10.03.2018

Qual é a vossa memória mais antiga? Estas são as minhas.

Não vos acontece, de vez em quando,  olharem para os vossos miúdos e lembrarem-se de vocês mesmas? Esqueci-me de imensas coisas até agora. Coisas da minha infância, mas que estou a recuperar não só por causa dela, mas também porque tenho vindo a falar mais com os meus pais sobre o passado (o nosso/meu) e isso tem-me ajudado muito. 

Como são divorciados desde os meus seis anos e são muito diferentes um do outro, as histórias são completamente diferentes, mas já consigo ter mais disponibilidade para retirar algo que seja comum às duas ou três ou quatro versões que me vão dando. 

Lembro-me de ainda estar no berço e de adorar trincar a madeira porque, como tinha verniz, sentia  um estalinho giro na boca. Lembro-me de sair do berço sozinha e de não cair (mas de ter caído uma vez). Lembro-me de ficar a chorar até me esquecer porque estava a chorar e de pensar "vou dormir, já não me lembro sequer". Também associo ao berço, mas já não posso pôr as mãos no fogo (que expressão mais estúpida). 

Lembro-me de aprender a desenhar tulipas e de ser o que mais gostava de desenhar. Lembro-me da minha mãe me desenhar sempre uma casa com peixes num lago e dizer que não tinha jeito. Lembro-me do meu pai me fazer bonecos com a comida, eram tão giros que me custava comê-los (mais ou menos como a Irene não consegue comer bolachas com desenhos de animais à vontade, tão querida a minha mini-vegan... ). Também me lembro de ter caído um termómetro de vidro no chão. 

Lembro-me de ver o ET vezes sem conta e a pequena sereia. Lembro-me de ouvir o Sail Away da Enya na sala e de dançar muito. Lembro-me do ano em que entrei para a primeira e que recebi um coelho enorme que andava no chão e que podia segurar com uma trela e também o meu skiper (aquelas coisas cor de rosa que púnhamos nos pés para saltar e que contavam quantas voltas, lembram-se?). 

Lembro-me que me doia muito quando me penteavam o cabelo porque tinha "muitos ninhos de ratos". Lembro-me de brincar muito com Tangrams e com umas esferas do meu pai, presas com um fio de nylon. 

Lembro-me da árvore de Natal logo à entrada na casa da Damaia, do lado esquerdo. Quando a casa ainda não tinha as luzes acesas e só se viam as da árvore era a minha parte preferida. Lembro-me de brincar com as barriguitas (e de agora me ter tornado uma). Lembro-me de estar fascinada com o abre latas da Moulinex que tínhamos na parede. E lembro-me dos leites Milo (?). 

Morei em muitas casas quando era pequena por motivos profissionais da minha mãe, pelo que tenho a sorte de ter as memórias associadas a casas e saber mais ou menos quando aconteceram. Esta foi a minha primeira casa onde fui estando intermitentemente até aos meus 6 anos quando vínhamos visitar o meu pai. 

Depois houve outras pelo meio. Lembro-me das tuatuagens das tartarugas ninja na pele. Lembro-me dos códigos que havia dentro das garrafas de refrigerantes, dentro das tampas e que se podia tirar o plástico. Lembro-me de ir ao cabeleireiro com a minha mãe e de achar que tinha sido a meu pedido que lhe tinham mudado o cabelo de moreno para loiro. Lembro-me que o café da Vila de Santo André se chamava Vitaminas. Lembro-me de brincar imenso na casa da Lurdes e de fervermos biberões e chuchas por lá. 

Lembro-me de termos tomates no jardim lá de fora e eu não gostar de tomates, mas de serem para a minha prima (sei lá se isto é assim). Lembro-me de termos recebido um gato vadio. Do meu vizinho adorar batidos e da minha mãe ter feito uns para ele. Lembro-me de esconder os maços de tabaco da minha mãe, não queria que ela fumasse. Lembro-me de ver o Herman José na televisão e de ver os Simpsons e achar que tanto o Herman como o Homer eram o meu pai (já estou a trabalhar nisto, haha, apesar de ainda me ter acontecido na adolescência com o Conan O'Brien). Lembro-me de ter ténis de velcro e de ficar tão feliz por me conseguir calçar sozinha. Lembro-me da caixa de maquilhagem que usava por baixo das escadas para o andar de cima. Lembro-me de querer usar os pensos da minha mãe para ser crescida. Lembro-me quando fui furar as orelhas. Lembro-me de brincar aos legos e aos pega monstros numa sala de brinquedos com as filhas da empregada da altura. 

Lembro-me de haver pinhões no chão da escola dessa terra. Muitas pinhas e muitos pinhões que era eu quem descascava e comia. Lembro-me de haver televisão na escola. Lembro-me de haver muitos livros e de me dizerem que - eu sangrava muito do nariz - o ideal era estar deitada com o braço levantado no ar. 

Lembro-me de conduzir ao colo do meu pai numa estrada ao longo de um monte ou uma montanha e de ter muito medo de cair. Lembro-me de adorar groselha e que havia sempre uma garrafa de groselha no frigorífico. Lembro-me de não gostar de Golden Grahams e de não ter gostado que a mãe tivesse comprado. Lembro-me de dormir com a minha mãe. Lembro-me do João Pestana e dela me fazer festinhas no nariz "porta, janelinha e campaínha". Lembro-me de ver o Clube Disney e de ouvir Beach Boys no rádio e o Oceano Pacífico. Não me lembro das manhãs. 

Terá sido isto em S. Tiago do Cacém? 

Lembro-me de uma casa com um corredor enorme e uma janela. O meu pai cantava-me músicas enquanto me levava nua para a casa de banho para me dar banho. Era sempre a mesma, afinal. Ainda a sei de cor e é uma letra inventada. Lembro-me de tocar muito no meu piano. Não o largar e de saber tocar de ouvido o hino da alegria e de toda a gente me elogiar por me dizerem que tinha um talento nato. Lembro-me de ter que "tomar" muitos supositórios por causa da febre. Lembro-me do xarope verde que era horrível, que eram vitaminas. Lembro-me da minha mãe brincar comigo a pedir que conseguisse dizer Táxi muitas vezes, mas só conseguir dizer Tá-sequi. Lembro-me da minha camisa de dormir feita pela minha avó Isabel. Lembro-me da minha avó Irene me ter lá ido visitar e de me ter ensinado a pintar com canetas de feltro. Lembro-me de ter uma janela muito grande no meu quarto e de, num dia, ter aberto a mesma e ter visto a lua a sorrir para mim e me ter sentido menos sozinha. 

Lembro-me de ver os PowerRangers e um programa de desenhos animados que incluia uma menina a por cassetes VHS num robot gigante. Lembro-me do meu pai me dizer que tinha de comer banana madura porque a parte castanha das bananas era "mel". Ainda hoje como sem problema. 

Lembro-me de haver divisões da casa onde não entrava. Afinal, a casa não era nossa, estavamos lá só de passagem. 

Terá sido isto no Cartaxo? 

Lembro-me de, em Grândola, estar no jardim de infância e de me terem ensinado a fazer esmada e de ter adorado. Lembro-me de dormirmos todos juntos numa sala e de haver demasiada luz para mim. De fazer brincadeiras com os olhos para conseguir ver as pestanhas e de às vezes, por estar deitada,, me "sairem os puns pelo pipi" e de me rir sozinha. 

Lembro-me todos brincarem "à Linda Falua" e de eu ser a única que não sabia a letra. Parti qualquer coisa neste jardim de infância e não se chatearam comigo. Havia muitos ninhos de andorinhas no tribunal. Tinha uma bola muito gira que a avó Irene me tinha dado. 

Lembro-me de ter sido aqui que reparei que me punham azeite cru por cima da sopa (como faço à Irene) e da minha mãe me dizer que era como se a sopa tivesse um "olho". Lembro-me da minha mãe fazer os hamburgueres com carne picada com umas formas brancas. A minha mãe é sempre muito bonita em todas as minhas memórias.

Lembrar-me de tanto é parte da motivação para querer construir tantas memórias na Irene. 



Lembro-me da minha avó ter um pão cheio de buracos para a torrada e de por muita manteiga. Lembro-me de haver Tulicreme. Lembro-me dela me deixar comer a sopa pela concha e eu ficava muito feliz por ser muito rápido. Lembro-me de conseguir impingir ervilhas a uma vizinha de cima mais nova do que eu por lhe dizer que sabiam a chocolate. Lembro-me de ficar muito escuro e de estar a ver televisão, os Moscãoteiros. Lembro-me de haver um rapaz chamado Nelson ou Nilson ou Ednilson que me queria beijar e mandava cartas. Lembro-me de gostar do Cláudio Cebola e dele ter sido o meu primeiro namorado e de morar no prédio em frente. Lembro-me de brincar horas e horas na rua com os meus vizinhos. Luís Espada? 

Isto já não são as primeiras memórias, mas estava-me a dar gozo. 

E as vossas? Quais são as memórias mais antigas? 






10.02.2018

Caminhos para o sucesso do Aleitamento Materno

Com este título parece que vos vou apresentar aqui uma tese, mas longe disso. Vou antes apresentar-vos uma excelente iniciativa. Ainda não tinha ouvido falar, mas vamos já no III Encontro Amadora e Sintra.

Desta vez o tema é falar-se dos Caminhos para o Sucesso do Aleitamento Materno e partilhar-se-ão (uh conjugação de verbo aqui) experiências dos vários oradores em várias fases. No meu caso, falarei sobre Amamentação Prolongada e Em Público.

Estão todas e todos convidados a surgir, a 16 de Outubro, das 8h30 às 16h no Anfiteatro do Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca, EPE.

Só têm que se inscrever até 12 de Outubro com nome, profissão, instituição, contacto e e-mail para os contactos nas imagens em baixo.

Tantas vezes desabafamos sobre quem nos rodeia não ter a informação correcta ou de termos tido tanto que nos esforçar para a termos que, com eventos como este, tudo se torna mais simples para todos.

Inscrevam-se, passem a palavra (é gratuito) e lá estarei à vossa espera a partir das 14h.




Querem vir? Dúvidas que tenham? Precisam de ajuda? Há imensas ajudas na Internet, imensos grupos de mães. Estamos cá para nos ajudarmos umas às outras, não têm que se sentir sozinhas. De todo. Falemos.




Estou tão cansada

“Quem quer festa, sua-lhe a testa”. Quase que consigo ouvir a minha mãe a dizer isto há uns anos.
Aplica-se agora. 

Quis casamento (e quero, quero muito), mas nunca pensei que desse tanto trabalho. Juntar a um trabalho com horários, as miúdas, ao blogue, ao insta, aos e-mails por responder com propostas, com questões, à casa, às refeições, a ter de ir fazer passaportes, tratar de papelada, fazer o CC que perdi, uma infecção e ida ao médico, e outra, as multas de estacionamento, a Isabelinha adoentada e cheia de tosse, o David a trabalhar até às 2h, as noites mal dormidas, e às vezes sinto que se não pirar vai ser por muito pouco. Penso que não sei parar, mas acho que não consigo ser de outra forma. Ajuda-me pensar que são problemas de primeiro mundo, relativizar e pensar que não estou sozinha. Que muitas mães desse lado se sentem malabaristas, que no fim o que importa é termos saúde e estarmos a construir uma família, é termos o coração no sítio. 

Estou cansada e estafada e às vezes angustiada ao ver a roupa por passar a chegar ao tecto e algum- sensação de descontrolo... mas vai ficar tudo bem. Ponho a música alto, fecho os olhos, respiro fundo e pela barriga e sei que vai ficar tudo bem. O mais importante existe. Família. 








10.01.2018

Já escolhi a actividade extra curricular para a Irene!

Tenho um medo tremendo de me transformar numa daquelas mães da série Toddlers and Tiaras no TLC (o melhor canal para o cérebro morrer devagarinho do mundo inteiro, mas tudo tem a sua função, ahah), mas adoraaaava que a Irene quisesse ir para a ginástica acrobática. 

Ainda é cedo para a Irene ter uma actividade extra-curricular duas vezes por semana e que puxe muito por ela. Natação acho que seria muito intenso (e dúbio por causa das otites serosas que ela tem), mais aulas de matéria e ao final do dia acho que além de não render que é demasiado, mas a ginástica parece-me ser um bom plano, sendo esta apropriada para a idade dela. 

Ainda por cima é na própria escola, o que faz com que as horas não andem muito para a frente e não se tenha de andar com carrinhas para a frente e para trás e tal. 

Adorei fazer ginástica quando era pequenina e, no outro dia, o meu pai disse-me que era bastante boa nisso (fiquei toda vaidosa, claro). Era uma ginástica de pinos, rodas, cavalos, trampolins, cambalhotas, coreografias e apresentações. Usava maillot, sempre. E o meu professor tinha um bigode farto. Agora é que me apercebi que há um director na minha empresa muito parecido com ele, ahah. 



Adorava o tentar e conseguir. Adorava reparar que tinha força e fazer parte de um grupo. Uma das minhas maiores tristezas foi ter que sair da ginástica porque deixamos de morar na Rinchoa (morar na Rinchoa, ao contrário do que se possa pensar, até tem muitas vantagens, ahah). 

Ainda hoje consigo e adoro fazer rodas e pinos. Tenho feito nas aulas de PT ou de Yoga que tenho tido e... faz-me sentir super orgulhosa.

Na aula de Yoga com a Mahima do Chama a Sofia.


A Irene vai experimentar hoje, vamos ver como corre. Vou um bocadinho mais cedo para também conhecer o professor/professora...

A única actividade que teve antes (tem 4 anos, Jasus, não é preciso ter actividade extra curricular nenhuma) foi Música e com uma professora da qual sou fã. É ma-ra-vi-lho-sa. Dá aulas ao fim-de-semana e... mudou por completo a infância da Irene. Se quiserem experimentar, digam. 

O que estão a fazer os vossos? Com que idades? 


9.30.2018

E a pressão para ter (mais) bebés, sentem?

Há vários tipos de pessoas, de mulheres, de homens, de mães e de pais. Parece repetitivo enumerar estas categorias, mas é importante. Tal como também há diferentes tipos de crianças e de bebés, diferentes tipos de casais, etc. 

Tenho visto e sentido que nem sempre (claro, duh!) um casal está em uníssono no que toca a ter mais filhos. Tenho vários exemplos perto de mim, até inclusivé os meus pais que não morriam de amores pela ideia de ter nem um filho quanto mais mais um mas que, de uma maneira ou outra, se foram encaminhando até lá. 

Muitas das vezes creio que se terá filhos (o primeiro, o segundo ou o terceiro), apenas com o intuito de agradar o parceiro ou parceira. A pressão pode ser de qualquer uma das partes, não estou a defender géneros. 

A Irene nasceu porque o Frederico queria ser pai. Eu achava que nunca saberia ser a mãe que acho que é preciso ser e tinha 26 anos. Afinal até sei, mas não queria ter filhos. Sabia que para a relação continuar que era necessário que "os" tivesse e claro que ninguém me obrigou mas foi-me dito de forma bem clara que seria um requisito.  Passado uns tempos encaminhei-me para aí. Não se pode dizer que tenha sido por um desejo louco de ser mãe, mas por me parecer fazer sentido e querer muito viver o sonho de ter uma família. 

Sei de mães que querem ter mais filhos e os têm, apesar dos pais não quererem. Sei de pais que querem ter mais filhos, independentemente do que as mães digam sobre isso e de como se sentem. As conversas podem ser mais directas, mais duras, mais subtis, através de conversas ou de "bocas" e brincadeiras, mas está lá sempre o que se passa: "eu quero ter mais filhos". 

Isto poderá activar muitos medos irracionais na outra pessoa: "Se eu não tiver mais filhos, ela deixa-me?", "Se eu não tiver mais filhos, ele vai ser infeliz para sempre?", "Sempre que virmos um bebé de alguém, vai ficar triste e esquisito?", "Vai culpar-me para sempre?", "Estou quase nos 40 e tal, o tempo está a acabar...". 

É justo que se verbalize o que se quer, mas é necessário que se pense no que poderão ser os nossos desejos, principalmente quando se fala ou pensa em ter uma criança. Ter um filho porque a ideia foi estarem dois no postal de família parece-me pouco, ter mais um filho porque a ideia que se tem é que só um se sente sozinho (decidi assim ter dois gatos) pode necessitar de mais pensamento por cima, ter mais um filho porque se está aborrecido ou porque se tem saudades de ter um bebé pela casa também. Não julgando muitas de vocês que, tal como eu, tiveram um filho porque (inserir motivo menos romântico e mais prático, como foi o meu caso). 



Não se tem um filho sozinho (pode ter-se, mas falo nas situações de casal que as partes se poderão pressionar) e o mais importante - mais do que qualquer expectativa ou ideia romântica ou projecção da sua própria infância ou mero accomplishment de guião - é se há condições para o ter. Claro que não falo só de dinheiro. Parece que, às vezes, o dinheiro estica. Às vezes o dinheiro não é o mais complicado se conseguirmos ser flexíveis e se desejarmos muito - pelos motivos mais certos para a criança - ter um filho. 

Às vezes o que é mesmo difícil é gerir depois as expectativas e os papéis de cada um na educação e afecto da criança. A mãe que é mãe "por pressão" estará tão disponível emocionalmente para o fazer quanto uma mãe com a vontade de o ter? O pai que já não queria ter mais filhos, será a sua melhor versão para o próximo? 

Tudo isto é discutível e eu sou exemplo disso. O início não foi o que gostaria. Não quis ser mãe, mas convenci-me que sim e tenho a certeza que a Irene tem o melhor de mim todos os dias. Porém, quando pressionamos alguém ou quando falamos dessas coisas... queremos ter só um filho no geral ou queremos que o nosso filho cresça com a melhor mãe e pai que possam ter? Queremos um filho ou queremos um filho com a pessoa que amamos?

Quando um parceiro nosso não está disponível para ouvir que não queremos ter filhos, será esta a relação certa para se trazer mais um bebé ao mundo? Não se pode controlar tudo, nada é perfeito, blá blá. Mas ter um bebé tem de ser mais importante que comprar um carro ou uma casa. 

Há os que nascem, há os que são planeados, há os que são pressionados. Importa saber porquê. Importa abrir espaço para os bebés e não obrigá-los a furar. Importa não pôr ninguém da relação numa situação frágil de ter que se comportar de forma exímia numa situação não desejada e "impingida". 

Há momentos em que temos de fechar os olhos e ver o que acontece e faço-o em diversas situações (embora cada vez menos), mas isto de ter filhos tem de ter muito mais do que ser vencido pelo cansaço ou porque se tem medo de se perder a outra pessoa. Nada me garante que não tenha sido a decisão que tomei que tenha contribuído também para que tivesse tido uma experiência de pós parto tão sofrida, por exemplo. Não estava perto de estar pronta. 

Não falo só das crianças, falo da mulher, do homem, do casal, da vida de tanta gente por um plano que não se muda ou que não se questiona. 

Há coisas boas e más em qualquer decisão, mas esta tem de ser mesmo muito ponderada e com carinho por todos. Inclusivé por quem não quer ou acha que não quer. 

Tudo se resolve, mas o princípio define muita coisa. 





9.27.2018

Ela foi violada. E agora dizem-lhe que não foi violação.

"Não basta não haver consentimento para haver violação" disse a representante sindical de juízes. Isto relativamente àquele caso bizarro, que me deixou completamente mal disposta, em que dois homens, um barman e um porteiro de uma discoteca violaram uma mulher inconsciente na casa de banho da discoteca. Disseram a esta mulher, e continuam a dizer, que não houve violação. A esta mulher que teve a coragem de apresentar queixa, submeter-se a exames, que ficou com a vida lixada, dizem que foi apenas uma "mediana ilicitude" porque houve "sedução mútua" (ela seduziu os dois, foi isso?...). Houve também uma chamada telefónica de um deles a confirmar que ela estava toda "(...)  toda fodida (...)" e "(...) Não. Ela estava toda desmaiada no quarto de banho (...)." Mas o tribunal, os tribunais, acharam que não houve danoss físicos [ou são diminutos] nem violência".

Palmas. Palmas para tudo isto. Em que mundo vivemos para que se considere que estes "homens", tal com diz a relação, "estão perfeitamente integrados, profissional, familiar e socialmente". Há uma desculpabilização de criminosos que não faz nenhum sentido, que me revolta. Uma pena suspensa e pronto. QUem me diz que não o tinham feito antes? Quem me diz que não foi pensado e combinado? Quem me diz que não o voltarão a fazer? Que mensagem passamos às vítimas? Não vale a pena exporem-se e queixarem-se que vão ser humilhadas e o ónus da culpa vai ser muito vosso porque "estavam a pedi-las" e merdas assim. Há muito mais que dizer sobre esta notícia. Eu fico um bocado doente com isto, a sério. Eu tenho filhas mulheres e queria que este mundo fosse um lugar melhor para elas.


- - - - - - - - -

O meu amigo Pedro Goulão, que vai lançar agora o primeiro livro (A Palmeira) -  que eu vou levar na lua de mel (não o Pedro, mas o livro) escreve muito bem e disse tudo. Passo a citá-lo:

"Sedução mútua", quando um dos sedutores está inconsciente.
"Violência reduzida", porque a vítima não está em condições de resistir.
A relação do Porto volta a envergonhar-nos enquanto comunidade. Os juízes capazes de lavrar uma sentença deste género, não só deviam ser liminarmente afastados, como co-responsabilizados pelos efeitos desta espécie de "justiça".
Isto não é só ser mau no seu trabalho. Isto é deixar que os piores dos preconceitos sobre as mulheres sejam o padrão c...om que é avaliada a violência sexual e não só sobre elas. O exercício de distorcer para encontrar atenuantes e branquear para não ver agravantes por forma a evitar uma prisão efectiva é simplesmente obsceno.
Se levar uma mulher inconsciente para uma casa de banho e violá-la é de mediana ilicitude então que caralho é uma elevada ilicitude?
É assim tão extraordinária a expectativa de uma mulher poder sair à noite sem se arriscar a que alguém a arraste para uma casa de banho inconsciente e a viole e depois se safe?
É preciso que se introduza na lei penas efectivas mandatórias para acabar com este abuso de discricionaridade?
Esta pena suspensa é um apelo à barbárie. Um dog whistle a todos os que acreditam que os outros e em esmagadora maioria as mulheres, são nada mais do que subhumanos, cuja vontade é irrelevante.
Esta pena com a assunção que não é traumático o suficiente esta mulher saber o que lhe aconteceu demonstra uma inumanidade, uma incapacidade de empatia que roça, se não ultrapassa, os limiares da psicopatia.
Se é difícil imaginar o que esta mulher passou, passa e passará, o medo de voltar a confiar, de sair, de beber um copo, a realização de que, para a justiça ela não vale nada comparado com quem lhe fez mal, não é difícil perceber que isto é grave, terrível, inumano.
Que isto tenha passado não um, mas dois degraus da justiça portuguesa, com este resultado é um vómito.
Que quem seja capaz de fazer isto a uma mulher não se arrependa de o fazer chama-se psicopatia.
Quem deixa que isto saia impune é outra coisa. Pior.
E mais grave, é um padrão. São demasiadas decisões más, que violentam novamente a vítima. Tomadas por homens e mulheres. Nos vários escalões da justiça, em patamares de recurso, criando jurisprudência.
Com a cumplicidade ou indiferença dos seus pares.
Para que raio serve o Conselho Superior da Magistratura?
É assim que são formados os nossos Juízes?
Vergonha. Vergonha. Vergonha."

                                                                -   -   -   -   -   -   -   -   -  


"Não basta ter uma toga para se ser juíz.
Não basta ter uma toga para se ser juiz em causa do presidente do sindicato dos juízes.
Não basta ter uma toga para nos portarmos como pessoas.
Não basta ter uma toga para ter empatia.
Não basta ter uma toga para virar o mundo do avesso e tornar a vítima, por ser forte e ter feito tudo aquilo que lhe era humanamente possível para obter justiça dos tribunais, menos relevante que os seus algozes....
Não basta ter toga para nos convencer que dois homens que põem uma mulher inconsciente, a levam para uma casa de banho e a VIOLAM, PODEM SER CONSIDERADOS BEM INTEGRADOS NA SOCIEDADE.
Porque senão a sociedade está um bocadinho fodida além da conta. Assim, não é bem uma sociedade, é um drama pós-apocalíptico.
Não basta ter uma toga para poder, com uma decisão esdrúxula, abrir as portas à justiça popular e não esperar críticas ou desencadear tragédias.
Não basta ter uma toga, para insultar todas as vítimas de violência e abusos sexuais e não esperar a nossa reacção.
Não basta ter uma toga, para com uma decisão destas assustar vítimas, as que já o foram e ainda hesitam em se queixar e as que hão de vir, como as estatísticas tragicamente demonstram, e pensar que nós, enquanto sociedade vamos deixar passar isso em claro.
Não basta ter uma toga para que se possa estancar princípios de decência básica e progresso. De que todos temos direito inalienáveis. um deles a liberdade de escolha. O direito a sentirmo-nos seguros, por sabermos que ser um predador, ou dois, não é premiado. Que ser uma vítima, não diminui essa vítima aos olos da lei e da sociedade.
Que a culpa é de quem comete o crime e não de quem não se podia defender.
Parem com esta merda do ela estava a pedi-las. Não estava, senão não estávamos em tribunal e todos eram felizes.
Nenhum mal entendido termina com dois tipos a violarem uma mulher numa casa de banho.
Quem está inconsciente, não pede, não seduz e não resiste. Está inconsciente.
Não basta ter uma toga para se ser juiz.
Mas consegue-se perfeitamente ser-se um merdas numa."
Pedro Goulão

Obrigada, Pedro, por expressares tão bem o que sinto.



Sigam-nos também no Instagram:




9.26.2018

Aos 4 anos deixam de fazer sesta na escola? Como assim?

A Irene começou por andar numa escola que incentivava o desfralde de todos os pequeninos (2,5 anos) ao mesmo tempo. Tirava-lhes as fraldas, levava-os à casa de banho ao mesmo tempo e ficavam lá "tempo suficiente" até ou terem feito xixi e cocó ou então para a educadora ter achado que já seria suficiente. Quando tinham cocó e não avisavam, eram repreendidos dizendo "cheiras mal e não disseste nada?" - o que não acho porreiro, mesmo que seja com um pseudo-sorriso. 

Se as crianças têm ritmos diferentes para aprender a comer, gatinhar, andar... a uniformização destes timings nas escolas é por mais algum motivo do que por logística? 

Pergunto se não será uma grande violência (educadoras incluídas por terem de cumprir normas com as quais poderão não se identificar) obrigar crianças a seguirem um determinado ritmo que não o seu e verem que determinados colegas já estão aptos e que elas nem por isso. Verem os amigos que fazem  xixi na sanita (porque até beberam mais líquidos de manhã) a receber um aplauso e elas (que ou não se sentem seguras para o fazer ou que não beberem líquidos de manhã) a não serem aplaudidas, mas com um tom menos eufórico a dizer "não faz mal, fica para a próxima"

Mesmo que fisicamente já estejam preparadas - o que também é relativo de criança para criança, o controlo "dos esfíncteres" - por que não ter em consideração todos os factores psicológicos que levarão uma criança a não querer ou não conseguir fazer o desfralde? E de fazer xixi em frente aos colegas e cocó, virados uns para os outros nas casas de banho, por exemplo, nesses momentos?

Calculo que não seja assim em todo o lado, claro.  Para se fazer xixi e cocó, tal como em nós, adultos (para algumas pessoas, só em "adultos" é que temos direito a ser pessoas), é preciso sentirmos segurança, calma e... pasmem-se... vontade! Há adultos que odeiam ou não conseguem evacuar no local de trabalho, estamos a "obrigar" as crianças a fazerem-no para quê? E quando dá mais jeito nas rotinas de "trabalho" nas escolas?

Do que temos medo? Temos medo que usem fraldas para sempre? Se não for por uma questão de logísticam qual é o motivo?  Se o problema também for os custos das fraldas, creio que há mais pais a terem vontade de levar as fraldas para as escolas do que a que os filhos sejam pressionados a deixarem de as usar para que o custo não se alargue por mais anos.



A Irene ainda precisa de fazer sesta. E, ao que parece, na maioria das escolas - espero ouvir muitos relatos do contrário aqui em baixo nos comentários - aos 4 anos já não há grande abertura (ou nenhuma) para pôr os miúdos a dormir. Há muitos que já não precisam (e é verdade, bem sei) e, por isso, os que precisam têm de ser separados do grupo e ir dormir com os mais pequeninos (e haver esta hipótese já é fantástico porque já não é muito comum). Claro que os filhos cujos que os pais dizem que têm que ir, na hipótese em cima, vão "chorar muito" porque são separados do grupo mas, acima de tudo, porque têm sono e têm que ir dormir. A birra de sono só se aplica quando estão em casa com os pais? 

Fala-se de um "período de transição" e daí as crianças, nesta fase em que a sesta já não é incentivada - antes até pelo contrário - andarem a cair de sono ao final da tarde e de chorarem por tudo e por nada e adormecerem em 3 segundos quando se deitam na cama. Será? Será um período de transição? Ou será um período de privação de sono que é tão crucial ao desenvolvimento da criança (e que até lhe chamaria um direito) até ela estar efectivamente preparada para deixar de fazer a sesta como, talvez, a maioria das crianças da sua idade? 

Obrigar as crianças todas a não fazerem sesta aos 4 anos ou não haver soluções adequadas e uma atenção e carinho redobrado às que precisem é o equivalente a determinar uma quantidade igual de comida a ser ingerida por todos à hora de almoço. Só que numa das situações morrem neurónios e não se processam aprendizagens e criam-se imagens negativas relativamente à escola e à sociabilização. 

As crianças, quando não dormem o suficiente, têm os mesmo problemas que os adultos: não funcionam, estão cansados, irritadiços, não conseguem gerir as suas emoções... Será isto importante no dia a dia de uma criança de 4 anos? Dormir o suficiente? A sua saúde? A sua felicidade? 

Sabemos que nesta idade (4 anos) há a necessidade (lá está, pegando nas generalizações que é também por onde as escolas se guiam para os prós de não fazerem sestas) de 12 a 14 horas de sono.

Para as fazer, levantando-se às 7h, a criança terá de se deitar às 19h para fazer as 12h. Para se levantar às 8h terá de se ter deitado às 20h.

E se for uma criança que precise das 14h?

Para se levantar às 7, teria que se deitar às 17h. A maior parte dos pais sai do trabalho entre as 17h e as 18h e terá ainda de contar com a deslocação até chegar à escola. Convém que as crianças jantem e até que estejam um pouco com a sua família, digo eu.

Isto de não haver sesta tem outra questão que não a logística?

Como mãe percebo que haja decisões que vamos tomando e que nem sempre são do interesse directo da criança, mas estamos a falar de uma rotina e ao longo de, pelo menos, um ano. Sendo que há crianças que continuam a precisar de sesta aos 5 anos também e outras até mais tarde.

A Irene tem muita sorte porque a escola dela tem aberto a excepção e está rodeada de pessoas que a tratam com muito carinho e atenção, mas nem quero imaginar a quantidade de crianças que andará privada de sono durante a semana noutras escolas, por não haver opção e cujos pais não conseguem passar tempo de qualidade com elas por terem que as por a dormir cedo, ou porque ainda têm que gerir as emoções de ambas as partes. E isto com o triplo da dificuldade só porque alguém algures achou que aos 4 anos a regra é não haver sesta. 

Escrevo isto para que mais pais saibam que estão certos quando sentem que os seus filhos precisam de uma sesta mesmo que já tenham 4 anos. Escrevo isto para que mais pais possam fincar pé junto das escolas dos filhos para abrirem excepções e quiçá até para criarem soluções que não tratem estes casos como excepções, mas como crianças sem regras aplicadas aos timings do seu desenvolvimento.

E se as crianças não quiserem ir dormir, mas tivermos a certeza que precisam, quem somos nós afinal? Os pais ou o quê? É ganharmos tempo a pensar numa forma criativa que faça com que a criança queira ir fazer a sesta. Hoje a Irene foi fazer a sesta porque expliquei que só assim daria para irmos jantar a casa de uma amiga, senão teria que a deitar muito mais cedo e não daria tempo. Isto é com a Irene, sei que não são todos assim.

Creio que o dever das escolas, as escolas que dizem tanto em tanto lado que se preocupam com o bem-estar geral da criança devem INCENTIVAR as sestas nas crianças que precisem, criando as condições IDEAIS para o fazerem. 

Talvez a escola ideal não exista, mas isso não quer dizer que não tentemos evoluir todos em conjunto. Como a escola onde está a Irene que ouve os pais e que vai encontrando soluções e vai melhorando o que vai sendo necessário. 




9.25.2018

O meu vestido de noiva está quase!

É das coisas que mais prazer dá preparar num casamento: o vestido de noiva. Pelo menos para mim. E construí-lo de raiz, ver a Margarida a desenhá-lo, a Milu a costurá-lo, a Catarina pedir ajustes... foi um processo muito emocionante. A escolha do tecido foi para mim decisiva. O corte também. Os pormenores, pensar no todo, no conforto também, nas várias hipóteses: pegar nas miúdas ao colo, dançar à vontade, estar ou não calor, ficar elegante mas romântica - tudo foi pensado. 
Estou em pulgas para vos mostrar, mas vá, vou ser crescidinha e esperar mais 10 dias. 10 dias?! Só? Esquizofrénico isto.

Fiquem com o ambiente da STOA (que também faz vestidos para as convidadas e tem imensos adereços, brincos, carteiras e toucados lindíssimos!) e com alguns pormenores que a Joana da The Love Project captou que podem ou não estar no meu casamento... Fica no ar, mas não se fiem bem no que vêem do meu vestido... pode não ser bem assim...].


















Um grande beijinho à Margarida da STOA que não está nas fotografias mas já está aqui no meu coração (que lamechas, vá, eu qualquer dia paro com isto ahah)
Fotografias - The Love Project 
Sigam-nos também no Instagram: