7.20.2015

Afinal Havia Outra (#27) Cara avó com quem me cruzei hoje

Eu sei que ama profundamente a sua neta. Eu sei que ficou contente quando a sua filha lhe pediu para tomar conta dela, as creches fecham, ou não existem, ou são caras, mas mesmo que assim não fosse, tomar conta de um neto é muito bom, os meus próprios pais consideram tal coisa um privilégio que ainda não podem ter.

Também sei que nem sempre acordamos de bom humor. Tenho a certeza que aquele café que pediu era mesmo muito necessário para acordar, pôr os pensamentos em ordem e começar o dia.

A sua neta não tem mais que 15 meses, pouco mais de um ano. Acordou, tomou o pequeno-almoço e agora veio à rua com a avó. Até é criança que gosta de carrinho, acredite ou não, eu tenho quase sempre que carregar com a minha às costas porque se recusa a andar no carrinho. Está cheia de energia. No entanto, a avó teve mesmo que parar para beber aquele café. De certeza que a neta compreende, apesar de ser tão pequena. Mas passado um bocadinho começa a ficar inquieta. Pensa "Que se passa? Porque é que não estamos a andar?". A avó parou o carrinho mesmo ao pé de si, mas a menina tem o as pernas da mesa ao nível dos olhos, e a avó não está a olhar para ela.

A menina lança um som de desagrado. Não é choro, não é grito, mas não são palavras porque ainda não consegue. 

O café ainda não fez o efeito pretendido, a avó está impaciente. A menina não precisa de café, acordou bem disposta, tem 15 meses, já anda, quer correr e estatelar-se no chão e aprender a não cair. Mas a avó não está a perceber isso, e dá-lhe algo para as mãos, um pacote de açúcar, um molho de chaves.

Cara avó, lembra-se certamente de quando os seus filhos eram pequenos. Nada fica muito tempo nas mãos dos pequenos, a não ser aquele cotão sujo que teima em aparecer, a sujidade das unhas e das preguinhas das mãos. Vai tudo ao chão.

Por qualquer razão, a avó não antecipou isso. Achou que a menina ia segurar no objecto e entreter-se por tempo indeterminado, e que além do café, a avó conseguia ainda ler a TV Guia e fazer o Euromilhões. Mas não. Ela mandou tudo ao chão, e avó, que tinha a certeza que isso não ia acontecer, irrita-se.

"Estás parva, tu?"

O meu irmão era parvo quando fazia caretas para as fotografias. Eu era parva quando gastava o dinheiro do almoço em rebuçados. A sua neta não é parva, nem está a ser parva, está a tentar dizer-lhe que se quer ir embora.

"És feia. És má".

A sua neta não é feia. É uma menina bonita, loirinha e de olhos azuis, e veste um vestidinho mesmo daqueles só de passeio. Talvez a avó nem queira levá-la a brincar para não sujar o vestido. Não é má, não há qualquer ponta de maldade naquilo que ela está a fazer, há uma necessidade muito básica, ancestral até, de chamar a sua atenção, de dizer que está ali, de mostrar que precisa de ser cuidada. Não é essa afinal a função da avó?

O pão, o banho, o leite, vestir e despir, se calhar qualquer um faz, mas a avó deve cuidar. Devia cuidar.

"Se não paras, vou-te bater"

Aqui a menina já estava a chorar a sério. Lembra-se, avó?

Daqui a uns anos a avó vai ser muito velhinha e vai precisar de cuidados. Se calhar a neta até vai pagar a uma enfermeira, que lhe dê o banho, mude a roupa, trate da casa. Mas a avó não vai querer estar sempre acompanhada por uma pessoa estranha. Vai querer a neta de quem cuidou. 

Na cama onde estiver, de preferência ainda lúcida, a sua neta vai ignorar a sua tentativa de conversa enquanto bebe o seu café. São as suas últimas palavras, mas que importa isso, é só uma velha, não diz coisa com coisa. Se a avó fizer um bocadinho mais de barulho, a neta vai ficar impaciente e mandá-la calar. Se a avó não parar mesmo, a neta vai partir para o insulto. Feia e má não são maus o suficiente, dirá uns nomes piores. E se nada disto resultar, vai ameaçar bater.

Ou então nada disto vai acontecer, porque no caminho da vida a menina vai perceber que não é assim que tratamos as pessoas de quem gostamos.

O respeito é uma relação que se cria, com duas pontas. A avó tem de respeitar a neta, só assim a neta lhe terá respeito. A avó não pode ameaçar bater na neta, senão a neta vai achar que podemos bater nos mais fracos, nos mais pequenos, ou apenas naqueles que não compreendemos. Ou mesmo na própria avó.

Quer a avó, quer a neta têm o direito de ter dias maus. Mas a avó já aprendeu tanto com a vida, será que não aprendeu que não devemos descarregar as nossas frustrações nos outros? Ou vá, pelo menos naqueles de quem gostamos?

Provavelmente a avó pensa que ela própria também levou palmadas e não foi por isso que ficou mal. Bom, avó, o facto de pensar assim comprova precisamente o contrário: ficou mal e quer que os filhos, netos, bisnetos e por aí fora tenham sempre a mão mais preparada para bater do que para abraçar. Algo está seriamente errado nisso.

Respire fundo, avó. Conte até dez. Ignore os olhares das pessoas do café que devem estar a achar que a sua neta é mimada: também eles têm filhos e netos e sabem como é. Quando acabar de contar, explique à neta que são só mais 5 minutos e que depois vão fazer o que ela quer. Ela também lhe está a fazer companhia a si. Ela gosta de si. Aproveite enquanto dura.


Atenciosamente,

Uma mãe que acabou de deixar a sua bebé na creche e que dava o braço direito para ter a avó (a da sua filha e não a senhora, obviamente) a cuidar da filha
Vanessa Borges

A Vanessa, mãe de uma menina de 21 meses, escreveu-nos hoje, dizendo que seguia o nosso blogue, gostava dele e que nos achava graça. Resolveu partilhar o que lhe tinha acontecido hoje de manhã. Disse-nos, com muita piada, que até podíamos usurpar o texto, dizendo que era nosso, num dia em que estivéssemos menos inspiradas. Hoje não estou menos inspirada, mas este texto acertou em cheio na mouche. Esta manhã custou-me particularmente ir levar a Isabel à creche, apeteceu-me prolongar o fim-de-semana de amor, atenção, carinho, gargalhadas, brincadeiras. Estando mais frágil e cheia de saudades da minha filha, li este texto num trago. Custou-me cada palavra. Obrigada pela partilha, Vanessa. JPB

1º bolo da Irene

O que é que vocês dão de lanche e de pequeno-almoço aos bebés? Não sou muito a favor nem das papas com açúcar, nem das papas caseiras. Tenho-lhe dado salada de frutas, mas depois uma amiga falou-me na glicémia e não sei o quê e outra falou-me de que eles precisam de mais hidratos de carbono nesta fase. Vou continuar a dar salada de frutas, mas mais intercaladamente.



Adoro o blogue Na Cadeira da Papa, já conhecem? Apesar de não ser eu quem cozinha cá em casa (até as comidas da Irene é o Frederico quem as faz) gosto de acompanhar as experiências e sempre com aquela intenção do "um dia vou fazer isto". 

Ontem foi o dia em que fiz o "Bolo de Aniversário para a T" (aqui).

Não é o melhor bolo que alguma vez comi, porque... lá está! Não é para mim, se fosse para mim não era um bolo, eram só Oreo. Este é para a Irene  intercalar com as fatias de pão, as bolachas do Celeiro e a tal salada de frutas.


Vou fazer muitas mais receitas para os lanchinhos e pequenos-almoços da Irene. Pode ser que um dia acerte na bucha (intencional). 

Esta ela gostou, mas foi até me ver a comer pão... ;) Querem partilhar receitas de bolos apropriados para bebés ou vou continuar a ser stalker do Na Cadeira da Papa






A mãe sugere - Parque dos Poetas, em Oeiras

Este passeio já aconteceu há um século e meio, mas estava agora a ver as fotografias e lembrei-me de vos fazer esta sugestão.

Já fui lá passear com a Isabel algumas vezes, mas só desta vez levei a avó. Quando lhe disse que podíamos ir ao Barrigas de Amor, disse logo "já vi na televisão, sei muito bem, é em Oeiras. É muito bonito, as grávidas pintam as barrigas". Pronto.

Depois de uma sesta de três horas da Isabel (e nossa também, uma maravilha!), lá fomos ao Parque dos Poetas, em Oeiras, apanhar os cartuchos da festa (sim, porque já estava quase, quase no fim). Foi um lusco-fusco, mas deu para passear por lá um bocado. A Isabel ainda viu os póneis e a bisavó ainda conseguiu ver as estátuas dos poetas e ler os excertos dos poemas. Ficou encantada com o jardim, temos de lá voltar para um piquenique. Ao ver uma senhora muito, muito grávida na fila disse espantada que a senhora anda ia ter ali a criança. Sempre espirituosa a minha avó. E talvez tenha falado um bocado alto demais. Talvez...


 










Vi agora que foi no dia 5 de julho. Afinal não foi há um século e meio, mas a nossa vida com filhos avança de uma forma vertiginosa. Ia jurar que tinha sido há mais tempo!