11.02.2020

Ela não gosta dos meus abraços.

Para as leitoras mais sensíveis, aquelas que ficam enervadas por eu ter a mania de escrutinar tudo e analisar tudo, fica já aqui o aviso que, para continuarem com o seu dia tranquilamente, podem dar ali um saltinho ao Facebook ou então pôr na SIC para verem qualquer coisa que entretenha e mais leve - a não ser que esteja na hora da crónica criminal (aquilo sim, stressa-me). 

A Irene não gosta dos meus abraços. E, no outro dia, ao falar disso com a minha psicóloga (podem conhecer o trabalho dela aqui), ela disse-me que "temos de trabalhar nisso". Pus-me a pensar (uau, que novidade), se o "não se querer abraços" não será algo que também possa ser um traço de personalidade. 

Por não se querer abraços, haverá algum problema? Vá, não é só comigo. Daí eu estar a por esta hipótese. Se fosse só comigo, já teria percebido que a nossa relação iria ser tão saudável como a do Afonso Henriques com a sua progenitora, mas não. 

Só se deixa ser abraçada quando vai dormir. Pede a minha mão para lhe cobrir a cintura e gosta de tocar com os pézinhos nas minhas pernas. Gosta... quer dizer, gosta agora no Inverno, porque no Verão não se inibia de dizer várias vezes que tinha de fazer a depilação. Chatice!

Mesmo quando era mais bebé, reparava que ela ficava mais nervosa ao meu colo e, que quando ia para o colo do pai, acalmava. Ainda assim, nunca foi muito disso. De todo. O colo servia só para dar mama (no meu caso) ou, no caso do pai, para algumas brincadeiras. 

Terei uma filha que não é muito dada ao toque?

Ou... será... que existem outras razões por detrás disto?


Foto: Diogo Ventura para a P3.


Além de ter voltado a fumar (6 anos depois de ter parado, quando engravidei) e ser um cheiro que lhe desagrada ("mãe, cheiras mal" - pelo menos espero que seja disso, do tabaco), ponho-me a pensar se não será também por eu viver com um grau grande de ansiedade normalmente. "Eles sentem tudo". Quando estou mais calma, noto realmente - ou tenho capacidade para notar - que ela me toca mais e que está mais receptiva.

Por outro lado, será que ela herdou e ou adquiriu essa ansiedade? Até recentemente também rejeitava o toque quando estava ansiosa. Encarava como uma invasão do meu espaço pessoal e, por estar nervosa, não sabia reciprocar (nem me apetecia) e toda a situação era muito constrangedora para mim.

Querem ver até onde mais vai a minha cabeça? No outro dia desenhou bonecos sem braços e há uns anos (quando eu também desenhei, sem pensar nisso) uma amiga disse que seria sintomático de ter tido pouco afecto. Pelo menos físico. 

A questão é: temos todos de gostar? Será sempre sintomático? Não pode ser só mais timidez? 

A minha cabeça responde com: "epá, 'tá bem... mas da mãe?".

Como são os vossos com os mimos? Vou tentar ficar contente por vocês caso tenham miúdos que não vos larguem a pedir festinhas. 




11.01.2020

E actividades extra-curriculares em tempo de pandemia?

Há de certeza unicórnios por aí. E não só naquela loja que me faz querer drunfar a Irene sempre que passamos por ela (na verdade há umas vinte, mas posso estar a calar da Claire's ou da Note neste momento). Há de certeza famílias que escolheram actividades extra-curriculares fantásticas e que os miúdos adoram e que nem dormem de entusiasmo sabendo que no dia a seguir há Karaté ou Olaria. Não é o caso da Irene. 

Quando era pequenina, teve aulas de música e expressão corporal. Depois, quando o pai dela e eu nos divorciámos, não quis impôr que aos sábados também ele tivesse de fazer alguns kms para ter aquelas aulas pelo que ficaram em banho maria ou águas de bacalhau ou lá como for a expressão. Depois experimentámos aulas de bateria que, no início, tinha um interesse imenso e, depois, com o tempo lá foi ficando cansada das repetições. 


A Isabelinha e a Irene numa dessas aulas de música <3


Pelo meio houve duas ou três tentativas de aulas de natação mas, para dizer a verdade, não tivemos muita sorte com os professores e professoras (não eram muito pacientes com crianças e é isso que procuro em professores já que não ambiciono que a miúda comece a competir).

Cansei. Teve também aulas de ginástica que... tinham um espectáculo que queriam apresentar aos pais no final do ano e, então, privilegiaram os ensaios para o mesmo em vez de empolgarem os miúdos com actividades divertidas... Ah! E a última que estava a correr muitíssimo bem, também música e expressão corporal, foi pelo cano abaixo agora com a Covid. 

Agora que me apaixonei por uma nova modalidade (não revirem os olhos que já deve ter havido muita gente a falar-vos disto), quis ver se a Irene também se interessaria por ela. E...guess what? Está a correr muito bem!


Aconteceu mesmo irmos com as meias iguais e... sem combinarmos!! Juro! Ainda não moramos juntos porque "não há metro ao pé da minha casa e não sei quê" (desculpas).


O Fernando Alvim organiza de vez em quando umas coisas fora de série como, por exemplo, o Padel para Nabos. O Miguel (o rapaz por quem estou apaixonada - é o mesmo de há uns meses, tem-se portado bem) e eu aceitámos o convite e, desde aí, estamos viciados. 

Começámos a ter aulas com um casal amigo nosso e acertámos à primeira no professor: Francisco Dias (vale a pena abrirem o instagram, não somente por ser um bom professor... não me posso esticar muito mais que isto). 


O rapaz aqui estava a levar com sol na cara, mas prometo que não lhe falta o olho direito. Até porque não teria sido tão bom jogador de ténis antes, digo. Quer dizer, o ser humano surpreende...


Além de ter uma paciência enorme para nós (adultos) que temos treinado semanalmente com ele no W Padel Country Club (fica no meio de Monsanto, nem vos consigo explicar o quanto não quero voltar para dentro de pavilhões e ginásios para fazer desporto e não só por causa da pandemia), ele é também o coordenador do ensino de Padel para os miúdos (deve haver uma maneira mais literada de dizer isto, mas não sou da área, borrifei!). 

Também há campos cobertos, não se ponham com coisas das constipações e tal e pandemias ali não há que o ar está mais ventilado que a minha cabeça quando surgiu a puberdade. E... se não forem daqueles pais que ficam em cima dos miúdos a observar a aula toda (eu), têm ali um bar... maravilhoso para arejar as ideias.


Espetei a Irene nas aulas da idade dela, comprei-lhe uma raquete ali naquela loja que tem "Tudo para o Desporto" (wink, wink) e nem imaginam a diferença que tem feito a vários níveis na nossa vida. Primeiro, obriga-nos a quebrar a rotina do final de tarde e fazer algo que a diverte, que a entretém e que ainda socializa com outros miúdos fora da escola. Depois porque através de várias brincadeiras (o Francisco é hiper criativo) os miúdos estão muito longe de treinar apenas Padel. Treinam motricidade, sim, mas treinam muitas outras skills sociais também. Saber lidar com o serem capazes ou não serem capazes, descobrirem a sua não/muita competitividade e também - no caso da Irene, muiiiito útil - respeitarem mais uma autoridade fora da família que lhes dá orientações. 

Sai exausta, sai calminha, sai pronta para jantar (deixo o jantar pronto antes de sair de casa), por isso é banho, comida e dormir. 

Quero tanto que ela aprenda a jogar... um dia será minha dupla no Padel - o Miguel terá de lidar com os ciúmes. 

Já experimentam Padel? Que actividades fazem os vossos miúdos agora durante a pandemia? 


10.26.2020

Fui ver a minha avó e chorei.

Fui ver a minha avó e chorei. Quando me apanhei sozinha, chorei. Fiquei fungosa atrás da máscara, olhos brilhantes e voz mais trémula.



Foi um misto enorme de emoções. Tinha saudades de estar com ela, de falar com ela, de a ouvir falar sobre tudo e sobre todos. O primo que morreu, Jacques Tati e a forma como os seus filmes são ainda hoje atuais, as filas para as senhas de racionamento e a forma como acalmou a mãe, que chorava sem saber o que dar de comida aos filhos: "mãe, está a chorar porquê? Ainda há capilé! Fazemos um refresco!". E a sua voz cansada, atrás da máscara. Cansada da máscara e cansada disto tudo. Sinceramente, e não que tenhamos de fazer um pódio, mas acho que quem está a sofrer mais com isto tudo, são os velhos. A minha avó, a par da Luísa e da Isabel, tem um bisneto que nasceu em plena pandemia e praticamente só o vê ao longe. Estamos a falar de alguém de 84 anos que está sempre a frisar que não sabe quanto mais tempo os vai poder ver crescer. Se isto não parte o coração a alguém, então não sei.

Continua a partir o meu. Mas lá fomos, lá mantivemos o distanciamento, mas não nos faltaram as palavras. E as histórias. E as memórias. A nespereira pequenina, o meu avô Jorge com os meus primos bebés no colo. E agora as miúdas a subirem a essa mesma nespereira, de onde apanhei tantas nêsperas. E onde rasguei o meu vestido num batizado ou casamento de um qualquer primo mais velho. E andaram de bicicleta naquelas estradas, as mesmas que eu tinha andado a descobrir, quase trinta anos antes. 



Foi lindo. Mas triste, ao mesmo tempo. Cheio de nostalgia. De saudades dos que já foram, mas também dos que cá estão.

Que se criem ali muitas mais memórias. E que no verão possam tomar banho num balde ali na garagem, sem máscaras, sem barreiras, e com muitos abraços à bisavó à mistura.