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12.28.2014

Não senti.

Não é um post com humor. Não é um post de uma lista de coisas. 
É um post que, para ler, requer coração. Amor. E, acima de tudo, compreensão. 
É normal nem tudo ser normal. 
Não amei a minha filha assim que a vi e quero que outras mulheres se sintam normais comigo e com elas. 


Depois de 9 meses contigo a crescer dentro de mim, sonhei em ter-te nua nos meus braços.

Já gostava de ti quando ainda eras só o bebé. 

Antes mesmo de ter a certeza de que já estavas em mim, já te amava. 

Quando decidimos ter-te, já estava apaixonada por ti.

Quando ouvi o teu coração bater pela primeira vez, chorei e apercebi-me que ias mudar a minha vida para sempre e para melhor. 

Quanto te vi pela primeira vez,  prometi que te ia dar tudo, tudo o que tinha e não tinha, para sempre.

Quando te senti pela primeira vez, chamei-te filhota. Foi a primeira vez que comunicaste comigo.

Comecei a construir o teu quarto. A coreografar toda uma divisão com coisinhas para que te sentisses tão bem quanto possível, apesar de fora da minha barriga. Lavei toda a roupa que os avós te tinham comprado, estendi e passei. 

Preparei o mundo cá fora para ser o melhor possível para ti. Só pensei em ti, a todas as horas nesses 9 meses. 

Chegaram as contracções. Dor. Ansiedade. Medo, mas menos do que pensava, por saber que te ia conhecer. 

Fui a sorrir para o bloco, apesar de ter dois caminhos de água salgada já seca até às bochechas.

Tinha o meu maior amor ao meu lado, na poltrona e o meu amor por conhecer, na minha barriga, pronto para sair.

Passado um dia, passadas dezenas de epidurais (ou lá o que eram), horas em "jejum", uma infecção, uma ventosa... existes!

Existes e paraste de chorar. Deixaste de respirar. Respiraste outra vez. Foste para a incubadora, por estar mais quentinho. 

Senti que queria ter mais um bebé, mas não me apercebi que estavas ali. O meu coração parou e, apesar de manter todos os meus outros sentidos, o sentimento não estava. 

Tive noção de que algo não estava bem. Não senti. Não senti o que todas as mães dizem sentir:

"Fiz mal em ter engravidado?" "Não mereço ser mãe?" "E agora?" "Por que é que não estou a chorar de felicidade?" "O que se passa comigo?" "Estou doente?" "Sou doente?" "Não sinto nada"

Senti amor, sim, mas pelo pai quando te pegou ao colo.

"Por que é que o meu corpo está a torná-la invisível?" "Não vou poder falar sobre isto com ninguém, que vergonha" "Já sou má mãe e ainda nem acabaram de me coser"

Fui para o quarto, lá em cima. O pai foi mandado embora. E, sem me poder mexer, estando ainda o meu corpo a repetir todas as dores que senti ao longo das últimas 24 horas, sabia que estavas ao meu lado.

Além de não conseguir ir ter contigo, ou mexer-te, estava escuro. Mal te via. As outras mães estavam a descansar. Por que é que eu não te queria ter perto de mim? Por que é que nem pensei nisso? Tinhamos acabado de ser separadas e por que é que eu não sentia nada? 

Sentia-me apenas sozinha por não ter ali o teu pai. Além de ter ficado sem o bebé que amava (foi como se tivesse desaparecido), não tinha ali o meu melhor amigo.

Na segunda noite, não pudeste ficar comigo. Tiveste de ir com os enfermeiros. Não me fez confusão. E odiei-me por isso. Tive vergonha de não sentir nada. Tanto que me levantei para ir perguntar por ti, mas apenas para ninguém desconfiar que não sentia nada. Fui por obrigação. Por responsabilidade e não por amor.

Afinal não é sempre verdade o que as outras mães dizem.

Estava assustada. Insegura. Choravas e eu não sabia porquê. No dia seguinte já era para vir para casa e eu não queria, porque começava a ser mãe e não sentia nada.

Viemos. 

Coxeava contigo de um lado para o outro, tinha-te ao meu colo, adormecias com a mama na boca, mas não conseguia falar contigo. Estava em piloto automático. 

Até que. Até que me apaixonei por ti...

ou...

... até que voltei a mim. 

Fui amando-te mais e mais todos os dias. Não me imaginava um único segundo sem ti. Tinha de estar sempre a olhar para ti. Não me conseguia mexer quando adormecias em cima de mim só para ter o privilégio de ouvir a tua respiração. Tinha todo o cuidado do mundo a mexer-te, não te fosses partir. Durante a noite sonhava que estavas no meu peito. 

Sou Mãe. 

E, afinal, amo-te. Amo-te tanto quanto as outras mães que dizem que sentiram tudo de uma só vez. 

Afinal não estou estragada e vou conseguir dar-te todo o amor que mereces e ainda mais. 

Tenho saudades tuas e estás a dormir ali.

Choro agora de alívio, não estou estragada.

Vais ter a Mãe que mereces. 

12.17.2014

Vontade de fazer cocó

Eu juro que quando estudava para ser repórter, ia às aulas de Semiótica, empinava Saussure ou Hannah Arendt e via filmes para a cebecinha nos cinemas Medeia, estava longe de imaginar que um dia iria escrever sobre cocó.
Mas isto da maternidade dá-nos a volta, ficamos tontinhas de todo. Tontinhas e sem grande pudor de falar sobre as coisas: passamos a mexer no cocó dos outros, a limpar macaquinhos com as mãos e a aspirar o ranho usando um tubo e puxando com a boca (e às vezes puxamos demais e acho que não é preciso dizer mais nada...). Ficamos preparadas para a guerra!

Se estão a ficar enojados com a conversa, vão espreitar o Blog da Carlota, que é asseadinho e nunca lá irão encontrar nada deste fino recorte.

O que eu quero dizer é o seguinte: uma das nossas grandes dúvidas na altura do trabalho de parto é: "como é que eu sei que está na hora do bebé sair?" ou "quando é que eu sei que tenho de fazer força?" Ora bem, quando tiverem vontade de fazer cocó. A sério, é verdade! Nesse momento, salvo se vos pedirem, não podem fazer força nenhuma: há que tentar controlar esse impulso de fazer força e para isso nada como fazer umas respirações rápidas.

Ironia da vida: depois do parto, se pudessemos não faríamos cocó durante um mês, pelo menos. Acho que não preciso de vos fazer nenhum desenho, pois não?

Ironia da vida número dois: quando eles já não ficam bem sozinhos e querem estar connosco a toda a hora, dávamos um dedinho do pé para poder fazer cocó em paz.

Pronto, já exorcizei o meu lado brejeiro. Tenho de ir, está quase a começar o meu programa preferido na RTP2.

Sexo depois do parto?

Seus pervertidos, se acham que vão encontrar aqui imagens eróticas, vão mas é ao Redtube. 

Revista Maria, afinal quanto tempo devemos esperar para ter relações sexuais depois do parto?
Ao almoço, uma amiga acertou na mouche: "vais poder fazer muito antes de te apetecer". Ahahahah! Tão verdade!

Os médicos falam de voltar ao activo entre quatro a seis semanas depois, tempo que os pontos demoram, regra geral, a cicatrizar, mas depende muito de cada caso. Se o parto tiver sido simples e sem episiotomia, pode ser antes. Mas a questão nem sempre é física. Sejamos realistas: emocionalmente a mulher pode não estar preparada, o parto foi uma coisa recente, houve uma mudança brutal na sua vida e os primeiros tempos são muito cansativos.

Como se tudo isso não bastasse, as mulheres tendem a ficar menos lubrificadas depois do parto, principalmente se amamentarem. Daí ser muitas vezes útil usar um lubrificante à base de água.
Depois, para muitos casais, o facto de terem o bebé a dormir mesmo ali ao lado torna a coisa meia estranha. Nesse caso, há que ser criativo: há outras divisões na casa.

Agora vamos ao que realmente interessa (porque, muitas vezes, tudo o resto são desculpas): a falta de líbido. É normal que não se sinta, nos primeiros tempos, vontadinha nenhuma. Também nesse caso se pode ser criativo: a penetração não é a única forma de prazer sexual e há várias maneiras de se mostrar cumplicidade. Uma boa dose de humor também resulta. Às vezes um elogio, um beijinho e fazer conchinha também não é nada mau. 

Tempos melhores virão, acreditem! Não tarda nada já estão a ter noites loucas e demoradas de sexo, com direito a prolongamento e a penalties. Ou então só têm 5 minutinhos, porque o bebé se lembra de invadir o campo, mesmo no momento de um lance perigoso. Há que estar preparado para um choro na hora H, mas esse enigma até pode apimentar a coisa.

Boa sorte!

Ah! E vocês, suas ninfomaníacas malucas, não vale a pena virem para aqui contar que convosco foi logo na maca a caminho do quarto da maternidade e que foi o melhor sexo da vossa vida. Escrevam antes uma cartinha à autora do 50 Sombras de Grey, que ela já deve andar a precisar de temas novos.

12.13.2014

O dia em que desovei a Isabel


O parto é o talvez o momento mais temido pelas mulheres. Nunca tinha pensado muito nisso, mas quando estava grávida adorava ouvir histórias de partos, desde que não me contassem que a criança teve de ser novamente empurrada para dentro e que tinham levado pontos até ao pescoço e coisas levezinhas do género. Adorava ver vídeos no Youtube de gente a desovar. Não sei bem o que desceu em mim, mas eu achava aquilo lindo, emocionava-me e não sentia medo nenhum. Queria estar ali, no lugar daquelas mulheres.

E no dia 15 de março, esse dia chegou. Lá fora estava um lindo dia de sol. Estava grávida de 39 semanas e três dias. Acordei cedo, fui lavar roupas da Isabel, estava a passar a ferro e senti algo diferente. Seria ruptura da bolsa? 

- “David, acho que me rebentaram as águas!”
- “E posso dormir só mais um bocadinho?”, ouvi da boca do pai da criança.
- “Podes, então não podes… seu preguiçoso insensível!” 

Incrível como eles absorvem só o que lhes interessa das aulas de preparação para o parto… Pelo sim pelo não, obriguei-o a levantar-se e fomos ao hospital. Parecia falso alarme. Mandaram-me caminhar e voltar lá uma hora depois. E lá fui eu, toda descontraída dar uma voltinha ao Colombo, com a pulseirinha do Hospital. 

Afinal estava mesmo a perder líquido, ia ficar internada. A Isabel vinha a caminho. Eram 13h30. Até às 02h48 do dia seguinte ficámos à espera da Isabel. Não posso dizer que tenham sido horas de sofrimento, porque adorei aquele dia. Para mim, foi um parto humanizado, mesmo sendo num hospital privado. O David estava ao meu lado, as enfermeiras eram óptimas conversadoras e muito gentis, e acho, pelo menos à distância, que o tempo passou bem rápido. Quer dizer, até ao momento daquelas contrações. Aquelas… Ai! Mas eu queria continuar na bola de pilates a acelerar a dilatação, por isso adiei a epidural ao máximo. 

Chegou a um momento em que não dava mais. Pensei “isto não é suportável!”. O David massajava-me as costas para que eu me distraísse da dor. “Chega, não consigo mais!” Pensei nas heroínas que aguentam tudo, até ao fim. Eu quis a epidural. Na televisão estava a dar o estoril-marítimo e demos algumas gargalhadas à conta disso. Epidural e todo o conforto do mundo, até passei pelas brasas. A espera, mas nunca o medo. Inspira, expira, inspira, expira. As dores a tornarem-se insuportáveis outra vez. Hora do reforço da epidural. Sede, tanta sede e tanta vontade de conhecer a Isabel. Nunca mais vinha. Aí sim, lembro-me do tempo ter abrandado. 

A nossa médica chegou, acabada de chegar da Alemanha. Por SMS disse-me “vou fazer o seu parto”. Quase chorei de emoção. Ela era obstetra com que sempre tinha sonhado para aquele momento. Calma, doce, de sorriso fácil. A deixar-me tranquila, sempre. Nunca duvidei dela, nunca. Eu dizia piadas e estava bem disposta. O ambiente era calmo, repleto de risos. As enfermeiras eram de uma alegria, entrega e dedicação que nunca esquecerei. 

Eu estava pronta. No caminho para a sala de partos, respirei fundo e pensei na sorte que tinha. Pedi para que tudo corresse bem. Foram 10 minutos, não mais. Tivemos a ajuda da ventosa, mas nada disso me assustou. Entreguei-me nas mãos da médica que 8 meses antes me tinha anunciado, numa consulta de rotina, "está grávida!". A primeira pessoa que soube que eu ia ser mãe e me viu chorar de alegria, no dia 29 de julho. Tinha a Isabel apenas 7 semanas e tanto podia ser Isabel, como Sofia, como Pedro. 

Vinha aí, agora é que era. O pai da Isabel ao meu lado e o milagre a acontecer. Eram 02h48. Senti um corpo quente e irrequieto em cima do meu corpo. Era a minha filha. Massajaram-na, chorou. Nunca esquecerei o primeiro choro. Ri-me, ri-me muito, descontroladamente. Eu que sempre fui chorona, naquele momento tive um ataque de riso. Uma adrenalina como nunca tinha sentido. Puseram-na junto a mim, no peito, estava a chorar e acalmou com o som da minha voz. Arrepiante. Emocionante. Inesquecível. Fiquei com o rosto com marcas de sangue de tanto a beijar. 

3,680kg, tudo perfeito. Prontas para ir para o quarto, fizemos o trajecto juntas, foi a mamar e ficámos a olhar uma para a outra, a conhecermo-nos. Já no quarto, o pai pegou-a ao colo. Ali sim, chorei, chorei muito. Que momento lindo! O pai, o meu amor, com a Isabel nos braços. Os meus grandes amores.




E o vosso parto, como foi? Contem-nos tudo!