10.10.2015

Querem ajudar as recém mamãs, é?

Toda a gente (ou quase) é muito bem intencionada quando nasce um bebé de um familiar próximo ou de uma amiga. 

Engraçado que também há precisamente o oposto: as pessoas que, de repente, desaparecem como se tivéssemos apanhado herpes na cara toda.




- Se puderem não visitar nos primeiros dias, agradecemos. 

Quando chegamos a casa, temos de encontrar a nossa sintonia com os bebés, com o sono, com tudo e, por isso, se se puderem juntar à manada de gente que vai ao hospital, melhor. Depois só dali a 3 meses. E com prendas sff. Para a mãe.

- Se levarem sopa ou se forem limpar a casa, podem e DEVEM visitar. 

Façam-no é sem mandar grandes bitaites sobre se o bebé devia estar a dormir de barriga para cima ou de pés para o lado, se cheiramos a leite azedo ou se devíamos pôr um pozinho para não parecer que fomos violentadas por um Sagui obeso.

- Não temos nada para contar. 

Não. Não, não temos. Podemos contar a história do parto outra vez, mas não nos apetece, ainda para mais se ainda tivermos o pipi todo cosido. Sim, podemos continuar a acenar com a cabeça a dizer que o miúdo é bonito, mas no fundo, no fundo, queríamos era estar a dormir ou sem estar a fazer conversa de xaxa. Sejam rápidos. Sejam tão rápidos como o desaparecimento do subsídio de férias da conta.

- Levem flores ou chocolates ou qualquer coisa para as mães.

Não que odiemos os nossos bebés, mas vai saber tão bem sentir que ainda importamos e que temos ali algo para nos deixar ainda mais felizes quando as pessoas sairem.

- Ofereçam-se para dar uma olhadela no bebé para irmos tomar banho. 

Sim. Sim. Sim. Sim. Sim. Tomar banho é um direito. Tomar banho com calma também. É do que precisamos mais. Mais disso do mais um par de sapatos para um bebé que ainda nem respirar decentemente sabe.

- Informem-se um bocadinho sobre amamentação ou qualquer coisa que seja útil. 

Assim também oferecem outro tipo de apoio à mãe. Um que ela precise. Principalmente não vão encher a cabeça da mãe (tão susceptível nesta hora) de coisas palermas que podem vir a fazer-lhe mal e, ainda para mais, totalmente bem intencionados, claro.

- Lavem as mãos. 

O bebé pode fazer imenso cocó mas, não é um corrimão das escadas rolantes do Colombo. Não é para toda a gente por lá a mão e pronto. É lavar para tocar no bebé. 

- Não venham a cheirar a tabaco.

Fumo passivo. Sim, eu sei que as fumadoras estão a rolar os olhos para cima. Eu sou ex-fumadora e esta conversa também me irritava, mas a verdade é que faz mesmo mal aos bebés e os pulmões ainda estão a maturar.

- Não nos digam se estamos feias ou com um aspecto horrível.

Alguma mulher que vocês conheçam desconhece quando está mal? Nós sabemos quando parecemos um ralo. Não digam coisas desagradáveis, porque vão ser multiplicadas por mil na cabeça da mãe.

- SEJAM RÁPIDOS.

Não venham para cá passar o sábado nem o domingo. Não venham ver a bola. Venham "dar um beijinho". A mãe e a nova família precisam de calma e de descanso. Depois o forrobodó. Depois podemos ter o mesmo nível de energia que o João Baião. Para já, não. 

E mais? ;)



Não quero arranjar problemas...

... mas a verdade é que ele não lê o blogue. Lê a mãe dele e o pai, mas eles não se vão descoser que são cá uns fofos os meus sogros, não são?

Tenho estado em casa com a Irene desde que ela nasceu e o pai, maioritariamente, também. Ele é argumentista freelancer e o trabalho dele, quando há, envolve mais saídas à hora do jantar e afins (ou, pelo menos é o que o malandro me diz, mas depois vem a cheirar a perfume rasco para casa). 

Nestes quase dois anos (estive de baixa também no final da gravidez), temos estado juntos 24h por dia. Parecemos aquelas colegas de trabalho que até já têm os períodos sincronizados. Acabamos as frases um do outro, não só por sermos soulmates (sei lá, ele pode vir cá ler é melhor prevenir!), mas porque já andamos sempre a dizer as mesmas coisas.

No outro dia ele saiu à tarde. E eu costumo sempre ir passear com a Irene à tarde, esteja ele em casa ou não. Decidi, porém, ficar em casa com a Irene. E... tão bem que me soube! 

Tão bem que me soube ter uma tarde em casa só com a minha miúda. 

O pai não estraga nada, mas parece que tivemos um momento "só de gajas", não vos sei explicar. ;)

Amo-te muito, amor, ok? 

É aos 13 anos que elas nos passam a rejeitar ou antes? É só para me ir preparando...

10.09.2015

Carta aos meus vizinhos

Caros vizinhos,

Escrevo-vos não por, de vez em quando, ser quase impossível adormecer a Isabel com a chinfrineira que para aí vai, mas porque temo pela vossa madeira flutuante. Foi coisa para custar uns 8 euros por metro quadrado e, parecendo que não, coisas como jogar bowling, fazer o lançamento do peso ou convidar o rancho folclórico de Vilarandelo para aí atuar, vai danificar, não as minhas têmporas nem as minhas costas, da cambada de nervos, mas sim o pavimento. Não foram derrubadas 8 árvores centenárias na Amazónia para isso.

Escrevo-vos não por considerar que o relógio de pêndulo, que toca TODAS as horas (e algumas meias horas), seja a maior aberração que se lembraram de inventar no século XVII, mas porque temo pela vossa liberdade. Deixem-se levar pelo enigma, não queiram ter o pretenso controlo do tempo e... tirem, se vos aprouver, o som dessa porcaria!

Escrevo-vos não por considerar que há horas para tudo e até para correr, mas para vos sugerir a corrida ao ar livre. Abre os pulmões, distraem-se mais e nem dão pelo tempo passar. Quando correm na passadeira, depois das 21 horas, coloco-me sempre debaixo da ombreira da porta, porque posso jurar que estou perante um sismo de 7,4 na escala de Richter. Depois, imagino um elefante a correr em cima das minha testa. E por fim, vou devorar uma caixa de oreo, porque não há paciência para pessoas saudáveis.

Escrevo-vos não por considerar que se calhar a Isabel vai conhecer cedo demais todo um abecedário de asneiras e vai perceber que lá porque duas pessoas vivem juntas, não significa que gostem uma da outra, mas por considerar que deveriam ocupar mais o vosso tempo a fazer amor. Reduzem o stress, libertam dopamina e outras coisas acabadas em "ina", melhoram a pressão arterial, perdem calorias e dormem melhor. Nós também. Ah! Mas também não é preciso ser à bruta!

Escrevo-vos não por considerar que por alguma razão, depois de inventarem a bola de futebol, algum  iluminado inventou também os campos de futebol, mas porque me parece que pode ser mais estimulante para as vossas crianças experimentarem, fora de casa, os desportos em equipa (e não me estou a referir aos dias em que há festas de anos aí em casa, mais concorridas que o Colombo ao domingo). Quanto ao arremesso dos candeeiros à parede e de panelas à televisão, dou-vos os meus parabéns pela criatividade. Aconselho-vos a registarem já essa ideia, não vá o comité olímpico apropriar-se dela.

Escrevo-vos não por considerar que arrastar móveis de manhã à noite seja quase obsessivo, mas por achar que talvez tenham errado nas vossas escolhas profissionais. Não tenho formação em psicologia vocacional, mas se andam a redecorar a vossa casa todos os dias, talvez pudessem tirar um curso de design de interiores e decoração. Isso ou estudem Feng Shui de uma vez por todas e decidam onde fica a porcaria da mesa de jantar! E não, não cabe na casa de banho.

Escrevo-vos não por considerar que agiram de má fé quando chamaram a polícia por eu e três amigas estarmos a jantar cá em casa há dois anos, mas por considerar que, quando se tem crianças em casa, quando se tem uma casa habitada e vivida, os telhados são de vidro. 

Por mim falo. E é por saber que vocês, de vez em quando, também ficarão a roer-se de raiva durante a madrugada com a exorcista cá de casa, que se lembra de chorar - berrar - durante meia hora seguida sem a conseguirmos acalmar, e por saber que daqui a uns anos será ela a praticar arremesso de candeeiros à parede ou a jogar bowling na sala, que estou apenas a escrever esta carta, sem nunca ter coragem de a pôr na caixa do correio.


A vossa vizinha,
Joana Paixão Brás
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