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12.16.2016

Mais uma convulsão...

Nota: Depois de ter lido alguns comentários, achei importante frisar que a Irene já tinha tido episódios convulsivos antes e que além de já ter sido diagnosticada também já nos foi informado de qual o procedimento a ter no caso da nossa filha (no caso dos vossos, deverão falar também com os respectivos médicos). "Recusei" fazer as análises quando a médica que entrou a meio da consulta as propôs porque não tinha ouvido o historial da Irene e não sabia que já tinha sido diagnosticada, além de que ainda íamos a meio da observação clínica da Irene  (tanto que quando fomos à garganta descobrimos a causa) e a Dra. também não sabia porque tinha entrado a meio com alunas do primeiro ano. Assim que a pusemos (a outra médica Sofia - estagiária ou algo do género pareceu-me - e eu, ela anuiu). Obviamente que se tivesse dito que era mesmo imperativo, para mim, as opiniões dos médicos valem sempre mais do que a minha, quanto muito como disse uma leitora "pediria uma segunda opinião". Quando digo que "argumentei" em relação a dar ou não BUR "precocemente, isso não quer dizer que me armei em esperta. Tenho é necessidade de que me expliquem o porquê das coisas e fiz uma pergunta e ambas as médicas concordaram comigo também, tendo em conta que eu não vejo as convulsões como um bicho papão. No texto abaixo só falei de BUR e Brufen por ser a terapêutica mais comum para febres e afins, não estou a recomendar nada, nem a sugerir nada. Obrigada aos vossos comentários (os menos histéricos, haha) porque fazia mesmo falta fazer algumas ressalvas à narrativa deste episódio.

A Irene tem-nos dado alguns sustos (como escrevi aqui aqui) . Desta vez, quando a fui buscar à escola, a educadora já lhe tinha dado um Ben-u-Ron (a febre estava perto dos 38 e como estão "avisadas" sobre as convulsões, ficam mais receosas). Viemos para casa e mais nada nela indicava estar doente. 

Agora, olhando para trás, o pai bem disse que a voz dela estava diferente. "A voz dela está a mudar". Ri-me e disse que era de estar com ranho "como sempre" desde que entrou para a escola.



Umas três horas antes da convulsão.


Fui deitá-la e imediatamente antes de ir ver como estaria da febre (duas horas depois de a deitar) ouvi uma tosse esquisita pelo intercomunicador. Seguida de um choro aflitivo. Lá cheguei e a convulsão já tinha acabado. Já estava histérica, paralisada nos membros e com espuma a sair da boca. 

Esta é a parte final. O pior já tinha passado. Depois da última já sabíamos que não era preciso ligar para o 112 e que nos restava acalmar a Irene até ela relaxar. O meu instinto, depois de (desnecessariamente) lhe dar o medicamento que se deve dar nas convulsões foi tomar banho com ela. Ela adora tomar banho comigo no duche ao meu colo com as costinhas por baixo do chuveiro com água morna. 

Lá fomos. Acalmou-se. Depois deixou de estar calma quando saímos. Repetimos o Ben-U-Ron depois do vómito (devíamos ter antes dado Brufen, claro). Correu tudo bem. Adormeceu, pedrada, claro. 

Falamos com a nossa pediatra que é um anjo. E que apesar de não estar on call, não hesitou em ajudar-nos e alertou-nos para que ela fosse observada nas urgência para despistar outras infecções. Decidimos não ir. Já sabemos que ela tem convulsões febris, estava bem disposta com o efeito do Ben-u-Ron e queríamos muito que ela tivesse paz e sossego. Dormi com ela. 

No dia seguinte fomos ao SFX. Fomos atendidos por uma médica nova, espectacularmente querida, atenciosa... A Irene adorou-a e eu também. A Dra. Sofia pôs-nos a ambas muito bem-dispostas (obrigada!). A meio da observação entrou a médica-"chefe" (não sei os termos era tipo a Bailey) que sugeriu fazermos umas análises à Irene que eu recusei (ninguém acha piada a fazer análises, claro, mas foi muito por causa disto também) por ela já estar diagnosticada (tínhamos feito análises da última vez) e pela observação ainda não ter acabado, sequer. 

Tinha uns pontinhos vermelhos na garganta e as amígdalas inflamadas: amigdalite viral. 

Temos estado em casa desde quarta-feira. Já está melhor, claro. Já não toma BUR para a febre, sequer, mas ainda tem dores. 

Já não entrei em pânico, mas é sempre desagradável ver o filho tão assustado e descontrolado sem poder fazer grande coisa por ele. 

No entanto, apesar da médica "chefe" ter dito "é dar sempre bur quando suspeitar que tenha febre", argumentei que sabia o que é a febre e para que servia. Ela disse "ahhh a mãe está bem informada, claro, se se sente confortável a esse ponto, é ir conhecendo o limite da sua filha". Não quero dar-lhe bur só porque está um pouco mais quente. A febre serve para o corpo se defender exactamente das infecções. Não vou ceder ao pânico.  Até porque o mais provável é que isto dure pelo menos até aos 5 anos (ainda nos faltam 2 e meio).

O que vale é que eu não me lembro de nada disto quando era mais nova. Só de fazer muitas análises ao sangue. Reparo é que a minha mãe sofreu muito com isto (beijinhos, mãe!). 



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Vestido da Irene - Vertbaudet

11.01.2016

Mesmo com tosse que até andas de lado!

Se eu alguma vez pensei que fosse ser assim. Desde que a Irene entrou para a escola que são mais raras as vezes em que está limpinha e a 100% do que quando tem tosse ou ranho. No feriado, apesar dela estar com tosse (que diminuiu bastante com um xarope 100% natural que tenho de vos contar), não abdiquei de ir ao Parque da Serafina com a minha amiga Renata e o filho Diogo. Achei que era o timing perfeito para voltar a vê-los e que faria com que o feriado fosse ainda melhor. Não estava muito frio nem nada. 

Vamos mesmo ganhando calo. Quando estava com a Irene em casa (estive até ela ter um ano e meio), só o facto de ela espirrar me causava alguma impressão e redobrava os cuidados. Agora percebo melhor como isto funciona. E daqui a uns tempos vou rir-me de achar que sabia alguma coisa neste preciso momento.

Foi ter uma manhã do caraças, "mesmo com tosse que até andas de lado!".


"A minha mãe comprou-me uma camisola de rapaz e só soube disso agora"

"O quê? Não sabe a papel como tudo o resto que a minha mãe me dá? O que é isto? Um pedacinho de vida nas minhas mãos?". 


 "Nem quero comê-la que não sei quando volto a por a vista num pedacinho de coisa processada".

"Estou a gozar, a minha mãe já me deu ketchup e chouriço e tudo ao pequeno almoço!".


"Ela depois é que se viu feita ao bife quando foi mudar a fralda".


"Foi um belo cocó, lá isso é verdade! Dos meus melhores trabalhos!". 


"Agora estou a sentir a pressão artística de repetir o sucesso..."


"Acho que me vou ausentar por uns momentos para ver se consigo". 

"A minha mãe a rir-se de alguma vez ter pensado que queria ter dois filhos". 

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10.28.2016

Bronquiolite - Check

Não devia ser permitido uma bebé de 4 meses com bronquiolite. É ligeira, vamos tratar com medicação em casa, se não apresentar melhorias, segunda-feira tem de voltar a ser vista. 

Podia ter voltado o bicho papão da pneumonia da Isabel, que ficou internada uma semana, mas não quero, recuso-me a aceitar que se repita. Fico só a pensar que tenho filhas mais atreitas a estas "ites" quando são bebés, mas pode ser que seja só coincidência. Por acaso, e felizmente, a Isabel nunca mais teve nenhuma ("só" fez mais uma otite). 

Esta noite que passou não dormi praticamente, entre tosse e vomitado deu uma e pesadelos da outra. De manhã estava exausta e triste, como desabafei aqui. Comecei a escrever um texto que começava assim: "Ser mãe todos os dias cansa. Sem "mas". Hoje é sem "mas". Mas, por acaso, hoje à tarde lá veio o "mas". Perante o facto de saber o que a Luísa tem, nas urgências, o meu lado mais racional veio ao de cima e deixei de me sentir vítima. Só quero resolver o problema o mais rápido possível. E ele cura-se também com muito amor, muita calma e não com o estado em que estava. Com sono ou sem, mais ou menos triste, tenho de activar o lado mãe leoa. Depois logo penso no resto.




Obrigada a todas pelas mensagens queridas que me deixaram no instagram, dá-nos força saber que não estamos sozinhas. <3

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Estou louca para que ela fique doente outra vez!

Obviamente que nenhuma mãe se preze não pensa nem sente isto, mas... reparei numa coisa boa na Irene ter apanhado uma virose enorme e de a ter passado a mim e ao Frederico.

EMAGRECI UNS 3 KGS!

Blá, blá, o peso não importa. O que a balança diz não sei quê, mas foi a única coisa boa disto da virose.

Venham daí mais viroses! 

(se puderem não ter que passar pela Irene primeiro...)

10.18.2016

Luísa, Luísa

Esteve com tosse e ranho, já está francamente melhor. Ontem senti-me até um bocado overprotective, mãe galinha, como lhe queiram chamar, ao ter pedido a uma fisioterapeuta respiratória para vir cá a casa. Viu a Luísa, que pouco ou nada tinha para expulsar. Disse-me gentilmente que não precisaria de nos voltar a ver em breve. Mas bem, fiquei mais descansada, que com isto das tosses não consigo brincar (depois da Isabel ter tido pneumonia, resultante de uma bronquiolite). Reaprendi a despejar soro "à bruta" no nariz da Luísa e é incrível como fica a respirar bem, mas bem. Já voltou a dormir a noite toda, calminha que só ela. Às sete da manhã ouvimo-la chuchar no polegar (agora aprendeu esta), já estava a preparar a mama, mas voltou a dormir até às 9h. É um alívio enorme vê-la assim, fresca e fofa, conversadora e a guinchar (sim, sim, já grita a gaiata!). Amanhã já vamos passear e tudo. <3






Coisa boa da mãe <3

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10.12.2016

Aiii e quando se recebe um e-mail destes?

Já tinha sido avisada por uma mãe lá da escola da Irene que andava por aí virose... mas hoje recebi o mail:

"Caros Pais/Encarregados de Educação, 


Tendo-se verificado a ocorrência de situações de vómitos e diarreias em alunos, solicitamos a maior atenção dos pais na identificação destes sinais nos seus filhos.

(...) 

Por recomendação da Pediatra do Colégio, as crianças que apresentem  consistentemente sintomas gerais de diarreias e/ou vómitos deverão ser observadas pelos seus médicos assistentes, que avaliarão da sua possibilidade de frequentar ..."

A primeira vontade é ir buscá-la e desaparecer com ela nos próximos 2 meses, mas não pode ser. O Frederico já me perguntou se não será melhor ela ficar em casa.

O meu coração diz que sim, mas acho que não vamos sempre protegê-la de tudo e que essa opção não é sustentável a médio prazo.

Como fazem vocês?

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Já começa...

Ai o Outono... as castanhas assadas, cozidas e de todas as formas e feitios, a batata doce acabadinha de sair do forno quentinha, as romãs, as folhas no chão amarelinhas e que fazem crack! ao serem pisadas, ouvir chover lá fora enrolados em mantinhas... A PORCARIA DAS CONSTIPAÇÕES! 'Ca nervos!

Não se fiem no ar lavadinho da minha boneca. A verdade é que está entupida em ranho até aos cabelos. Ela e eu. Já não sei que mais fazer. Muito soro, algumas aspirações e... ela, que até é daqueles bebés raros que dormem a noite toda, não tem conseguido fazê-lo em condições. A elevação da cama não é suficiente, ela anda ali a engasgar-se em ranho e com imensa dificuldade em respirar. Esta noite, depois de vomitar secreções, dormiu 3 horas no colo do pai, quase de pé. Fiz uma nebulização com soro hoje de manhã e parece-me ligeiramente melhor, mas já sei que não se deve abusar (aliás, o homeopata onde fomos uma vez com a Isabel, depois da bronquiolite que evoluiu para pneumonia, era bastante contra). 

Bem, a ver se tudo isto não passa de ranhoca [ela já esteve assim há duas semanas, fez febre um dia e tudo, melhorou imenso, mas ontem teve uma recaída].

Uma foto publicada por Joana Paixão Brás (@joanapaixaobras) a



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A roupinha da Luísa é Tutão. Adorei!
 

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10.11.2016

Por que é que eu não pensei nisto?!

As boas ideias fascinam-me. Gostava de ser daquelas pessoas que, do nada, das necessidades do dia-a-dia, criam negócios fantásticos. Uma vez vi na Oprah a história de uma mãe de três que começou a efeitar as Crocs das filhas com flores e botões e, em menos de nada, tinha montado um atelier na garagem. Daí a vender o negócio - Jibbitz - por vinte milhões de dólares ao dono da Crocs foi um pulinho. Assim, puff. Penso sempre "por que é que eu não pensei nisto?!"

Esta semana chegou até mim mais uma excelente ideia. Daquelas que têm tudo para ser um sucesso. Eu adorei o conceito, o meu estômago amou os snacks e para a próxima só não abro a caixa ao pé da minha filha, que me ia comendo tudo (ahah).

Chama-se The Healthy Snack Box e consiste numa caixa que recebemos em casa, todos os meses, com pacotinhos saudáveis e completamente surpresa. Desde pipocas a batata doce, fruta desidratada, sementes, barras energéticas, manteiga de amêndoa, maple water, azeitonas com limão e alecrim... vem tudo pronto a levar na mala para o trabalho, ou para onde se for, para evitar snacks e alimentos processados manhosos que se vendem por aí. Além de tudo ter um aspecto divinal, é tudo mesmo muito saboroso, sem glúten e lactose, o mais natural possível (e a Ana, a fundadora, já está inclusivé a pensar numa caixa para quem segue a dieta paleolítica). 

O que me fez deitar uma lagriminha de tão bom que era? As bolinhas de proteína de limão e pistachio. A sério, que coisa boa. Já ando aqui em pulgas para saber o que vem no próximo mês (adoro surpresas destas!).














Sigam, encomendem, namorem, sonhem com a The Healthy Snack Box, aqui.


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10.03.2016

Tudo não passou de um susto!

Estou tão feliz! Ainda bem que consegui não stressar muito com a questão do pé da Luisinha, porque teria sido totalmente em vão. Está tudo bem, é flexível, não oferece resistência aos movimentos, o tendão está okay. Tendencialmente vai para dentro mas assim que o manejamos ele assume a posição. Já tinha vindo a reparar, quando a punha "em pé", que ela até já conseguia por a planta do pé em contacto com o chão e, até antes da consulta de ortopedia, eu já andava mais descansada. Foi, de qualquer forma, uma excelente confirmação. Coração de mãe sereno (até à próxima) - check. 



Obrigada a todas pelas mensagens de apoio, conselhos, desabafos, histórias de sucesso desse lado. Há gente de garra por aí <3 e obrigada à futura grande médica que me enviou emails fantásticos e me ensinou uns exercícios muito bons [cada vez me surpreendo mais com as boas vibrações que há por aqui]


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9.21.2016

Venha o que vier.

Hoje já chorei. Primeiro desceu em mim uma calma de quem está a racionalizar tudo e a afastar o pensamento do "coitadinho", a calma de quem quer soluções e a esperança de que, no final, vai ficar tudo bem. Mas depois, no quarto, deitada com a Luísa, agarrada a ela, chorei. 

Já andava há duas semanas a achar estranha a posição do pé direito da Luísa quando simulava que a punha a andar. O pé ia todo para dentro, zero planta do pé em contacto com o chão, com a cama, o que fosse. O esquerdo também, mas menos, muito menos. Pensei "deve ser de ser ainda tão pequenina, não sabe o que fazer com os pés". Mas hoje perguntei à enfermeira, no centro de saúde. Ela foi chamar a médica. Ok, afinal não deve ser assim tão comum. O meu coração começou a acelerar mais, mas tentei controlá-lo e racionalizar. Ela está aqui à minha frente, linda, saudável, calma, não é grave, tudo se resolverá. A médica chegou, analisou e disse-me que lhe parecia ser "pé equinovaro". Chinês, claro, mas eu, que costumo ser toda de fazer perguntas, não as fiz, como se nem precisasse de saber mais. Assumi que era pé torto e comecei a imaginá-la com uns sapatos ortopédicos e nada grave. A médica disse-me que ia pedir consulta na ortopedia do hospital para breve e que entrariam em contacto comigo. Depois fiquei à conversa com a enfermeira, sempre atenciosa e disponível. Não me tentou acalmar porque eu estava calma, sempre estive. 

Mas já devia saber que o Google me ia lixar muito a cabeça. Entretanto já liguei a uma amiga cujo filho teve pé boto, que me sossegou. O que quer que seja, terá solução. 

Agora estou a escrever para me mentalizar disso mesmo. Não vale a pena sofrer por antecipação, é esperar pela consulta, pelos exames, pelo tratamento, se assim tiver de ser, e a Luisinha vai ficar boa, não tarda. Às tantas é ligeiro e nem será preciso tudo aquilo que já vi do gesso, dos aparelhometros... Não que isso seja o fim do mundo, mas nenhuma mãe quer que o filho tenha de passar por isso. Queremos tê-los bem, saudáveis, fortes. Queremos protegê-los de todo o mal do mundo, no nosso regaço. E quando algo ameaça essa muralha, quando sentimos que não podemos controlar tudo, parece que estamos a tentar fazer magia com a cartola e o coelho desaparece. Mesmo sem coelho, temos de prosseguir com o espectáculo e fazer magia. Basta coragem. Amor já há que sobre para aguentar tudo. Venha o que vier.

Susana Cabaço, Fotografia
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9.20.2016

Estou que nem posso com a porcaria do ranho!

Eu já me tinha apercebido de que é uma condição quase que obrigatória a todos os miúdos que andem na creche. Parece que todos têm de ter ranho. A minha ideia é de que se trata de uma forma do corpo expulsar ou estar a reagir a infecções ou algo do género.

Deixem ler. Já volto. 

Obrigada Wikipédia. Não percebi um rabo. Odeio quando a enciclopédia das pessoas se arma em fina. Esperem aí, vou ver se percebo melhor noutro sítio. 

Ok. Já percebi. 

Aprendi duas coisas: 

Só se deve usar o lenço de papel uma vez para nos assoarmos (quando é muco sem ser o aquoso) e devemos sempre lavar as mãos a seguir. 

As cores do muco importam muito porque querem dizer coisas diferentes. Isto é o que os médicos lá aprendem nos cursos deles, mas nós mães já podemos saber se nos devemos preocupar mais ou menos com isto. Li neste site que me pareceu fiável. 

A minha questão é... a Irene antes NUNCA andava ranhosa, nunca. Agora é uma criança "normal", mas ainda não sei como posso mesmo ajuda-la à noite. Ela fica muito entupida do nariz e eu quero que ela durma melhor. Queria coisas naturais, mezinhas giras antes de partir para o bombardeamento químico.

Não existe uma espécie de truque da cebola, mas para o ranho? 

Sniff. Sniff. Infectário... Sniff Sniff. 




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*Obrigada pelas correcções à palavra creche, por serem homófonas, confundi :) Não percam fé em mim que juro que sabia escrever! 

9.19.2016

Não temos pediatra, por opção

Nunca pensei que iria estar tão confortável com esta decisão. A verdade é que a Luísa não tem pediatra. Gostamos tanto do acompanhamento que tem tido no Centro de Saúde, que não sentimos necessidade, pelo menos ainda, de que seja seguida num pediatra.

Bem dizem que com um segundo filho é tudo diferente, e é. Apesar de não nos lembrarmos de muitas coisas, já vamos com um arcabouço muito maior, mais confiança em nós. Desta vez, fiquei estupefacta com a dedicação e a simpatia da médica de família, com quem estivemos uma hora, na primeira consulta. Confiei. Achei até redundante ter médica de família e pediatra, neste caso. Sim, eu sei que cada um tem um papel distinto, que o pediatra é especialista, mas acho também que se alguma coisa não estiver bem com a Luísa serei rapidamente encaminhada para um. Eu própria, numa urgência, contactarei um. Muitas vezes é a disponibilidade do pediatra, à distância de um SMS ou chamada, que nos sossega o coração e, além disso, nem toda a gente tem médico de família, muito menos num CS a funcionar muito bem como aquele em que estamos. A enfermeira é um espectáculo, sinto-me muito bem recebida e atendida sempre que lá vamos pesá-la ou às vacinas e estou confortável a 100% com esta decisão. Até quando? Não sei. Mas para já é para continuar assim.


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8.16.2016

Missão cumprida!

Desde sempre que tento incentivar a Irene a que lave os dentes sozinha e que sinta que é uma necessidade (para não ser obrigação). Expliquei-lhe que há uns "bichinhos na boca que comem os dentes" e... acho que andou a ter pesadelos com isso durante imenso tempo - receio parvo meu, mas é que uma vez acordou a dizer que tinha bichos na boca... 

Além dela lavar sempre os dentes sozinha (e de nós darmos só "uns toques" no final), comecei a preocupar-me com a espuma toda da pasta de dentes que ela andava a engolir. Claro que não "faz mal", que "ninguém morre disso", mas qual seria a idade certa para ela aprender a cuspir a água? 

Não sei, mas decidi ensinar. Foram 5 noites ou 6 em que tentava três ou quatro vezes que ela aprendesse. Foi difícil para ela resistir ao instinto de engolir a água, mas agora já consegue e estou toda orgulhosa! ;)

Deviam vê-la com o peito todo para fora a dizer "a Necas já consegue, sozinha!". Confesso que talvez não tivesse ensinado antes por preguiça e algum... descrédito na miúda, mas tal como li num livro qualquer (um óptimo que se chama: Como falar para as crianças ouvirem e ouvir para as crianças falarem): nunca subestimar as crianças, antes esperar "mais" delas do que "menos". 

Conseguimos!

Próxima lição? Arrumar a loiça na máquina, ehehehehehehehehe. 


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8.12.2016

Abriu-me o lábio.

Não, não foi esse. Esse foi há dois anos e meio quando nasceu (ehhhh, imagem desnecessária, eu sei). Ontem, a adormecer a Irene, levei com uma cabeçada das antigas (daquelas tipo rixa no Too Fast Too Furious ou 8 Mile) no focinho. Era só uma questão de tempo até que isto acontecesse. Aliás, sou vítima de maus-tratos frequentemente pela minha filha - é melhor especificar que o Frederico tem um ar muito macho e poder-se-ia, erradamente, associar uma coisa à outra.

Ela precisa de deitar cá para fora a bateria que lhe resta e, aí pelo meio, estou eu a fingir-me de morta para que ela adormeça. Ao que parece, fingir não é necessário e ela tenta assegurar-se de que eu faleço mesmo, para não me armar em esperta.


Parece mesmo uma mugshot: lábio aberto, rímel todo borrado (odeio este verbo, odeio), colar ao pescoço que bem pode acabar num penduricalho de um gang qualquer. Só me falta um Ford Fiesta lá atrás - associo estes carros a tuning, o que querem?

Por acaso, ia escrever Seat Ibiza, mas como anunciaram aqui há uns tempos, prefiro fazer esta referência um pouco mais discreta assim. Ai que rebelde que sou.

Também se fartam de levar tareia? A miúda levou uma "lamparina que nem sabe de que terra era", coisas que se diziam lá em casa, mãe de Melgaço.

Não levou, não. E não pretendo que alguma vez leve. Ela também ajuda ;).

- Se recorrerem à palmada, existem situações muito mais eficazes e que não danificam nem a auto-estima dos vossos filhos, nem a vossa relação, nem vos fazem sentir mal convosco próprias, posso sugerir-vos a disciplina positiva/parentalidade positiva que até já fizemos uns posts sobre isso no blog aqui. E força, mas não nessas palmadas! ;)

7.28.2016

Pensei que morria depois do parto

Tive o melhor parto do mundo. Pelo menos foi o que senti quando peguei na minha filha, acabada de nascer, sem grande esforço, às 20 horas em ponto, como já contei aqui. O pior - e mais inesperado - veio pouco depois. Comecei a perder sangue. No recobro, estava a perder muito, muito sangue. O útero não contraía, davam-me medicação, ocitocina, massagens dolorosas externas para o obrigar a ir ao sítio, e nada: completamente espapaçado. Comecei a ver algum rebuliço por ali, as caras, que antes me transmitiam força e alegria, já não esboçavam sorrisos e pressenti que algo não estava definitivamente a correr bem. Disse logo ao David: "tinha de ser, isto bem me estava a parecer bom demais". 

Os dois médicos, que me seguiram nas últimas semanas, de volta de mim, enfermeiras, algum nervosismo, nova perda gigantesca de sangue, ouço pedirem para retirarem a outra senhora do recobro, continuam a tentar medicações intravenosas, novos cateteres, comprimidos no ânus e nada... Pergunto se há mais alguma coisa que possa fazer para ajudar (já tinha estado a tentar obrigar o útero a ficar quietinho abaixo do umbigo, depois daquelas massagens horrorosas, mas em vão) e ainda os ouvi a pedirem sangue para transfusão, já a minha hemoglobina devia estar a 4 (imaginem, o normal é de 13 a 17...).

Senti imenso frio - espasmos incontroláveis - e começo a ouvir as vozes cada vez mais ao longe e aviso que vou desmaiar. Acho que nunca fiquei totalmente inconsciente. Já a caminho do bloco operatório, começo a chorar. Estava tudo a ser demasiado real e assustador. Imprevisível e totalmente paradoxal, depois de um parto de sonho. Vi demasiados filmes e séries e aquilo não acabava bem. E se eu morresse? Que pena não ver a Isabel a brincar com a Luísa. A Luísa não vai conhecer a mãe, não vai ter o meu embalo, ouvir a minha voz a cantar para ela, a Isabel nunca se irá lembrar de mim, irá construir memórias só através de fotografias e vídeos. Mas o David vai dar conta do recado, que sorte que as minhas filhas têm em ter um óptimo pai. Irá ele ficar a viver na mesma casa, com a minha mãe? Espero que sim, para ter ajuda. E de repente sinto que tenho de deixar este recado, entre soluços: "Se algo não correr bem, digam ao David que ele é um óptimo pai e que vai conseguir dar a volta". E, nesse momento, tenho as enfermeiras e auxiliares já de lágrimas nos olhos a pedirem-me para não dizer aquelas coisas, que tudo ia correr bem. Recebi um beijinho de uma delas. "Eu sou feliz, digam-lhes que eu sou feliz". Aí pensei que era injusto. Que não precisava de nenhuma lição, que não era necessário passar por aquilo para dar mais valor à vida. Pensei no quanto gostava de viver e que não merecia. Senti mesmo que ia morrer. Tive medo, tanto, tanto... Antes da anestesia geral, para a qual não estava preparada por achar que podiam ser os meus últimos segundos, disse, entre soluços: "Digam-lhes para não ficarem revoltados, para não perderem tempo com isso. Que sejam felizes". Lembrei-me do olhar do David, preocupado, com a nossa filha Luísa no colo, quando lhe pedi para sair do recobro, para não assistir àquilo tudo, àquelas perdas de sangue de filme da idade média.

Só nos voltámos a falar às 4 horas da manhã, através do telemóvel que uma enfermeira me emprestou. Chorámos muito, os dois. E choro agora, ao recordar o dia mais assustador da minha vida. O medo dava lugar ao alívio. O David tinha ido para casa para que a minha mãe - que estava a cuidar da Isabel - não desconfiasse de nada, não quis preocupá-la. Tive pena dele, do enorme susto que tinha apanhado, ao longo das várias horas numa operação de urgência. Chorei todas as lágrimas que tinha por não ter estado com a Luísa nas primeiras horas de vida dela e por estar longe da minha cria. Chorei por estar, afinal, cheia de pontos na barriga, depois de um parto tão simples e sem episiotomia.

Tive uma hemorragia pós-parto (acontece a aproximadamente 2% das mulheres que dão à luz e é uma das principais causas de morte materna) provocada por uma coisa chamada atonia uterina (útero não contrai e os vasos uterinos ficam abertos). Não sendo gravidez gemelar, não tendo tido muitos filhos antes, não sendo a Luísa uma bebé enorme, não tendo excesso de líquido amniótico, não tendo sido um parto prolongado, entre outros factores de risco da atonia, ainda mais raro se torna. Antes de partirem para o corte na barriga (laparotomia ou lá como se chama), ainda usaram uns quantos procedimentos via vaginal - já comigo anestesiada - para tentar resolver a atonia. Nada. O último dos procedimentos seria a histeroctomia, remoção do útero, mas felizmente, através de suturas compressivas no útero (técnica de um português, chamado Alcides Pereira) conseguiram apertar o útero, obrigando-o a ficar contraído, como um chouriço, o que fez parar finalmente a hemorragia [registei com agrado, e já com o sentido de humor reposto, o facto de não ter sido necessário corte em T na barriga por ser magra eheh]. Dentro do horrível, correu tudo muito bem, conservaram-me o útero e estou cá para contar a história e para cuidar das minhas meninas. Fiquei, claro, com a pulga atrás da orelha sobre o que poderá ter originado tudo aquilo e gostava de fazer exames ao sangue mais exaustivos para perceber se poderei ter alguma anomalia no sangue, se coagulo mal... eu sei lá. A revisão, passado um mês, correu muito bem e a médica até brincou, dizendo que eu estava pronta para outra.

Tenho muito a agradecer. A todos os profissionais, sem excepção, que me trataram com toda a simpatia e generosidade durante o parto, em todas as suas fases (até o cuidado com que a primeira trouxa da roupa foi preparada e dobrada pela enfermeira - seria antes auxiliar? - me comoveu). Foi importante todo aquele ambiente de descontracção, foi importante sentir-me bem cuidada pela médica, pelas enfermeiras e auxiliares, sempre com um sorriso na cara.

Mais importante ainda, o momento da expulsão. Nunca esquecerei a enfermeira Guadalupe, nem os olhos meigos da outra enfermeira de cabelo curtinho, Lidia, a quem vou dar um abraço se com ela me cruzar na rua..., que me encorajaram na hora h e com a ajuda das quais tudo me pareceu (ainda) mais fácil.

Mais importante ainda, o momento crítico e todo aquele sangue frio e profissionalismo misturado com lágrimas, de uns seres humanos fantásticos que se preocupam e que, nos dias seguintes, lá estavam, no quarto, prontos a dar-me palavras de conforto. Até abraços recebi. E que falta eles me faziam...  

Além de me terem salvado a vida, aquelas pessoas quiseram devolver-me o coração, que ainda estava com muitas mazelas, e conseguiram-no. É possível - tenho duas provas disso, e passei por diferentes equipas nos dois partos, tanto no Hospital da Luz, como no Hospital de Santarém - ter partos "humanizados" (termo agora muito em voga), em que nos sentimos amparadas e felizes num hospital, seja ele público ou privado. Nem quero pensar no que poderia ter acontecido se tivesse tido a ideia romântica (?) de ter o parto em casa... teria havido tempo?... Estava à hora certa, no local certo.

Obrigada Dr.ª Rita e Dr. Carlos pelo cuidado e atenção e obrigada a todos os profissionais do Hospital Distrital de Santarém que se cruzaram comigo nesses dias. Há gente boa no mundo que se dedica, de corpo e alma, ao que faz.


A tentar esboçar um sorriso, no dia 1

Toda torta, coitadinha (era para condizer com a mãe)

O melhor pai do mundo (em ex aequo com o meu, pronto)

Luísa, com 3 dias de vida

*grávidas que me lerem, confiem: vai correr bem. Se não correr (o que é muito raro!), vão estar no sítio certo, à hora certa, com as pessoas certas. Desfrutem do vosso parto, os momentos bons vão prevalecer e os vossos filhotes vão compensar cada dor. 



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7.25.2016

Querem ajudar o vosso filho a falar?

A Diana é uma leitora do blog que, como terapeuta da fala, quer aproveitar para vos ir dando umas dicas. ;) Obrigada, Diana! 

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Como referi num post passado, falar implica uma vasta diversidade de processos: precisamos de ouvir, processar o que ouvimos, pensar, recorrer a símbolos para expressar o nosso pensamento, escolher as palavras adequadas, construir frases, utilizar de forma correta os músculos para articular as palavras e ainda regular a capacidade respiratória. Tudo isto numa fração de segundos.

Tal como acontece no desenvolvimento das outras áreas, também na linguagem o  desenvolvimento é gradual e o ritmo não é o mesmo em todas as crianças mas embora todo este processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem seja natural, podemos e devemos estimular.


Como estimular? Todas as famílias são diferentes, cada uma encontra, no seu dia a dia, a melhor forma de ajudar o/a seu/sua filho/a a desenvolver a linguagem.

Deixo-vos aqui algumas dicas:

• Tirar, todos os dias, um espaço para conversar com a criança para que a criança saiba que esse é o momento onde todos podem partilhar aquilo que querem dizer ou perguntar.

• Falar devagar e estabelecer contacto visual com a criança (não precisam de falar a língua das baleias como a Dori no filme o Nemo).

• Estimular o desenvolvimento do pensamento, a estruturação da linguagem e a aquisição de vocabulário através do hábito da leitura, lendo para ou com a criança (mais tarde).

• Incentivar a aquisição de novo vocabulário cantando, lendo lengalengas ou fazendo rimas com a criança.

• Usar uma linguagem correta, rica e diversificada e evitar expressões como “chicha” em vez de “carne” ou “piu-piu” em vez de “pássaro”.

• Não fale à bebé com a criança e se ela disser, por exemplo, «au-au» para se referir ao cão, diga-lhe «o cão faz ão-ão».

• Ensine as palavras nos contextos próprios do dia a dia, ou seja, os alimentos quando estão à mesa, as roupas quando estão a vestir a criança, os animais quando vão ao jardim zoológico. A linguagem aprende-se melhor na realidade, que é mais palpável e interessante do que aprender nos livros.

• Falar de acontecimentos no passado, presente e futuro.

• Usar a mesma palavra várias vezes e em contextos diferentes “Onde está a bola?”, “Dás-me a bola?”, “Que bola tão bonita!”.

• Além de ensinar o nome de objectos, pessoas ou situações, ajude a criança a perceber a sua função e a relacioná-los com ela: “Olha o sapato!”, “De quem é o sapato?”, “O sapato é para calçar.”

• Falar e associar alguns gestos do quotidiano (por exemplo, olá, adeus, vem cá, ali).

• Descrever as atividades do dia a dia, diversificando e adequando o vocabulário.

• Faça perguntas abertas ou de escolha múltipla para que a criança fale mais: em vez de perguntar “Queres comer carne?” e “Queres comer peixe?” pergunte “Queres comer carne ou peixe?”.

• Dê-lhe espaço e tempo para responder, promovendo uma linguagem mais espontânea.

• Ajude a criança a esperar a sua vez quando quer algo, ensinando-a a jogar “agora sou eu” e “agora és tu”.

Estas são apenas algumas das muitas estratégias que podem usar com as vossas crianças.

Agora toca a arranjar só 5 minutinhos dos vossos dias para conversarem com os vossos filhos. ;)


7.14.2016

Preciso de desabafar... e rápido.

Não estava à espera disto. Nunca se está. 

Estava em estúdio, o Frederico conta-me que a Irene acordou da sesta, ficou molinha na sala e que adormeceu no sofá. Enviou-me vídeos para que ambos pudéssemos conversar sobre a perfeição de menina que tínhamos criado. Vê-la e ouvi-la respirar (raras as vezes em que a vemos a dormir), ver os pezinhos dela a mexer, os dedinhos. Foi fabuloso. Estávamos contentes por ela estar a descansar. 

Recebo uma chamada. Era o Frederico. Estava muito aflito. Não descrevo o quanto porque teria de ser ele a falar sobre isso. Não consegui perceber o que dizia. Achei que estavam os dois a brincar comigo porque ouvia-o e a ela lá ao fundo também. Finalmente consegui perceber "anda... correr... para casa... Irene... espumar da boca...". Corri mais que os jornalistas de rádio quando têm de entrar em directo e a impressora não cooperou. Corri tanto que, quem me viu passar, percebeu que não era para comentar, nem falar comigo. 

Pousei os meus phones e o guião na minha secretária e saí a correr tipo Forrest Gump. Perguntaram-me os meus colegas: "O que se passa, Joana?". Só tive tempo de responder "não sei" e o "i" já foi fora da porta, a correr para ir para casa. É certo que moro perto do trabalho. A 3 minutos a pé, mas pareceu-me uma eternidade. Mais tarde vim a perceber que tinha levado o carro ontem e que provavelmente teria chegado mais rápido se me tivesse lembrado disso. Ou, pelo menos, não me teria metido por um corredor/atalho em que decidi ignorar que estivesse fechado com uns avisos e que decidi percorrer na mesma. As minhas sandálias e os meus pés ficaram atolados em lama, mas não havia outra hipótese. Estava-me a borrifar se ficava cheia de lama até aos joelhos, percorrer tudo para trás e escolher outro caminho só para não me sujar não era uma opção. 

Ainda a caminho do corredor liguei para o 112. O meu corpo ainda não se tinha apercebido do que se estava a passar. Estava no modo de sobrevivência. Liguei. Demoraram uma eternidade a atender (uns 6 ou 7 toques - como é que é possível????) e depois reencaminharam para a parte de saúde. Era uma senhora, com uma voz doce. Desabei. "A minha filha está a espumar-se da boca e está roxa". Não lhe dei o número do Frederico porque sabia que ele não iria conseguir falar ao telefone. 

Demoraram a chegar. A porcaria da minha rua não aparece no GPS de ninguém. Que perigo. Já escolhemos uma aqui perto para dar agora. Quando cheguei, cheia de lama, o Frederico entregou-me a Irene, já a chorar muito alto e peguei nela ao colo. Instintivamente comecei a cantar umas músicas foleiras que ela gosta para se acalmar. Reparei que ela não mexia os braços. Dei-lhe o coelhinho dela, que ela queria e ela não o conseguia agarrar. 

Interiormente sabia que provavelmente isto era o que me acontecia quando eu era pequenina. Talvez daí não estar inconsciente. Seria pior se tivesse visto a Irene como o Frederico viu, como se tivesse partido, sem poder fazer nada. 

Chegou a ambulância. Mediu-se a febre. Fez-se um pedido grande para ir para o São Francisco (é onde temos a nossa pediatra, etc.) e lá fui com ela. Sempre a tentar tornar o momento engraçado, mesmo sem ter a certeza que ela estaria a assimilar alguma coisa. Ela respondia que sim e não por entre o choro às minhas perguntas, devia estar a assimilar: 

- Necas, estamos a andar de ambulância!!! Aquela que faz tinoninoni e para onde vai a ambulância? Para o hospital. Que giro, Necas!!

Ela acenava que sim com a cabeça, nos solavancos na ambulância, amparada pelas minhas mamas, enquanto mamava. Só assim parava de chorar. Continuava sem mexer o braço. Eu tentei convencer-me que seria espectável. O corpo naturalmente deve ter-lhe dado um ansiolítico qualquer. 

Chegámos. Rapidamente entrámos para as emergências. Pulseira de muito urgente. Ben-U-Ron para o bucho (era o genérico que eu vi) e a Dra. atendeu-nos. Era mesmo o que a mãe teve quando era pequena: convulsões febris. Herdou de mim. Porém, tínhamos de fazer análises para despistar outras hipóteses como ausências de nutrientes ou excessos, segundo percebi. 

As análises. O terror das análises. Fizemos uma vez análises e foi picada dezenas de vezes. Tive de proibir que lhe tocassem mais. Contei isso aqui. A Dra. disse que aqui seria diferente, que picam mais vezes miúdos e todos os dias. Não tinha outra hipótese. Era como a lama. Tinha de ser. 

O Frederico perguntou se estaria dispensado. Claro que sim. Nem repararia se ele iria lá estar ou não. Eu tinha que estar. A Dra. disse que podia não ir nenhum de nós, mas nem pensar. Prefiro ficar eu impressionada com a dor dela do que ela sentir que a mãe a deixou sozinha para que lhe fizessem uma cosia que dói. 

Desta vez tentaram tirar sangue noutro sítio. Não conseguiram. É realmente difícil tirar sangue à Irene e ainda para mais estando com febre. Tínhamos de repetir dali a pouco. Os gritos, os choros. Eu a explicar-lhe o que se estava a passar e para quê, dizer que quando estivesse boa que íamos fazer as coisas preferidas dela. Só me apetecia pedir-lhe desculpa. Desculpa por não haver uma maneira menos imbecil de saber o que se passava com ela e dela ter de passar por aquilo: um garrote, prenderem-lhe o braço e picarem algumas vezes para tirar sangue. 

Voltámos para a sala de espera. Necas sempre na maminha, sempre a pedir maminha. Esperámos meia hora e lá fomos outra vez, agora com menos febre. Fomos as duas. 

A Irene já nervosa a entrar na sala. "Pulseira (garrote), não, menino! Menino!!! Menino!! Menino???". Começou a entrar a agulha e a Irene grita várias vezes "Pede desculpa, menino!! Pede desculpa!". Choro agora e chorei na altura. Obriguei-o a pedir desculpa. Claro que era para o bem dela, mas a Irene tinha de perceber que sim, quando se magoa alguém, se pede desculpa e que o menino era amigo. 

Custou-me dizer-lhe que podia descansar e fechar os olhos, que estava tudo bem e ela fazê-lo. Deitei-me com ela na maca da sala de espera a dar-lhe maminha deitada. Acabou por adormecer. Os resultados saíram rápido: tudo bem com as análises dela. Níveis mais baixos de oxigénio e de dióxido de carbono, mas associaram a estar a chorar muito. Era mesmo verdade, a Irene tem convulsões febris. E o que a minha mãe sofreu com isto. Quando ela fala sobre isto ainda hoje parece que fala de uma das piores coisas pelas quais já passou. Que é aflitivo e muito. Eu já suspeitava que ela tinha isto. Ninguém me deu ouvidos na altura, mas eu já sabia. Escrevi sobre isso aqui

O mais provável é que ela faça isto sempre que haja uma subida rápida da temperatura. Se for como eu, é o primeiro sintoma de doença com febres altas. Levamos uma bisnaga com um relaxante para lhe dar nas próximas convulsões. Está tudo bem. A Dra. que nos atendeu rapidamente percebeu que era a nossa primeira filha. Fizemos milhares de perguntas e todas respondidas com paciência. Que maravilha. 

Viemos para casa. Irene a dizer piadas. Assustada com tudo, mas já a dizer piadas. A família estava a curar-se com o humor.

Ao adormecê-la ouvi um "mãe, anda dormir comigo, mãe" e só não fui porque tinha outra pessoa que ainda não tinha sido abraçada o dia inteiro e que estava bem mais assustada. Faltava dar beijinhos ao Frederico. A pizza familiar que tínhamos pedido não resolveu tudo. 

Ele acabou agora de lhe dar um beijinho na testa e ela disse "obrigada, pai". Parece que é a gozar.

Obrigada por me deixarem desabafar.


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7.08.2016

Depressão pós-parto?

Calma, o título é alarmista. Não estou com uma depressão pós-parto e não sinto que precise de ajuda médica (não ainda), mas a verdade é que, ao contrário do pós-parto da Isabel, comecei recentemente a ter mais lágrimas à mistura na equação e a ser confrontada com mais fantasmas.



"Com o segundo, é tudo mais fácil. Vais ver que vai ser tudo com uma perna às costas." Em parte, sim. Não temos medo de os agarrar, não ficamos tão assustadas com uma borbulha que lhes nasça na testa, manejamos uma fralda a transbordar de cocó só com um dedo mindinho, já não stressamos tanto com os gramas que eles ganham semanalmente... e por aí fora.

Mas eu sinto que com o segundo não é tudo mais fácil, pela simples razão de que não existe só o segundo na nossa vida. Existe uma mãe mais experiente, com menos macaquinhos no sótão, mais confiante nas suas maminhas, uma mãe que já aprendeu que é importantíssimo fazer as sestas com eles, mas existem também dois filhos, dependentes de nós, do nosso amor, da nossa paciência.

A verdade é que eu ainda não me sinto à-vontade para ficar um dia sozinha com elas. 

Fiz a experiência ontem e acabou comigo a chorar copiosamente, ao fim de 3 horas a tentar adormecer a Luísa, durante a noite, rezando para que a Isabel não acordasse entretanto. E o reconhecimento dessa impotência - mental e física - fez com que me sentisse derrotada. Custa muito sentir que não estamos a dar conta, não como gostaríamos. "Era suposto eu conseguir, sozinha, dar conta do recado." Ir buscar a Isabel à creche cedo, deixando o jantar pronto, a mesa posta, o pijama e o banho quase preparado, brincar com uma, dar mama a outra, tentar adormecer a mais nova primeiro, depois a mais velha e "sobreviver" a uma noite - sempre imprevisível - de cólicas da mais nova e de pesadelos da mais velha. Tinha ido deitar-me vitoriosa, a agradecer a todos os santinhos o facto da Luísa ter dormido durante a hora e tal que a Isabel demorou a adormecer. Mas acordei, com a Isabel às 06h30, ao contrário do que era suposto com aquela história de que "basta um sorriso deles e ganhamos logo forças", sem força anímica. Cansada, meia revoltada com o mundo, cheia de vontade de "despejar" a Isabel na creche e cheia de vontade de dormir. De manhã, não me apeteceu ser mãe. E, depois de todo este emaranhado de sentimentos, a dificuldade em me reconhecer neles, a culpa, a frustração.


Claro que sobrevivi, claro que passou, claro que elas não ficaram traumatizadas com o meu mau humor (pedi à Isabel, quase em lágrimas, para parar de tocar o tambor, que estava cheia de dores de cabeça, e ela parou). Claro que sobreviverei a muitas outras vezes em que terei de ficar com as duas sozinha e que, daqui a uns tempos, tudo será mais fácil (ou parecerá mais fácil). Claro que nada disto é um drama sem fim, mas não gostamos de nos confrontar com as nossas incapacidades, com os nossos deslizes, e o pior de tudo é cairmos no erro da comparação com outras mães que têm três, quatro filhos - e nenhum deles está na creche - e conseguem lidar com tudo sem entrarem em modo drama queen. Queremos manter sempre o optimismo, o sorriso, a garra. Mas não somos de ferro. Eu não sou de ferro e nem a pancadinha nas costas do "vai passar e até vais ter saudades" resulta na hora H.


Acho que a alternância entre sentimentos de plenitude, satisfação, felicidade e alguma tristeza, choro e dúvidas, faz parte desta fase de mudança. Não sinto que esteja com uma depressão pós-parto, mas - por nunca ter tido nenhuma antes e não sendo psicóloga - não hesitarei em ir a uma consulta, caso algum dia tenha dúvidas e sinta necessidade. Escrever este texto já me ajudou. Acho que ler os vossos comentários também irá ajudar. Mas o que sei que vai ajudar mesmo é reconhecer que tudo isto faz parte do processo, não me culpabilizar tanto pela falta de paciência nem me sentir defraudada por nem sempre me sentir uma super mulher, relativizar mais, desabafar mais, pedir mais ajuda, ir arranjar as unhas, ir comer um gelado de dois metros, dormir mais. 


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