3.30.2015

Respostas da especialista de sono da Irene

Fui a uma especialista de sono por causa da Irene. 

Quer dizer... mais ou menos. Ela é que veio até mim. 

As minhas noites são miseráveis e, obviamente, que escrevi sobre isso. A Verina (Sono de Sonho), simpática, quis ajudar e veio a acontecer espontaneamente que tentasse aconselhar-me e a experiência está aqui

Já escrevi isto, mas nunca é de mais reforçar. Senti que era uma mãe que compreendia a minha maneira de ser mãe. Senti que me dava toda a liberdade possível de ser tão galinha quanto quisesse, não me senti julgada, não me senti pressionada. Senti, sinceramente, que estava a falar com uma amiga que sabia muito mais sobre o sono de bebés que eu. 

E acho que todas nós, apliquemos ou não métodos específicos nisto do sono, temos sempre curiosidade sobre os sonos dos bebés. Nem que seja porque muitas de nós temos mais saudades de dormir uma noite inteira do que de brincar ao bate pé no recreio da escola. 

Naquele link ali em cima que muitas de vocês preferiram ignorar (eu conheço-vos sacanas) estão as perguntas que foram feitas à Verina que se disponibilizou para responder cuidadosamente. Se tiverem mais podem sempre tentar a vossa sorte aqui nos comentários a este post que ela, mais cedo ou mais tarde, vem aqui parar, de certeza ;)

Aqui estão as respostas da Verina a algumas das nossas leitoras (quem sabe se não são as vossas dúvidas também):

Respondendo à Ana (17 de março, 14:03), todos os bebés nascem ateus e respondem apenas aos seus instintos básicos: tenho fome, estou cansado, procuro conforto. E esses instintos têm horários caóticos e estapafúrdios (pelo menos, aos olhos dos adultos). 

Como em tudo num recém-nascido, apenas a maturidade vai trazer de volta a ordem na anarquia instalada em cada lar parido. Com isto, quero dizer que apenas a partir dos 3 meses é que os bebés são capazes de produzir melatonina (mais uma hormona, como se não bastassem!), que funciona como um sinalizador do dia e da noite. Aqui é que o relógio biológico de bebé começa a acertar os ponteiros. Antes disso, é difícil estabelecer rotinas. 

A partir dos 3 meses, os pais têm três opções: 

1- impõem eles os horários ao bebé e esperam que se adaptem sem grande estrilho (é o que acontece quando os bebés têm que ir para o infantário; não é o método mais pacífico, como devem calcular, mas há bebés completamente plácidos, da paz, como o da “Conversas Pais (17 de março, 14:28)” mas contam-se pelos dedos de uma mão!); 

2- esperam que o bebé estabeleça lentamente os seus horários (das três é a opção mais demorada e implica que os pais conheçam muito bem os sinais de cansaço, fome, desconforto que o bebé transmite, o que nem sempre é fácil; por vezes, quando o bebé dá sinais de sono, já passou a linha da irritabilidade, o que torna mais difícil adormecê-lo); 

3- a mistura das duas anteriores (a minha favorita), ou seja, através de um registo, começam a perceber-se algumas tendências naturais de horários (acorda entre as 6:30 e 7:30, por exemplo; fica mais quieto a pedir colo e a esfregar os olhitos lá prás 9:00/9:30) e, a partir daí, joga-se com as “janelas de sono” adequadas a cada idade (horas de sono vs horas acordado), evitando que a criança fique demasiado tempo acordada. 

Ter uma “boa higiene do sono” é nada mais do que respeitar as necessidades de sono do nosso organismo e, consequentemente, o nosso ciclo circadiano. E isso implica dormir o número de horas adequado ao descanso do corpo e da mente, fazer as sestas necessárias, ter um bom ritual de adormecimento, perceber quando o corpo pede descanso e dar-lho! 

No que concerne ao ritual de adormecimento, esse começa logo que o bebé nasce! Vai-se construindo, à medida que os pais vão conhecendo a criança. Com o tempo, vão-se adicionando passos: ao recém-nascido basta-lhe um aconchego, fralda limpa, música suave ou ruído branco; passados uns meses, inclui-se o lavar de dentes; mais tarde vem a história, uma conversa amena e por aí fora. Uma delícia! 

Quanto à questão tão em voga do dormir sozinho ou bem coladinho à cama dos pais (co-sleeping), essa é uma escolha dos pais. A prática do co-sleeping veio à tona com a teoria do apego, como forma de vincular a ligação do bebé aos seus cuidadores. É uma escolha, como tantas outras e a família é perfeitamente livre para praticá-la. Mas, atenção, o hábito do co-sleeping deve surgir por vontade genuína dos pais e não porque “é a única forma de sossegar o bebé, durante a noite”. Nunca fazê-lo porque se sentem obrigadas a isso, até porque mais tarde pagam essa factura. 

Se o bebé acorda e chora durante a noite, há que tentar perceber o porquê e não tapar o sol com a peneira. Eu sei, o cansaço nem sempre nos deixa pensar com alguma clareza e a exasperação grita bem mais alto! 

Bebé a dormir sozinho: sim ou não? Os pais é que sabem! Consistência e coerência são tudo para o bebé, caso contrário, está constantemente a receber sinais contraditórios dos pais. 

A Isabel Ribeiro (17 de março, 14:31) falou comigo pessoalmente, entretanto, e estou a acompanhá-la para percebermos os despertares nocturnos da sua pequena e melhorar a qualidade do seu sono. 

À Joana (17 de março, 15:19), eu sugiro que espalhe chupetas pela cama antes de deitar os eu bebé, para que ele as encontre sozinho e se acalme sem ajuda. Nem parece digno de uma consultora de sono, de tão estupidamente simples, não é? Só lhe digo mais uma coisa: experimente. 

Célia (17 de março, 15:47), com 21 meses, o seu filho já não precisa desse leite a meio da noite mas só ponho certezas nisto conhecendo o historial clínico e o desenvolvimento do bebé. 

Quando um bebé acorda a meio da noite, os pais devem procurar sossegá-lo usando o menor dos recursos, para não perturbá-lo ainda mais e para que possa voltar a dormir rapidamente. Começa-se com um “chhhhh”, depois uma carícia leve. Só deve pegar nele ao colo, caso o choro se intensifique e veja que não está a conseguir tranquilizá-lo na cama dele. Se o levar para a cama dos pais, está a abrir o seu território e a dizer-lhe “se quiseres, também podes dormir aqui”. E o que é que o bebé vai decidir? “Quero dormir aí para todo o sempre”! Se os pais estiverem de acordo, todos ganham (só há que garantir a segurança do mais pequenito). Caso contrário, não deve abrir esse precedente ou pode ter problemas mais tarde em convencer o bebé de que a cama dele é aquela “grade de cerveja”, no quarto dos brinquedos! 

Por outro lado, adormecer um bebé ao colo não constitui problema absolutamente nenhum. Quando eles começam a crescer e a pesar mais de 6kg é que começa a ser mais difícil. Ficamos com os bíceps do Stallone mas com as costas de uma reformada de 90 anos! 

A Célia também perguntou se mudar uma criança para uma cama maior, se resolve o problema dos despertares nocturnos. Depende: se as noites interrompidas se mantêm quase desde que o bebé nasceu, não resolve nada, que essa não é a origem do problema; se é coisa de há um mês e nota que ele realmente está constantemente a bater nas grades, pode resultar e muito! 

Cada criança é única, cada família é ímpar. Torna-se difícil generalizar quando o que está em causa, na maioria das vezes, é um bebé pequeno, que comunica de forma muito própria e, ao mesmo tempo, desenvolve uma personalidade singular. 


Bem a propósito, agora gostava de agradecer à Gilda (17 de março, 17:23), pelo seu testemunho. O método que escolheu para conseguir que as suas gémeas dormissem a noite inteira, para manter a sua sanidade razoavelmente intocada, é considerado dos mais “violentos” mas é também dos mais eficazes. Há especialistas que o repudiam gravemente; outros que o defendem, por razões múltiplas. Se houve lição que aprendi na maternidade é que não se deve nunca julgar uma mãe pelas suas escolhas. O importante é que as crianças cresçam saudáveis e felizes, sem que isso implique uma dura factura a pagar pelos pais. Uma mãe deprimida e um pai esgotado terão mais dificuldade em harmonizar um lar com crianças que deles esperam as melhores referências, o amor maior. 

A Gilda deu o melhor de si. Não há como errar nisso. 

À Catarina (17 de março, 17:44), digo que as sestas são demasiado curtas. O seu bebé devia fazer sestas de, pelo menos, 45 minutos. Mas para chegarmos à raiz do problema, precisava de um estudo mais aprofundado. No entanto, posso aconselhá-la a que, quando ele acordar de uma sesta curta, insista para que durma mais um pouco. 

A Bé (17 de março, 20:39) teve o seu testemunho cortado mas posso comentar o que conseguimos ler. Se a Bé, o seu companheiro e a sua filha se sentem bem com esse ritual de adormecer, não vejo problema. Podem dizer que cria um mau hábito ou uma dependência mas se até agora nunca foi considerado um problema pela família, não vejo motivo para preocupação. Se num destes dias decidirem alterar essa rotina, com uma boa conversa e eventualmente um pequeno período de adaptação a questão resolve-se sem problemas. 

Ana Rita Fernandes (18 de março, 10:35), considero que o Pediatra será a pessoa mais indicada para afirmar se o seu bebé ainda precisa do leite à noite. É verdade que, regra geral, aos 15 meses os bebés já fizeram o desmame nocturno. Pode fazê-lo de forma suave (reduzindo progressivamente a dose) ou mais radical (deixar de dar leite de uma noite para a outra e preparar-se para os protestos, tentando acalmá-lo da mesma forma como o adormece). A Ana Rita conhece melhor que ninguém o seu filho e saberá qual a melhor opção. 

A Té (18 de março, 12:44) está numa situação semelhante à da Ana Rita (18 de março, 10:35). Fale com o Pediatra sobre a necessidade desse leite durante a noite. E sim, os bebés acordam para o dia a horas dolorosas (6:30/7:30) e é escusado lutar contra isso: está “carimbado” no ritmo circadiano deles. E ninguém nos avisa disso quando estamos grávidas ou se avisam, rejeitamos no mesmo segundo! A boa notícia é que vão acordando cada vez mais tarde, à medida que vão crescendo (até à adolescência, em que arrancá-los da cama passa a tarefa hercúlea!) . 

Os casos da Ana (17 de março, 15:45) e da Rita (18 de março, 23:49) exigem um estudo mais aprofundado do dia-a-dia, das rotinas, das dinâmicas familiares, para percebermos o que se passa.



Gostaram? ;)

Agora quem pergunta não é a Verina! ;)

Se tinham alguns preconceitos sobre especialistas do sono, viram-nos resolvidos ou prolongados?


A descansar do fim-de-semana!

É assim que me sinto, mesmo tendo acordado às 06h40 e a caminho do Bombarral em reportagem. Sinto-me a descansar do fim-de-semana.

Mais alguém a precisar de um fim-de-semana para descansar do fim-de-semana?

3.29.2015

Mães solteiras

A todas as mães solteiras, viúvas, cujo marido trabalha fora, separadas, divorciadas ou que simplesmente têm o pai da criança em casa, mas é como se ele não estivesse.


Vocês são fortes. São feitas de uma fibra única, feita de coragem, amor e dedicação. Não sei como conseguem.


Se eu já me vejo aflita para conseguir gerir tudo e não ficar a bater mal, se eu já me vejo às aranhas para me levantar duas ou três vezes por noite, se eu já me vejo entre a espada e a parede tantas e tantas vezes, com vontade de pô-la para aluguer por umas horas e tenho um pai presente, imagino uma mãe solteira


A ter de se levantar todas as vezes

A ter de dar mama, pôr a arrotar, acalmar as cólicas, trocar as fraldas, cantar, dar mimo

A ter de dar biberão e esterilizar e dar papas e dar comida e comer os restos do prato do filho porque muitas das vezes nem deve haver força para mais

A ter de brincar, dar banho, fazer jantar, ajudar nos trabalhos de casa

A ter de confortá-los e dar-lhes banho de água morna para baixar a febre

A ter de limpar, passar a ferro, tratar da casa

A ter de sair para trabalhar, chegar a casa cansada, mas conseguir pôr um sorriso nº. 33

A ter de mudar lençóis da cama e pijama quando eles vomitam ou fazem xixi na cama, mesmo que sejam 3 da manhã e eles não param de chorar

A ter de estar lá, sempre, porque não há mais ninguém

A ter de estar lá, sempre, para mais do que um filho


A sério, não sei como conseguem. Tiro-vos o chapéu.

Tenho um esquema com o pai da minha filha: vamo-nos revezando nas idas ao quarto dela durante a noite, mas quando achamos que é fome (não engana muito, é um relógio) levantamo-nos os dois: um vai fazer o biberão (a Isabel já não mama desde os 9 meses) e o outro vai logo pegá-la ao colo para que ela não chore e não desperte. Enquanto um dá o leite, o outro abre a cama e puxa os lençóis, descobre o doudou e vai dormir. Na vez seguinte, trocamos. De manhã, também nos vamos revezando: um levanta-se às 06h50 – 07h num dia, o outro no dia seguinte. Nem vos conto como isto tem sido essencial para a minha sanidade mental ainda existir (se é que existe)! Ter um pai presente, que se sente tão responsável nestas tarefas quanto eu, é música para os meus ouvidos.

Por isso, quero dizer-vos que vocês são um exemplo da maior força do mundo, que só um coração enorme de mãe pode ter.

*também válido para pais solteiros, sem a parte das mamas, claro.