A Diana Lopes, terapeuta da fala (e uma querida), está de volta para nos ajudar a perceber como é que está tudo interligado ;)
"Vamos
dar uma grande volta para chegar ao veredicto da questão minhas queridas
mamãs, lá terá que ser!
São
diversas as conversas por aqui sobre amamentação/alimentação e o certo é que
para realmente perceberem que não estão sós, a alimentação é um dos aspetos que
assombra qualquer mãe, em qualquer cultura.
Ao
longo de um dia de consultas (6h -20h) são várias as crianças com quem brinco
no meu pequeno espaço em Luanda (ou Lisboa). Desde angolanos (óbvio - porque passo a grande maioria do meu tempo como expatriada em Angola),
portugueses, ucranianos, ingleses, chineses e vietnamitas. E não é que todas as
mamãs, em alguma fase do acompanhamento em terapia da fala, queixam-se que os
filhos não querem comer?
Tenho
desde os que começam por comer funge com calulu ao pequeno almoço (matabicho,
como apelidam aqui) aos que se deitam só com um pedacinho de pão no bucho.
A
verdade é que todas as crianças (tal como nós, adultos) são inconstantes na
hora da refeição. Uns dias acordamos cheios
de fome, capazes de comer um boi sozinhos, outros passamos bem com meia torrada
e um chá.
O
mesmo acontece com os bebés, uns dias acordam cheios de fome, estando despertos
para mamar, outros desinteressam-se e adormecem. E agora vocês, meus bebés,
digam de vossa justiça se não é uma maravilha adormecer na mama da mamã? Por
gostarem tanto é que nem sempre é fácil garantir que comem de três em três
horas e que mamam a quantidade suficiente. Quando acontece o bebé adormecer, as
mães falam com o bebé, despem-no, mudam-lhe a fralda, apertam-lhe a mão ou o
pé, as bochechas, … fazem tudo para que ele desperte. Depois aparecem as negras
questões, será que ficou satisfeito com aquilo que mamou? Será melhor dar-lhe
também o biberão? Tudo faz parte de uma aprendizagem a dois. Tanto a mãe como o
bebé têm de ter tempo para se conhecerem cá fora.
No
caso da amamentação esta é feita de avanços e recuos, todos os bebés mamam uns
dias melhores e outros dias pior. Como os adultos, uns dias comemos melhor
outros dias comemos pior, só difere a idade. Temos vontades e dias e dias!
Também os bebés nem sempre estão interessados, não demoram o mesmo tempo, nem
mamam a mesma quantidade de leite. Não há uma regra específica!
Cada
bebé é único, tem gostos e vontades próprias. Desde cedo que o bebé reage,
dando-nos respostas próprias, mostrando que tem um tempo próprio e começa a
definir a sua personalidade. Não há um bebé igual e por isso cada um mama da
sua forma e à sua maneira. É difícil definir a hora a que aquele bebé tem fome,
se mama muito ou pouco, se demora mais ou menos tempo naquela mamada.
Para
perceber como mama cada bebé, é preciso conhecê-lo. Para isso é preciso dar
tempo, ser corajoso e ter muita paciência, criando várias oportunidades para o
bebé se alimentar.
Mas,
um aspecto é regra, todos os bebés nascem com características próprias que os
ajudam a sugar. A sua face é pequena, as bochechas são “almofadas” (sucking pads, termo pomposo), o nariz é
arrebitado com as narinas mais largas e o queixo é para trás. Desde o primeiro
minuto de vida, quando a mãe põe o bebé encostado ao peito, ele imediatamente
procurará a mama sendo capaz de abocanhá-la e começar a sugar.
Todos
os bebés nos dão pistas ou sinais para percebermos quando estão ou não
preparados para começar a sugar, quando querem continuar ou parar. Só
precisamos de estar atentos e saber identificar bem esses sinais, respeitando o
ritmo do bebé. Seguir os sinais do bebé, ir atrás dele, é quase sucesso
garantido!
Por
vezes, algumas mães têm a difícil tarefa de tomar a decisão de amamentar ou
dar biberão. É sabido que a amamentação traz muitos benefícios (já aqui referidos em alguns
artigos pelas Joanas) para a mãe e para o bebé.
Então,
como sabemos se o bebé suga o suficiente na mama? Cada vez que mama, se
eliminar fezes e se a relação entre o comprimento e o peso estiver adequada,
sabemos que está a crescer bem. Quando o bebé está a ser amamentado pela mama
da mãe não é aconselhável dar o suplemento pelo biberão, pois ele pode fazer
confusão entre o mamilo e a tetina, e recusar a mama porque é mais fácil sugar
no biberão do que na mama. O leite pinga instantaneamente, sai mais quantidades
cada vez que o bebé suga e ele faz menos esforço para obter o alimento. No
entanto, há mais perigo de o bebé se engasgar, pois não controla o leite que
vai para a boca, tendo de ser adaptar. Na amamentação o bebé faz mais esforço,
há um trabalho muscular mais intenso e só obtém alimento quando suga com
eficácia. Também controla melhor a quantidade de leite que sai, tendo menos
possibilidade de se engasgar. Há uma melhor coordenação do sugar, do engolir e
do respirar (coordenação sucção/deglutição/respiração, mais termos pomposos). Após
experimentar o biberão, é natural que o bebé prefira o biberão e haja perda de
interesse pela mama, pois é mais fácil obter mais alimento pelo biberão do que
pela mama, dá menos trabalho.
A
sucção é uma das primeiras funções da boca e a mais exigente de todas. Sugar é
a forma que o bebé tem de se alimentar porque é mais fácil sugar do que beber
pelo copo, comer à colher ou mastigar. A dificuldade está em ter de coordenar
as várias funções ao mesmo tempo, o sugar, o engolir e o respirar
(sucção/deglutição/respiração). E isso acontece tanto na mama como no biberão.
A sucção permite o crescimento da face, do maxilar inferior, adequa o
movimento, o tónus e a força da língua, dos lábios, das bochechas e do palato
(céu da boca). Também prepara os músculos da face para quando chegar à altura do
bebé começar a comer as primeiras papas e sopas com a colher, beber líquidos
pelo copo e mastigar alimentos mais duros.
Sabemos
que na amamentação o esforço de sucção do bebé é maior, tendo de ter mais força
muscular, usando mais músculos para extrair o alimento. É uma sucção mais
completa quando comparada com a sucção no biberão. A amamentação permite ainda
ao bebé respirar bem pelo nariz e futuramente há uma probabilidade menor de a
criança usar a chucha, pôr o dedo na boca e roer as unhas. É como se mamar na
mama já satisfizesse essas necessidades.
Nas
crianças que sugam no biberão é fundamental que o furo da tetina seja pequeno,
tentando que o bebé puxe e exerça mais força nos músculos, como quando faz na
amamentação.
Os
músculos orais que o bebé usa quando suga, serão os mesmos que irá usar para
falar. A sucção tem também a função de preparar os músculos do bebé para falar.
Um bebé que mama bem, tem mais possibilidades de respirar melhor, de
desenvolver a sua fala e linguagem de forma mais harmoniosa, bem como de
aprender a ler e a escrever com maior facilidade.
Nunca
se esqueçam que cada bebé é um bebé. Quando se tem de recorrer ao biberão é
importante que a tetina tenha um corte pequeno para o bebé exercer a mesma
força muscular no biberão que exerce na mama. Já me estou a repetir, eu sei :)"
Adorei o texto, obrigada =)
ResponderEliminarÉ excelente entender os benefícios da amamentação nos vários campos. Como mãe que tem dar biberão ao seu bebê , sinto que muitas vezes é omissa a ajuda a estas mães que como eu, não têm outra opção. Há todo o tipo de ajuda para amamentação, mas para quem tem de dar biberão não existe partilha nem grupos ( penso eu..)..apenas uma panóplia de coisas boas (emocionais, cognitivas entre outras) para os bebés amamentados.
ResponderEliminarExiste alguma forma de contornar isto?
Olá Andreia, obrigada pela partilha. Sei que existem casos onde o biberão seja a única opção, nesses casos é fundamental que o furo da tetina seja pequeno, tentando que o bebé puxe e exerça mais força nos músculos, como quando faz na amamentação.
EliminarEntão caso queira amamentar e dar o biberão ao mesmo tempo nos primeiros meses, mesmo sendo com leite materno, como forma apenas de ajuda e de estender a tarefa também ao pai, não é aconselhável?
ResponderEliminarComo no comentário da Mar, "Há alternativas ao biberão que evitam o perigo da rejeição do peito: copo, colher...". Ou então um biberão em que o furo da tetina seja pequeno, tentando que o bebé puxe e exerça mais força nos músculos, como quando faz na amamentação.
EliminarHá alternativas ao biberão que evitam o perigo da rejeição do peito: copo, colher... É boa ideia explorar essa possibilidade. Boa sorte!
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