Nem toda a gente precisa, mas acho que toda a gente iria beneficiar.
Nem toda a gente pode, mas acho que toda a gente deveria poder ir.
Eu faço terapia.
Faço porque lá porque as coisas me surgem na cabeça ou porque os meus comportamentos me pareçam espontâneos, não quer dizer que sejam os melhores. Tudo é passível de ser trabalhado, depois de compreendido ou, por ser compreendido é trabalhado.
(se nunca tivesse parado para pensar, a Irene era corrida à estalada e ao berro)
Faço por mim, sim. Por mim que estive farta durante muito tempo de viver e sentir as coisas sem qualquer sabor ou cor e, acreditem - muitas de vocês saberão - navegar em mar alto sem saber onde se está ou para onde se quer ir, dá lugar a náufragos, muitos.
(se nunca tivesse parado para pensar, o resto da vida seria "fazer tempo" para que algo surgisse que me acordasse)
Faço-o por mim e pela Irene, sim. Pelas duas. Para que ela sinta (que ainda iremos a tempo para muito) que o amor flui entre as duas e a que sabe o amor, no corpo e na cabeça.
(se nunca tivesse parado para pensar, a minha filha cresceria e não conseguiria relacionar-se comigo, apesar de algures sentir que me ama)
Faço-o pela Irene e pelos filhos da Irene. No meio de uma fila enorme nalgum lado onde nos colocamos por parecer o sítio onde se deve estar por toda a gente está, alguém tem de ir ver o que se passa lá a frente e parar. Para pensar. Encaixar. Dói.
(se nunca tivesse parado para pensar, teria de ser a Irene, um dia, a fazê-lo e com uma intensidade avassaladora de anos e gerações de trampa por processar)
Doí sabermos que mandamos muito pouco nisto e que somos uma migalha, mas é essa a verdade. Somos tão pequenos e os nossos problemas têm metade de nós ou têm o tamanho que "quisermos" que tenham.
(se nunca tivesse parado para pensar, achar-me-ia sempre o centro do universo e tudo pareceria uma perseguição para que eu me sentisse infeliz em vez de todos os dias serem uma oportunidade de viver mais e espalhar amor)
Coisas em que a terapia me tem ajudado:
- Diminuir a ansiedade de um modo geral
E, portanto, tudo o que daí advém: irritabilidade, hipersensibilidade, falta de produtividade, sarcasmo, bullying, mau dormir, não conseguir estar disponível emocionalmente para a Irene, rotinas muito apertadas, etc.
- Duplicado a intensidade das coisas boas
Já não as destruo na minha cabeça. As coisas boas são mesmo boas e o fim-de-semana é mesmo fim-de-semana. Faço mesmo o que quero e preciso que seja feito e a vida deixa de parecer um carrossel com muitas luzes e barulho mas sem que nada nos atravesse o corpo ou nos faça querer sair para ver a paisagem.
- Melhorado a disponibilidade para crescer
Quanto melhor compreendo as coisas, mais tudo me sai certo. A minha vida já me pareceu toda ela apenas e só um dia mau em que depois de apanhar uma molha, encontro o guarda chuva. Ou, depois de cair numa poça enorme de lama, é-me apresentado o Primeiro Ministro. Os acontecimentos não nos governam. É o contrário.
- Crio coisas boas
Não fico à espera que as coisas que quero (porque já sei o que quero e gosto) aconteçam. Já crio oportunidades para que elas aconteçam. De repente, o que dantes parecia uma espera, agora parece uma escada com treats pelo caminho.
- Vejo melhor a Irene.
Já sei que quando parte algo ou grita que não é o que eu sinto quando ela o fez, mas sim o que ela sentirá. E quem diz Irene, diz toda a gente, mesmo toda a gente. Até as haters anónimas. Estou em paz.
Não há que ter vergonha de sair da manada e interrogarmo-nos sobre aquilo que nos parece crucial e que nos faz sentir unos. Mesmo um cocó de cão está inteiro e é uma bela mer**. Pode parecer inalcançável e doloroso (e é), mas é para isto que cá estamos. Para um aperfeiçoamente constante que nos permita amar com tranquilidade e sermos amados em segurança.
A Eugénia ajudou-me bastante como vos contei
neste post, neste momento o meu caminho não passa por ela, mas não posso deixar de vos sugerir que conheçam esta pessoa que toda ela é amor e brisa da ponta dos seus lindos cabelos até aos pés (a página dela é
esta que, sempre que falo dela, recebo alguns e-mails a pedir o contacto, fica já arrumado).
Só para descansar quem não tenha possibilidades para fazer terapia, mesmo aconselhando-se com a médica de família (há também excelentes profissionais nos centros de saúde), há quem consiga fazer este exercício sozinho, estando mais atento a tudo que na vida não espelhe amor e faça para que mude.
Não há que ter vergonha. Fazer terapia é o ginásio da cabeça. Será moda um dia. ;)