11.23.2016

Ao meu irmão

Às vezes acho que devíamos estar mais. Abraçar mais, beijar mais, rir mais. Estamos demasiado afastados, apesar de à distância de uma chamada. Nunca gostámos muito de falar pelo telemóvel. Preferimos almoços ou esparramarmo-nos no sofá da sala, apesar de o fazermos poucas vezes. Eu fui mãe e vim morar (mais) longe, tu tens um restaurante e todos sabemos a dedicação que isso implica. Ambos sabemos que estamos no coração um do outro.

Mas eu não me quero desapegar de ti, mano. Não quero deixar de recordar os momentos em que nos dávamos como gato e rato, o teu espanhol até teres ido para a primária ou a forma como dizias "vitaminas" (menimeni), as batatas fritas que ficavam no prato porque odiavas, a vez em que partimos a televisão lá de casa com as nossas ginásticas acrobáticas ou a vez em que mandaste uma vassoura do sexto andar, que partiu um vidro de um carro, novo por sinal. A vez em que nos mascarámos, eu de índio e tu de cowboy. As vezes, aliás, que não havia dinheiro para comprar outras. Houve uma vez em que trocámos. A falta de paciência que eu tinha para te ajudar a fazer os trabalhos de casa. Aquela vez em que te esqueceste de avisar que tinhas um trabalho de colagens para a escola, para o dia seguinte, e ficámos a fazê-lo noite dentro (e ainda estraguei as calças emprestadas pela Priscila com cola!). As férias na Caparica na casa dos primos e, mais tarde, no Algarve. Sempre acompanhámos os pais em férias, mesmo já adultos, porque sempre adorámos estar em família. Continuo a adorar. 

Nem acredito que aquele miúdo que às vezes me dava umas valentes marretadas se tornou num homem maravilhoso de 28 anos e num tio "Fequico" cheio de paciência. 

Amo-te, querido mano. Nem consigo imaginar a minha vida sem te ter tido. 

Parabéns, Frederico. Para sempre "Tita", mesmo que não gostes. Foi assim que te baptizei por ser gaga e por ser tão difícil dizer o teu nome. Parabéns, meu Tita.

Sabes aquele dentinho preto que tinhas, depois de teres caído? Dá-me um jeitão agora com a Isabel - identifica-se contigo, por ter o dente partido! ;)

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Escrever para não esquecer

Às vezes tenho medo de me esquecer. Já percebi, pela minha experiência de dois anos e tal da Isabel, que a maternidade teve momentos em que meti a quinta e acelerei e teve outros em que, apesar de termos ido em terceira, não me consigo lembrar com a nitidez com que gostaria. Digo muitas vezes, em conversa com o David, que devíamos apontar. Coisas pequenas, frases mal ditas, expressões divertidas, momentos ternurentos, palavras inventadas. Coisas como "ontem, ao adormecer a Luísa ao colo com shhhhh ela veio atrás de mim a adormecer o macaco com shhhhhh." Ou "eu sabo tudo, mãe." Ou "o mata de moscas". Ou, ainda esta semana: "mana, parece mesmo uma bola. E é!". Ou quando no carro, depois do pai lhe perguntar como se chamava o bebé dela, ter respondido "É o Silva!". Coisas nossas, pequeninas, sem interesse suficiente para as vir escarrapachar aqui no blogue. Não quero esquecer-me delas. Apesar de saber que este sentimento avassalador de descoberta, de amor, de paixão desmedida não se apagará, já não me lembro do cheiro exacto da Isabel quando era bebé e valem-me os vídeos para que me recorde do som baixinho da voz (que delicada era ela a chorar!). Os dois anos são uma fase que tem tanto de desafiante como de apaixonante e sinto que ela cresce de dia para dia. E com ela os medos do lobo mau (que pesadelo terrível que teve no outro dia, coitadinha), e com ela as frases tão bem construídas, e com ela uma paixão pela irmã que se sente a quilómetros. Uma satisfação gigante ao fazê-la rir. 

Escrever para não esquecer, é o que tenho de fazer. Aqui ou num caderninho.

Fotografia do evento da Igor

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