Sei que esta pergunta já vos deverá ter passado, pelo menos uma vez, pela cabeça. Talvez não como "sou má mãe?" mas como "fui má mãe"?.
Li algures que só pelo facto de questionarmos, de sentirmos que pudemos ter falhado em alguma circunstância, significa que nos preocupamos e, por isso, não somos. Se fossemos más mães, não queríamos nem saber.
Ontem questionei-me. Depois de um dia fantástico de praia e de cansaço, não estavam a jantar nada de jeito. Levantavam-se 22087 vezes da mesa, fugiam, riam, voltavam, comiam uma colher, "não quero mais" e lá seguiam. Eu dizia que não se podiam levantar, que tinham de comer, senão iriam ficar com fome, etc. Até estava calma. Acho.
Chegou a uma altura em que fiz um ultimato. Ou comiam ou eu iria assumir que estavam cansadas e que teríamos de ir lavar os dentes e dormir e no dia seguinte logo comeriam. Fiz duas tentativas, dei-lhes mais duas oportunidades. Avisei que seria a última vez que podiam voltar à mesa. Cumpri. Fomos lavar dentes e cama. A Luísa começou logo a dizer que tinha fome. A chorar desalmadamente. A pedir desculpa. Mas eu senti que fome não estariam, de facto, a passar, que tinham lanchado bem, ainda petiscaram qualquer coisa do jantar e que aquela demonstração de desagrado - totalmente compreensível e válida - foi precisamente porque achou que eu não seria capaz de fazer aquilo.
Fiz. Não voltaram a sair do quarto e adormeceram, depois de bastantes lágrimas, pedidos e lamentações (e a Isabel a dizer que não iria conseguir adormecer enquanto a Luísa estivesse a fazer birra, todo um filme).
Senti que esta consequência lhes mostraria algo e que teria efeito, a médio prazo. Claro que a meio me apeteceu desistir, mas não quis mesmo mostrar-lhe que eu desistiria sempre que ela chorasse. Foi o combinado, elas ouviram bem, as regras estavam claras e a consequência foi esta.
Não foi fácil. Tudo o que mexe com emoções, culpa (e pedidos de desculpa), necessidades básicas, acaba por custar bastante. Mas educar também é isto. E crescer enquanto mãe também.
Não sou má mãe. Não somos más mães.
Somos mães que erram, que querem melhorar, que se sentem abençoadas e que, por vezes, só desejavam um minutinho de silêncio. Mães que às vezes andam à procura de uma identidade, que sentem que perderam algumas coisa, mas ganharam outras. Mães que nuns dias descomplicam e que noutros são assombradas por dúvidas. Mães cheias de coragem e de vontade de educar seres fantásticos.
Ontem foi assim. Hoje há de ser melhor.