3.12.2019

Custa dizer adeus!

Estamos prestes a dizer adeus à casa de Santarém, a casa dos meus pais que foi / é também nossa. Onde acampei com amigos, no meu aniversário dos 17 anos. Onde passamos todos os Natais desde aí. Para onde nos mudámos quando engravidei da Luísa e me despedi do meu trabalho em televisão. Onde fiz o ninho para a Luísa. Onde vi a Isabel crescer e a Luísa dar os primeiros passos e dizer as primeiras palavras. Onde as vi brincar com os cães, fazer bolos de terra e sujarem as unhas, ou comer relva com o Pipo; apanhar amoras e ficar na rua até ao pôr-do-sol. E, mesmo depois de termos regressado a Lisboa, nunca deixei de imaginá-las a crescer ali, todos os verões, todos os Natais. 

Eu sei que o que importa são as pessoas, que a nossa casa é onde está o nosso coração e a nossa família, que as coisas materiais são mesmo só isso, coisas, mas custa muito. Custa porque são memórias que não se querem perder e que não se podem recuperar. Custa porque eu sou muito lamechas e sensível. Custa porque aquela casa tem uma luz e uma energia muito especial e porque a sentia como "minha casa". 

Agora, tentando ser menos dramática, sei também que iremos construir memórias fantásticas aonde quer que vamos e onde quer que estejamos. Que teremos campo e natureza em casa dos avós paternos, em Évora. 

Acho que a confrontação com as memórias, a descoberta de coisas minhas de infância, desde livros a barbies; CDs, bilhetes e fotografias, me deixa nostálgica. Mas, de facto, com pais divorciados e a viverem longe dali, não faria sentido continuar a ter as despesas de uma casa aonde ninguém vive. E, uma coisa vos digo, que todos os ex-casais tivessem o poder de encaixe e o respeito que tenho visto  nos meus pais: desapego, um lado prático grande e sem guerras e guerrinhas desnecessárias. Orgulho ENORME. 

Sei que seria um tema interessante para explorar por aqui - e já algumas pessoas mo sugeriram, por terem sofrido ou estarem a sofrer, já em adultos, com o divórcio dos pais, mas por respeito pela intimidade de ambos, não o poderei alargar [só posso desejar-vos força - e não, não é fácil].

Fiquem com algumas das muitas, muitas fotos que tirámos naquele paraíso. 
Obrigada por estarem desse lado.


















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3.11.2019

Sinto-me sempre incompleta. Será que ela também?

Adoro rotinas. Adoro saber com o que contar, não sou muito fã de surpresas, a não ser que signifiquem um aumento do meu rendimento e um decréscimo da quantidade do meu trabalho. De resto, sinto-me sempre ansiosa e insegura. A mudança, no imediato e na minha cabeça, nunca poderá trazer coisas boas porque “bem” estou eu agora por estar confortável.

No entanto, à medida que vou aprendendo a incluir-me na minha relação com a Irene, vou-me apercebendo que a flexibilidade não só é importante como é uma peça fulcral para - como a minha cara metade (emoji vómito) me ensinou - “deixar a vida entrar”. É preciso aceitar o que a vida nos vai trazendo, saber receber, saber adaptar e transformar o que há de menos bom no melhor possível. 

Estou a ganhar mais gosto em viver. Eu sei que escrevo tudo de uma forma muito pesada, mas não vejo - ainda - maneira diferente de escrever sobre estas coisas sem serem sempre com uma tónica existencial grande. É como as sinto. 



Nesta fotografia ela teria, talvez, dois anos. Foi no Verão. Parece que já teve umas mil e tal caras até esta que tem agora. Tenho saudades dela de quando era mais bebé. Que chatice. Isto só se resolve tendo-se outro, não é? 

Mas como estava a dizer: há que saber receber. Há que conseguir calar os instintos mais negativos e defensivos para conseguir estar disponível para a “evolução” da vida - devo ser prima do Gustavo Santos e não sei. Se for, quero muito que ele me venha pintar a casa. 

Ao longo desta semana vou ter alguns trabalhos e desafios que implicam mudar as nossas rotinas. Além de ser side-kick (uma espécie de co-apresentadora, mas que não deveria falar tanto, ahah) do Rui Unas no Maluco Beleza, também vou actuar num espectáculo de uns amigos fora de Lisboa (não posso dar mais pormenores para já que sei que já estavam por aí todas malucas a quererem saber, bem sei). 

Tendo em conta que agora a minha carreira já não é registada numa máquina de ponto das x horas às x horas, tenho mesmo de incluir maior flexibilidade. Sorte a minha que a Irene ainda não anda na primária e poderei usufruir de uma liberdadezinha maior a nível de ausências ou de atrasos - pelo menos até a educadora se passar comigo ou assim, eheh. 

A carreira do pai da Irene também é assim e, por isso, neste fim-de-semana, ela dormiu de Domingo para Segunda em casa do pai. Não me levem a mal: é fantástico ter tempo para mim, para namorar sossegadamente (ou nem por isso, eheh) e sentir como uma espécie de evasão da realidade apressada e repleta de responsabilidades, mas sinto sempre que existe uma privação. Cálculo que até possa ser química. Passar a semana inteira com ela, a adormecê-la, a olhar para ela, a dar-lhe banho, tudo e, de repente, ficar sem ela assim é... duro. 

Nem consigo pôr-me na situação das mães que têm os seus filhos num modelo de custódia partilhada, mas sei que somos capazes de tudo. Por isso força para todas as mães (e pais) que sintam ainda de forma mais aguda aquilo que estou a partilhar aqui. 

Pus-me, no entanto, no lugar dela. Quando ela me diz que tem saudades do pai e quando diz ao pai que tem saudades da mãe. Apesar de ser filha de pais divorciados, só me lembro de ter saudades do meu pai, não me lembro de ter saudades de alguém independentemente de onde estivesse. Ela sente-se incompleta também. 

Tento cada vez mais olhar para as situações (é um esforço, mas que implica cada vez menos energia) de uma perspectiva positiva e acho que estas ausências de parte a parte também farão bem à sua apreciação das presenças e também que a ajudarão a desenvolver ferramentas que lhe irão ser úteis para o resto da vida. 

Não há outra alternativa. Para quê martirizar? Esta é a melhor solução de todas e que sorte tenho eu de ter uma filha que sente saudades de ambos os pais. Que o verbaliza junto do outro e que entende o que está a sentir. Não é só sorte, também é trabalho. De todos. Até da minha cara-metade que já lhe ensinou uma verdade que ela já sua que é “há amor para todos”. 

A vida é boa. Ainda que não seja tudo ao mesmo tempo. 




09h00 e já estou cansada, pá!

São agora 09h00 e já ("já" ou será antes "ainda"?) estou cansada.

Acordei-as.

Vesti uma enquanto brincava com uns bonecos irritantes com um som demasiado alto para uma manhã.

A outra fez birra porque queria comer primeiro.

Fez birra porque eu tinha dito que podia ver um episódio dos dragões (???).

Entre respirar fundo e avisos vários de que assim não iria chegar a tempo à escola para ir ao oceanário, sentia a testa a latejar já.

A outra não queria o casaco azul aos quadrados, queria o vermelho, igual ao da irmã. Sei lá onde é que está o casaco vermelho agora.

A papa de aveia ao lume, está aqui está mais grossa que argamassa e depois mais uma birra que não está boa ou um raio me parta. Demasiada canela que saiu sei lá de onde, que o frasco tem buraquinhos pequenos mas, quando é para chatear, cai um nevão de canela. Ai comem assim, comem. Comeram. Mas o babete não era o que ela queria, claro que não. Ai vai desse que não há cá tempo para mariquices, penso para mim e sorrio enquanto lhe ponho aquilo com um sorriso cínico já: "está óptimo, é mesmo bom este babete".

Chega uma encomenda e eu a assinar no meio de um caos de uma casa de quem trouxe ontem meio mundo da casa de Santarém, que tem de ser despejada (e aqui a menina há um ano só trouxe mesmo o essencial).

Última birra porque o saco com o livro da biblioteca da escola, para devolver hoje, não era aquele, que eu tinha trocado com o da irmã (acreditem em mim: são iguais, IGUAIS!!!). O drama, o horror e uma voz de boneco animado a ser linchado a perfurar-me o tímpano.

Amo viver. 

Bom dia para vocês então.
Tenho a certeza de que alguém se irá rever. Alguém?



3.10.2019

Quem sabe mais? O Pai ou a Mãe?

Olá nossas queridas leitoras e ocasionais leitores que são tão amados como quaisquer outros. Desde que piem baixinho. Brincadeira :) Gostam da nova imagem do nosso blog? Ainda requer alguns afinamentos, mas não poderíamos deixar-de vos mostrar, principalmente na data em que foi - o Dia da Mulher.

Quando fomos ter com a Constança Ferreira ao Centro do Bebé, tivemos que lhe perguntar qual dos dois saberá mais no que toca a cuidar de um bebé. Óbvio que a resposta nunca seria "a mãe" ou "o pai", seria sempre muito na ordem dos jogos de educação física quando éramos mais novas "o importante é participar", mas não deixa de ser interessante ver que há muito mais além do "fazer as coisas" no que toca a criar uma criança com apego. 

Fica aqui o convite para ouvirem (e verem) a conversa que a Joana Paixão Brás teve com a Constança sobre isso mesmo. 




Enquanto gravava esta conversa... fiquei com muita coisa por pensar. Por exemplo: quanto de mim e da minha vontade de "controlar a situação" terá impedido que o pai da Irene tivesse entrado mais nos cuidados dela? 

Talvez seja importante partilhar este vídeo para que, algumas mães, também tenham consciência da importância de abrir espaço para não se sentirem tão assoberbadas, mas também para entregar também a quem de direito o prazer de cuidar dos filhos. 





3.08.2019

"Qual é a lenda do Dia da Mulher?", perguntou-me a minha filha de 4 anos

Antes de dormir, a Isabel perguntou-me, ao saber que hoje era o dia da mulher, qual era a lenda. E eu que podia bem ter inventado uma história qualquer de princesas fortes, contei-lhe a verdade. Ou parte dela. Disse-lhe que, há alguns anos, as mulheres não podiam usar calças. Que não podiam trabalhar no que quisessem e que tinham de ficar em casa, mesmo que tivessem jeito para outras coisas e tivessem outros sonhos. Ela ouviu tudo com muita atenção. “Nem podiam jogar à bola?”, perguntou de seguida. Disse-lhe que não. "E ainda há sítios no mundo onde não podem. Um dia vai ser diferente." Poupei-a à violência de saber que há mulheres que apanham na cara dos maridos e miúdas de 14 anos que têm medo dos namorados. Ela não precisa de saber disso, para já. Mas vai sabendo que as mulheres podem fazer tudo o que quiserem da vida, que são inteligentes, fortes e corajosas. Ela diz que quer ser jogadora de futebol do Benfica e, preferências clubísticas à parte, não sou eu quem lhe vai desfazer sonhos. E espero que ninguém o faça. Espero que ela possa ser mesmo tudo o que deseje. Que não lhe perguntem se tenciona engravidar ou o que pensa fazer quando os filhos estiverem doentes, numa entrevista de trabalho. Que lhe paguem o mesmo que pagariam a um homem pelo exercício das suas funções. Que ame e seja amada com respeito e sem violência. Que tenha a coragem e a força para nunca permitir que a menorizem, que a pisem, que a humilhem. 

Há muito caminho a fazer. Muito. Por isso este dia é tão especial. Não me faz confusão nenhuma as flores, os brindes e os elogios, desde que se fale do essencial. 

E o essencial está na origem dos preconceitos, estruturais, de que, por exemplo, a mulher que se veste assim ou assado está a pedi-las, entre tantos, tantos outros.

Além da violência verbal a que se assiste - e às vezes basta navegar nas redes sociais - as mulheres são vítimas de violência, físuca e psicológica, às mãos daqueles em quem supostamente confiavam (e muitas vezes mesmo ao nosso lado e nós não fazemos nada...).  São muitas as vítimas silenciosas; são muitas as que já não vão a tempo de se queixar sequer; são muitas (demasiadas, sempre), as que o fizeram, mas não as conseguimos proteger. E ainda houve quem lhes chamasse desleais, imorais e outras coisas que tais. A justiça falha com elas.

É preciso coragem para dizer não, basta e adeus. Muita, nem nós sabemos quanta. A vergonha, a culpa, o medo moram todos lá em casa. E às vezes uma espécie de amor, acha-se,... e esperança. Sabemos lá nós.

Feliz Dia da Mulher (que um dia seja um dia feliz para TODAS)
Com ou sem flores, com ou sem maquilhagem, mas com muita, muita coragem.