Estava no parque com a Isabel. Uma mãe, acompanhada por umas amigas, gritava para o filho, "olha que levas!". O miúdo estava a engalfinhar-se com os amigos, mas tudo me soava a brincadeira. Os três riam-se. Há idades em que eles gostam de brincar às lutas, em que o confronto, os empurrões e os braços de ferro fazem parte e até são saudáveis. Lembro-me bem dos meus primos e irmão (todos rapazes) brincarem ao Wrestling. Às vezes magoavam-se à séria, mas não era essa a intenção.
Ora, esta mãe andou, os vinte minutos que lá estive, a cuspir coisas do género: "se se aleijarem, levam por cima". "Estás aqui, estás a levar uma chapada na cabeça que até ficas em coma". "Vais o caminho todo para casa a levar pontapés nesse cu".
Ora, esta mãe andou, os vinte minutos que lá estive, a cuspir coisas do género: "se se aleijarem, levam por cima". "Estás aqui, estás a levar uma chapada na cabeça que até ficas em coma". "Vais o caminho todo para casa a levar pontapés nesse cu".
Sim, sim, isto existe. O miúdo, com uns 7 anos, já chorava. Nessa altura, estava a Isabel no balouço (já consegui deixar de ter medo e deixá-la andar no balouço dos crescidos - e que bem que se agarra!), parei, dei-lhe um abraço e disse-lhe "a mãe nunca te vai falar assim, nunca". E não estava a falar apenas da linguagem. Tinham de ouvir a forma. Bem alto, para todos ouvirem. Contente, por estar a ser autoritária e por estar a ter audiência. Quase que juro que lhe via um brilhozinho nos olhos. A voz era grave, assustadora. A certa altura levantou-se, com ele a chorar, agarrou-lhe num braço e disse-lhe: "não sou tua colega, com quem é que pensas que estás a falar?". O miúdo ficou mais 5 minutos agarrado a um balancé, a chorar. Apeteceu-me ir lá, dar-lhe um abraço. Senti uma revolta enorme.
"A mãe é que sabe", bullshit! Há mães que não sabem. Não sabem nada de nada. Não me venham com a história de que teve um dia mau, que não sei como é aquela criança fora dali, que todos temos direito a errar, não me venham com desculpas esfarrapadas. Há mães que não merecem ser mães. E eu quis trazer aquela criança para casa. Quis dar-lhe mimos, agarrar-me a ela e dizer-lhe que um dia vai ser feliz. Que vai saber o que é o carinho, o respeito. Que vai ter filhos e vai dar-lhes o que nunca teve. Que vai ser resiliente, lutador e vai ter um futuro promissor. Vai conseguir dar a volta.
Há mães que não sabem amar. Ponto final. Espero que os filhos saibam, apesar de tudo.
E tão cedo não volto àquele parque.
Há mães que não sabem amar. Ponto final. Espero que os filhos saibam, apesar de tudo.
E tão cedo não volto àquele parque.