do Rik e Rok para ela levar para a escola, fiquei feliz por também nos sumos de fruta haver opções que preenchem os meus requisitos e a minha carteirinhazinha​, aliás, é o que a Irene leva para o lanche da escola quase que diariamente (a lancheira querida do gatinho também comprei no Jumbo). 

Aquele sono matinal que nos impede de mostrar a cara na fotografia. 

Aquela filha linda que anda à Charlot como a mãezinha.

Passei pela secção de bebé e também me arrependi de não ter tido em conta o Jumbo como uma das primeiras opções para comprar roupa para a Irene quando era mais pequenina. Serve perfeitamente e a maioria das coisas é adorável. Em vez de ter andado por várias lojas à procura "daquilo", lá há (pelo menos ao que eu vou - Alfragide) tudo o que é preciso/que queremos comprar para eles nos corredores mais próximos: desde cadeiras para os automóveis, banheiras, babetes, papas 100% naturais, bodies baratos, pantufas... You name it! 

O que têm de fazer pelos 50 euros (inserir aqui riso maléfico: MUAHAHAHHA)? 

Tratarem isto como se fosse época de saldos e esgatanharem-se todas porque querem ao mesmo :) Toca a comentar este post aqui em baixo (do Facebook) taggando três amigas e partilhando o mesmo publicamente no perfil. 


Isto é o equivalente na internet a dizer "só tens de virar ali à esquerda e perguntar pelo Zé". Easy. 

Lembro-me quando tinha de fazer 8 horas em festas de aniversário para crianças para fazer esse valor.

Bem melhor assim! 

Têm aqui um regulamento catita para lerem e tudo :)

#Jumboconsigo



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9.28.2017

A Mãe não veste Prada - #08 - Em Santarém

Como assim chegar à oitava edição desta rubrica de auto-contemplação e nenhuma ainda em Santarém? Que erro crasso! Desta vez, vestida - salvo seja, que eu visto-me sozinha e por acaso até acerto no pé dos sapatos e tudo, já ultrapassei a fase da Isabel - pela Ivens, também de Santarém, of course, que o que é scalabitano é bom. Aproveitei para me emperiquitar toda no Cut by Kate. Combino sessão com a Joana do The Love Project e depois vai de roçar-me toda no mercado municipal, que em quase 100 anos nunca aquele azulejo deve ter sentido tanto tecido. Sim, porque a pessoa tem de fingir que foi ali apanhada super desprevenida à espera da caminete. E o que fazer às mãos senhores, o que fazer às mãos? Quando estava na Sic tinha o microfone numa delas, pronto. Quando tenho filhas, tenho-as a elas no colo ou tralhas para agarrar. Agora assim sozinha? Tenho de ir ver tutoriais ao Youtube, não sei que faça com as mãos.

Mas vá, algumas ficaram giras. :) Outras ficaram engraçadas pelo esforço, que se torna cómico, que eu estou a fazer para parecer natural. Obrigada Joana Sepulveda Bandeira, pela paciência :)

















Olha, desencostei-me!!!


Pumbas, rabo na porta, para variar, e porque estar à espera do disparo da máquina cansa imeeeenso.





A rezar ou lá o que foi este tique que me deu. O que fazer às mãos, senhores?!

"Mexe no cabelo, Joana", disse-me a minha voz interior, mesmo com muita vontade de rir.

Aquela dorzinha de barriga básica.

Se encostasse ali a cabeça nos joelhos, juro que adormecia (a Luísa anda a acordar de duas em duas horas, máximo).

Mas estão mega disfarçadas as olheiras!

A pensar no que ia tirar para o jantar. Mentira.

E agora novo encosto: uma árvore, mas...

... não quero saber se é cliché, adoro esta fotografia, o vestido, tudo!!!


Vestido e colete - Ivens
Relógio (smartwatch) - Fossil (este)
Óculos - Tiwi


Cabelo e maquilhagem - Cut by Kate

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Por que é importante desromantizar a maternidade?

Eu, Joana Paixão Brás, uma eterna romântica, apaixonada pela vida, pelas minhas filhas, pelo meu namorado, pelos meus - todinhos -, uma miúda que canta no carro, que dança descalça enquanto rega as flores do jardim e molha as filhas com a mangueira, até todas acabarmos a rir na banheira a tentar tirar a sujidade das unhas, que gosta de apanhar amoras e figos e comê-los em os lavar, que adora vestidos e frufrus, que largou o trabalho um ano e tal para estar mais tempo com as filhas, que enche bem o peito de ar e suspira de cada vez que sente que tudo faz sentido quando estamos os quatro, digo-vos por que é que É IMPORTANTE DESROMANTIZAR A MATERNIDADE.

Porque a vida de mãe não é nem tem de ser perfeita. 
Não temos de nos sentir sempre felizes, responder que estamos bem, podemos admitir que estamos cansadas ou que há dias em que não nos apetece ser mães, apesar de amarmos aqueles pequenos seres mais que tudo nesta vida. 
Longe vão os tempos em que as mães comiam e calavam. Em que tinham de cumprir o papel, estabelecido pela sociedade patriarcal, machista, e sorrir. Em que achavam que não faziam mais do que a sua obrigação, que tinha de ser assim: os filhos eram da sua responsabilidade, "a mãe é que sabia" e, portanto, tinham de ser exímias nessa arte, enquanto os maridos trabalhavam e punham dinheiro em casa. Estavam separadas as águas. 
Agora sabemos que não tem de ser assim. E que para que todos possam ser felizes, é no equilíbrio que está a chave. É na diversidade, nas escolhas de cada um(a), no respeito por essas escolhas, que a sociedade se poderá tornar mais igualitária e mais justa. Os nossos sonhos podem ir (ou devem ir) além de ser mãe e, para isso, é importante dizer que a maternidade pode não ser fácil e pode não ser a única coisa a que queiramos dedicar-nos, nem que a iremos abraçar sempre, todos os dias, com entusiasmo. É importante, desde o primeiro instante, desabafar, delegar, pedir ajuda, partilhar. 
É importante deixarmos de dizer exclusivamente "a mãe é que sabe" porque é óbvio que o pai também sabe, se não sabe passa a saber e é melhor para todos (crianças então nem se fala) se todos souberem. É importante exigir que todos saibam ou queiram saber.
É importante deixarmos de comparar o nosso grau de envolvimento na maternidade com o tempo que cada uma passa com os filhos como se apenas tempo fosse qualidade. É importante deixarmos de nos sentir mal se tivermos necessidade (por que razão for) de voltar a trabalhar. Ou se nos sentirmos de férias no trabalho. É importante deixar a culpa de lado quando queremos ter um tempo só para nós. É importante falarmos em depressão pós-parto. É importante dizer que eles dão muito trabalho e que a privação de sono é do pior que há. É importante termos ajuda e buscarmos soluções. E vermos a educação de um filho como algo colectivo.

É importante que haja cada vez mais pais a falar de paternidade e de maternidade. Paizinho, vírgula. Cenas e coisas de um pai. Marcos Piangers. Duas para um. À paisana (que saudades!). A Pitada do Pai. 
Rir com a paternidade, falar de educação, de parentalidade consciente, do amor pela filha e pela mulher, desenhar os episódios mais caricatos ou mais comoventes ou mais duros, falar de comida saudável... enfim, ver pais a envolverem-se em várias frentes da criação e da educação de um filho é essencial! É importante espicaçar um "pai de selfie", como lhe chama o Piangers, para o acordar e fazer dele um pai Pai, participativo. É importante desromantizar a maternidade, pararmos de achar que só nós, mães, conhecemos os nossos filhos ou damos conta (colocando a pressão toda em cima de nós), é importante voltarmos vezes sem conta àquele provérbio nigeriano de que "é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança".

É. É preciso pararmos de achar que os filhos são tarefa da mãe, para que a mãe possa ser o que quiser ser, para que a mãe possa ter trabalho depois de ser mãe, para que possa realizar-se da forma que mais desejar. Para que o pai, em querendo, possa ter a licença, sem represálias. Ou faltar ao trabalho quando eles estão doentes. Ou não ter reuniões marcadas para o final do dia. E a mãe possa deixar de ser olhada com julgamentos, quer opte por ficar em casa ou por ir trabalhar, quer se queixe ou não. E, sobretudo, para que os nossos filhos sejam criados com esta noção de liberdade, de igualdade, de escolha.  
Que os sonhos deles, sejam eles quais forem, não tenham um travão.


 
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