7.09.2015

O escorrega foi destronado

Completamente. Não sei se foi porque tinha em competição um passadiço movediço que era novidade. Às tantas, da próxima vez que formos ao parque, o escorrega vai voltar a ter aquele mini-corpo a descer e a subir até às costas da mãe gritarem por socorro, mas o que é certo é que nunca a vi tão feliz e compenetrada, focada em passar de uma ponta à outra do passadiço. Eu estava num misto de riso e nervoso, com medo que ela se estatelasse toda, porque não me parece que aquilo seja para a idade dela. Final de tarde de domingo maravilhoso, com novas descobertas. E, melhor ainda, com as mulheres da minha vida.


















 



Ainda nem 9h eram e já estava lavada em lágrimas

E é mesmo verdade. Muitas vezes uso títulos que não sei quê, mas este é mesmo verdade. Estou com uma infecção urinária (um clássico aqui da menina) e confesso que me custou muito a adormecer com pânico de que tivesse de tomar um antibiótico que fizesse mal à Irene (amamento e na semana passada, o antibiótico compatível com a amamentação que tomei não fez nada), mas lá adormeci. Hoje, de manhã, decidi não esperar mais e com a esperança de que ainda não estivesse toda a gente nas urgênicas, às 8 da manhã, lá fui. Receitaram-me um antibiótico compatível. Ufa. Vamos ver se resulta.

À saída, para pagar, ouvi um menino pequenino a chorar, mas agora que sou mãe percebi logo que não era choro de birra, não era choro de sono, não era choro de impaciência, era um choro de dor. Olhei para ele e estava ao colo da mãe. Tentei "ignorar" para não parecer demasiado curiosa, porque as pessoas têm direito à sua privacidade. Depois, ao ouvir a mãe falar com a senhora da recepção, reparei que estava num estado de grande nervosismo e preocupação mas que, com o choque, ainda estava a tentar estar operável. Ainda sorria e tentava acalmar o bebé como se nada fosse. Reparei que estava sozinha e que as coisas com a senhora da recepção estavam a demorar. Não  consegui evitar e perguntei se podia ser útil nalguma coisa, dizendo que também sou mãe (achei que isso a faria confiar mais em mim). 

Ela contou-me que tinha caído o aquecimento em cima do pé do filho, abrindo-o. Olhei para o pé e tinha os dedos com sangue, como se de uma pequena ferida se tratasse, não era muito impressionante. Vieram-me logo as lágrimas aos olhos, não só pelo choro pequenino do bebé, aqueles gemidos de dor que todas as mães acabam por saber o que é, mas acima de tudo por tudo aquilo que a mãe estava a sentir e por tudo aquilo que estava a tentar ultrapassar. Ela tinha que ser forte. Não podia chorar, não podia quebrar ali. Tinha caído um aquecedor em cima do pé do menino (se tinha 3 anos, era muito). Disse-lhe, lavada em lágrimas, mas a tentar disfarçar para não lhe fazer pior, que estava com ela, que nem conseguia imaginar o que ela sentia, que tudo vai passar, que ela é muito forte e para não se preocupar que correu tudo bem e já estava onde era preciso. Perguntei se queria mais alguma coisa, tentando parar de falar porque reparei que estava a puxá-la para a realidade da gravidade da situação e não era isso que ela precisava, ela tinha de estar "ocupada", em modo de "vamos lá resolver isto, sentimentos para o fim". Afastei-me dizendo-lhe que ia correr tudo bem. 

E vim a chorar até ao carro. Chorei no carro. Tudo. Tudo a que tinha direito como se algo de mal me tivesse acontecido. Eu que (não que fosse um monstro) não era muito sensível à dor alheia, passei a ter este calcanhar de Aquiles. A Joana dantes ficaria triste pela mãe e pelo bebé, mas não pensaria mais nisso passados 5 minutos, nem choraria, nem falaria com a mãe, nem se ofereceria para ajudar.

Tudo muda quando somos mães.  Tornamo-nos muito maiores para caber este coração gigante que cresceu durante esta nova vida que criámos.

É uma frase que odeio por ser tão corrente, por ser usada em campanhas comerciais, por cantores pimba, canais de televisão, tudo, mas é mesmo o que me apetece dizer:

estamos juntas.