É muito estranho dizer que engravidei às 23 horas do dia 23 de
Outubro de 2012. Mas foi. E no dia 5 de Novembro senti com toda a
certeza que estava grávida. Toda eu era fogo-de-artifício, arco-íris e
haagen-dazs de felicidade.
E depois caiu-me a ficha.
Ai Virgem Santa, e agora? Não que achasse que não dava conta do recado,
mas porque queria dar conta da melhor forma possível. E antes que as
hormonas do sétimo círculo do Inferno se apoderassem, decidi fazer as
coisas como sei: em grande.
E assim começou.
Primeiro
foram os livros sobre a gravidez, daqueles com fotos de grávidas giras
com ar de quem só engoliu a criança e não em modo “os meus pés só cabem
em havaianas e mesmo assim…”.
Depois foram os livros da
moda como o do Dr. Oz, que me dizia para comer semente de linhaça
quando me apetecesse um chocolate. Foi exatamente isso que fiz. Quando
comia um snickers, imaginava um campo de linhaças ao vento.
E
segui com os livros técnicos de desenvolvimento psicológico,
psico-motor e comportamental das crianças, com nomes esdrúxulos e
impercetíveis. E com um dicionário ao lado.
E, claro, o
Brazelton e o Cordeiro, que passaram a ser meus companheiros de cama e
sofá. (Até hoje juro que o meu marido tinha ciúmes!)
Preparações
para o parto foram logo três. Assim de enfiada! Uma de ioga, para ela
ter as energias equilibradas e porque me dava a desculpa perfeita para
usar as únicas calças que me serviam. Uma aquática, não fosse a
“piquena” ser meia peixe. E ainda uma teórica, onde me sentava na fila
da frente, a apontar tudo com esmero e com sublinhados às cores. Sim,
mesmo à totó!
E mesmo sendo naba nabíssima com as
tecnologias, inscrevi-me no BabyCenter - coisa maravilhosa que ainda
hoje tanto jeito me dá -, em blogs, em grupos de facebook e tudo o mais
mamã-internético;
Ele foi tudo e mais alguma coisa. Papei tudo.
E
quando a Maria do Carmo nasceu, a 24 de Julho de 2013, estava de facto
calma e preparada. Preparada para a amamentação, para o mecónio, para as
alterações hormonais e para todas as outras três mil coisas que
acontecem com a maternidade.
Só não estava preparada para uma coisa: nunca mais ser a mesma pessoa.
Nunca mais ser o centro do meu mundo.
Nunca mais ser a pessoa que mais amo (imensamente egocêntrica, eu sei).
Nunca mais conseguir ver um telejornal sem chorar pelo menos 3 vezes.
Nunca mais conseguir ver qualquer reportagem sobre fome, maus-tratos ou negligência infantis. Não consigo simplesmente.
Nunca
mais passar por uma criança sem lhe sorrir, meter conversa, perguntar a
idade e o nome e todas as outras coisas absurdas que via os outros
fazerem. Mas (ainda) não cheguei ao bilu bilu.
Nunca mais ver filmes parvos como o “Pai da Noiva” sem carpir este mundo e o outro.
Nunca mais acordar de mau humor, porque acordo com um doce “mamã” que já me faz ganhar o dia.
Nunca mais ter a mala maior quando vamos de fim de semana.
Nunca
mais passar horas a preocupar-me com a nova coleção, com as tendências e
com os coordenados. Pelo menos não em ponto grande…
Nunca mais ter um péssimo dia que um abraço tão pequeno não cure.
Nunca mais não ser mãe.
Felizmente.
Filipa Caroto Escórcio, mãe da Maria do Carmo, de 18 meses
Mãe Patinha
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