1.21.2018

Já deixaram o vosso bebé chorar?

Assim que temos um filho tornamo-nos mães. E ser mãe implica demasiadas coisas. Implica estar sempre disponível, implica muitas horas de devoção, implica também poucas horas de sono. O que ninguém nos diz é que quando nos tornamos mães a nossa confiança cai a pique. Podemos ser as pessoas mais positivas, resilientes, seguras e confiantes do mundo, mas assim que abraçamos no nosso colo aquelas criaturas pequeninas, tudo se dissolve num mar de dúvidas. E tentar que assim não seja, tentar ouvir o instinto maternal e calar o mundo à volta é onde mais falhamos. O que não faz qualquer sentido hoje em dia. Antes e como se dizia “era preciso uma aldeia para criar uma criança”, agora essas aldeias não existem. Cada um está na sua vida. As avós não vêm para casa nos primeiros tempos, não existem tios e tias para partilhar as horas de atenção necessárias, não há apoio dos vizinhos, nem tão pouco existem comunidades que se protegem. É um mundo novo, diferente, onde as dúvidas do dia a dia são escritas no computador e enviadas para o mundo, onde quem nos sossega e responde é uma cara que nunca vimos e que pode estar a quilómetros de distância. As avós ficaram para segundo plano, as tias estão ocupadas a trabalhar ou até fora do país, os vizinhos vivem a vida deles e dão-se ao trabalho de tocar à nossa campainha para se queixarem de qualquer coisa, nunca para perguntar se precisamos de ajuda. É um mundo onde cada um está por si, e por mais informação que exista, por mais livros que se leiam, falta a experiência humana, o calor humano, a companhia. Companhia. Há quanto tempo alguém não vos faz companhia? Simplesmente estar ali, para o que for preciso. Para falar, para cozinhar, para embalar, para passar as mãos pelos cabelos ou para estar. Ninguém tem tempo nem paciência para estar. Estar, respirar o mesmo ar, sentir o mesmo ambiente. Sem planos, sem distrações, com aborrecimento até. Porque se temos uns minutos livres estamos agarrados aos telemóveis, aos tablets, aos computadores, estamos em constante dispersão, desviamos a atenção do que é realmente importante. Será que alguém precisa de nós neste momento? Para se aborrecer? Para estar apenas? Sem críticas, sem opiniões, sem comentários. Sem dizer que não se pode dar colo, que não se pode dar mama, que não se pode dar biberão, que não podem estar na nossa cama, que não podem estar tão vestidos, que não se pode dar bolachas, que já devia beber água, que está demasiado calor, que as sestas deviam ser maiores. Que, que, que. E nós, mães, sozinhas, sem apoio, vamos ouvindo estes comentários, estas frases soltas, e agarramo-nos a elas como se fossem bóias de salvação. Porque são a única coisa que temos para agarrar nesta sociedade egoísta, egocêntrica e distraída. Quantas vezes já vos disseram para deixar o vosso bebé chorar? E quantas vezes se ofereceram para o adormecer? Dá que pensar não dá?


 




Joana Diogo
A Joana escreve no O que vem à rede é peixe
Sigam-na no FB e no Instagram
 

 

 Podem ler também: 

 
da mesma autora

Sigam-nos no instagram aqui 

9 comentários:

  1. Amen.
    Eu tenho tido poucas dessas vozes mas, verdade seja dita, prefiro cortar relações, pelo menos por um tempo, do que ter de ouvir e "trabalhar" esse tipo de comentários, que não ajudam nada e só desajudam. O último foi um comentário de uma amiga que, sem ter filhos nem experiência com toddlers, e tendo estado com o meu filho um total de 3 horas na vida toda dele, achou por bem "preocupar-se comigo" e dizer que ele é mimado e exigente (não é verdade) e que eu tenho de ser mais rígida com ele. E esteve nisto mais de meia hora. Se ela se preocupasse comigo, oferecia-me ajuda, ou interessava-se por mim e pelo tempo que eu tenho para os meus hobbies, pelo menos. Assim só está a pisar-me... para se sentir superior, imagino. Não vou voltar a encontrá-la. E isto já me aconteceu com outras pessoas.
    Francamente? Ser mãe hoje em dia pode ser muito solitário... porque parece que está tudo cheio de idiotas por aí. E para mim ainda vale: antes só que mal acompanhada.
    Não deixa de ser uma m****... ainda por cima desnecessária.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. As pessoas hoje em dia acham-se no direito de opinar sobre tudo, e de se meterem na vida dos outros como se tivessem a verdade absoluta. Acham-se "muito informadas", se calhar há é excesso de informação... Ajudar... isso dá muito trabalho...
      Sim, é bastante irritante :)

      Eliminar
  2. "Quantas vezes já vos disseram para deixar o vosso bebé chorar? E quantas vezes se ofereceram para o adormecer? Dá que pensar não dá?"
    A minha filha ainda mama. Eu nunca mamei, a minha irmã nunca mamou. Ela mama mas não adormece na mama. Sempre que lanço a escada à minha mãe para a adormecer responde-me que não dá porque ela ainda mama. E faz milhões de planos para quando ela já não mamar. E não percebe que nessa altura já não precisarei dela como preciso agora. Que é agora! Agora! Que eu preciso lhe abane o rabinho. Que me poupe uma das duas sestas diurnas ao menos ao sábado. Enfim. A mama, essa desculpa para não se colaborar.

    ResponderEliminar
  3. muitas e nunca deixei e ainda não me arrependi, como também me avisam que vai acontecer. Grande beijinho

    ResponderEliminar
  4. Tive de comentar, li também o seu post sobre o natal no seu blog e na altura também quis comentar porque retratou exactamente o meu sentimento e o que acabou efectivamente por acontecer e desta vez tive mesmo de arranjar um tempinho para poder escrever.
    Não podia concordar mais com este texto, é tão real é tudo tão verdade, custa muito e é incrivel como ninguem apoia uma recente mãe, só sabem opiniar e criticar como se soubessem tudo sobre todos os bebés só porque já foram mães e os bebés fossem clones uns dos outros.
    A minha filha tinha 1 mês quando numa das raras visitas da minha sogra cá a casa disse-me que a menina não podia estar ao colo se não eu não ia ter vida.. aquilo chocou-me de tal maneira, então a minha vida agora não é cuidar, mimar, proteger e amar a minha filha? Vou negar-lhe o calor do colo da mãe, ainda para mais que era tão pequena? Mas nunca cá veio dar uma mão amiga de ajuda ou perguntar sequer se precisava de alguma coisa, eu que so mãe com a familia noutro pais, e estou cá sem qualquer tipo de apoio, só com o meu marido.Infelizmente é a triste realidade que temos, houvesse mais ajuda e compreensão e haveria mais amor e mais familias felizes. Um grande beijinho para si e continua a escrever que gosto muito de ler os seus posts!

    ResponderEliminar
  5. E sim muitas vezes quem ainda ajuda e nos reconforta são as pessoas a quem procuramos um conforto através do computador.. onde lemos nos seus blogs algo que se passa connosco e nos sossega o coração, a quem pedimos uma palavra amiga e conforto.

    ResponderEliminar
  6. Completamente de acordo! Opinar é muito fácil, ajudar que é bom é que já é mais difícil! Algumas acham que sabem tudo porque já foram mães , outras acham que sabem tudo e nem fazem ideia do que é a maternidade. Realmente com o nascimento de um filho ficamos cheias de dúvidas, vemos o nosso quotidiano virado do avesso. Na verdade é como estar a conhecer uma pessoa nova, com a agravante que essa pessoa pequenina se expressa através de choro (que nos deixa em pânico) e de birras... mas há lá coisa melhor do que conhecermos essa pessoa pequenina?! ♥️♥️♥️

    ResponderEliminar
  7. Boa tarde!!!
    Ao ler certas coisas fico chocada, como se pode negar um colo, um mimo, e muitas coisas mais que estes anjos tanto precisam para crescerem saudaveis de cabeça e coraçao!!!
    Eu graças a Deus tenho uma mãe e familia que so nao ajuda se nao puderem, e sogra exemplar nesse aspecto, onde todos ajudam a vida torna-se tão bem mais facil!!!
    Tudo de bom para todos!!! Mães e pais força que eles merecem!!!!

    ResponderEliminar