7.05.2015

Mania de querermos que os nossos filhos sejam os primeiros.

Comecemos pelo fim. A minha filha está sempre em primeiro.

Mas só na minha vida. E na do pai. 

De resto, está no lugar em que estiver. Não quero ser daquelas mães que salta desvairada para dentro do campo de futebol para dar uma lição ao árbitro que marcou falta injustíssima ao filhinho. Não vou ser daquelas mães que, em casa, diz "podias ter feito muito melhor", quando o filho chega com um Bom. Nem daquelas que vaticinam sempre que a culpa é dos professores e que os filhos são uns incompreendidos. Não quero ser daquelas mães que dão na cabeça aos filhos porque lhes estão a pagar explicações, "não é para se darem ao luxo de terem menos de 18!". Não vou ser daquelas mães que cegam com a medalha de ouro. 

Quero que a minha filha fique no lugar em que ficar, desde que isso lhe dê prazer. Desde que se esforce. Desde que goste. Não a vou pressionar para ser a melhor, para chegar ao pódio. Pode ser a última, se for uma corrida suada. Se a fizer sorrir.



















Toda esta metáfora para dizer que a minha filha foi a última a chegar à meta no Kids Race. Não suou e quem sorriu fui eu, que ela não tem ainda noção nenhuma do que ali aconteceu. Esteve na rua, apanhou ar, esteve com as primas Alice e Laura, viu outras crianças, provou maçã desidratada, dançou. 

Não se assustem que não vou dizer que "o que importa é participar" (Ups! Já disse!) porque de clichés já está este texto cheio. Mas também ele cheio de verdades. As minhas. Desejo uma cultura de exigência (q.b.) cá em casa, não fui educada a paninhos quentes nem a palmadinhas nas costas, mas também não me identifico com uma educação assente no endeusamento dos filhos ou da exigência a todo o custo. Espero criar uma pessoa aguerrida, lutadora, mas espero que não seja uma adulta frustrada por não ficar em primeiro.

"Ui! Que ela está toda armada em Gustavo Santos e não sei quê."


Para descomprimir um bocadinho, conto-vos que a Filipa Silva, uma leitora fofinha, foi ter connosco ao Kids Race e apresentou-nos o rebento e o maridão. Fiquei tão, mas tão contente! Adoro conhecer-vos pessoalmente! Fico sempre a achar que nos devem curtir mesmo e que até somos boa onda para se virem meter connosco! Obrigada, Filipa!

A nossa primeira vez.

Bem sei que o título pode sugerir algo que mereceria uma bolinha vermelha no canto, mas não. Não estou a falar da primeira vez que o meu marido e eu tal e tal. Apesar de achar que haveria mais gente a ler, porque somos todas umas cuscas de primeira. :)

Estou a falar da primeira vez que me senti verdadeiramente grávida. Infelizmente, logo nos primeiros dias, tive uma infecção urinária (um clássico meu) e tive de ir ao hospital ver se estava tudo bem com a Irene e tal e tal (já é a segunda vez que estou a escrever tal e tal, não é?). Ela era menos que um pontinho, era um pixel. Apesar de ter ido a chorar no carro às 5h da manhã (ter uma infecção urinária é tão incómodo como as contracções de parto), acabei por sair de lá com as mesmas dores, mas com uma sensação diferente. 

Nada se compara a isto, claro. A primeira ecografia. 

Foi das coisas mais... chocantes pelas quais alguma vez passei. Saber que tinha em mim um mini-marido e mini-eu que eu irei amar o resto da minha vida. A minha maior responsabilidade. Tinha que, além de a fazer feliz, ensiná-la as ferramentas para saber ser feliz e ajudar os outros a serem felizes também. 

Claro que, nesta altura, ainda não sabíamos se era uma Irene ou um Lourenço. Spoiler: Irene. 

Chorei quando a vi, sim. Foi como um daqueles episódios do Ponto de Encontro de pai e filho que não se viam desde que as pulseiras do Sr do Bonfim estavam na moda. Desmanchei-me a chorar. O Frederico acho que ficou mais babado por me ver assim do que propriamente com a ecografia. Se calhar por ser eu quem estava (e estou ainda, provavelmente) encharcada de hormonas. Devo ainda estar tão desequilibrada que quase que choro quando vejo o anúncio do Cálcio +. Provavelmente porque a rapariga é lindíssima e eu acho que deveria ser apresentadora de televisão e não vão pegar nela. E não me refiro à velhota. Sim, Maria Helena, acho.




E quando ouvimos o coração? Aí, sim. Aí apercebemo-nos do privilégio que é podermos criar vida. Podermos ter o dom de gerar um ser humano tão pequenino e que, ainda dentro da mãe, é amado e desejado por tanta gente. 

Um amor que gera mais amor, mas em forma de bebé. 

Foi e é, de longe, a melhor coisa que fiz na minha vida. 

Deixei de ser menina e passei a ter uma. 

Vocês? Estavam preparadas para tanto amor e logo à primeira vista?