Quando nos tornamos mães, ouvimos muitos, mas mesmo muitos comentários, vindos até de onde menos esperamos. Nem sempre são mal intencionados, às vezes são de pessoas que nos querem bem e apenas não percebem que, naquele momento, queremos apenas desabafar. As crianças "são do mundo" e toda a gente acha que pode mandar um bitaite para o ar, sem que isso afecte ninguém.
E, caso seja tudo uma novidade, estejamos cansadas e estejamos a viajar bastante entre baby blues e uma magia absolutamente aterradora (sim, é mesmo isto), pode cair muito mal.
Há quem seja absolutamente confiante e se esteja a marimbar para o que ouve, mas há também quem fique um bocadinho melindrado ou, ainda, que essa opinião confirme mais suspeitas e medos dessa mãe.
Eis as coisas mais estranhas que me disseram e como reagi perante elas:
#05
"Tem tanto pelinho, parece um macaquinho"
Foi na maternidade, acabadinha de nascer. Então... sim. Eu já tinha reparado que a minha filhota tinha muito pelinho que, felizmente, o acto de parir não me arrancou os olhinhos (só o pipi, quase). O que fazer com essa informação? Pô-la numa jaula? Pedir à Sparkl para passar pelo Hospital da Luz para lhe fazer uma depilação completa? Sorrir e agradecer o carinho? Chorar?
Falámos sobre o que fazer nas visitas à maternidade
neste vídeo. Se calhar algumas pessoas deviam ver. :)
#04
"Está tão magrinha, não está?"
Desabafei sobre isso
aqui, na altura. Houve uma fase em que a saga começou: "oh! perdeu as bochechas", "a minha com essa idade pesava o dobro", "tão levezinha!", "está magrita, não está?", "ainda dás mama?". Ora, para uma pessoa que é mãe pela primeira vez, isto é das piores coisinhas que lhe podem dizer. Até eu chegava a duvidar de que ela estivesse bem, tal é pressão para os bebés serem gordinhos e obedecerem ao padrão dos percentis. Mas a pediatra sempre disse: ela está óptima, não se preocupe, é normal eles oscilarem nas curvas dos percentis. Mesmo assim, na hora da balança eu já estremecia, com medo que me sugerisse começar com as papas para a engorda e dar leite de fórmula. Logo eu, que comecei a tirar leite com máquina desde o segundo mês todo o santo dia para garantir que ela tivesse sempre do meu leite enquanto estava a trabalhar, não queria ouvir que a minha filha andava a passar fome! Felizmente uma pessoa acaba por ganhar confiança. Está óptima. Vai fazer 5 anos e pesa 16 kgs. É dela e sempre foi <3.
#03
"Eles não sabem educar a filha"
Esta foi daquelas que me fez sentir uma raivinha misturada com vontade de rir, apesar de, claro, não me ter sido dirigida. Vindo de quem vinha, dava-me até pena. Alguém sem filhos, claro, e alguém que estava a falar de uma miúda de dois anos. Com zero conhecimento de psicologia e muito menos de pedagogia. E, pior ainda, sem bom senso. Uma criança com dois anos dificilmente será "mal-educada". Tem uma rebeldia própria, está numa fase de enorme confrontação com o mundo, com a frustração, e não é por acaso que essa fase é chamada de "terrible two". É o período das birras por excelência. E, muito provavelmente, ainda há muita gente que espera que todos os pais resolvam tudo com umas boas palmadas. Essa pessoa era uma delas: "Coitada, pensei".
#02
"Ela vai ser muito anti-social depois"
Isto relativamente à decisão de ficar em casa com a minha segunda filha nos primeiros tempos. Fiquei 1 ano e meio. É das crianças mais felizes, dadas e simpáticas com as quais se poderão cruzar (sim, muita baba, o que é que querem? ahah). Quando não se estava a adaptar nada bem à primeira creche, essa frase descia até mim e dava-lhe razão. "Foi muito tempo comigo, apegou-se muito..." Mas eu, no fundo, sabia. Não, o problema foi mesmo da forma como a escola funcionava: não nos deixaram fazer adaptação. Tinha de estar lá as horas definidas (bastantes) e os pais não podiam entrar na sala nem lá ficar uns minutos. Mudámos de escola e foi o que se viu: em menos de uma semana estava a adaptação feita, com muita calma e amor.
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* Foto: Isabel Saldanha |
#01
"A sua filha é feia!" e "Assim só se estraga uma casa".
Não tem sequer piada e só seria desculpável se dito por uma criança de 5 anos. Adultos não podem expressar tanto ódio, muito menos relativamente a crianças, e nem mesmo atrás de um computador. Foi algo que me fez pensar se deveria manter o blogue, imaginem. Tanta violência, totalmente gratuita. Uma coisa é atacarem-me a mim, como já o fizeram, outra, muito diferente, é dizer mal de crianças, os seres mais puros e inofensivos à face da terra. Nunca se deseja mal a uma criança, nunca se diz coisas feias acerca de uma criança. Se se sente necessidade de dizer, psicólogos poderão ajudar a controlar esse impulso.
Começámos a moderar comentários e, engraçado, as haters deixaram de sentir que tinham tanto protagonismo. Problema resolvido.
Mas uma coisa é certa: aquilo que nos dizem ou que dizem sobre nós, revela mais de quem diz do que nós.
E vocês? Quais as coisas mais idiotas que já vos disseram dos vossos filhos ou de vocês, enquanto mães, e como as ultrapassaram?
Coragem. Já só faltam 60 anos para nos livrarmos dos opinanços. :)