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3.13.2020

Como falar com as crianças sobre o coronavírus?

Dado que estamos todos e todas no mesmo barco, tomei a liberdade de pedir à minha psicóloga Eugénia Amaro, em quem confio plenamente, para nos dar umas luzes sobre como devemos agir com eles durante esta (até me custa dizer) pandemia.





1.    O medo cresce ainda mais se os PAIS dão inadequados sinais –
A importância de estabilizar as emoções dos pais
O principal fator de desestabilização emocional nas crianças é o desequilíbrio dos pais. Por isso, é importante que nos possamos acalmar antes de falar com as crianças. Devemos lembrar que as crianças (inclusivamente os bebés), por questões biológicas relacionadas com o desenvolvimento e maturidade do cérebro, têm a capacidade de ler sinais muito mais desenvolvida. Sinais, muitas vezes inconscientes para nós, que passam para eles através da linguagem não verbal. Seguramente já reparámos que os nossos filhos ficam mais “difíceis” nos nossos piores dias, ou seja, quando nós, pais, estamos mais alterados. Não cabe mentir-nos ou desvalorizar a nossa inquietação: elas percebem na mesma.
Por isso, a primeira dica é para a regulação emocional dos pais.
O que podemos fazer para conseguirmos ficar calmos, tranquilos, em harmonia? Basta escolher uma ou mais das seguintes, a que melhor nos acomode: 


(1) Regularizar a nossa respiração e os nossos batimentos cardíacos (inspirar em 5 segundos, expirar em 7. 

(2) Exercício físico (pode ir desde 5 mins. de alta intensidade a 20 mins. de alongamentos, pilates ou yoga). 

(3) Isolar-nos e permanecer uns minutos em silêncio. 

(4) Meditação (10 mins. mínimo). 

(5) Fazer uma sequência de afirmações positivas (do tipo “Eu consigo manter a calma”, “Está tudo bem”, “Estamos em segurança” …). 

(6) Escrever sobre o que nos angustia. 

(7) Focar no positivo, fazendo uma lista do que está bem, do que nos tranquiliza, do que podemos fazer para contribuir.

2.    Tempo para conversar (ouvir e falar) tranquilamente sobre o coronavírus.
Se sentimos que não temos regulação emocional suficiente para o fazer, pedimos ajuda a alguém próximo que possa ter estas conversas por nós;

2.1.Fazer perguntas.
·    Tentar saber o que a criança já ouviu sobre o coronavírus e explicar, de forma adequada à idade, aproveitando para corrigir informações erradas e regular o “tom emocional”;
·    Lembra-se da importância de perguntar sobre emoções – “Como é que isso te faz sentir?”
·    Se a criança não for capaz de identificar as emoções que este tema lhe desperta, devemos ajudá-la a dar um nome à emoção. Existir um nome vai sempre fazer com que a emoção seja mais fácil de gerir. Por exemplo: “já sei que esta dor de barriga é medo”.

2.2.Mostrar que também temos emoções difíceis relacionadas com este tema (mantendo a calma). A criança vai perceber que não é a única e que é normal estarmos assustados, inseguros, com medo, ...

2.3.Aproveitar a oportunidade e encontrar juntos formas de lidar com as emoções mais difíceis. “Se temos medo, o que podemos fazer para que ele fique mais pequeno?” Algumas ideias podem ser: 

(1) dar um nome ao medo (se for um nome ridículo ainda é melhor, porque nos dá vontade de rir cada vez que chamarmos o medo dessa forma); 

(2) desenhar o medo; 

(3) ver o tamanho e a força do medo; 

(4) encontrar/inventar um “exército” (com desenhos ou bonecos, …) para combater o medo;

2.4.Lembrar-nos que os pais somos o exemplo. Todas as dicas do ponto 1 para estabilizar as emoções dos pais servem para as crianças adequando os tempos segundo a  sua idade. Podemos encontrar um momento do dia para fazê-las em conjunto e/ou cada vez que for necessário.

2.5.Colocar o foco no que estamos a fazer para estar em segurança: 

(1) lavamos as mãos enquanto cantamos “parabéns a você” (músicas com associações positivas são uma ajuda fundamental), 

(2) não vamos à escola, 

(3) evitamos os contatos sociais, 

(4) tossimos ou espirramos para o braço… 

Esta consciência ajuda a regular a sensação de controlo e empoderamento que tanto as  crianças como os adultos necessitam para sentir segurança.







3.    A importância de manter uma rotina.
Acordar e respeitar horas para levantar, deitar, tomar banho, vestir, comer. Uma nova “normalidade” é necessária.

3.1.Aproveitar para, em família, decidir como será a rotina. Regular os tempos de ecrã para crianças e adultos, e decidir conscientemente que telejornais serão os que se vão ver, em que horários (e manter a decisão) ajuda a criar um ambiente calmo e de maior controlo (as notícias “a dar a dar” o dia todo só vai alterar os ânimos). Isolar-se das informações e das redes sociais, por algumas horas cada dia, também faz bem.

3.2.Importância de algum tipo de atividade física. Todos sabemos que demasiada energia acumulada vai começar a transbordar sob formas mais difíceis de gerir. Escolha um espaço aberto, em horário de baixa afluência, e leve às crianças a caminhar e correr.

3.3.Ajuda das crianças nas tarefas domésticas: como podem elas colaborar? Tarefas adequadas à idade permitem-lhes sentir-se úteis e que estão a contribuir. Brincar à limpeza (os “mata-bichos”?) ou qualquer maneira criativa que possa ser útil e divertida ao mesmo tempo.

3.4.Dar-nos tempos de dedicação exclusiva com as crianças. Uma pausa diária, ao menos, só com elas e para elas, é necessária para manter a conexão e a sensação de segurança.

3.5.Deixar correr a criatividade. Mudar os espaços em que se come, se brinca ou se descansa, dentro da casa, ajuda a evitar a saturação ou potenciais claustrofobias. Uma vez por dia fazer uma atividade do tipo “piquenique na sala”, “acampaar por baixo da mesa”, olhar pela janela a brincar (quem descobre…?), jantares “temáticos” ou minifestas em família alegram e descontraem os ânimos.

4.    Definição dos tempos de cuidado.
É importante evitar o desgaste. Se há dois adultos em casa, podem alternar os cuidados aos miúdos. Se só existir um cuidador durante a maior parte do tempo, é importante que o outro (sempre que disponível) possa assumir essa função. O risco maior é quando só existe um cuidador todo o tempo – nestas situações, aconselho o pedido de ajuda a algum familiar ou amigo mais próximo (que já tenha estado em contacto com a criança). Chamadas telefónicas ou videoconferências também podem servir para “arejar a cabeça” e manter o equilíbrio emocional…




5.    Tempo para conversar sobre as mudanças

5.1.Neste momento não vale a pena fingir que está tudo normal. Não está! As crianças saíram da escola, um dos pais ao menos não está a trabalhar e não estamos de férias. É necessário conversar com as crianças sobre isto. Mais uma vez, a preferência é para fazer perguntas e responder de acordo com as necessidades de cada criança.

5.2.Se aparecerem perguntas mais “difíceis”, por exemplo sobre a morte, é importante responder sem alarmismos, com harmonia emocional, mas sempre em verdade. Pode ser uma boa oportunidade para normalizar as questões da morte no universo mental e emocional das crianças: A vida é um ciclo (vida – morte – vida). Todos vamos morrer e é normal que assim seja. Ficar tristes por isso faz parte.

6.    Oportunidades
Todos os momentos são oportunidades de aprendizagem, de crescimento. Vamos aproveitá-los da melhor forma possível. Toda esta agitação relacionada com o coronavírus pode ser aproveitada para conversar com os nossos filhos (evitando sermões) trabalhando valores como a flexibilidade, a adaptação a novas situações, a aceitação da diferença, a capacidade de empatia e ajuda, a calma e a tranquilidade, a capacidade de soltar o que não podemos controlar, o foco no positivo e no viver no presente, a gratidão…

Um beijinho e um abraço! Estamos juntos.
Eugénia Amaro - PsiMater



Obrigada nós, Eugénia. <3 

12.22.2019

Coisas a não fazer neste Natal.

Ahhh, farta de momentos positivos em torno do Natal. Já percebemos: há luzes, família, prendas e até o nascimento de alguém que foi relevante no panorama internacional. No entanto, parece que só acontecendo uma vez por ano não nos apropriamos desta experiência para aprender e aplicar nos anos seguintes. Fica aqui uma listinha de coisas a não fazer neste Natal. Querem acrescentar alguma? 




1 - Ter a necessidade de materializar o Pai Natal. 

Às vezes, por querermos muito "brincar", pomos o pé na argola. Não nos podemos esquecer que as crianças têm uma óptima imaginação e, às vezes, quanto menos informação lhes dermos, mais à sua medida constroem o que for necessário. Isto é: não é preciso um membro da família se vestir de Pai Natal ou de fazer pegadas de neve pela a sala. Às vezes, basta o bater da porta antes de chegarem as prendas e o ar convincente dos pais. As crianças são óptimas a fazer a magia e... a descobrir maus disfarces também, especialmente se já estiverem na dúvida. 

2 - Utilizar a passivo-agressividade

Por muito que tenha piada para nós - no momento, pelo menos - e para aqueles que estejam alinhados connosco, não é muito simpático estar a enxovalhar um membro da família por ainda não ter casado, por continuar gordo, por estar a ficar careca, etc. Nem é muito porreiro pôr alguém no centro da conversa a meio do jantar e fazer um interrogatório enorme. A verdade é que se quiséssemos efectivamente saber mais sobre a vida dessa pessoa que teríamos perguntado ao longo de um ano inteiro. Talvez o Natal seja uma boa oportunidade de receber o que nos quiserem dar ao invés de iniciar a caça ao pormenor. 

3 - Despachar as prendas todas ao calhas. 

Natal tem sido muito sobre consumismo, verdade. Na minha opinião, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. O que me tem feito mais confusão (até em mim) é a necessidade de não falhar com o compromisso de oferecer qualquer coisa e fazê-lo automaticamente. Dar uma "merda" qualquer. Mais depressa se oferecem umas cartas ou uns bilhetes feitos à mão, não? Até pode ser um exercício interessante, apercebermo-nos da qualidade da relação que temos com determinadas pessoas, conseguindo imaginar uma prenda engraçada, útil ou simbólica que se enquadre.

4 - Romantizar as amizades dos mais pequenos e impor o guião social. 

Não sei a partir de que idade fará sentido porque a minha filha ainda só tem 5 anos, mas lembro-me de me perguntarem constantemente se tinha namorado ou se nem por isso. Sei que é para fazer conversinha da treta e porque tem graça ver crianças a "fazerem coisas de adultos", mas não é porreiro imprimir essa pressão numa criança, podendo até - acho eu - fazer com que ela deixe de viver as suas amizades como il faut e comece a romantizá-las por achar que é o que é pretendido pela sociedade. Já chegam os desenhos animados da tanga sobre isso, não é? 

5 - Bisbilhotar

Por muito que seja tentador, por uma questão de validação de pertença na comunidade, na família. É de evitar falar das pessoas que estão presentes num grupo à parte, bisbilhotando sobre os últimos eventos da vida dela, etc. Essas energias sentem-se e acabam por estar presentes de forma menos desconectada do que está a acontecer. Talvez seja importante revermos onde e com quem queremos passar o Natal, em vez de estar em modo automático ou em modo de evitar conflitos. Se for para bisbilhotar, que seja para congeminar soluções positivas, reacções e não pelo facto de "ah... ouvi dizer que o marido a traiu e que continua com ele na mesma". 

6 - (des)Intoxicar o Natal 

Talvez não seja no Natal que devamos lavar roupa suja. Está bem que há poucas oportunidades em que a "malta" esteja toda junta, mas não é altura de falar nas partilhas, naquele episódio de há 10 anos ou no facto de um dos membros da família não estar a cumprir com aquilo que os outros consideram ser seu dever familiar. Essas coisas devem resolver-se antes, estarem esclarecidas antes do convite. Nem falo pelo desagrado geral que isso causa no próprio dia aos crescidos, mais para as crianças respirarem um ar são e positivo. 


Inicialmente era suposto ser um post mais cómico, dizendo que não se deve guardar os embrulhos dos presentes ou que fumar na janela cozinha cheira na mesma na casa toda, essas coisas, mas acabei por ser mais formal. Olhem, deve ser da época. Processem-me ;)

Feliz Natal!!!


12.04.2019

10 maneiras de estragar a vida com uma criança.

Como está aí o Natal, senti-me inspirada a escrever algo amoroso e apropriado para a época. Querem adicionar coisas à lista? Sintam-se à vontade. Nesta lista não há slimes, nem plasticinas que depois vamos ter que raspar do chão com uma faca de sobremesa.





1 - Termos as expectativas completamente desalinhadas. 

Se acharmos que ter uma criança vai mudar a nossa vida SÓ para melhor, vai ser tudo muito mais violento. Ou, vá, pode ser bem mais violento. Claro que há crianças que foram enviadas por anjinhos e adormecem melhor que uma mãe solteira ao final do dia, mas há outras que não. E que falam alto e que adoecem e que não sei quê. 

2 - Querermos ser as melhores mães do mundo. 

Ainda que querer ser a melhor mãe possível seja saudável, ser a melhor Mãe do Mundo é uma real chatice. Não que se veja como uma competição, mas não somos solidárias connosco e não conseguimos falhar sem nos sentirmos um grande pedaço de cocó após a ingestão de sopa de peixe (e nós sabemos que sim, são os piores cocós do Mundo). 

3 - Não querermos que eles se sujem.

Ainda que não seja o exemplo perfeito de sanidade mental (quem é? - não, ninguém me bateu à porta e respondi por escrito), lembro-me perfeitamente dos calores com que se fica quando sujam a mesa ou o chão com alguma coisa que, ainda por cima, nós tenhamos comprado. Sabem porque é que me lembro como se fosse ontem? PORQUE FOI ONTEM. Queremos que as crianças se comportem como a Lilibet do The Crown e não se sujem mesmo ao ponto de terem de engolir o próprio vómito, mas a realidade não é essa.

4 - Acharmo-nos o centro do universo. 

Se a nossa principal tendência for a culpabilização, preparem-se para um babyblues que vai durar a vida toda, caraças. Se a criança não dorme e a culpa foi nossa porque acendemos uma vela do Continente ou porque temos a cama virada para sul ou porque abanámos demasiado a franja quando respirámos fundo, vai ser uma longa e cansativa corrida - mais além do necessário. Se a criança chora porque a mãe é rasquinha, se não chora porque a mãe é rasquinha... que opções nos estaremos a dar para que as coisas corram bem? 



5 - Querermos que a vida se mantenha totalmente igual. 

Dá para vê-las por aí, nos primeiros tempos, as mães que não aceitam irem-se abaixo ou que ainda não conseguiram encaixar que a vida anterior acabou. Não quer dizer que tenha ficado pior, apenas que tenha mudado. Ainda ontem vi no instagram uma citaçãozinha fofa que dizia "Your new life is going to cost you your old one" e faz todo o sentido. No início, muito até por pressão dos amigos ou de quem quer que seja para que não nos vamos abaixo, sentimo-nos inclinadas a lutar contra o cansaço e o desnorteio e apresentarmo-nos flawless ao mundo mantendo as combinações e as saídas. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A vida mudou. É preciso fazer um luto da anterior e aceitar com calma e paciência (tanta quanto possível visto que... saiu um ser vivo do nosso pipi) que as coisas já não vão ser as mesmas e que só quando tiverem 20 anos é que vão ficar parecidas. Isto se não se tornarem na Greta porque depois andam em catamarans a viajar e deve-se ficar com o coração nas mãos.

6 - Sermos LOUCAS por rotinas.

Ai filhas, ainda a lidar com esta. A partir do momento em que me disseram que ter rotinas fazia com que a criança se sentisse mais segura... (e a mim também) fiquei ou piorei da minha obsessão com as horas. Reparei que ela adormecia bem melhor se fosse sempre pela mesma ordem e aos mesmos minutos. Chamem-me de maluca - são só mais umas - mas como sair desta bolha óptima de que podemos facilitar a nossa vida se não a complicarmos? Fica só o aviso: serem loucas por rotinas pode custar-vos a vossa sanidade já que... tudo o que implique uma mudança, implica desconforto e... sair para jantar fora faz bem à cabeça de toda a gente ainda que roube uns minutinhos de sono.

7 - Não saber lidar com a desarrumação.

Acabou, gente. Acabou aquele controlo hermético da nossa casa. Podemos estar a fazer xixi e a ouvir uma caixa de legos a ser vertida para cima do tapete que tinha sido acabado de ser aspirado e que já tem em cima as botas que há minutos pisaram lama à saída da escola. Esqueçam o controlo. Esqueçam ter a casa, a cozinha arrumada. Temos de sair daquela noção de casa Pinterest para conseguirmos relativizar o facto de termos criado um mini tornado naquela noite em que talvez até só tenhamos feito amor para não ficarmos semanas sem fazer e criar problemas na relação? O quê? Eu? Não.

8 - Não nos informarmos. 

Há imensas mães que fazem dos médicos autênticos deuses até para questões que têm 0 a ver com medicina. Médicos que nem são pais ou que poderão ser pessoas completamente diferentes de nós e, por isso, as visões que têm do que está certo a nível comportamental não se adequem à nossa identidade e ao que queremos da nossa família. É muito perigoso termos como referência uma pessoa que nos parece certa nuns assuntos e extrapolarmos para o resto. Manter sentido crítico é essencial e... façam como fazem quando procuram doenças na net: mesmo que encontrem a pior resposta possível (cancro), continuem a ler até que encontrem uma resposta que vos seja mais conveniente. Claro que os médicos se devem ocupar da saúde, mas talvez nem todos saibam se é melhor deixar a criança chorar antes de lhe pegarmos ao colo ou não. Não deixam de ser pessoas e, por isso, cuidado com as opiniões alheias. Leiam e sintam-se à vontade para seguirem o que mais vos fizer sentido.




9 - Informarmo-nos demais.

Pooooois... Também é um perigo. O excesso de informação... principalmente num assunto que nos traga tantas inseguranças. Talvez das coisas mais importantes no processo (sabemos lá quando acaba) é aceitarmos que a tentativa e erro não só faz parte como também é desejável. Não se nasce a ser boa mãe - acho eu - e os miúdos não esperam por nós para crescerem. Por isso, sejamos misericordiosas connosco e aceitemos que vamos errar nalgumas coisas e que vamos acertar noutras. O importante é que estejamos sempre disponíveis para melhorar, certo?

10 - Compararmo-nos às mães do instagram.

Vamos sempre projectar os nossos piores receios nas outras pessoas. Aquilo que nos deixa mais inseguras vai ser o que sentimos que as outras pessoas não estão a viver. Aconselho vivamente a deixarem de seguir malta "perfeita" no instagram porque acaba por ser doloroso. Também essas mães passam por dilemas - se calhar até mais do que nós e daí terem a necessidade de também mostrar só o lado bonito - e vão sempre fazer-nos sentir que estamos a errar algures. Questionem-se da utilidade das pessoas que seguem e vêem no dia a dia nas redes e estejam atentas também ao tom das conversas que as outras pessoas têm convosco. Podem ter a intenção de vos ajudar mas, por causa dos seus próprios assuntos por resolver, acabem por fazê-lo de uma maneira tóxica.

Isto são 10 maneiras que partilho convosco de como estragarem a vossa vida com uma criança. Só sou mãe há 5 anos, mas garanto-vos que penso bastante no assunto. Espero ajudar-vos a poupar algum tempo e dor e que também poupem às vossas amigas ao partilharem este artigo. Não tem a ver com o blog ter mais views ou não que, sinceramente, hoje em dia, patrocinar uma publicação com 5 euros resolve o problema. A verdade é que tanto a Joana Paixão Brás como eu queremos muito que o maior número de mães possível (e famílias, claro) seja feliz.


11.15.2019

Desculpem, filhas

Desculpem, filhas.
A mãe errou.

A mãe não soube lidar com uma birra enorme e demorada. A mãe estava cansada. A mãe tentou várias coisas que não resultaram. 

Depois de eu ter avisado várias vezes que se não viessem para a cama, não poderia haver história, porque estava mais que na hora de dormirem, cumpri. Cumpri, mesmo sabendo que, muito provavelmente, haveria choro, pedidos de desculpa, promessas, pedidos desesperados e até gritos. 

E houve, houve tudo isso, mas numa proporção difícil de qualquer ser humano - que não um monge eremita - aguentar.

Falei em voz calma. Disse que não poderia ler a história, senão não estaria a ser uma boa mãe. Que para a próxima, não se lembrariam que é importante cumprir o que a mãe diz. Continuariam, todos os dias, a não ouvir a mãe. E que, assim, no dia seguinte, se iriam de certo lembrar. Que a mãe cumpre o que avisa. Que se a mãe explica uma vez, duas vezes, por que razão têm de ir para a cama contar a história nos próximos minutos: senão não dormem o suficiente. As escolhas têm consequências. E eu levei a consequência até ao fim.

No meio da birra, saí do quarto para me acalmar. Falei de forma calma. Dei água. Ofereci abraços e colo a cada uma. Dei colo a cada uma. E nada vos faria acalmar nos minutos que se seguiram. Foi desesperante. 

Eu sei que não estavam a fazer aquilo para me desafiar, para me irritar. Eu sei que estavam com sono e cansadas e frustradas. Eu sei disso tudo e sabia. E devia ter mantido o controlo. Mas não mantive. Cada uma levou uma palmada, acho que ao mesmo tempo, com cada uma das minhas mãos, quando me tentava levantar para me ir acalmar e se agarraram a mim como lapas aos gritos. Nem me lembro aonde vos acertei. Acho que nas pernas? 

Odiei a sensação. Não acho que "estavam a pedi-las". Não acho que "mereceram". Não acho que "tinha de ser". Nem que "as crianças de hoje em dia têm é falta de palmadas". Muito menos que "uma palmada na hora certa" faz falta. De tudo o que tenho lido, de estudos científicos feitos, de pedopsiquiatras, psicólogos, e também de educação com apego e disciplina positiva, nada parece apontar que faça falta, muito pelo contrário. A ciência evoluiu para estar do vosso lado, do nosso lado. Para que compreendamos melhor como funciona o cérebro de uma criança. Que tem neurónios-espelho, que reproduzem e imitam o que fazemos e que, também por isso, nunca os gritos e palmadas resultarão a longo prazo - e só farão com que os imitem. Que há um espectro enorme entre autoridade e permissividade. 

Eu sei disso tudo, mas, nesta noite, não consegui. 
Mas de nada serve a culpa, vamos a estratégias para que não volta e acontecer. Por vocês, mas também por mim. 

- durante a semana, vamos experimentar não ter cá em casa vizinhos, que ficam mais excitadas;
- nos dias em que vos vou buscar mais tarde, como foi o caso (18h), tem de haver à mesma um tempinho para brincarem só as duas, livremente 
- antecipar ainda mais os horários / sequências do que vem a seguir: "depois de lavarmos os dentes, contamos logo a história, para termos tempo para tudo", para não ser tão em cima o aviso
- voltar a fazer yoga e meditação, para voltar a ter mais paciência

Sei que já me desculparam. Eu também já. Errar é humano. Continuar a errar sem tentar fazer nada para evitar errar é que já me parece um bocado totó.

Se tiverem desse lado alguma dica (dentro da disciplina positiva, ser ser "eu daria uma bordoada a cada uma logo no início que é para verem quem manda", pff), sou toda-ouvidos. 


11.05.2019

Temos de parar de fazer isto.

Temos. 
Talvez nem toda a gente veja o que eu vejo, mas acho que se nos debruçarmos um bocadinho na questão, talvez consigamos sentir o que eles poderão estar a sentir. 

A criança chora. 

Aqui abre-se espaço para imensas reacções da nossa parte. 
Suponhamos que vivemos uma vida que consigamos ter um pouco de disponibilidade emocional para ter empatia pelos nossos filhos, embora numa situação com a qual não nos consigamos relacionar. 

Exemplo: 

A criança começou a usar o tablet. 
A mãe avisou que seria só enquanto ela fazia o jantar e que depois teria que o desligar. 
A mãe volta da cozinha e retira o tablet. 
A criança chora. 
A mãe fica irritada porque já tinha exposto a situação e comunicado as regras. Sente que não foi ouvida e sente-se frustada porque já adivinhava que podia ser esse o resultado e assim aconteceu. 
A criança chora. 
A mãe não consegue ir além dos seus sentimentos e o choro escala. A criança está incapaz de ouvir. 
A criança que, tal como conseguimos imaginar por também ser uma pessoa, teve um dia que a deixou cansada. Correu, brincou, geriu frustrações com cerimónia ou com as ferramentas que tem ao seu alcance tendo em conta a sua maturidade e experiência. 
Continua a chorar. 
A mãe não sabe o que há de fazer. 
Olha-lhe nos olhos e imita-a a chorar. Gozando com o choro. 
Não quer que ela se sinta pior, mas só quer que o choro pare. 
Não pára. 
O choro escala. 
A mãe finge chorar ainda mais alto e, sem se aperceber, gozando com a criança. 

Hoje ouvi uns vizinhos meus a fazerem-no. Já vi amigas minhas também a terem esta tendência. Lembro-me de me sentir muito sozinha e até mal-tratada por pessoas que supostamente seriam aquelas que me deveriam apoiar e ajudarem a acalmar-me. Sentia como se fosse um murro na barriga depois de mostrar que estou doente. 

Será que podemos parar com isto? 

Será que conseguimos olhar para as crianças como sendo pessoas ainda que possamos ter que admitir que não temos as ferramentas necessárias para sermos sempre a solução? 

Será que conseguimos perceber que, no meio da nossa indisponibilidade - à qual muitas de nós estamos sujeitas sentindo que não existem outras hipóteses - não são as crianças que devem pagar o preço? 

Será que embora não consigamos perceber as razões que levam a uma criança a explodir numa reacção semelhante podemos sentir empatia relembrando-nos das vezes em que já estivemos no lugar delas quando éramos mais novas? Ou até mesmo quando no dia-a-dia nos sentimos incompreendidas, desabafamos e não queremos receber "gozo" de volta? 



Talvez o equivalente numa relação adulta fosse: 

- Sabes, Sónia, ultimamente sinto-me perdida, que a minha vida não faz sentido. 
- Ai, Madalena, lá estás tu com as tuas merdas. És sempre a vítima, sempre a vítima. Não consegues só deixar-te de te queixar e de seguir em frente? Que chatice!

Não é isto que procuramos, precisamos ou devíamos obter quando partilhamos sentimentos (tendo em conta as várias formas e desenvolvimento emocional de cada um). Ainda que a Sónia não tenha tido uma educação baseada na empatia e no amor ou mesmo que a Sónia tenha tido um dia péssimo. 

Don't kick them when they're down. 

Don't kick them at all. 

Não sou psicóloga, não sou orientadora ou qualquer uma dessas profissões que, por terem um lado académico, também nos transmitem mais confiança, mas já fui criança e sou adulta. 

Talvez não consigamos reagir logo. Talvez não tenhamos nada de bom para dizer. Talvez precisemos de nos acalmar um pouco ou talvez precisemos de rever a nossa vida ao máximo para que consigamos ter mais disponibilidade mental para que, nestas alturas, não falhemos com quem convidámos a que viesse habitar este mundo connosco. 

Estou zangada, sim. É uma tristeza primária que se apoderou de mim para escrever este post, mas talvez ajude a que mais gente se lembre de quando era criança. Ou apenas da última vez em que esteve triste. 





10.07.2019

Fui promovida.

Se soubessem...

A Irene, quando era pequenina, parecia chorar sempre mais ao meu colo do que ao colo dos outros - ainda que nunca tivesse gostado muito do colo de ninguém. Em cima de mim, chorava. Mas, ao colo do pai, calava-se. 

Claro que há milhares de razões para isso, mas eu cá escolhi as minhas: além de ser eu quem a amamentava e de "cheirar a leite" - aqui é que se aplica o "cheiras a leitinhoooo, cheiras a leitinho", ahaha - também era eu quem estava mais esgotada e ansiosa. Essas coisas sentem-se. Eles apanham o nosso cheiro a stress, a velocidade da nossa pulsação, além de não conseguirmos controlar a o tipo de movimentos que fazemos. Achamos que estamos a fazer tudo fingidamente calmamente mas, se fossemos filmadas por fora, notar-se-ia o desespero ou até a velocidade a tentar embalar a criança. De certeza que o pitch do "frère jacques" muda. 

Bom, no meio disto, tirando a mama, como disse, raramente tive a Irene ao colo ou se deitava na minha barriga, por exemplo. Até tenho uma fotografia da primeira vez que isso aconteceu para aí aos 6 meses mas também foi coisa rara. Ainda hoje, as únicas alturas em que consigo tê-la perto de mim é quando - excepcionalmente - vemos televisão juntas, quando a vou adormecer (pede a minha mão para fazer conchinha com ela) ou, então, quando está com muito sono e a convido para vir para ao pé de mim. 

Embora nada disto tenha mudado grandemente dado que não salta para o meu colo quando a vou buscar à escola; eu é que, com tempo, paciência, mudança de vida e terapia é que tenho vindo a saber apreciar melhor as vezes em que esses toques se dão e, por isso, já não me parecem tão poucos.. 

No outro dia fui promovida. 



A Irene começou a chamar-me mamã. 

Sempre fui a mãaaae ou a mamiiiinhaaa ou algo do género. Mas, de repente (não foi de repente, foi a resposta dela a todas as mudanças na nossa vida e o quanto isso nos tem deixado cada vez mais felizes - história que para mim faz sentido), fui promovida a mamã. 

Sou a mamã, agora. E este mamã não é usado só quando precisa de alguma coisa. É mesmo "mamã, o que achas disto?". Passou a ser o meu nome e estou em êxtase. Que carinho gigante. Que coisa fabulosa. A nossa relação tem evoluído imenso e isto foi apenas mais um dos sinais. 

Ontem fazia-me festinhas quando eu fingia que estava a dormir enquanto a estava a adormecer. Disse-me no outro dia que sou "a mais importante" e noto que confia no que lhe digo, que sou a sua melhor amiga. 

O pai também foi promovido a papá. 

E isso deixa-me tão feliz. Mostra que ela está mais à vontade connosco, menos nervosa, menos ansiosa, com mais espaço para ser criança e com menos pressão para se mostrar crescida ou para estar do lado dos adultos. Quanto mais confortável está em ser criança, mais surgirá o carinho - penso eu. 

Tem sido uma viagem grande. Desde deixar de trabalhar 8 horas por dia para outros e ficar louca de stress com coisas que nem me tocavam, a não ter uma relação que me pesava o coração e o corpo e não se revelava uma fonte de felicidade mas antes de mais pressão. A ter mais tempo para mim própria e não olhar para a Irene - com culpa à mistura - como consumidora do meu tempo pessoal. A estar mais com as pessoas de quem gosto e, por isso, lembrar-me de mais partes de mim e poder dar mais de mim à minha filha... 

Têm sido 5 anos e sempre a melhorar. 

O meu coração não poderia estar melhor. O coração desta mamã. 





  • Bom, esta semana voltamos a gravar vídeos e podcasts, não se apoquentem. Com a Joana fora, perdemos aqui um pouco das rotinas, mas vamos voltar em força esta semana e muito em breve - talvez ainda esta semana - vos apresentemos um dos vários projectos que vão sair este ano. Podemos dizer que vos vai ajudar a ser ainda mais felizes aí em casa. ;)
  • Podem seguir-nos no youtube para serem avisados sempre que sair um novo vídeo e também nas plataformas habituais de podcast: Spotify, Apple Podcasts, iTunes, SoundCloud e AnchorFM. O podcast chama-se "a Mãe é que sabe", mas prometemos falar de tudo menos de maternidade - só para desenjoar um bocadinho, o que acham?
  • Para além disso, que tal ajudarmos outras mães no início desta aventura? Juntem-se a nós no próximo "a Mãe é que sabe ajudar" enquanto parceiras. Enviem-nos um e-mail para amaeequesabeblog@gmail.com a mostrar a vossa vontade e dizemo-vos como podem participar (podemos demorar um pouco porque estamos a ir por ordem de chegada vs necessidades de reunião, etc). 
  • Sigam-nos também no instagram, o Facebook anda a castrar nos algorítimos e de vez em quando sentimos que estamos a escrever "para o boneco". Mas não estamos, pois não? Se nos seguirem pelo instagram pode ser que cheguem mais facilmente aos nossos conteúdos. ;)

8.14.2019

Deixem as "mães obcecadas" em paz!

Só agora. Só agora passados 5 anos é que me sinto mais confortável por estar a ganhar a minha identidade completa. Quando fui mãe, houve parte da Joana que parecia ter morrido, como se não houvesse espaço para mais nada a não ser para a minha filha. A minha vontade imensa de lhe dar tudo o que ela precisava, a minha "ceguez" custou-me muito descanso, sanidade e relacionamentos. Mas, honestamente, 5 anos depois - e mesmo já antes - está a compensar. Tenha sido por isso também, juntamente com a genética, a personalidade ou pelas outras pessoas envolvidas no crescimento da Irene, que a nossa miúda está a transformar-se num ser humano fantástico. Orgulho-me gigantemente dela, da sua beleza interior, da sua vontade de compreender as coisas, de as questionar. Quero criar alguém que se procure e não apenas alguém que exista. Quero dar-lhe as melhores ferramentas que tenha. 


Amamentei durante 4 anos e meio. Sozinha acordei todas as noites. Mudei-lhe praticamente todas as fraldas e todos os banhos. Não podia sair de casa durante a noite durante muito tempo (ou até separar-me dela durante o dia) por causa da amamentação e por ela me procurar. Também por reparar que na Irene o factor descanso influencia gigantentemente a sua disposição e resiliência. Tudo foi sempre pesado e "ser pela Irene" era sempre o que ganhava. Com gosto, muito, mas com muito sacrifício. 

Este foi o meu caminho e sou humilde agora ao ponto de saber que existem outros e que cada uma deve percorrer o seu, desde de que de forma consciente. Honrando o privilégio que é podermos ser mães, podermos aprender com uma criança e bebé a bebé estarmos a criar o futuro.

Não saí, não convivi, não passeei. Exagero? Talvez, mas o tempo vai passando. E quando estamos prontas vemos o que existe. E a verdade é que agora, 5 anos depois, estamos prontas para mais espaço. Um espaço que não me faz sentir culpada por ter sido ganho com paciência e calma e, acima de tudo, por ambas estarmos preparadas. 

Sempre preferi que as coisas fossem a meu custo e não a custo da Irene. Até porque vendo bem as coisas, fazendo "pela Irene" era o que me faria melhor a longo prazo.

Pelo caminho muitos comentários. Sobre tudo. Muita falta de compreensão (por falta também de conhecimento da minha vida e de como funciono), mas sei que estive sempre certa ainda que tenha queimado metade da minha cabeça. Ou, quiçá, me tenha tido que aperceber que metade da minha cabeça estava em obras quando nasceu a Irene. 

"A mãe também é mulher", mas não eram as idas ao cabeleireiro nervosa pela Irene acordar e sentir que a mãe tinha saído que me faziam mais feliz. Nem seria se tivesse continuado a trabalhar durante o ano "sabático" que tirei para ficar com ela. Ficar no trabalho sem grande trabalho (por me ter sido mãe), à espera que o tempo passasse e a tirar leite para o pai lhe dar também não me fez sentido.

Tive a sorte de não ter que a pôr na escola antes dos dois anos e meio. Não a quis por antes de estar preparada. E embora não tenhamos sido felizes com a escolha que fizemos, agimos conforme aquilo que acreditámos ser o ritmo dela e não o nosso. Foi uma sorte. 


Agora a Irene dorme em casa do pai, dos avós. Fica com amigas minhas se precisar de sair para trabalhar ou, apenas, se precisar de sair. Chama-me poucas vezes à noite e raramente. Fica com o meu pai e com a minha madrasta ou durante umas horas com a minha mãe se me apetecer espairecer num centro comercial.

Neste caso sempre tive noção do médio e longo prazo. Com tudo. Com o desgaste, o sacrifício, tudo. Ter um filho para mim foi um compromisso gigante em que obviamente desequilibrei a minha balança e que também, por causa disso, trouxe algumas dificuldades (ser mãe e não ter espaço para ser a Joana levou-me à insanidade temporária), mas sei que o fiz por amor e por descargo de consciência. 

Quanto aos comentários de quem não sente o mesmo, podemos ouvi-los, digeri-los e aproveitá-los para repensarmos a nossa necessidade de sermos exímias (uma ilusão mas que no meu caso significa dar tudo o que posso e tenho e a mais não ser obrigada). Podem incluir soluções para equilíbrio, para menor sacrifício, mas há que respeitar o ritmo de todas nós. 

Porque, no fim, quem vai lidar com isso somos nós mesmas também. E eu estou a lidar extremamente bem com todas as decisões que tomei até agora, ainda que me tenham custado sanidade temporária. A insanidade é temporária a relação com os nossos filhos e a relação deles consigo não. 

Claro que invejo quem consegue fazer tudo isto, criar crianças perfeitamente felizes e não ter que desequilibrar a balança. É uma aprendizagem. Talvez num segundo filho o "sacrifício" não seja tanto. Mas para esta filha foi. Porque tinha de ser. E está tudo mais do que bem 5 anos depois. 




7.20.2019

Tu és grande e gorda, disse a uma menina

“Tu és grande e gorda” disse a Luísa a uma menina com uns 8, 9 anos, que não estava a conseguir entrar numa casinha com escorrega. Ela respondeu, a olhar para mim: “vou ignorar a segunda parte”.


Não soube bem como reagir. Primeiro porque, para a Luísa, chamar alguém de gordo não tem qualquer tom pejorativo associado. Tem três anos e nunca me ouviu dizer (nem me parece que tenha acontecido no nosso núcleo, mas não posso pôr as mãos no fogo) que eu estava gorda ou magra ou a comentar o que quer que seja sobre alguém.

Mas, para ela, ser gordo é ser grande. O cão come muito e é gordo. O senhor é gordo. Aquele gato que não tem pelo, sabem?, é magro. A menina é gorda. A palavra, na boca dela, é neutra. E deveria ser assim sempre, não?

A menina não a sentiu assim, talvez habituada a lidar com essa palavra há muito tempo e com tom de crítica, certamente. Percebo. Deve ser duro.

Eu tentei remediar, no momento, mas nem sei o que deveria ter feito. Disse: “ela tem 3 anos, não sabe o que se deve ou não dizer. Ela também diz que é gorda quando come muito. E fica com barriga grande. Não foi por mal”. E ela respondeu: “sim, mas eu sou gorda.” E eu: “mas não há nada de mal eu ser-se gordo, és linda. (...) E muito simpática”. E era. De uma educação tremenda. Foi buscar os ténis das miúdas à areia para as ajudar. Um amorzinho de miúda. E ela continuou: “eu gostava de não ser tão gorda. Também não queria ser só ossos, mas gostava de ser ... ali no meio”. E eu disse: “então mas um dia vais conseguir”. E, depois pensei: mas se não conseguir e se for saudável, não faz mal. E disse “desde que haja saúde, o resto não tem importância. Sabes o que eu fazia aos miúdos que gozavam com os meus pés grandes? Nada, deixei de ouvir (e fiz o sinal de “não estou nem aí” com as mãos, deslizando os dedos, sabem?).”

Eu não estou apta para ter estas conversas com ninguém, muito menos com uma criança. Mas senti que não podia deixar de lhe responder. Só que... o quê? Primeiro, porque não sei se está a ser feito algum trabalho com ela numa psicóloga, numa nutricionista, não sei se tem algum problema de saúde associado, não faço a mais pálida ideia se eu ter dito que “não há problema nenhum em ser-se gordo” é precisamente o contrário do que lhe têm dito em consultas, imaginem. Depois, porque não estou informada sobre o assunto suficientemente. A nossa sociedade é gordofóbica e, por mais que eu possa querer afirmar que não sou, acho que também eu tenho alguns preconceitos, mesmo que lá no subconsciente. Como é óbvio, não discrimino, não escolho os amigos pelo peso, vejo beleza em diferentes tipos de corpos e de pessoas, mas ainda associo, principalmente em idades destas, em crianças e jovens, a obesidade (que, atenção, não faço ideia se é sequer o caso), a alguma falta de informação da família ou de acompanhamento. Nem sempre o será. Sei lá eu as causas. E daí eu dizer que não estou plenamente preparada para falar com uma miúda de 8, 9 anos sobre isto. Mas surgiu.

A minha questão agora é: aproveito este caso para explicar o quê às minhas filhas? Se digo à Luísa que não se chama gordo às pessoas, não vai entender e, às tantas, vai passar a chamar a todas as que vir na rua (tal como quando dizem uma asneira e nós damos demasiado ênfase àquilo). A Isabel até já pode ter entendimento para isto, mas, por exemplo, quando a Irene a imita a falar (a Isabel é “sopinha de massa”) não noto nada que fique triste. É uma característica dela e ela também não sentiu ainda nunca isso como algo com tom pejorativo. A Irene imita-a por achar essa característica diferenciadora e não é num tom jocoso. É porque a adora. É como se imitasse uma língua diferente. Ou um tom de voz bastante agudo. Percebem? Eles estão em idade de experimentar muita coisa, de serem teatreiros, não estão a ser bullies.

A Luísa não estava a querer ofender a miúda de 8 anos chamando-lhe gorda. Mas gostava muito que não repetisse, porque imagino que a miúda tenha ficado triste.

Explico-lhe numa próxima vez? O quê e como? Espero que tenha mais uns dois anos? Algum livro?
Obrigada!

7.08.2019

Acho que vou cortar-lhe o cabelo super curto de novo.

Eu deixo que a Irene escolha como gosta do cabelo. Claro que faço sempre uma lavagenzinha cerebral - até a minha moral me permitir - para a inclinar para o lado que gostaria mais, mas não insisto para sempre, nem a obrigo. 

Ela é que anda aí na rua com o aspecto dela, o que tenho a ver com isso? Pelo menos nesta fase. Quando for adolescente e quiser fazer uma tatuagem de um dragão na cara, acho que vou ter que ser um pouco menos porreira em relação a isso. 

A Irene, no ano passado, tinha o cabelo super curto. Por se ter inspirado numa das filhas da Márcia D'Orey  (Minnie Mars)  e tão bem que lhe ficava, olhem: 


E isto foi só para darmos uma voltinha aqui ao pé de casa. Vejam lá tão bonita que fica, tão leve... tão menina... 

Podia dizer que é só por uma questão de estética, mas não. A verdade é que no Verão a Irene sofre horrores com o calor. Transpira imenso (como as pessoas, vá), mas como tem pele atópica, acaba por ficar ainda mais desconfortável que o expectável, com coceira e tudo.

Vai daí, o que acontece à cabeça da minha maravilhosa filha? Acontece como ela dizia no ano passado "acho que tenho xixi na cabeça" a referir-se ao suor. E lá se coçava ela "o dia inteiro".

Ora, para quem já sofreu bastante com piolhos enquanto criança e já enquanto mãe (a sério... desde que recebo o e-mail até estar tudo agilizado não descanso), estar a ver a miúda a coçar-se o dia inteiro não ajuda. Além de que, sendo sincera, o cabelo dela não deixa ver com clareza os piolhos ou as lêndeas. Confundem-se no louro.

Eu? Ansiosa? Paranóica? Nada. Eu? Nãaaaao.

Podem chamar-me tontinha (chamem lá, quero ouvir!), mas prefiro ter já tudo cá em casa para que, num momento de crise ou de dúvida possa agir de imediato. E, já à semelhança do ano passado, voltei a optar por Paranix. Não só por ser nº1 no tratamento de piolhos em Portugal e na Europa* mas também porque, confesso, ainda não me tinham acabado as embalagens da gama toda do ano passado e gosto de ter tudo da mesma marca. É o meu lado Marie Kondo, não me julguem (muito).

A linha inclui todas as fases que nos stressam no que tocam aos piolhos: detecção, prevenção e tratamento contra piolhos e lêndeas.

O meu produto preferido - reparem o quanto tenho andado ocupada para fazer uma eleição de produtos preferidos no que toca a uma linha de tratamentos contra piolhos e lêndeas - é o Paranix Repel.


O nome além de fazer jus ao objectivo (pena que não funcione também com pessoas chatas, senão tomaria banho nele), poupa-nos dores de cabeça. E comichões também ;).

Sempre que recebo um e-mail da escola a avisar que há piolhos, siga enfrascar-lhe o cabelinho nisto porque afasta os bicharocos, protegendo o couro cabeludo com uma película protectora contra agentes externos. Os bichos depois não conseguem aderir. É como limpar o chão da cozinha... espalham-se ao comprido.

Pode-se usar diariamente - tem uma composição à base de ingredientes naturais - e ainda deixa o cabelo com aspecto saudável e nutrido (toda eu tenho muito a segunda característica, principalmente).

Agora, já não estou com visão de lince nas festas de aniversário, a ver quem é que se coça, nem ando a empurrá-la de fininho para ao pé de outros miúdos - não fiz isto, mas... passou-me pela cabeça. 

Como os piolhos: passam pela cabeça. Ah, ah. Um bocadinho de humor aqui para terminar :) Passam, se não se usar o Paranix Repel. Pumba, piscar o olhinho de novo a esta marca tão simpática que nós adoramos ao ponto de querer convidá-la para passar o Natal connosco. Muito evidente a graxa? Será que, com graxa, os piolhos escorregam também? Prefiro Paranix, vá. Tungas, mais uma vez ;)

Bom, quero cortar-lhe o cabelo curtinho para que tenha menos calor e que fique ainda mais bonita, mas a miúda tem esta mania de ser uma pessoa e ter opiniões... Como fazem vocês?



 Paranix Repel é um produto cosmético.

* Portugal: Dados HMR, Mercado Anti-parasitário Capilar, MAT Abril 2018, Farmácia + Mass Market, Valor e Volume; Europa: IMS Health, Data of Head Lice Europe, MAT Q4 2017, Pharmacy, Value and Volume.






6.26.2019

Faz-me confusão que ela consuma vídeos na internet.

Sei que há coisas que são boas e educativas e quase em tudo na vida há “bom” e há “mau”, mas ver uma criança tão quieta durante tanto tempo faz-me imensa confusão. Claro que até pode aprender a falar inglês - como a Irene aprendeu a falar português do Brasil por ver vários vídeos no YouTube quando estava com o pai - mas acho sempre que não é o melhor. 

Se me deu jeito na viagem a Cabo Verde espetar-lhe uns episódios da Netflix de seguida? Claro que sim. Mas não consigo. Faz-me sentir que a estou a adormecer, como se estivesse a sedá-la. Acho que me encontro mesmo no polo absurdamente oposto de muitas famílias actuais. 


Na minha cabeça, as crianças estão bem a brincar, sossegadas com as suas coisas (algo que envolva destreza ou raciocínio - e até poderão ser jogos no iPad) ou então a subir às árvores ou a pendurarem-se nos baloiços do bairro. Não nego a inovação. Caramba, sou blogger e também sou apresentadora de um programa na internet. Não sou nada contra. 

Mas sinto que tem de ser uma parcela ínfima da vida dela. O mínimo possível. A não ser que descobrisse um conteúdo (como descobri em tempos os desenhos animados da Netflix do Daniel, o Tigre) que compensasse o tempo “limitado” de inoperância, vá. 

No entanto, a maior parte das coisas que vejo e pelas quais a Irene se sente atraída são... consumidores de tempo, apenas. Um bocadinho como os stories que nos caem no instagram de conteúdos instantâneos mas que não “acrescentam” nada à nossa vida, embora nos viciem. Aqueles que nos hipnotizam mas que nos fazem perder tempo de vida. Uma parvoíce continuarmos a cair nisso tanto tempo depois de já termos sido apresentadas a este fascínio. 

Já aconteceu numa noite em que dormi pessimamente ou que fiquei a discutir durante horas não conseguir lidar com ela a manhã inteira e socorrer-me desse babysitter digital, mas não faço disso nem a regra nem sequer a excepção, acho eu.  Tudo por isto. Faz-me confusão. Televisão a mesma coisa. 

Ao fim-de-semana quando me pede para ver desenhos animados, claro que sim. Ponho-me (ou tento) a ler ao mesmo tempo e aproveitamos tempo juntas de outra forma antes de nos prepararmos para sair de casa ou fazermos algo em conjunto. Bom, a verdade é que na maior parte das vezes é quando aproveito para fazer um sprint e arrumar o máximo possível em casa - sabem como é. 

Durante a semana nem vejo tempo para ligar a televisão ou para lhe dar um iPad. Senão como a vejo? Quando é que ela brinca com os brinquedos dela? Como falamos? Como sei como é que ela está? E quando ela adormecer? Vou sentir que o dia nem passou por nós? Penso muito em como dizemos uns aos outros que “o tempo passa rápido” e acho que muito tem a ver com esta falta de tempo uns para os outros e que, às vezes, poderá estar a ser usada noutras coisas menos... úteis ou que menos contribuem para a nossa felicidade. 

Contei-vos em tempos que costumo fazer um desenho para ela levar no lanche com a memória recente mais querida. Tentando sempre que tenha sido algo divertido ou querido dela que tenha acontecido no dia anterior. Sinto que se lhe entregasse o iPad que nem teria nada para lhe desenhar no dia seguinte. 

Faço isso para treinar a visão optimista dela (e a minha também, provavelmente) e é algo que levo a sério.

Não vou desenhá-la agarrada ao iPad. ;)

Posto isto e porque sei que tudo o que seja extremado há de ter mais negativos do que algo “equilibrado”, queria perguntar-vos se conhecem vídeos giros no youtube para os mais novos. Sendo que giros signifiquem ser educativos de alguma maneira. 

E, já agora, se forem das pessoas que pensam nestes assuntos, como é que justificam para vocês que eles estejam no iPad com alguma frequência?