9.24.2016

Larguem as mães!

No outro dia, estava com a Luísa num centro comercial, uma senhora de uns 60 anos veio ter comigo e disse-me: "não me leve a mal...." (pronto, ela aí vem) "mas não devia estar a pegá-la ao colo assim. Ela é muito pequenina, faz-lhe muito mal às costas." Sorri e agradeci. Acredito veementemente que a intenção era excelente, mas é chato. É chato ter sempre alguém que nos chama a atenção para o que - hipoteticamente - estamos a fazer mal, é chato termos de estar sempre a pôr em causa o que fazemos e como fazemos, é chato ter o mundo sempre a validar o nosso papel de mãe. Acho que o facto de sermos mães (jovens?) parece dar aos outros legitimidade para opinarem. Parece que quando há bebés e crianças ao barulho, as pessoas se esquecem do que é socialmente aceitável. Duvido que se eu estivesse somente sozinha a comer um bife com batatas e arroz, alguém me fosse dizer "não me leve a mal, mas sabe que é redundante estar a comer na mesma refeição arroz e batatas, ambos hidratos". Ou caso estivesse de saltos altos finos "não me leve a mal, mas seria menos mau usar cunha e compensado, porque assim reduz muito a estabilidade do contacto do pé com o solo e altera a posição do joelho, da anca e da coluna lombar, o que a médio prazo lhe vai fazer muito mal à sua saúde." Quando temos uma criança na barriga, nos braços, no carrinho ou no canguru, ficam com um sentimento de pertença qualquer (já alguém dizia "as crianças são do mundo"...) e acham que podem e devem aconselhar, questionar, sugerir, comentar TUDO o que lhes diz respeito.

- é menino? /é menina?/ mas tem cara de menino, não tem?/ ah é tão bonito, parece mesmo uma menina!/ agora tem de ir ao menino. /um casalinho, que bom, fica já despachada! /assim TEM de ir ao terceiro... /ainda vai à menina.

- mama?/ não mama?/ porque já não mama, se não é indiscrição (é, é indiscrição!)?/ tão gordinho!/ tão magrinha!/ tão pequenina!

- anda no carrinho?/ e gosta?/ anda sempre ao colo? habitua-se mal/ cuidado com as perninhas/ coitadinho fica todo amassado / ele assim fica moído / ele assim no carrinho não vê a rua, vire-o para a frente / ele consegue ir no carro contra a marcha?

- que menino tão feio, a fazer birra/ tão bem comportadinho, espere pelos 4 anos, são os piores/ ele tem de ouvir "não" / olhe que assim fique mimado

- oh tadinho, essas modernices das comidas saudáveis / eles têm de provar de tudo / eles não podem comer isso com essa idade / olhe que se vai engasgar, o meu sobrinho...

- está a transpirar muito, tadinha, veja se se constipa / está muito frio aqui, cuidado que ele está a apanhar vento na cabecinha / eles têm de ter uma camada de roupa a mais que nós / eles têm exactamente o mesmo calor e frio que nós temos

enfim, tudo o que envolva o sono, transporte, hábitos, brinquedos, saúde, sapatos, televisão e novas tecnologias, horários, sol, passeio, comida, etc, etc, etc. 

Larguem as mães!


*Imagem we heart it

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Vocês deviam era ter vergonha!

Como é que vocês não pensaram nisto antes? Eu teria era vergonha. Que tristeza! Se isto são leitoras que se prezem. "Ai, sigo o vosso blog todos os dias". Pois seguem, mas ofereceram-me um bolo? Não. 

No meu dia de aniversário, o bolo que a minha mãe me fez com muito amor e carinho foi este:

É um bolo de laranja.

Ontem, quando fui buscar a Irene à escola, no cabide dela estava um saco com um brigadeiro maravilhoso que até me fez ficar zangada por ser só um quando depois o comi.

Uma leitora assídua do blog, tendo lido o post do meu aniversário (está ali em cima no link da palavra "este" - para estar a ter este trabalho de escrever onde está, mais valia ter feito um novo, mas enfim), ficou com pena de eu não ter tido um bolo e aqui estava ele:


Não devia ter contado ao Frederico desta história que assim tive de partilhar. Isto de ter família é chato nestas alturas (e noutras haha). 

Agora tenho de retribuir a esta maravilhosa leitora, que foi promovida a amiga (visto que sabe fazer bolos assim). Segunda deixo um smart no cabide de um dos três filhos? Era o que me apetecia!


Obrigada, Ana! Serão sempre bem-vindos. Como só sei escrever (e, mesmo assim, às vezes escrevo cresce em vez de creche), depois deixo-te um textinho sobre qualquer coisa dentro do saco. 

Fizeste a minha sexta-feira. OBRIGADA.

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9.23.2016

Estive quase a puxar a mão atrás.

Há dias que nos levam ao limite. Há dias em que parece que está tudo organizado para nos lixar a cabeça, para nos deitar abaixo e que nos fazem questionar tudo e mais alguma coisa.

A Irene vem muito sensível e cansada da creche. Estava habituada a fazer três horas de sono à tarde, sem ninguém a perturbar, agora acorda com os outros miúdos (dormem todos na mesma sala, claro), além de passar o dia muito mais ocupada e, por isso, gastar mais energia. 

Agora, por também conviver com outros meninos da idade dela, também aprendeu a ser chafurdona com a comida. Ainda ontem decidiu cuspir a quinoa toda (fui eu a cozinhá-la, pensei que poderia ter toda a razão) e gritar que queria comer a minha massa. Disse que sim, mas que primeiro tinha de comer uma de sopa dela, uma de comida dela e depois uma de massa minha. Dizia que sim, aceitava a quinoa e depois cuspia. Eu dizia que, sendo assim, não havia massa porque além de ser uma porcaria que faz com que ela tenha de limpar o chão, faz com que a mãe fique triste por ela não ter aceitado e, portanto, fique sem vontade de lhe dar a massa.

Ela continuava a agir bem para comer a massa, mas depois cuspia na mesma. Reparei que, à semelhança de outras alturas em que a Irene fica com muito sono, não estava a fazer qualquer sentido. Isto enquanto, à moda antiga, estava louca para lhe mandar três ou quatro berros, ameaçar-lhe com tareia umas duas vezes e ainda pendurar-me nisso para não lhe contar uma história de boa noite. Não. Vi-a como uma criança morta de sono e que queria muito comer a massa e que não estava a gostar de comer a quinoa. Perguntei-lhe: 

- Queres um abraço, Necas? 
- Sim. 


Dei-lhe um abraço. Numa altura em que ela pensaria que eu estaria super desapontada e zangada com ela. Compreendi que também eu, por vezes, tenho sono e não faço sentido. Não adiantaria ninguém ficar zangado comigo ou tentar ensinar-me alguma coisa naquela altura. Olhei para ela como uma mini mulher, meia descompensada por cansaço que também faz com que fique mais sensível. Dei-lhe um abraço de mãe e sentei-a no meu colo.

Comeu a sopa toda e a quinoa, esqueceu-se da massa até que, no final, lhe dei. Deu-me uns quantos beijinhos voluntariamente no braço enquanto jantava. 

E foi tudo pacífico até ir dormir. Com história da Patrulha Pata e tudo. 

Um abraço que mudou tudo. A noite da filha, a noite da mãe e mais uma grande lição para mim. 

Agora vou aprender a cozinhar Quinoa e já volto. 

 


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