É sempre um exercício muito pouco
sociológico e com base em experiência própria e na dos que me rodeiam, espelha
0,000001 da realidade provavelmente, mas estas foram as conclusões que
retirámos de um jantar de amigos: os avós de hoje, regra geral, aproveitam
especialmente a "parte boa" da relação e não sentem (e/ou não podem
ter) tantas obrigações. Isto porque os avós de hoje ainda trabalham e ainda
precisam de ter tempo para si próprios, ainda são novos de espírito, e sentem
que têm muito para viver, ainda querem aproveitar a vida e gozar de umas férias
descansadas, em silêncio, recuperando o tempo perdido; ainda querem sair à
noite ou ir ao teatro ou ao cinema ou a um concerto; ainda querem ir para um
hotel ao fim-de-semana com o namorado(a); ainda precisam de sentir a vida a
pulsar. Muito menos ir buscar à escola. Menos ainda ficar com os netos em casa
enquanto os pais trabalham: não tenho uma única amiga a quem isso aconteça (só
uma colega e o neto já é mais velho, tem 12 anos) e acho que só tenho uma minha
vizinha que fica com a neta até às 19h, mas deve ser cada vez raro.
Tenho mixed feelings
relativamente a isto. Já tive pena por as minhas filhas não terem essa
oportunidade quando são muito pequeninas - o que me fez querer ficar em casa
ano e meio com a Luísa-, mas, a bem da verdade, não trocava a juventude e a
força dos meus pais por nada. Acho até percebo aqueles avós que, mesmo
reformados, não iriam adorar ter os netas em casa. Percebo. Eu acho que, caso
um dia venha a ter netos, também não me iria apetecer muito, após anos e anos a
criar duas pessoas, não ter finalmente o meu espaço e o meu tempo, as minhas
rotinas e as minhas necessidades. Pensando bem, eu não tive isso enquanto neta e não acho que me tenha feito falta.
Depois falámos também da perda
daqueles hábitos de família que pareciam estar enraizados na nossa cultura como
o “domingo é almoço na casa dos avós”. Por um lado, é uma pena (gostava de
trazer para casa restos em tupperware - ahah brincadeirinha), mas, pensando
bem, gosto de não ter planos fechados para, enquanto família, podermos fazer o
que nos apetecer, estarmos com quem quisermos, ir passear, o que surgir. Se
calhar é bom que nada seja estabelecido e rotineiro a esse ponto e que vamos
marcando à medida das nossas vontades, em casa do avô, da avó, dos avós, cá em
casa (muito raro, sorry ahah) ou num restaurante ou... nada. Não combinar nada
também sabe bem.
Os meus pais e os meus sogros,
apesar da distância física, são presentes, vêm apagar muitos fogos (por
exemplo, quando a Luísa teve aquele problema na anca, a sinovite temporária da
anca, todos se revezaram para que eu e o David não faltássemos muito ao
trabalho - só fiquei em casa com ela dois dias inteiros, espaçados), noto que
gostam muito de estar com elas e que percebem que eu e o David precisamos de ir
descansando e tendo uns momentos a dois, pontualmente. E elas adoram-nos. Eu
sei que temos mesmo muita sorte. <3
Avó e neta a combinar na roupa (foi ao acaso eheh).
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Joana, não penses tanto em não magoar a Irene. Para quê arranjar desculpas para uma coisa que é natural. E dizeres que se ela não se despacha não vão ler um livro, isso é um castigo