8.18.2017

Chorei com aquela avó de prematuros.

Os netos gémeos da F. já nasceram, antes de tempo, ainda antes de completarem os 7 meses. Estão ali, agarrados à vida, a batalhar há três semanas. Cada etapa, cada conquista (e alguns percalços e muitas incertezas). Notava-se que estava muito combalida, preocupada, cansada e, após algum tempo, ficou com os olhos cheios de lágrimas, a voz a falhar. Não aguentou mais. Nem ela, nem eu. Dei-lhe um abraço e tentei passar-lhe força. Conheço muitos casos de sucesso. Muitos mesmo. Lembrei-me logo do caso do Nós e as Marias, que nasceram com meio quilo, e deste fantástico texto que publicámos aqui. E é nesses casos que temos de pensar. Apesar de não ser fácil...

Hoje apercebi-me do sofrimento de avó. Sofre pelos filhos e pelos netos, sem poder estar sempre por perto. Sofre longe, com o coração lá.

Hoje apercebi-me de que passamos muitas vezes a gravidez fartinhas e ansiosas (nunca foi o meu caso, por acaso), mas nem pensamos bem no importante que é eles ficarem cá dentro mais tempo, até ao fim e no quão imaturos nascem, mesmo ao fim de 40, 41, 42 semanas. Nem nos lembramos da luta que muitas famílias travam quando isso não acontece. A incerteza, aquelas caixas, o colo que não podem dar a quem mais precisa, os tubos, as picadas, as aspirações, o regressar e ver uma casa vazia, o cansaço e o medo. O nascimento de um bebé devia ser sempre motivo para felicidade e não de dor e de medo da perda ou de sequelas.

Hoje apercebi-me de que não basta ficar aqui a sentir-me triste por estas famílias e por estes bebés. Há coisas a fazer para minimizar todo o sofrimento destas famílias.

  • Esta avó disse-me que o filho e a nora estão nas casas da Fundação Ronald Macdonald (para quem não sabe são "casas longe de casa" para os familiares de crianças doentes, que precisam de cuidados permanentes ou ambulatório) - já tínhamos falado sobre a fundação aqui e dado a conhecer como podemos contribuir: financeiramente ou com presentes solidários como bonecas de pano, almofadas, peluches, estojos (agora para o regresso às aulas, por exemplo!).

  • Perguntei-lhe também se os netinhos já tinham os polvos, que são uns polvos feitos em croché, 100% algodão, de que os prematuros gostam muito, por ajudarem a simular o ambiente no útero, onde tinham o cordão umbilical e que os ajudam a sentirem-se mais seguros (parecem fazer aumentar os níveis de oxgénio no sangue). Já tinham e a avó tinha aliás ido comprar linha para enviar para que se pudessem fazer mais polvinhos para mais prematuros. Esta iniciativa é fantástica! Vejam aqui no grupo Polvo de Amor ou na página Migos como podem colaborar, seja com material, seja a fazerem os próprios polvos. 
(Este projecto nasceu em 2013 na Dinamarca, projecto OCTO, 
que já distribuiu mais de 26 mil polvos!!!!).


Nós e as Marias

 
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11 comentários:

  1. Tenho uma pequenina que é um dos casos de sucesso. Nascida às 25 semanas e 5 dias, lutou muito para sobreviver, mas agora é uma linda menina com 3 anos, saudável, reguila, bem disposta.
    Ninguém, a não ser quem vive esta experiência, sabe o que é lá estar, vê-los tão pequeninos, sentirmo-nos tão incapazes de ajudar, tão culpados, tão inseguros,...
    Sou franca, nunca tinha refletido sobre o sofrimento dos avós... Estava demasiado concentrada no meu próprio sofrimento. Sabia-os preocupados, a quererem ajudar, apoiar (tinha-os por perto, felizmente) mas sempre preferi o meu espaço, a minha "solidão"...

    Enquanto a minha filha estava no hospital, acompanhei uma outra mãe que estava instalada na Casa Ronald Macdonald. Foi quando fiquei mais sensibilizada para a questão do "longe de casa". São tão importantes estes apoios, nestes momentos tão difíceis para as famílias.
    Este post relembrou-me que tenho de contribuir mais.

    Este ano, na nossa visita anual à neonatologia (gostamos de lá ir visitar os profissionais), levamos 3 polvinhos. Acho a iniciativa linda! Gostava que a minha S. pudesse ter tido um a acompanhá-la na sua luta! :)

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  2. Olá, a minha bebé está na Estefânia hà quase 7 meses, desde que nasceu. Nasceu com algumas mal formações congénitas. Enquanto estive nos cuidados intensivos formamos um pequeno grupo de mães e amigos, O gang do polvo. Conseguimos fazer 52 polvos e dar à ucin. Entretanto os nossos bebés cresceram e precisam mais da nossa presença, o grupo está um pouco adormecido. Mas estando tão perto vou tentar arranjar uns polvinhos para esta familia. :)

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    1. Clarisse, muita muita força para si e para a sua bebé. 😢❤️

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    2. Muita força clarisse, bem sei o sofrimento que é. Acredite que a sua filha está muito bem entregue e que melhores dia virão. Um beijinho enorme e um abraço apertado de uma mãe UCIN para outra.

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    3. Obrigada :) Já fui uma mãe Ucin, agora sou uma mãe Ucern. Acredite que por mais que eu saiba disso, o tempo é tanto, que não é difícil pensar que podiam fazer mais para nos verem de lá para fora.

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  3. Tive um prematuro de 7 meses e o cansaço e o sofrimento sente-se quer física, quer psicologicamente. O meu filho teve 17 dias internado e foram os dias mais longos da minha vida. Esses bebés são guerreiros, mas os pais também precisam de muito, muito Apoio.

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  4. Anónimo3:34 p.m.

    Aqui mãe de prematuro com 33 semanas...felizmente sem nenhuma sequela...ninguém sabe o que é ter um prematuro acham que é só um bebé que nasceu antes do tempo...tive o apoio de familia perto da maternidade(onde fiquei com o marido durante 3 semanas) e dos avós maternos que de 3 em 3 dias faziam 120km para nos dar apoio(a mim e ao pai que esteve sempre comigo). Os avós paternos nem ve-los e semanas inteiras sem simplesmente telefonarem ao filho a saber como estava ele o neto. Saiu dos cuidados intensivos para os cuidados médios, nos cuidados médios passou da incubadora para o berço e simplesmente esses avós não existiam ...tinha um filho numa incubadora e um marido ao colo a chorar a dizer mais mais vez na vida não tinha pais....foi duro, muito duro, ainda hoje passados 4 anos quando se aproxima a data de aniversário do meu filho voltam os sentimentos todos que me apertam a garganta e o peito....Depois quando eles vão para casa nós pais somos vistos como excessivos e com excesso de cuidados e ainda temos que ouvir que eles são iguais aos outros. Não, não são iguais aos outros e só apetece dizer a quem diz isso que ´e um grande ignorante. Na gravidez ninguém nos falou sobre essa possibilidade, é como uma bomba que nos cai em cima e que temos que aguentar sozinhos, aliás sozinhos não porque toda a equipa da maternidade foi espectacular, eles conseguem ler os nosso olhos e os nossos pensamentos e estão lá para nos apoiar.

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    1. Anónimo2:15 p.m.

      A sua frase " acham que é só um bebé que nasceu antes do tempo" diz tudo. Tenho uma filha agora com 3 anos, que nasceu de 34 semanas e toda a gente achava que estava internada só para ganhar peso. Só quem por lá passa é que sabe o que é, e que o peso é o menor dos problemas. Felizmente correu sempre tudo bem e esteve internata pouco mais de uma semana :)

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  5. Ana Rita Antunes10:36 p.m.

    Clarisse Carriço, penso que há umas semanas também colocou um comentário num post deste blogue pois na altura referiu que a sua filha tinha seis meses e estava internada na Estefânia desde que nasceu. Perdi o rasto desse post e não deixei de pensar em si e na sua família mas felizmente a Clarisse tornou a aparecer por aqui o que me permite finalmente perguntar-lhe: há alguma coisa que eu, a minha família, os meus amigos possamos fazer por si e pela sua família? Uma refeição caseira? Um bolo? Roupa passada? Um gelado artesanal? Um ombro amigo? Alguém com quem gritar? Por favor diga-me, ok? Obrigado e um abraço!

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  6. Ana Rita Antunes11:41 p.m.

    Olá, sou uma mãe de gémeos nascidos às 36 semanas sendo que apenas um deles ficou uma semana n neonatologia para ganhar umas graminhas! A prematuridade dos meus filhos não chega sequer aos pés do que aqui é relatado nem dos casos que vi na neonatologia e não é por isso que aqui estou. Escrevo porque, apesar de ter passado por esta situação durante muito pouco tempo, há um aspecto que gostaria de salientar.

    Compreendo em absoluto o sofrimento dos avós, a sua impotência, mas avós: nestas situações muitas vezes menos é mais... Quanto menos perguntas se fizer, quanto menos pressão se colocar, quanto menos se insistir melhor. Os pais dos bebés internados não sabem e infelizmente não têm perspectivas de saber quando é que os filhotes vão melhorar ou ter alta. Por vezes um bebé melhora num dia e no dia a seguir há um retrocesso. Isto vale para avós mas também para os restantes familiares e amigos. Ajudem fazendo o mínimo de perguntas possível. Ajudem fazendo um telefonema em que permitem ao interlocutor que fale sobre o que quiser o tempo que quiser sem estar a responder a interrogatórios. Não apareçam no hospital sem avisar... Não pressionem, não questionem, não interroguem... Eu tive um filho internado durante uma semana e sem nada de grande cuidado e senti muito na pele o quanto as pessoas em volta pressionam e insistem e persistem nas mesmas perguntas que os pais pedem por favor para pararem de fazer. Não quero imaginar o que passa quem tem os filhos internados durante semanas ou meses. Um abraço forte a todos os pais de prematuros!

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  7. Só quem por lá passa sabe o que se sofre.... Todos dias são batalhas.... Não é nada fácil e eu como mãe de uma prematura de 35semanas juntei me a outra mãe de uma prematura é a uma enfermeira da Neo e trouxemos o "polvo de amor" para Portugal para que o polvinho possa amenizar um pouco o sofrimento, que seja o grande companheiro do bebê e o seu fiel amigo, fazendo com que ele estabilize e venha mais cedo para casa. É amor no seu estado mais puro!

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