12.08.2015

Arrependo-me tanto. Não façam o que fiz.

Estive um bom tempo a adormecer a Irene e pensei em algo para vos falar. Lembrei-me de algo que aconteceu hoje. Frederico a brincar com a Irene, no sofá, tão amorosos que o meu coração pára e parece que tiro fotografias do momento como se nunca mais tivesse direito a nada parecido e oiço "ela tem cocó". 

Ela tem cocó. Senti uma espécie de fúria a subir-me pela cara acima. Orelhas a escaldar, bochechas também (mas talvez isso seja da rosácea haha), até senti o cabelo mais esticado na cabeça como se estivesse arrepiada. Disse: "ela tem cocó e então?". 

Feita estúpida fui mudar. 

Apesar de ser uma pessoa que se considera minimamente inteligente, sou muito conservadora nalgumas coisas. A minha mãe não é nada assim, mas há um "eu" qualquer em mim que acha que a mãe é que deve arrumar a casa, tratar da roupa e tratar de tudo o que tem que ver com o bebé. A Joana Paixão Brás é o contrário (é como eu gostava de ser) e nem admite que se utilize o verbo "ajudar" em casos como "o pai tem que ajudar". Não se ajuda, é-se pai. Foi isto que ela escreveu num post algures. Ah, está aqui, afinal.

Apesar de me gabar de ser franca, nada tímida, frontal, etc. Pareço uma freirinha submissa nestas questões. Não gosto de lhe pedir para fazer coisas (sinto que ele é que as devia fazer voluntariamente), não gosto de lhe pedir para fazer coisas que sei que ele não gosta de fazer, nem gosto de o ver a fazer coisas que não goste de fazer. Também tenho a sorte de ter casado com um homem que expressa repetidamente o seu desagrado, o que não ajuda. 

Ora, a Irene nasceu. A Irene nasceu e tentei muito, mesmo muito incluir o pai em tudo o que podia. Inicialmente (porque tivemos uns stressalhões com a amamentação) era ele quem lhe dava o biberão (eu sofria em silêncio por estar tudo a correr mal nesse aspecto), mas isso foi só durante a primeira semana. Tudo o resto: almoço, jantar, mama, adormecer, acordar, fraldas, banho, vestir, passear... fui só eu que fiz e sozinha. Ele agora faz-lhe a comida, sempre. 

"Ah, o teu marido é uma besta!". Não, não... a culpa aqui é muito muito minha. Convidei-o sempre a fazer as coisas e perante o seu desagrado, em vez de lhe ter feito uma cara de "é a vida", disse "eu faço". Ficava amargurada por ele não querer fazer as coisas e estupidamente não queria que alguém que "não queria fazer as coisas" as fizesse, tendo em conta que "as coisas" aqui são a nossa filha. O que é que isto fez? Fez com que acontecessem várias coisas (já reparei que estou a usar muito "as coisas", já) menos boas: 

- Cansaço psicológico e físico aumentado vezes milhões da minha parte. Eu acho que estive mesmo a patinar para o "outro lado". Já é tudo tão difícil e eu piorei e muito tudo para mim própria.

- Ressentimentos injustificados (visto que depois negava a ajuda dele "ele dizia: não quero, mas faço, se quiseres). Tudo isto por causa daquela minha vozinha de freira que,  por dentro, dizia "é o teu papel, não é o papel dele".  Cansada e triste, ó que bem!

- "Retirei" o privilégio de ambos terem construído uma relação mais próxima desde o dia 1. Até agora se o pai deu 3 banhos foi muito. Claro que nada ficou perdido até porque agora estão sozinhos em casa enquanto vou trabalhar. Se antes não queria, também não permiti que nada mudasse para que passasse a querer.

O meu objectivo com este post e porque sei que há mais mães com esta vozinha dentro de si é ajudar a que não sejam imbecis como eu. É envolvê-los desde o primeiro dia, a bem ou a mal. Faz bem a todos. Há espaço para os dois. Por isso é que não os fazemos sozinhas. 

E não os odeiem por eles não fazerem ou não quererem fazer as coisas, pensemos em maneiras de os por a trabalhar, nem que seja com um chuto na peida.

Hoje deu-lhe o jantar porque me apeteceu secar o cabelo. Aos poucos vou conseguir ganhar seja lá o que for para meter ordem cá em casa. ;)

O meu Pai escreveu-me esta carta


"Lembro-me de ti…
Lembro os nossos momentos em frente ao espelho quando te enrolava metodicamente o cabelo, o teu olhar vaidoso quando te dizia que nunca tinha visto ninguém tão bonito;
Lembro quanto te vesti o macacão colorido comprado na zara, pedi para rodares e tu rodopiaste;
Lembro as nossas boleias, surfadas atabalhoadamente nas ondas da Cabana do Pescador;
Lembro quando te aconchegava à noite;
Lembro as horas infindáveis e os passeios no quarto quanto te socorria as cólicas nocturnas, deitava-te sobre o meu braço, tão pequena que eras;
Lembro-me do teu choro;
Lembro-me das tuas gargalhadas, do teu olhar feliz;
Lembro-me quando dançavas, trémula ao início, com aquele olhar do tipo… sou linda?;
Lembro-me quando cantavas, quando todos os meus sentidos se guardavam para ti;
Lembro-me de chorar e de rir com as tuas conquistas;
Lembro os teus beijos, os teus abraços e quando dizias gosto muito de ti;
Lembro quando deitavas a cabeça no meu colo, e o quanto isso me apaziguava;
Lembro-me de pensar que iria sempre lembrar todos os nossos momentos juntos;
Lembra-me para nunca esquecer o que é tão bom lembrar!"


O meu pai escreveu-me isto. Até solucei.



Lembrar-te-ei, pai, para que possamos reviver todos esses momentos uma vez mais.


12.07.2015

Fumam? Fumaram durante a gravidez?

Há uns tempos recebemos uma mensagem de uma leitora que queria muito que falássemos sobre o impacto do tabaco na gravidez. Ando, desde aí, a tentar fugir ao assunto, mas acho que não sei bem explicar porquê. Talvez por saber que se for muito franca que vou incomodar algumas mães. 

Eu deixei de fumar assim que sabia que estava grávida (contei a minha relação com o tabaco aqui). Tive sorte porque senti tanta, mas tanta culpa que foi facílimo para mim deixar de fumar. Tentei fumar um para comemorar e odiei, odiei-me. 

Tinha lido que fumar prejudicava a circulação de oxigénio para o bebé e quase que não podia ter lido pior (ainda no outro dia vi isto - imagens de fetos cujas mães fumam).




Já antes de saber que estava grávida e fumava já me sentia horrivelmente por haver essa possibilidade, mas não conseguia deixar. E se não tiver? Não fumo este cigarrinho?

Quando tudo se materializou, teve de ser. Ganhei força. Ganhei força pensando "depois fumo", assim que parir ponho 3 maços na boca para verem o que é bonito.

Não fumar no carro a caminho de casa, não fumar durante discussões, depois do almoço, a meio da emissão... Custou muito mas não custou tanto. Afinal, estava a ser muito forte. 

Sempre pus um peso enorme em mim nisto das primeiras decisões que tomo em relação ao, na altura, meu bebé. A primeira decisão que tomo vai ser tirar-lhe parte do oxigénio? Por o tabaco em frente dele? Fazer-lhe mal?

Fumava 1 maço e meio há muitos anos e deixei de fumar. Primeiro porque estava grávida, depois porque estava a amamentar e agora porque continuo. Tenho saudades? Tenho. Depois virá um segundo filho. Se fumar entretanto ao menos já sei que depois conseguirei tomar a decisão mais certa. 

Circula por aí que deixar de fumar pode prejudicar igualmente os bebés pela ansiedade que a mãe vive por estar a deixar de fumar...

Estava pronta para me refugiar nesse argumento. 

Se estiverem a planear uma gravidez e se forem fumadoras, podem, antes de avançar com tudo, talvez deixar de fumar antes? Assim nem a ansiedade nem o tabaco vos vai prejudicar. 

Encarei a gravidez como o início de uma dieta. Se fizer porcaria no início da dieta, o resto não correrá melhor.

Desculpem mães que fumaram durante a gravidez. Desculpem mães que fumam enquanto amamentam ou que não amamentam, mas custa-me perceber. Conseguem ajudar-me? 

E, a sério, eu adorava fumar.