5.07.2015

5 coisas para fazer em Évora


1. Engordar 1 quilo e meio no Pão de Rala

Um outro roteiro turístico qualquer não começaria por aqui, mas gulosa que se preze nem põe em causa esta minha sugestão. Não sei como andei alheada do mundo e só descobri isto agora. Vá, vão lá deixando a baba escorrer com estes doces conventuais.

2. Ir ao Jardim Público


Além do parque infantil muito bem equipado, é um sítio lindíssimo, com ruínas, coretos, lagos, espaços para piqueniques, pavões e é tudo muito, muito verdinho. Desconhecia a existência disto antes de ser mãe e vale muito a pena ir lá com as crias.


3. Encher o bandulho no Monte da Graciete
(e aproveitar para descansar depois no jardim)



É um restaurante fresco, espaçoso, daqueles onde há sempre espaço para carrinhos, cadeirinhas e para eles andarem a passear pelas mesas. Funciona em buffet e tem todos os petiscos alentejanos e mais alguns: até torresmos (blhec, não me convencem, ok?). As migas são uma delícia e tem uma mesa de doces digna de casamento. O atendimento é impecável. Único contra: pedi Coca-cola Zero e veio uma Pepsi Light. Nada a ver.


4. Ir à Praça do Giraldo
(se bem que, pelas fotos, podíamos estar na Conchichina, que ninguém duvidava)

É a praça principal de Évora, com lojinhas (e umas de roupa de criança maravilhosas), esplanadas e com o famoso Café Arcada. Não fica muito longe do Templo de Diana (onde podem deixar o carro) e fazem perfeitamente o percurso a pé com as crianças. Sim, a Isabel era minúscula nestas imagens!


5. Ficar em algum sítio de molho


Évora é das cidades mais quentes no verão. Ainda este fim-de-semana, com chuva em várias partes do país, estava lá um calor que pedia piscina. Por isso, aconselho-vos a arrendarem uma casinha de campo ou a verem algum destino de turismo rural.
O airbnb é, para mim, um dos melhores sites com casas para se arrendar por uns dias, onde quer que se vá, com preços para várias carteiras (e coisas muito em conta) e com aquela sensação de que se vive mesmo nos sítios.


Bons passeios!


a Mãe desbronca-se (#07) - Ficar só a cuidar da filha


Olá Isabel :) 

Fico toda contente por ter uma pergunta direccionada só para mim, senti-me especial. No bom sentido, não no outro. Estou há muito tempo em casa a tomar conta da Irene, é verdade. O "muito tempo" é por não ser habitual e não por já estar farta. Em alguns países da Europa as mães têm direito a um ano de licença de maternidade para estarem com os filhos (e, a verdade, pelo menos do que ouvi dizer, alguns são os países em que se goza menos tempo de licença de maternidade porque vão logo trabalhar).  Eu tenho fases. Sou muito caseira, gosto muito de estar em casa, sempre gostei. Nunca tive daquelas vidas todas doidas de ir para a discoteca todas as semanas e, portanto, não me sinto a fazer um desmame de nada. Compreendo perfeitamente essa necessidade que tem de se sentir útil. Sinto-a todos os dias. Escrevi um manual para as mães que ficam em casa que talvez seja engraçado ler (está aqui). Pareço uma médica a receitar coisas :)

Eu, apesar de estar "parada", estou a fazer uns biscates aqui e ali, tirei um curso online, estou a ler coisas para ver se começo um outro projecto, o que também me ajuda. Já experimentaste ver se há algum curso online que te entusiasme e que te dê alguns objectivos? Até te pode ajudar depois na carreira quando voltares e, assim, já não sentes tanto como "tempo inútil". 

Eu fico muito deprimida nas fases em que não há sintonia. Quando a Irene dorme pior durante a noite, quando custa pô-la a fazer as sestas, quando, por causa disso, come mal e anda birrenta, etc. É tudo um ciclo. Nas fases em que está tudo alinhadinho, tenho mais vontade e gosto de fazer pequenas coisas (que podem não ser grandemente úteis, mas sinto-as como tal). 

Ontem fui comprar pão de manhãzinha, levamos com o sol no focinho e sinto que determinou o correr do resto do dia, entendes? Depois fomos, à tarde, fazer uns "recadinhos" ao centro comercial (por umas calças a arranjar, ir ao correio). E, assim, todos os dias vão sendo diferentes e vamos tendo uma pequena cenoura à frente. Tem é de ser pequena, para não ficarmos frustradas. Lê aquilo que pus ali em cima, acho que pode mesmo ajudar. 



Aproveita agora também para fazer tudo aquilo que dantes não tinhas tempo para fazer. Sendo que, não te esqueças, deves dormir sempre que o bebé dormir se for daquele género de não dormir à noite. Senão a tua cabeça é a primeira coisa a ir embora e toda a família se ressente. Arruma o armário. Separa roupas para dar. Organiza os sapatos. Põe os talheres todos a lavar. Lava os armários da cozinha por dentro. Sei que estás a pensar: "não é bem a minha ideia de diversão". Acredito, mas sabem tão bem quando estão feitas. Somos animais e isso já ajuda nisso que estás a sentir. Acredita. Cá em casa instituí a quinta-feira como o dia da limpeza da casa e isso também me ajudou a diferenciar os dias (dispensei a empregada da limpeza da casa, visto que cá estou eu e poupamos dinheiro). 

Começa um livro (escrever ou ler). Compra cremes para a cara e começa a tratar mais de ti. 

Aproveita para o bebé, aproveita para ti e o primeiro passo já está dado: sabes perfeitamente o que estás a sentir e porquê. Isso é óptimo. 

Ajudei nalguma coisa? ;)




5.06.2015

Afinal Havia Outra (#23) - O meu parto durou 40 dias.

Nem gosto muito de escrever, mas gosto tanto do vosso blog que quis contar a minha/nossa história.
Tive uma primeira gravidez, mas o coraçãozinho da nossa estrelinha deixou de bater às 10 semanas e tive que ser internada para fazer um aborto com direito a raspagem, crises, asmas, muitas infecções, mas sempre com esperança que, dali a um ano, estaria naquele mesmo hospital de barriga grande para ter o meu bebé.

​Finalmente fico grávida novame​nte, mas até às 12 semanas não vivi a gravidez. Tive algumas perdas de sangue e andava sempre a ouvir o coração do bebé. Pensava eu que depois das 12 semanas é que ia andar tranquila. Errado.
Depois das 12 semanas começaram umas dores difíceis de explicar, parecia que estava com cólicas de período, daquelas em que temos vontade de nos deitarmos no chão, mas não o fazemos com vergonha... Várias idas à GO, às urgências, nada de contracções, bebé a evoluir bem, análises óptimas, só poderiam ser os músculos que estava a custar esticarem. Apesar do meu trabalho ser sedentário, às 20 semanas fico de baixa, mas como as dores não passavam, nem todo dia deitada na cama, a minha GO internou-me, por precaução, no dia antes das 23 semanas.

No dia a seguir, nova equipa médica, e vamos lá dar alta à menina, que isto não é um hotel e ela só tem umas dorzinhas, nada de especial. Mas pelo sim pelo não decidiram fazer uma ecografia antes de ir, por descarga de consciência... Ligam o aparelho e os dois médicos gelam, ficam brancos mesmo. Vi logo que algo se passava. Antes de dizerem uma palavra, ligaram o som para ouvir o coração, mas nem o som forte de um coração a bater conseguiu quebrar aquele gelo. Pouco depois, diz um para outro: "vamos dar já as injecções de maturação de pulmões". Resposta do outro médico: "és louca, o bebé só tem 300 gramas, 23 semanas, é impossível sobreviver". Não sei como mantive a calma e não desci pela cadeira...
Nesse instante viraram o monitor para mim e explicam-me que o bebé está bem, mas a bolsa está a descer pelo canal vaginal e pode rebentar a qualquer segundo e o bebé nascer, sendo que, com aquelas semanas, estou a ter um aborto. Nem consigo explicar os sentimentos que tive...
Disseram que não havia nada a fazer e que era esperar por um milagre. Se não rebentasse, seria mesmo milagre, pois a bolsa estava a sofrer pressão, como se fosse um balão cheio de ar a ser esmagado...
Perante tal cenário, fui novamente para o quarto, a acreditar que ia haver um milagre e ele ia aguentar assim até, no mínimo, às 35 semanas (muito positiva, eu). Fui para o quarto, fiquei deitada, pernas erguidas ao máximo, não me podia mexer nem para comer, não podia rir, necessidades era deitada e cocó era rezar para que não tivesse que fazer força...

Acaba a hora das visitas e o marido tem que ir embora. Estávamos sem chão. Eis que, pouco depois, sinto um balão a rebentar dentro de mim e fico toda molhada.
No dia em que fazia as 23 semanas, no dia em que fazia um ano que eu tinha estado naquele mesmo hospital para fazer um aborto retido, foi o dia em que a bolsa rompeu. Irónica, a vida. Lembrei-me do que tinha dito um ano antes: "daqui a um ano estarei aqui novamente para ter o meu bebé", mas, naquele momento, era tudo o que eu não queria...
Toquei a campainha e veio logo um batalhão de médicos e enfermeiros. Estava a ter um aborto e iríamos deixar o corpo fazer o trabalho dele. Fiquei a soro. Mas teimoso como o meu rapaz é, passou um dia, passou outro, e entre análises e medicação, cheguei às 24 semanas com a bolsa rota e o seu coração forte a bater.

Nesse dia, se nascesse, já teriam que investir nele. Deram-me as injecções para maturação de pulmões e enviaram-nos para o hospital distrital, que tinha neonatologia. Lá fomos nós na ambulância de cuidados intensivos, com toda a equipa que nos acompanhou nervosa, com medo que o bebé nascesse ali...
Chegámos ao hospital, nova ecografia. O bebé nem 400 gramas teria, e veio outra realidade, as estatísticas: o nosso tão desejado bebé só teria 0.01% de sobreviver e 99.9% de ficar vegetal. Só tinha líquido amniótico à volta da cara (que foi o que o ajudou a não sufocar).
Ficando na barriga a probabilidade era morrer sufocado, mas se nascesse, também teria morte certa, pois nem nos limiares de sobrevivência estava.
Então, como estava tudo perdido, iria ficar 100% acamada, com as pernas erguidas o mais possível e aguardar um milagre...
Lá fui para o quarto: pernas erguidas, davam-me de comer, banho à gato, punham-me a fazer xixi, análises ao sangue uma a duas vezes ao dia, soro sempre a correr, várias injeções (que nem sei para que eram), ecografias diárias, cintas várias vezes ao dia, vários comprimidos com vitaminas, 2 antibióticos para prevenir infecções e as horas foram passando. Três litros de água diária, músculos todos a atrofiar (já não tinha músculos nas pernas, parecia os braços de uma velhinha), dores de cabeça da mesma posição, sempre toda molhada mesmo com pensos enormes, pois todo o líquido amniótico que repunha, perdia. O pouco que o bebé se mexia doía horrores pois, sem líquido, não tinha o amortecedor nem espaço para ele se mover à vontade...

Milagrosamente lá fomos aguentando, até que numa das análises ao sangue, foi detectada uma bactéria. Teria que fazer uma cesariana, pois não era viável nascer de parto normal, mas nesse dia não podia ser, pois não havia incubadoras. Teriam que aguardar pelo dia seguinte para conseguirem uma. No dia seguinte, novas análises e os níveis da bactéria baixaram, por isso iríamos adiar mais um dia, por falta de incubadoras...
Na madrugada seguinte comecei com dores, mas fui aguentando e não disse nada. De manhã, vem o médico com o resultado das novas análises, com valores mais baixos, por isso iríamos aguardar mais um dia. Fez uma ecografia muito rápida e o peso estimado era igual ao do dia anterior, cerca de 800g. Eu digo-lhe que tinha a sensação que desse dia não passava, pois estava a ter umas dores que eram contrações, apesar do aparelho não marcar. Ele responde que era de estar acamada. As dores não passavam, até que deixaram de ser suportáveis. Não conseguia recuperar de uma, pois tinha outra seguida. Toco a campainha, vem a enfermeira com uma médica, e eis que estava já com a dilatação feita, mas teria que ser cesariana para o meu bebé não apanhar nenhum bicho... Foi uma verdadeira correria depois, cesariana de urgência, ninguém estava à espera, tinha que fazer força para apertar as pernas para o bebé não nascer por baixo e ligaram para a neo para preparem a incubadora...

E eis que, passadas duas horas, nasce o nosso herói M., às 27 semanas e 6 dias, muito inchado, com 1100g (quando o previsto eram 800g). O nosso milagre nasceu vivo e chorou, tipo gatinho, muito baixinho mesmo, mas a melhor das melodias. Não o toquei, não o beijei, não o cheirei. Só o vi de touquinha branca a sair num castelo de cristal...

Depois daquele dia tivemos ainda três longos meses de batalhas e vitórias, mas hoje o herói M., como gostamos de lhe chamar, tem 21 meses e é feliz, cheio de energia e com uma evolução fantástica!

Ana Ferreira