2.17.2015

A Joana Gama é... parva.

Não é nada. É. Um bocado, às vezes. Mas eu gosto.

Deixem-me falar-vos da Joana. A Gama, a outra. Ela já vos contou como nos conhecemos, não já? Isso, num grupo do Facebook (Mamãs de Março de 2014). Um amigo meu trabalhava com ela e disse-me que ela me iria juntar ao grupo. Fiquei WTF?! Achei a ideia super mega bimba e não estava preparada para um grupo de muitas mães histéricas a contarem tudo das suas vidas e gravidezes. Pensei que iria perder tempo, que não me iria identificar. Tudo ao contrário. Surpreendi-me, com elas e comigo. Afinal eu era uma delas e aquilo fazia-me falta. Era onde descarregava as angústias, os medos e com quem partilhava as alegrias do dia-a-dia. Assim não me tornei numa grávida muito chata para as pessoas que me rodeavam (acho eu).
Bem, a Joana.

A Joana era a palhaça do grupo, mas não nos dava muita confiança. Um dia, num lanchinho de grávidas (sim, como uma reunião de tupperwares) tive aquilo a que se chama "amor à primeira vista". Achei que ela era um peixinho completamente fora de água, mas que até se estava a esforçar. Depois, começámos a falar por mensagens no Facebook. Criámos o nosso grupo. A primeira vez estávamos as duas sozinhas em casa à noite (os maridos tinham ido dar um giro) e ficámos naquilo horas. Estávamos na fase da paixão.

Depois, vivemos o parto uma da outra intensamente, apesar de estarmos à distância. Um mês depois, ela veio cá a casa, com a Irene, festejar o primeiro mês da Isabel.


E nunca mais nos largámos: lanches a duas (a quatro), lanches com outras mães, jantar ou almoço com os esposos e por aí fora. O meu marido (que não é marido, mas gosto de achar que sim) às vezes ficava com ciúmes do tempo que estava com a Joana ao telemóvel. Ainda hoje me disse que eu sou viciada no telemóvel. Se calhar sou um bocadinho, a culpa é dela. A Joana é viciante.

Se acharem que isto está a puxar um bocadinho para o lesbianismo, digam-me que tento refrear o tom.

A Joana é uma pessoa fascinante. Não faz fretes. Diz o que pensa. Faz-me rir. Às vezes combina roupas que não têm nada a ver. É intensa. É chata. Tem uma gargalhada boa. É infantil. É brutinha. É genuína. É muito, mas muito engraçada. É inteligente. Tanto que até irrita. É bonita. É tão, mas tão boa mãe. É tonta. É gulosa. É organizada. Tanto que até irrita. É segura. É ambiciosa. É maluquinha das doenças. Vê programas de TV de merda. É esforçada. É parva. Não gosta de peixe. É tão, mas tão boa mãe, já tinha dito? Lê mil livros técnicos. É eufórica. 

Gosto dela. Acho que sou uma pessoa melhor desde que a tenho na minha vida e sei que posso contar com ela para tudo.
E sinceramente acho que se o a Mãe é que sabe está a correr tão bem, é porque temos esta química. Ela é parva, eu também. Não nos levamos muito a sério. Somos amigas.

Vá, Joaninha, não chores. Sua bimba.

O meu partão.

Primeira fotografia da Irene 
"Descobri que sou igual a todas as que estavam a passar por esta experiência pela primeira vez: Estava igualmente entusiasmada e assustada. Estava louca para que tudo se despachasse (já estava um bocadinho cansada de estar grávida, apesar de agora estar a morrer de saudades) mas, ao mesmo tempo, queria que a Irene nunca saísse de dentro de mim. Como funciono, todos os dias, para mim, eram o dia de ir parir. É parvo, bem sei. A verdade é que meti na cabeça que a Irene iria nascer às 35 semanas (data a partir da qual não há risco de vida maior da bebé) e a partir daí foi uma seca. Sem querer falar nos longos meses em que achava que tudo o que tinha eram contracções (porque não li em lado algum nada que me explicasse bem o que eram) e estava desejosa de tê-las para sentir que as coisas estavam a evoluir já que não pude ver a bebé na ecografia quando já estava muito grande. Não dormia nada, acordava milhares de vezes durante a noite para ir à casa de banho, o meu marido aprendeu a ressonar dia sim, dia sim. Uma alegria. Queria era parir. Houve um dia (já tinha uma aplicação para cronometrar contracções e tudo) em que reparei que estava a ter contracções perto umas das outras e constantes. De 15 em 15 e paravam durante uma hora. Depois de 10 em 10. Depois uma agente imobiliaria lá em casa e eu com um sorriso amarelo cheia de dores. Depois de 10 em 10. Depois fomos para o hospital que já só me apetecia dizer coisas. Fiz o CTG (uma coisa para medir as contracções e o ritmo do coração do bebé, acho eu) e a coisa estava perto de se dar, mas não era urgente. Depois de umas apalpadelas (demasiado profundas e dolorosas) no ninho da Irene (meu rico pipi), mandaram-me ir para casa jantar, tomar um banho, usar um laxante e voltar com calma mais tarde. Lá fui. A chorar entre contracções e a rir ao mesmo tempo. O marido assustado mas assustadoramente calmo para o que eu imaginei que fosse estar. Banho meio a fingir, dado o desconforto. Jantar impossivel e, não aguentei mais. As contracções continuavam de 5 em 5 minutos mas com umas dores tais que já nem conseguia estar feliz. Fui chamada mais rápido (até desconfiei que tivessem uma camera na sala de espera e que, por me verem a chorar, andaram mais rápido com o assunto). Fui vista, mais umas apalpadelas pouco simpáticas e a Dra., com pena, mandou-me internar dizendo “mas olhe que isto só para amanhã porque não tem nada dilatado”. Isto é: sim, tem dores, mas o seu corpo não está a fazer nada de útil. Lá fui lá para cima, enfiaram-me o tubo da epidural (que me doeu imenso, mas eu sou uma maricas), deitei-me e estava cheia de medo. Chegou o meu marido. Fiquei mais calma. As drogas também tinham começado a fazer efeito. Hei de dizer sempre à Irene: drogas não, filha, a não ser no parto. Foram minhas amigas e acho que, apesar de me terem queimado metade do cérebro e de, passado um mês, ainda me doer o sítio onde tinha enfiado o catéter da epidural, não mudaria a quantidade de recargas que fui pedido. Sempre que deixava de fazer efeito, parecia que estava a ser alcatroada. Um dia inteiro com o marido na poltrona a cuidar de mim. A molhar-me a cara com água. A beber chá às escondidas. A fazer xixi para uma coisa de cartão. Não reparei que tinha sido um dia. Só dei pela passagem do tempo pelas milhares de apalpadelas super desconfortáveis para aferir o diâmetro do túnel por onde a minha leitoa iria passar. Estava na altura de fazer força. Misto de emoções. Queria que tudo parasse e que acabasse rápido. Vamos a isso. Fiz muita força, lembro-me de ter medo que as veias da minha cabeça rebentassem e que tivesse um avc. Nunca tinha feito tanta força na minha vida. Nunca. Fazia força e as enfermeiras diziam que a Irene não saía do mesmo sítio. Fiz ainda mais força. Nada. Durante o que imagino ter sido uma hora e tal não aconteceu nada e as enfermeiras saíam e entravam e pediam para eu ir fazendo força enquanto se ausentavam. Não sei se estava fisicamente esgotada (porque às vezes vamos buscar forças não sei onde, vi no Biggest Loser), mas psicologicamente não queria mais. Queria que esta “porra” do parto natural acabasse e que me dessem uma pancada na cabeça e só me acordassem quando a miúda já estivesse em cima do meu peito. Gritei várias vezes que “não quero mais”, “não quero saber, façam o que quiserem, eu desisto”, “não faço mais”, “não aguento”. Mesmo assim não fui levada para cesariana. Chamaram uma médica com fama de ser amorosa que aproveitou que o meu marido tinha saído para informar a família para fechar a porta e não o deixar entrar porque iam usar a ventosa e porque eu estava “em choque”. A médica  que era muito amorosa, passou-se e começou a gritar comigo para tentar recuperar a minha sanidade: “JOANA, ISTO VAI TER QUE ACONTECER, VOCÊ VAI POR O SEU BEBÉ CÁ FORA. ISTO AGORA NÃO É PARA BRINCAR. ESTÁ EM CHOQUE.”. Só me veio à cabeça aquela altura em que mandam um chapadão nas pessoas para acordarem. Bem que precisei de um chapadão. Só queria que tudo parasse. Estava cheia de medo porque sempre que fazia força, deixava de ouvir o coração da bebé no CTG. Sentia que algo estava errado. Finalmente percebemos por que é que a Irene não saía do sítio: cordão umbilical à volta do pescoço. E, para além disso, acho que ela estava numa posição esquisita e, portanto, tiveram que me cortar. Saiu. Puseram-na em cima de mim. Nem 2 segundos. Levaram-na. Chorou. Parou de chorar. Comecei eu a chorar. “Que silêncio é este? Morreu a minha filha? O que aconteceu? Ainda nem nada começou e já falhei como mãe? E agora? Quero morrer. Não quero saber a verdade. “ Não chorou mais, mas estava bem. Teve de ser aspirada e, segundo disseram, puseram-na na incubadora para estar mais quentinha, apenas. Estava mole. Parecia sonolenta. Provavelmente da quantidade de drogas que pedi. Eu continuava em choque. Não conseguia sentir nada. Até o meu marido ter pegado na nossa filha. Aí fui mãe. Puseram-ne na minha mama. Mal. Mamou na auréola e não no bico. Fiquei com as maminhas logo em ferida. Nem reparei que estava mal, não senti nada. Como quase não senti as duas dúzias de pontos que levei assim que ela saiu. Não queria que o meu marido fosse embora. Não queria ficar sozinha. Eu estava debilitada e, além do mais, não sabia se sabia ser mãe. O marido foi embora. Fiquei num quarto partilhado. Entrei na cama. Não falei com ninguém. A Irene ficou sempre ao meu lado. Se ela chorasse, tinha de chamar alguém porque além de não me conseguir mexer, não sabia o que era para fazer. Sempre que fechava os olhos sentia as mãos das enfermeiras e das médicas a averiguarem se já tinha dilatação suficiente. Ainda ouvia as vozes de toda a gente. Ainda não era mãe. Não conseguia. Não percebia sequer que era a minha filha que estava ali comigo. Sabia apenas que precisava de alguém. Não conseguia que ela mamasse bem. Não conseguia tirá-la do berço. Não conseguia voltar a pô-la. Por que é que quando mais precisamos de estar em condições que estamos mais vulneráveis? Estava super assustada e sem o meu marido. Veio a luz do dia. Comecei a falar com as outras mães. Uma estava igualmente assustada, a outra já parecia dominar a arte de dar de mamar a fazer o pino (segundo filho). Consegui tomar banho. Chegou o pai. Cheguei. Comecei, aos poucos, a ser mãe. Disse ao meu marido que não me sentia segura em sair no dia seguinte dali porque tinha medo de não saber cuidar dela (apesar de ter lido quarenta livros, de ter ido às aulas de preparação, etc). Porém, assim que me deram alta, quis ir. Já queria ir desde manhã. Eu consigo. Ela é minha. Sei que assim descrito pode ser assustador (porque é), mas acho que é importante passarmos por tudo isto. É algo que também nos vai ligar ao bebé e nos vai fazer mais fortes. O meu marido conta que logo depois da Irene ter nascido eu disse: “Quero ter mais um filho”. E, como repararam, não foi fácil. Alonguei-me. Tanto quanto o meu parto no São Francisco Xavier. Impecáveis. Menos em conseguir a sair de lá a amamentar convenientemente. Talvez tenha sido só comigo, mas a mãe da cama à minha frente também já dava suplemento na fase do colostro. Reverti a situação e o meu segundo filho será lá também, mas aí não há suplemento para ninguém, mesmo que tenha de passar a noite a ser vigiada pelos enfermeiros por haver risco de infecção, como aconteceu."

in Grupo Fechado no Facebook "Mamãs de Março de 2014" onde partilhei (partilhámos todas, meninas, não é?) tudo sobre a gravidez, parto, tudo... Obrigada pelo vosso amor. 


2.16.2015

O pai também sabe (#01) - César Mourão

O César Mourão é um dos grandes. Ator e mestre no improviso, mas também apresentador, cantor: não há nadinha que ele faça que não saia bem feito. Até a filha. (Juro que ele não me subornou para dizer estas coisas nem eu ganho nadinha, até porque a entrevista já está feita. Hehe) 
O a Mãe é que sabe abre agora espaço aos pais e quer respostas rápidas a perguntas rápidas. Até porque eles não têm pachorra para falar sobre cocós e coisas que tais mais de 5 segundos seguidos. Vamos a isso!


1) primeira coisa que disseste quando soubeste que ias ser pai: "f*«4-se!", "a sério?", "e agora?" ou "que bom!"?
Acho que disse todas mas pela ordem inversa!

2) última coisa de que te despediste antes de ser pai
Do meu coração, passou a ser dela e a bater-me fora do peito


3) primeira coisa que disseste quando a Mariana nasceu

Perguntei à mãe se estava bem e disse-lhe que a Mariana era linda

4) trocaste muitas fraldas? Com mola no nariz ou sem?
Muitas e sem mola ;) mas sempre em pânico de a magoar

5) melhor coisa que a tua filha já te disse
Que me ama


6) e a pior coisa que já sentiste enquanto pai
Qualquer doença da Mariana

7) és bom pai em quê? (não vale dizer em tudo!)
Acho que sou bom pai na logística do dia a dia e no companheirismo com ela

8) em 2025, um marmanjo está à porta para sair com a tua filha. O que é que lhe dizes?
Ela não está, emigrou ;)


9) maior medo (que ela seja do Benfica?)
Que não seja inteligente (acabo por responder)

10) coisa mais irritante que os pais fazem
Tratar os filhos com demasiada infantilidade


11) o que juraste que nunca farias enquanto pai que afinal até fazes
Ir imediatamente acudir em pânico depois de uma simples queda

12) a mãe é que sabe? (muito cuidadinho...)
A mãe é que sente

Obrigada!