No outro dia, num grupo de mães e de pais na Internet, li uma questão de uma mãe, apoquentada, porque a filha ia passar a estar numa turma mista na escola, ou seja, com idades entre os 3 e os 6 anos.
Não sei se será o vosso caso, mas gostava de deixar a minha opinião sobre o assunto e de "acalmar" quem está com dúvidas em relação a este assunto.
Salas com idades mistas são, a meu ver, extremamente benéficas. Vejo isto enquanto mãe e mera curiosa nestas questões, não enquanto especialista no assunto, psicóloga ou educadora (que não sou). E, claro, tudo isto dependerá sempre de muitas outras coisas: educadoras, escola, projecto educativo, etc. Estou a falar de creche e de pré-escolar (nas restantes idades ainda não me debrucei).
Fotografia: The Love Project |
Mas, à partida, sinto como algo muito positivo. Senão vejamos:
- as crianças mais novas têm nos mais velhos um modelo a seguir e querem reproduzir o que eles fazem;
- as crianças mais velhas tornam-se mais responsáveis, sentem-se mais "líderes" e sentem empatia pelos mais novos, ajudando-os em tudo - vocabulário novo, a arrumar algo, etc
- esta interacção e dinâmica é, de facto, o que se passa "lá fora": nós aprendemos e trabalhamos com pessoas diferentes e de idades muito diferentes e é essa pluralidade que nos enriquece
- os valores que se passam nestes momentos de colaboração e interação são excelentes: por um lado pratica-se a tolerância, a paciência e até a auto-confiança e auto-estima dos mais velhos; os mais novos estão rodeados de um ambiente de generosidade e vão usar essas aprendizagens quando for a vez deles serem os mais velhos da sala
- a independência e autonomia dos mais velhos é muito estimulada e reforçada
- os mais novos, pela primeira vez na sala ou até na escola, são recebidos de braços abertos pelos mais velhos, o que ajuda imenso na integração! (Noto que a Luísa, este ano das mais velhas da sala - fez 3 anos em maio -, era muito querida para os bebés que chegavam e queria participar/ajudar em tudo)
- a competitividade, muito comum entre miúdos da mesma idade, é menos pronunciada e, pelo contrário, a questão de "cada um aprender ao seu ritmo" é acentuada: há menos rótulos, menos "pressas" e um espírito maior de partilha e colaboração entre todos - cada um contribui à sua maneira.
No caso dos irmãos e dos primos, não notam que é saudável a interação deles, tendo diferentes idades? Então, é igual na escola.
Acredito que o trabalho de casa - e mesmo em sala - do educador seja grande. Gerir idades e necessidades diferentes não deve ser fácil. Mas acredito também que envolver todos, criar um espírito de pertença e aproveitar as situações de conflito para passar valores seja também muito benéfico para todos. Além de que, desta forma, ainda se deve comparar menos competências e olhar mais para cada um individualmente, estando mais atento às necessidades de cada elemento. Faz-vos sentido isto?
O único ponto menos positivo que encontro nisto tudo é, pela minha experiência, que, por vezes, os mais novos queiram imitar os mais velhos em coisas para as quais ainda não estão preparados. Por exemplo, a Isabel deixou de querer e de conseguir fazer sesta mais cedo do que eu gostaria. Como os amigos mais velhos já não faziam, ela não compreendia por que teria de ficar a dormir quando havia tanto mundo para descobrir. Apesar de notar que ela se aguenta muito bem sem sesta (não percebo que faça mais birras ou que esteja muito mais cansada do que ficava antes) e apesar de eu tentar compensar em casa, indo mais cedo para a cama e acordando mais tarde, todos sabemos da importância de uma sestinha nestas idades (havendo algumas excepções, sim, mas serão isso, excepções).
De resto, notei uma evolução enorme nas duas neste sistema e concordo plenamente com ele. Noto também que a forma como lidam uma com a outra e tentam resolver alguns problemas entre as duas, a empatia, a maneira como a Isabel encoraja e estimula a irmã a fazer tudo, é linda de se ver. Quando ela no outro dia tentou perceber por que razão a irmã estava a fazer birra é algo que não esperava numa miúda de 5 anos.
Por outro lado, a forma como a Luísa consulta a irmã, lhe pede opiniões e ajuda é algo que me enche o coração. Também pode ser - e é, vá, não vou estar a menosprezar o nosso papel enquanto pais - trabalho de casa, mas tem muito a ver com as aprendizagens que trazem da escola.
Este é um tema que me apaixona cada vez mais. Por isso, caso queiram saber a minha opinião ou experiência com o Movimento Escola Moderna; Montessori, ou com algo relacionado com o projecto educativo ou com a escola delas, digam coisas que eu abordo o tema novamente.