1.22.2018

As decisões mais marcantes da minha vida... até agora.

Estava a tomar banho e comecei a fazer uma retrospectiva. São 31 anos de decisões. Algumas muito pesadas - ou pareceram (como sempre tudo me parece). Vamos lá a ver.


(as que me lembro - se calhar as datas não estão certas -  e conto)

10º ano - decidir entre humanidades e ciências 

Foi tão difícil. Queria ir para ciências que é o "lado do pai" e que eu tanto gostava (à excepção da matérias dos vulcões, já sabemos, mãe) e que até acho que tinha algum jeito. Matemática (uma das minhas professoras lê o blog e poderá desmentir), mas tendo jeito ou não, quando encarrilhava no que era para perceber, dava-me um gozo enorme fazer tudo direitinho. E depois o lado das humanidades (o lado da mãe): inglês era fácil para mim, francês interessava-me e era boa a falar e gostava das aulas de português...  Fui em frente de olhos fechados e escolhi o que me pareceu mais fácil: humanidades (acho que já repararam). 

11ºano - decidir ir morar para a casa do Pai em Lisboa 

Ui que foi tão difícil. Ainda por cima tinha um dos meus irmãos, o Pedro, que é como se fosse... sim, uma espécie de filho (temos 10 anos de diferença) e sabia que ia perder todos os segundos de crescimento dele. Dizer à mãe foi doloroso (para ambas, claro) e deixar de ver o irmão com a frequência do costume foi horrível. Fiz várias listas de prós e contras, mas faltava-me muito a coragem. Muito. Não queria que ninguém sofresse por minha causa. 

Faculdade - decidir voltar para a casa da Mãe. 

Aqui já era uma questão de "orgulho" e "vergonha". Depois de ter causado tanta dor, voltar a pedir para voltar para casa. Tive de me encurralar e de contar ao meu irmãozinho (antes de contar a mim própria até): "a mana vai voltar para casa". 

Acabar com uma das relações amorosas mais marcantes da minha vida. 

O meu primeiro grande amor e sua família. Aquele meu primeiro grande amor que se misturava com o meu sangue. Que sentia que tínhamos crescido juntos e aprendido juntos. Em que fui adoptada pela sua família, em que as suas irmãs eram minhas e os seus pais eram meus tios. Tive de acabar e doeu. Era infeliz. Infeliz ao ponto de ter que o fazer.

Escolher entre uma profissão que me permitia viajar pela Europa inteira e em que era bem paga e um estágio na Mega FM (agora Mega Hits)

Foi complicado para mim. Nunca tinha sonhado com fazer rádio, mas enviei o currículo para a minha rádio preferida da altura. E a outra oferta era simplesmente o que qualquer outra miúda da minha idade adoraria ter... Confesso que tinha muito medo de viajar sozinha, de sair "de cá" (e na altura nem tinha nenhuma relação que me prendesse grandemente) e a Mega parecia-me estranhamente confortável. Mesmo assim, ainda anos depois, fui recebendo e-mails a convidar-me para dar uma hipótese ao outro trabalho. 

Pedir para sair da RFM e voltar para a Mega Hits

Depois de ter tido a oportunidade de apresentar o programa de rádio na rádio com maior audiência (só para perceberem a coisa haha) de Portugal, pedi para voltar para a rádio onde tinha crescido. Decidi que não era o número de pessoas a ouvir que me satisfazia mas o que sentia quando ia trabalhar e isso era na Mega. 

Casar com o pai da Irene 

O pai da Irene simbolizava para mim o contrário. A certeza no meio de tudo o que questiono. Uma pessoa que apontava o caminho e que me ajudava a deixar de pensar tanto. Alguém que me faria descansar e não ter que lutar contra mais nada. 

Decidir ter a Irene

Era o passo natural a seguir. E parecia a altura certa. Nada me andava a saber a nada e a vida parecia estar a pedi-lo. Era o que o pai da Irene mais queria e comecei a construir a narrativa na cabeça. Agradava-me, muito. Num impulso - depois de meses a sonhar com isso - decidi. 

Decidir sair das manhãs da Mega Hits

Cansada de acordar tão cedo. E de me deitar tão cedo. E de não ter vida. E de todos os dias me parecerem iguais e rápidos e lentos ao mesmo tempo. Dores de costas por causa de uma avitaminose. Colegas tão comunicativos quanto eu e tão histéricos quanto eu, não aguentei mais o ritmo. 

Decidir ficar um ano em casa com a Irene

Depois de 6 meses (5 meses de licença + 1 mês de férias) de licença de maternidade, quando voltei ao trabalho senti que não havia "sítio para mim". E não consegui perceber o que queriam de mim, se é que queriam alguma coisa. Senti-me triste e esquecida. O tempo em que estava no trabalho a olhar para o relógio a saber que a Irene àquela altura era quando... ou quando... estava a deixar-me maluca. Pedi 1 ano de licença sem vencimento e, apesar de até à última querer tanto quanto não querer, tive a sorte de me aceitarem o pedido.

Divorciar-me

Não foi fácil. Já quando muitas pessoas julgam que o suicídio é uma cobardia, eu não acho. Nunca achei. Acho que é preciso uma dor e uma coragem gigante para tomar uma decisão tão definitiva relativamente a algo. Divorciar-me do pai da Irene foi, de longe, a decisão que mais me doeu. Não só por ser filha de pais separados, não só por amar a minha filha, mas também por tudo o que implicava de fracasso e de dor para todos. Todos incluídos. 

Fotografia por Yellow Savages 

E, se repararem, a minha perspectiva das coisas (ainda) é muito negativa. A forma como escrevo, arrasta fumo de queimaduras anteriores, arrasta falta de energia para pintar por cima, mas isto vai aos poucos. Se há decisão que tome todos os dias é... a de estar atenta e de tentar sempre ser mais feliz e de fazer a Irene mais feliz. 

Só falta acabar com esta necessidade constante de recomeços, talvez pensando melhor quando tomo as decisões, mas o que é que se sabe quando não se sabe? 


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1.21.2018

Já deixaram o vosso bebé chorar?

Assim que temos um filho tornamo-nos mães. E ser mãe implica demasiadas coisas. Implica estar sempre disponível, implica muitas horas de devoção, implica também poucas horas de sono. O que ninguém nos diz é que quando nos tornamos mães a nossa confiança cai a pique. Podemos ser as pessoas mais positivas, resilientes, seguras e confiantes do mundo, mas assim que abraçamos no nosso colo aquelas criaturas pequeninas, tudo se dissolve num mar de dúvidas. E tentar que assim não seja, tentar ouvir o instinto maternal e calar o mundo à volta é onde mais falhamos. O que não faz qualquer sentido hoje em dia. Antes e como se dizia “era preciso uma aldeia para criar uma criança”, agora essas aldeias não existem. Cada um está na sua vida. As avós não vêm para casa nos primeiros tempos, não existem tios e tias para partilhar as horas de atenção necessárias, não há apoio dos vizinhos, nem tão pouco existem comunidades que se protegem. É um mundo novo, diferente, onde as dúvidas do dia a dia são escritas no computador e enviadas para o mundo, onde quem nos sossega e responde é uma cara que nunca vimos e que pode estar a quilómetros de distância. As avós ficaram para segundo plano, as tias estão ocupadas a trabalhar ou até fora do país, os vizinhos vivem a vida deles e dão-se ao trabalho de tocar à nossa campainha para se queixarem de qualquer coisa, nunca para perguntar se precisamos de ajuda. É um mundo onde cada um está por si, e por mais informação que exista, por mais livros que se leiam, falta a experiência humana, o calor humano, a companhia. Companhia. Há quanto tempo alguém não vos faz companhia? Simplesmente estar ali, para o que for preciso. Para falar, para cozinhar, para embalar, para passar as mãos pelos cabelos ou para estar. Ninguém tem tempo nem paciência para estar. Estar, respirar o mesmo ar, sentir o mesmo ambiente. Sem planos, sem distrações, com aborrecimento até. Porque se temos uns minutos livres estamos agarrados aos telemóveis, aos tablets, aos computadores, estamos em constante dispersão, desviamos a atenção do que é realmente importante. Será que alguém precisa de nós neste momento? Para se aborrecer? Para estar apenas? Sem críticas, sem opiniões, sem comentários. Sem dizer que não se pode dar colo, que não se pode dar mama, que não se pode dar biberão, que não podem estar na nossa cama, que não podem estar tão vestidos, que não se pode dar bolachas, que já devia beber água, que está demasiado calor, que as sestas deviam ser maiores. Que, que, que. E nós, mães, sozinhas, sem apoio, vamos ouvindo estes comentários, estas frases soltas, e agarramo-nos a elas como se fossem bóias de salvação. Porque são a única coisa que temos para agarrar nesta sociedade egoísta, egocêntrica e distraída. Quantas vezes já vos disseram para deixar o vosso bebé chorar? E quantas vezes se ofereceram para o adormecer? Dá que pensar não dá?


 




Joana Diogo
A Joana escreve no O que vem à rede é peixe
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Há alguma mãe que não se sinta culpada quando eles ficam doentes?

Isto faz mesmo parte do pacote, não faz? 

Sempre que a Irene fica doente, começo a rever em câmera lenta todas as decisões que fui tomando por ser - penso eu, nestas alturas - demasiado optimista. 

Começo a duvidar se poderia estar a fazer algo diferente e ponho tudo, mas mesmo tudo em causa. E, além de estar exausta por ela estar doente e já pela vida que levamos no geral (cuidar da miúda completamente sozinha não é fácil, como muuuitas de vocês saberão), ainda me martelo toda com a culpa. 

Que parvoíce isto da culpa.

Os miúdos ficam doentes acontece por mil e uma razões, muitas delas que têm 0 que ver se os lembrámos de vestir o casaco ou não. Ou se os devíamos ter inscrito na natação... 

Vamos sempre encontrar a razão que achamos merecer. 

Fotografia por Yellow Savages 


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1.19.2018

Vou me arrepender de ter publicado isto, mas pronto.

Começo a escrever o post ainda indecisa se o vá publicar ou não. Independentemente de quem terá razão ou de toda a gente que tenha e não tenha razão, estou farta de ler comentários aos berros. Grita-se muito hoje em dia tanto em assuntos importantes como em menos. Calma. 

Não é muito meu criar uma estrutura de pensamento para aquilo que escreva aqui. Escrevo conforme me sinta no momento ou baseando-me em algo que gostaria de transmitir. Aqui vai.

Quando a Irene nasceu, não a quis mostrar ao mundo. Ou melhor: quis, mas senti que não devia. Tanto o pai como eu estávamos divididos se o devíamos fazer ou não. 

Queria, na mesma, registar o momento. O meu primeiro sorriso depois dela ter nascido, ainda muito pouco recuperada do parto e de tudo o resto. 



Senti que o mundo não tinha que a conhecer e que o meu dever era protegê-la. Que era a minha bebé, a nossa e que ser mãe e internet não tinha nada que ver uma coisa com a outra. Aliás, expô-la na internet pareceu-me que iria profaná-la. E fiquei assustada por assim que publiquei esta fotografia ter surgido uma notícia sobre isso num site.

Mesmo assim não conseguimos evitar. Tanto o pai como eu, depois de termos uma conversa em que falamos sobre quais seriam os perigos práticos de expôr a Irene e não conseguimos concretizar. Cheguei a pensar nisso várias vezes, claro, até escrevi algo aqui sobre isso aqui

Apesar de ter começado a trabalhar no meio há 10 anos e de ter feito rádio em programas de destaque e também televisão, nunca me senti minimamente "conhecida". Talvez por não gostar de "aparecer" ou de não ir a sítios onde as pessoas que me reconheceriam frequentassem, mas não senti. Ter os seguidores que tinha no Facebook (e que, anos depois ainda são os mesmos que aquilo está morto), os que tinha no instagram (que eram alguns mas tão menos que tanta outra gente) apesar de serem tão menos que pessoas que eu considerasse conhecidas. Nunca me levei a sério. Nunca me vi como alguém que fosse popular nem, além da internet, fui tendo esse feedback. A minha vida era fazer rádio, sair e ir para casa. Ou rádio, televisão, casa. 

Engravidar e decidir ser mãe preencheu-me um vazio enorme. A verdade é essa. Desde que engavidei que a Irene e a nossa ligação me inspira e, mesmo antes dela nascer, escrevi um livro sobre ela, sobre a nossa gravidez. Comecei a apaixonar-me por todas as mudanças e expectativas disto da maternidade e comecei a sonhar com a Irene diariamente, connosco. 

Depois de um parto que esteve longe de ser o melhor parto possível e de um início de ligação muito desfasado entre mim e a Irene (eu não estava bem), as coisas começaram a acalmar ou, então, comecei a ter força para enfrentar o que se passava, relativizando, como sempre. Pensando: há de haver mais mães que se sintam tão sozinhas, perdidas, ansiosas e desesperadas como eu, preciso de sentir que somos mais e, provavelmente, elas também.

Uma das coisas em que penso mais é que em todas as evoluções há quem se sinta mais confortável na maneira anterior de viver o mundo e há quem se adapte mais facilmente (e automaticamente, sem pensar tanto, como preferirem) aos tempos actuais. Lembro-me quando usar o nome verdadeiro nas redes sociais ou onde quer que fosse na internet era impensável, mas praticamente toda a gente usa o seu nome verdadeiro (e apelidos!!) no Facebook. Praticamente toda a gente terá fotografias suas nas fotografias de perfil e até já há muitas mais pessoas a sentirem-se confortáveis a fazerem compras online sem medo que nos esvaziem os cartões de crédito. Também já não respondemos ou abrimos mails esquisitos da Nigéria... As coisas têm vindo a mudar. 

E, com a minha ingenuidade, o que me tem servido até hoje para acalmar a minha "mãe leoa" - que chatice, só associo isto a reality shows - em mim é que hoje isto não parece normal porque é "o começo". Da mesma maneira que vender os meus CDs todos por ter tudo em mp3 também me pareceu horrível, mas a verdade é que nunca os iria usar e agora nem tenho leitor. No futuro, da mesma maneira que partilhamos as nossas localizações, os nossos estados de alma, os nosso quartos, a nossa comida, a nossa roupa, os nossos beijos na boca à pessoa com quem estamos, os Natais, os pais, os irmãos, os filhos, os netos farão parte do conjunto de infinitas imagens na internet de todas as pessoas do mundo. Depois, provavelmente, voltaremos a coom éramos antes. Não partilhar nada. Usarmos nomes a fingir e avatares para não darmos informações nenhumas sobre nós. Uns de nós vão rejeitar chips que passem informações sobre o nosso organismo ao médico, outros vão adorar (muito Black Mirror). 

O meu ponto de partida não é errado. É um ponto de partida. É válido, mas falta aqui o que realmente importa: e o direito da criança à privacidade? Tenho vindo a reflectir mais sobre isso, por causa do programa, mas também por todos os berros em comentários aqui e noutros sítios... Eu não sou só "uma mãe" que mostra a criança para umas 100 pessoas (sendo que, às vezes, é até no seio mais próximo que acontecem as desgraças). As pessoas reconhecem-me e à Irene. E temos recebido imenso carinho, imensos sorrisos, até dos filhos dessas pessoas que vêm na Irene uma amiga. 

Como vejo o Mundo actualmente, não imagino ninguém, muito menos mães que me odeiem (que as há pelas minhas opiniões e pelas suas maneiras de verem as coisas) a fazer mal à minha filha. Não sei como poderiam fazê-lo, sequer. As mães fazem isso aos filhos dos outros? No meu mundo as mães não fazem isso. Não fazem mal aos seus filhos nem aos dos outros e não decidem fazer ainda pior a uma miúda por ser filha de uma mãe que tem um blog onde o principal intuito é conversar sobre maternidade e que reflictamos em conjunto sobre as pressões a que estamos sujeitas e a dificuldade da questão, mas também o amor. 

A Irene e o seu direito à privacidade. Afastando-me do lado concreto da questão (os artigos dos códigos) porque lá por estarem em livros não quer dizer que não pensemos sobre eles. É a lei, mas a lei pode ser mudada, ou não. Ou podem estar a ler - como se alguém lesse até aqui - sobre a blogger que vai mudar de opinião e vai deixar de publicar fotografias da filha na internet. Ainda não sei. Estou a escrever, como vos disse, em directo. 

Na adolescência vivi um episódio muito difícil (vivemos todas, bem sei) em que senti o que era a minha privacidade ter sido grandemente violada e a um nível bastante intimidante. Por isso, posso deduzir que provavelmente o meu espectro para avaliar esta questão da privacidade da minha filha não será o "normal". Não me parece minimamente grave ela ter um blog, ou até mesmo um livro ou dois, em que a mãe fale diariamente do que sente por ela, das suas dificuldades e virtudes e em que publique fotografias lindíssimas dela. A mãe que gosta de olhar para ela, de a fotografar e que quer mostrar ao mundo o quanto é bela. A mãe que tem o cuidado - mesmo quando não tinha uma máquina de jeito - porque a ama, que ela não apareça em condições que não a favoreçam. Aparece bonita, feliz ou triste a fingir. Vejo o que tenho feito da minha maternidade pública com a Irene uma enorme declaração de amor diária, um diário que me ajuda a sistematizar pensamentos e sentimentos e também uma fonte de inspiração para muitas mães (parece presunçoso da minha parte, mas tenho de começar a assumi-lo tantas que são as vossas mensagens de carinho). 

Foi por um mau motivo, mas eu sei (ou parece-me) que o "bullying" acompanha pessoas da mesma geração (quem lê este blog são as mães e não as crianças). Daqui a uns anos - se eu continuar a publicar fotografias dela - quando a Irene já não quiser aparecer, não aparece e os colegas dela não saberão quem ela é. A não ser, talvez, pelo nome. Não há muitas Irenes por aí, mas não iria eu escolher um nome normal para a miúda para ninguém saber que ela é minha filha, não é? Ou criar uma espécie de clima de segredo sempre que falasse nela e dissesse a Baby I e mostrasse só uma mão ou um pedaço do pescoço. Não sei. Parece-me tudo demasiado longe de mim e da minha realidade, mesmo respeitando a 100% quem escolha essa opção porque na minha linha de pensamento eu corro o risco da Irene odiar que eu tenha feito isto, mas nunca correria risco se não a expusesse. Nem violava um direito dela. Sei. 

Pondo-me no lugar dela, eu tal como sou e não a leitora anónima como é e que já está a fervilhar), eu ficaria muito feliz se a minha mãe me tivesse feito isto. Tal como fiquei muito feliz com as fotografias que ela tem minhas e com o album da cegonha que ela fez de mim quando eu era bebé. Uma coisa é privada e a outra é pública, bem sei, mas passaram 31 anos desde aquele álbum. O privado e o público terão ganho também outras dimensões. 

Como o que conto aqui. Inibo-me praticamente de forma muito natural a partilhar coisas da minha vida que possam perturbar terceiros. Não venho para aqui lavar roupa suja da minha relação com o pai da Irene, não faço aqui queixinhas de escolas antigas (posso dizer que me enganei na escolha), etc. Aqui partilho o que não me importo que se saiba o que todas nós sabemos que é verdade, caramba: o lado bom e lado mau disto. 

Independentemente do que venha a decidir - ainda estou a pensar e reflectir e até lá continuarei a agir como tenho agido até agora porque se nunca tivesse pensado a sério nisto é que seria grave e já pensei o suficiente para ter chegado à conclusão anterior - este momento já serve para trazer mais food for thought e, nem que seja, para pensar ainda melhor nas parcerias e na publicidade que fazemos no nosso blog usando as nossas filhas. 

E, por acaso, mesmo reflectindo tenho bastante vaidade na forma como temos conduzido o blog nesse aspecto. Temos recusado muitas muitas propostas de marcas com as quais não queremos que nem as as nossas filhas nem nós estejamos associadas. Tirando uma situação (acho que foi só uma e nem as envolveu), não me lembro de nada que me tenha deixado desconfortável, mesmo pensando na Irene. Há dias em que, quando olho para a conta, e vejo o saldo que tenho agora e quantos dias ainda me faltam para o fim do mês, me vem à cabeça os milhares de euros que já perdemos por termos os critérios que temos, mas a frutração passa rapidamente. 

O que vou começar a fazer e também por causa disto é criar uma conta-poupança para a Irene, mesmo que o dinheiro que faço daqui vá praticamente para ela, é mais justo assim. 

E agora espeto uma fotografia, uma daquelas que acho que a Irene irá adorar pela fotografia e também pela declaração pública de afecto. Digo eu, sei lá. Vou pensar.


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1.16.2018

As nossas brincadeiras.

# jogo do silêncio

Começamos a brincar a isto as duas. Não sei como terá começado - acho que fui eu, mas não tenho a certeza. O jogo do silêncio é, basicamente, lermos nos lábios uma da outra o animal que a outra está a dizer. Ela adora. E eu também. Hi-pó-pó-ta-mo. Divertimo-nos imenso. 


Estou apaixonada por estas fotos da Yellow Savages.

# ela fingir que é outra pessoa 

Por muito que às vezes me passe pela cabeça se isto é normal, cada vez mais entro na brincadeira. Preocupar-me-ia se ela se perdesse na fantasia, mas nem por isso. Eu sou a Joana Paixão Brás e ela é a Isabel e temos um Nenuco que é a Luisinha. 

# tem uma irmã que é um Nenuco

Deixa-me muito feliz vê-la a brincar com a bebé. É a brincar que consigo ver o que é que se passa na cabeça dela, qual é a percepção dela das relações e onde manifesta as suas preocupações do momento. A melhor maneira de saber o que se passa com ela é vê-la e ouvi-la a brincar. 

# somos a Selena Gomez e Jennifer Lopez

E damos um espectáculo num palco que é o tapete que agora pus no chão do quarto dela. Ela segura no microfone e eu numa garrafa de água. Ela canta no seu melhor inglês a "Wolves" da Selena Gomez e eu delicio-me a vê-la. 

# macaco de imitação

É tão simples quanto isso. A miúda adora que a imite. Estamos as duas sentadas na cama - dá-lhe mais para isto antes de ir dormir - e imitamo-nos. 



# nhecs

Lembram-se da brincadeira de há uns bons anos? A miúda adora e faz-me isso e eu a ela. Divertimo-nos muito. Ela já percebe mais ou menos o conceito e farto-me de rir. 


São algumas das brincadeiras do momento, além das outras coias que, quando tenho tempo, tento fazer com ela como já vos mostrei aqui nas 60 actividades para fazermos em casa


📷 Fotografias: Yellow Savages


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Não tenho uma casa de revista, mas...

Mudámos de casa há um mês e meio. Esta já é a nossa casa, aliás, já o é desde a primeira noite, porque depressa a sentimos nossa. Está longe de ser uma casa espaçosa e bem decorada, digna de revista. Trouxemos muito pouca coisa (também não temos muitas mobílias nem grandes pertences de valor), mas cada vez estou mais contente com este exercício: ter o menos possível de tralha em casa, para que nos centremos no mais importante. Até porque, como vos contei no sábado, odeio limpezas!

No entanto, fiz questão de decorar a sala para o Natal com pequenos detalhes; o quarto delas está lindo, com a caminha em forma de casa verde água e as paredes com autocolantes às bolinhas; no meu quarto impera o branco e está muito minimalista mas acolhedor (e tem uma luz fantástica!); e a sala tem sofá, móvel com televisão, mesinha e cadeiras e pouco mais.

Normalmente não andam calçadas em casa, mas já estávamos de saída :) 


O "pouco mais" é um tapete bonito mas muito funcional - que vai à máquina de lavar assim que tiver restos de papa de aveia e outros brindes. Isso para mim é obrigatório, uma vez que as minhas filhas vivem a casa e eu não tenho uma casa-museu, tal como vos falei aqui. É da Lorena Canals que, além de tapetes, tem também almofadas, cestas e outros objectos de decoração para a parede, muito bonitos, meio étnicos ou para todos os gostos. São tecidos de qualidade, feitos de forma artesanal e amigos do ambiente (as cores são resultantes de corantes naturais, por exemplo). O processo é ecológico e isso agrada-me muito nesta marca, além de toda a preocupação humanitária (com projectos que garantem a escolaridade de muitas crianças na Índia, o país com maior taxa de analfabetismo do mundo). A senhora dona Lorena está de parabéns, por todas as razões.

O meu tapete da sala é este, mas encontram muitos mais aqui, na página principal, que tem saldos até ao dia 31 de janeiro, mas também já tem alguns elementos da nova coleção (linda!), que vai ser apresentada dia 19 na Maison&Objet em Paris. 


Beijoqueira até mais não.

Deliciosa com a roupa da Tsuru, uma marca que acompanhamos desde o início.

Adora coreografias.

Muito dança ela! 

Adivinhem: Panda e os Caricas ou Panda e os Caricas?

Deixa-me lá aqui ser querida para o meu pai e pisar discretamente a obra de arte da minha irmã

Sou eu, a Luísa e a Isabel (e o pai que se lixe eheh)

Adoro esta foto, adoro, adoro.



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1.15.2018

E deixar de ter vergonha de ser blogger?

É o que também somos e temos de assumir, sem vergonhas. Como em tudo, há com quem nos identifiquemos e há com quem nem por isso. Não me sinto minimamente blogger como "achava" que era ser blogger, mas há blogs de tudo e de todas as maneiras, caramba. Da mesma maneira que "sou" loira e nem por isso sou muito imbecil. Preconceitos. 

Somos tudo o que quisermos ser nestes dias. Já lá vai o tempo em que nos queríamos fechar numa gaveta - quanto mais pequenina, melhor - e que nos limitavamos assim. 

A Joana Paixão Brás e eu fomos entrevistadas para um artigo na Sábado sobre "isto" dos Blogs em Portugal e tivemos a sorte de termos sido fotografadas pela Raquel Wise (obrigada, Raquel). 

A Joana Paixão Brás a pensar:
Fui eu quem pariu duas e ela é que parece ter o corpo de pós-parto. Estou aqui impecável, ainda levanto o pézinho para verem que a minha coxa tem metade da grossura de um tornozelo aqui da miss-faço-uma-careta-porque-sou-tímida-mas-não-quero-que-ninguém-saiba.

Eu, Joana Gama, a pensar:
A outra que está toda magra, mamou-me metade do saco de gomas da Hussel que comprei hoje no Colombo, a vida é muito injusta. Ainda por icma nem precisa de fazer bainha nas calças. A minha saia é uma mini-saia para uma pessoa de altura normal, enfim. 

A Joana Paixão Brás a lembrar-se que talvez se tivesse esquecido de pôr alguma das filhas na escola e eu a pensar se a minha papada seria evidente neste ângulo. 

Joana já a pensar se aquelas 12 fraldas darão para ter um quarto filho e logo se vê porque a vida é linda e é preciso é ouvir os passarinhos e sessões fotográficas com bolos.

Eu que me assemelho à filha que Herman José não terá. Ou isso ou tenho sangue de pelicano e não sei como. Talvez tenha meia garopa no pescoço para um dia em que tenha mais fome (para também não roubar as gomas das outras).

Eu, Joana Gama, a dar o meu melhor para chegar com as mãos aos pés. A minha flexibilidade sempre foi uma skill que atraiu parceiros. Joana a por a camisolinha para dentro das calças para se ver porque é que ela já foi fecundada duas vezes e eu não.



Eu a pensar no quanto o coelho custou à Avó da Irene na Zara Home. Ou como iria explicar o seu desaparecimento. Joana a duvidar que a cor dos meus collants fosse a certa para uma pessoa que não estivesse falecida. 

Ahaha Não consigo não achar que não daríamos um óptimo casal, sendo eu a camiona, claro. 

Este coelho nunca esteve tão feliz na vida.

A fotografia que a Joana Paixão Brás vai cortar para por como foto de perfil no Facebook porque é muito boa pessoa e abraça a criança que tem dentro de si. Eu que encarnei um tasqueiro malandro a ver uma rapariga numas push-up.

Eu a mostrar o meu lado lunar e a Joana a decidir se gosta. 

Vocês já estão a regir a estas fotografias como a boneca decidiu deixar de viver e atirar-se para cima da máquina, mas eu e a Joana estamos supé manas a fingir que lemos um livro sbre sentimentos. 



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Então e soluções para as "mães não perfeitas"?

É frequente e "sem querer" que nos esquecemos destas três dinâmicas essenciais e sempre presentes nas nossas relações: nós, nós com eles e eles. Quanto mais em "modo sobrevivência" estivermos, menor é a capacidade para distribuirmos pensamentos, para a sensatez, para a empatia. Deslocamo-nos rapidamente para "a culpa" é deles ou "a culpa" é minha. Também serve quando se aponta os dedos aos outros: "a culpa é dela que é uma mãe que não impõe limites" ou  "a culpa é da miúda que é um monstro". A culpa que tanto funciona com a palmada que se dará à criança como as palmadas que se dão na nossa consciência depois de as termosdado -  enquanto ainda não a [consciência] tivermos adormecido para não suportarmos tanta dor. 

As coisas fluem, são dinâmicas. A culpa é algo, nestas situações, primário, de sobrevivência, imediato, infantil. É difícil e parece "totó" reconstruirmos a realidade, fazendo um moonwalk cuidado no que nos levou até ali, mas uma vivência mais consciente ajuda-nos a termos capacidade para que nos surja amor com mais frequência quando olhamos para nós, para eles ou para nós e eles. 

Porque é que nos deixamos de perguntar, quando crescem mais um pouco, o que terá a criança? Quando são bebés, perguntamo-nos se têm fome, sono, sede, necessidade de mimo... mas, depois, passamos para o tribunal das manhãs e das tiranices. Foi o que terá sido feito connosco e o que terá sido feito com quem nos fez, a culpa não interessa. 


Interessa muito aqui por-mo-nos no lugar da criança, pomo-nos no nosso próprio lugar quando tínhamos a idade dela também ou até mesmo deixando-nos estar na nossa. O que sentíamos quando gritavam connosco? Quando nos punham de castigo? Quando nos portavamos "mal" era porquê? O que sentimos agora quando nos fazem o mesmo?  

Quando, na nossa vida, andamos mais amargurados, respondões, zangados, com "mau feitio" é porquê? Será aleatório? Porque "somos tiranos"? 

O que há antes do que se vê e ouve? O que há antes do fazer? 

A mãe chora quando a criança está a ser castigada porque lhe dói. Dói-lhe "ter que chegar a esse ponto". Também eu chorei quando, por desespero, numa vez em que tentei deixar a Irene chorar no berço porque "não devia mimá-la". 

O que nos faz chorar assim, "indo contra nós" (até a mãe disse isso no episódio -  a estreia do formato Super Nanny em Portugal) é porque não está bem. Ir contra nós nunca será a solução, digo. 

Impedirmo-nos de comer o que nos apetece, sem percebermos porque é que nos apetece. Impedirmo-nos de mexer tanto no telemóvel, sem perceber porque é que o fazemos. Impedirmo-nos de abraçar as nossas filhas quando elas, depois de se portarem mal, pedem colo sem perecber porque é que elas pedem e porque é que nós, mesmo depois do que aconteceu, as queremos abraçar... 

A comida que nos aparece no prato vem de algum lado. O dinheiro que sai do Multibanco também. Aquela colega que resmunga tem também ela uma vida, não "saiu assim por defeito". A criança grita, chora, bate porque não sabe expressar de outra forma o que sente. 

Aqui sim, cabe-nos a nós ter o trabalho de ver o que se passa. O panorama geral, ver além de nós e do nosso ego. Senão são duas pessoas a fazer birra. Sendo que uma delas tem a responsabilidade de tentar ser capaz de reconstruir, de fazer o moonwalk: o adulto. O adulto que além de crescido também tem algures uma criança que não se sabe expressar e que não consegue falar consigo. É tudo. 

Gostava muito de apresentar soluções concretas para cada caso. Ainda estou a descobrir muitas com a Irene no dia a dia. E as que funcionam vão mudando. Sei sempre que as melhores são quando me forço a pensar nela, em mim e nela e em mim. 

Parece que não temos tempo. Parece que não temos coração. Que nos caiu tudo em cima e que, pior que tudo, que nos deram um filho imperfeito. Esse filho que terá uma mãe imperfeita que, outrora, já esteve no lugar dele... 

Amor. Mais. Porque amor gera amor. 


Muito sobre aquilo em que acreditamos e soluções aqui:
disciplina positiva, parentalidade consciente, ...

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