9.09.2019

Sou má mãe?

Sei que esta pergunta já vos deverá ter passado, pelo menos uma vez, pela cabeça. Talvez não como "sou má mãe?" mas como "fui má mãe"?. 
Li algures que só pelo facto de questionarmos, de sentirmos que pudemos ter falhado em alguma circunstância, significa que nos preocupamos e, por isso, não somos. Se fossemos más mães, não queríamos nem saber.

Ontem questionei-me. Depois de um dia fantástico de praia e de cansaço, não estavam a jantar nada de jeito. Levantavam-se 22087 vezes da mesa, fugiam, riam, voltavam, comiam uma colher, "não quero mais" e lá seguiam. Eu dizia que não se podiam levantar, que tinham de comer, senão iriam ficar com fome, etc. Até estava calma. Acho. 

Chegou a uma altura em que fiz um ultimato. Ou comiam ou eu iria assumir que estavam cansadas e que teríamos de ir lavar os dentes e dormir e no dia seguinte logo comeriam. Fiz duas tentativas, dei-lhes mais duas oportunidades. Avisei que seria a última vez que podiam voltar à mesa. Cumpri. Fomos lavar dentes e cama. A Luísa começou logo a dizer que tinha fome. A chorar desalmadamente. A pedir desculpa. Mas eu senti que fome não estariam, de facto, a passar, que tinham lanchado bem, ainda petiscaram qualquer coisa do jantar e que aquela demonstração de desagrado - totalmente compreensível e válida - foi precisamente porque achou que eu não seria capaz de fazer aquilo. 

Fiz. Não voltaram a sair do quarto e adormeceram, depois de bastantes lágrimas, pedidos e lamentações (e a Isabel a dizer que não iria conseguir adormecer enquanto a Luísa estivesse a fazer birra, todo um filme).

Senti que esta consequência lhes mostraria algo e que teria efeito, a médio prazo. Claro que a meio me apeteceu desistir, mas não quis mesmo mostrar-lhe que eu desistiria sempre que ela chorasse. Foi o combinado, elas ouviram bem, as regras estavam claras e a consequência foi esta. 

Não foi fácil. Tudo o que mexe com emoções, culpa (e pedidos de desculpa), necessidades básicas, acaba por custar bastante. Mas educar também é isto. E crescer enquanto mãe também.

Não sou má mãe. Não somos más mães.

Somos mães que erram, que querem melhorar, que se sentem abençoadas e que, por vezes, só desejavam um minutinho de silêncio. Mães que às vezes andam à procura de uma identidade, que sentem que perderam algumas coisa, mas ganharam outras. Mães que nuns dias descomplicam e que noutros são assombradas por dúvidas. Mães cheias de coragem e de vontade de educar seres fantásticos.




Ontem foi assim. Hoje há de ser melhor.

16 comentários:

  1. Também tive um jantar parecido e aqui é só uma menina de 4 anos... têm sido umas últimas semanas de grande loucura e acabo os dias exactamente a fazer as mesmas reflexões aqui feitas.... e ainda não me decidi se sou má mãe ou não... um dia de cada vez

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  2. Cá por casa já aconteceu isso. Eles esticam a corda a pensar que não somos capazes... Até ao dia!!

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  3. Joana Ducla-Soares10:08 da tarde

    Tantas vezes dou por mim a pensar nisto.. mas prefiro deitar a cabeça na almofada com a certeza de que estou a ajudar a minha filha a tornar-se um ser humano fantástico! Bjinhos

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  4. Tenho uma menina de 4 anos que me leva ao limite. Levanta se da mesa milhentas vezes, mando sentar a resposta e sempre já vou...mas nunca vem... E tanto faz castigar como não. Faz sempre o mesmo

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  5. Eu acho que foste ótima mãe. Elas não passaram fome e aprenderam (a médio prazo) que quando dizes fazes. Eu acho super importante ensinarmos-lhes que é preciso cumprir com a nossa palavra. Sempre foste ótima mãe. Como também concordo: só é má mãe quem não se preocupa nem se esforça e o faz desde sempre e para sempre. 😊 Muita força lindona. Mereceste esse copo de vinho!

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  6. Só quem não tenha dois da mesma idade exatamente como tu Joana. É isso. Não somos más mães. Somos apenas mães a ser mães 😉😘😘

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  7. Ui quantas vezes... Até conto até 3. Se não resulta é uma sapatadinha ao de leve e castigo. Quem dá pão, dá educação e é de pequeno que temos de demonstrar que eles não fazem o que querem

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  8. Serei má mãe? A pergunta que por vezes paira nas nossas mentes. Acho que neste caso foi tudo menos má mãe, as crianças precisam de regras e limites, não lhes bateu, isso sim, faria de si má mãe, porque não lhes ia acrescentar nada. No meu ponto de vista, se as deixamos fazer tudo não estamos a educar ou a ser boas mães. Fácil claro que não é, mas alguém disse que criar um ser humano o era? Beijinhos e força nem todos os dias são fáceis mas pense nos abraços calorosos, beijinhos ternurentos e que as vezes é preciso um dia difícil para que venham mais dias fáceis

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  9. É tão bom sabermos que não estamos sozinhas.
    O meu mais velho há dias que tbm é tão desafiante e eu dou por mim a chorar a noite Pq foi um dia dos diabos.
    Claro que no outro dia é melhor, mas custa sentirmo-nos assim ❤️

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  10. Nem de propósito este post. Este sábado fomos à praia e a minha filha fez uma birra daquelas de toda a gente ficar a olhar para nós. No domingo começou a fazer birra em casa ainda, já com a lancheira e tudo pronto para sair para a praia. Mesmo com ameaças que não íamos à praia se continuasse com birra, ela continuou. Resultado: não fomos mesmo à praia. Custou, é claro, uma pessoa fica ali naquele limbo do "será que fiz mal? será que fiz bem?", mas teve de ser. Se em casa já se estava a portar mal, na praia certamente também o iria fazer. Tem de existir uma consequÊncia para os maus comportamentos deles.

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  11. Ser má mãe é não educar, não mostrar limites, não os fazer perceber que têm de respeitar o outro/as dinâmicas da casa/ os horários. É muito fácil ser mãe quando o controle total da vida de família está do lado da criança mas não acho que os estamos a ajudar. Mafalda

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  12. Joana, fizeste exactamente aquilo que deverias ter feito.
    Ensinaste-as a perceber que as suas escolhas têm consequências e que têm de lidar com elas.

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  13. Educar os nossos filhos não faz de nós más mães. Faz sim, filhos melhores. ��������

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  14. Todos os dias penso que sou mau pai, demasiado severo, sem paciência para a minha filha. Piora ainda quando não tenho o apoio da mãe. Mas tenho que ser fiel a mim mesmo, como posso ser de outra maneira? Como posso não educar quando acho que tenho que o fazer?

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    1. Pessoalmente acho que educar é uma coisa (na qual é necessário alguma severidade, rigidez, etc) mas não ter paciência é outra. Às vezes é a nossa falta de paciência que leva a certos comportamentos e nem a ajuda a ela nem o ajuda a si. :) Procure encontrar o que se passa e ajustar-se (pode precisar de dormir mais, ter menos hobbies ou até mesmo não priorizar algumas tarefas, para ter mais paciência :)).

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  15. Percebo perfeitamente o que sentes. E quando as crianças estão viradas ao contrário e na loucura umas com as outras não há nada que as acalme. Chego a pedir para deixarem a mesa e irem para a sala ou para o quarto. Eu acabo a minha refeição, arrumo a cozinha e elas ficam sem comer mesmo que depois venham pedir. Não é humanamente possível (pelo menos para mim) passar a noite na cozinha à espera de servir a refeição.

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