Há uma parte que fala sobre andarmos a mentir a toda a gente, ao mundo inteiro (a meu ver especialmente nos blogues e nas redes sociais) de que conseguimos fazer tudo e que corre tudo bem. É importante, às vezes, sentirmos que nem tudo é perfeito para toda a gente. Que, às vezes, as coisas falham. Aliás, o normal é falhar muita coisa. O segredo está em relativizar e resolver.
Os meus sogros, o Frederico, eu e a Irene arrendámos uma casa em Óbidos. Uma casa com piscina, porque sabemos que é isso que a Irene quer fazer - a mãe também gosta de ter o lombinho ao sol, claro.
- Apesar de nos terem prometido 4 canais, não tínhamos nenhum outro canal que não a RTP e aos soluções.
- Não há estores, nem persianas e os cortinados são uma real... porcaria.
- Existe uma praga de moscas imbecil que, durante o dia, só nos aborrecem.
- Tem sido muuuito complicado adormecer a Irene à noite por causa da claridade.
- Ela, nos primeiros dias, acordou antes das 6 da manhã por causa do nascer do sol.
- O Frederico ressona, tenho vindo dormir com a Irene no quarto.
- Faltam-nos tupperwares e, por isso, temos de improvisar e guardar tachos dentro do frigorífico e afins.
- As sestas têm sido muito curtas - também por causa da claridade, apesar de termos pendurado 4577 cobertores e afins - e, por isso, não tenho tido tempo para arejar um bocadinho a cabeça.
- Um membro da família precisou de comprimidos da farmácia e, por isso, tivemos de ir rapidamente à vila. Não vendem antibióticos sem receitas, tivemos de ir a uma consulta rápida ao médico da vila.
- Apesar do que nos disseram, o supermercado fica mais longe.
- O pão chega à hora das pessoas normais que conseguem dormir até às 9.
- A plasticina nova da Irene seca demasiado rápido e não foi um bom investimento.
- A minha gata Bubbles está no hospital para ser tratada a um problema de pele - o que vale é que consigo vê-la pela câmera.
- O meu gato Noddy está sem nós e sem a Bubbles lá em casa e a Paula - a senhora que lá vai dar beijinhos e trocar a areia e a comida - diz que ele não está muito contente (a veterinária disse que os gatos não gostam de sair de casa e que não valia a pena por uma semana).
- O champô do Frederico abriu-se no necessaire e lavei os dentes com Linic.
- De manhã está sempre enublado e cheio de humidade, não dá para ir para a piscina.
- A piscina não tem vedação e temos de estar sempre muito atentos à Irene.
- Tirei o verniz azul das minhas unhas e não saiu bem e agora tenho uma cor esquisita e um aspecto de quem viveu toda a vida num parque de roulotes.
- A Irene não fez a sesta num dos dias e estivemos a tenter adormecê-la imenso tempo.
- Almocei pimentos e estou a arrotar que nem um gordalhufo à antiga.
Nada disto interessa (exceptuando a situação dos comprimidos que é realmente chata). Nada é perfeito e nunca tenho essa expectativa. A perfeição está na maneira como lidamos com as coisas, nã deixando que o menos bom nos arraste para lá.
Isto para não pensarem, pelas nossas fotografias, que a nossa vida é perfeita e que a vossa não.