7.28.2016

Que privilégio é termos filhos.

Sabem aqueles momentos que acontecem nos filmes quando uma pessoa está prestes a falecer ou algo do género? Aqueles flashbacks com uma montagem muito muito bonita dos momentos mais importantes da vida dessa pessoa? Os que mais lhe tocaram na alma, no coração? Os que a fizeram ter vontade de viver? As paixões... tudo...?

Por mim, se eu estivesse a falecer, nesse pequeno filme, poderiam ter sido estes 10 minutos em que vi a Irene a cheirar as flores e com esta magnífica paisagem... 

Acrescentava um slowmotion e daria para ir em "paz". Ainda bem que tinha a câmara comigo. 

Que privilégio é termos filhos. Filhos e flores. Filhos e paisagens.

Sim, não parece, mas fui eu (Joana Gama) quem escreveu isto. 



 

 

 

 


 

 



Chapéu - Zara

Macacão - Little Jack Baby Clothes

Local - Descida para a Praia de Porto Novo por baixo do Hotel Ô Golf Mar

Pensei que morria depois do parto

Tive o melhor parto do mundo. Pelo menos foi o que senti quando peguei na minha filha, acabada de nascer, sem grande esforço, às 20 horas em ponto, como já contei aqui. O pior - e mais inesperado - veio pouco depois. Comecei a perder sangue. No recobro, estava a perder muito, muito sangue. O útero não contraía, davam-me medicação, ocitocina, massagens dolorosas externas para o obrigar a ir ao sítio, e nada: completamente espapaçado. Comecei a ver algum rebuliço por ali, as caras, que antes me transmitiam força e alegria, já não esboçavam sorrisos e pressenti que algo não estava definitivamente a correr bem. Disse logo ao David: "tinha de ser, isto bem me estava a parecer bom demais". 

Os dois médicos, que me seguiram nas últimas semanas, de volta de mim, enfermeiras, algum nervosismo, nova perda gigantesca de sangue, ouço pedirem para retirarem a outra senhora do recobro, continuam a tentar medicações intravenosas, novos cateteres, comprimidos no ânus e nada... Pergunto se há mais alguma coisa que possa fazer para ajudar (já tinha estado a tentar obrigar o útero a ficar quietinho abaixo do umbigo, depois daquelas massagens horrorosas, mas em vão) e ainda os ouvi a pedirem sangue para transfusão, já a minha hemoglobina devia estar a 4 (imaginem, o normal é de 13 a 17...).

Senti imenso frio - espasmos incontroláveis - e começo a ouvir as vozes cada vez mais ao longe e aviso que vou desmaiar. Acho que nunca fiquei totalmente inconsciente. Já a caminho do bloco operatório, começo a chorar. Estava tudo a ser demasiado real e assustador. Imprevisível e totalmente paradoxal, depois de um parto de sonho. Vi demasiados filmes e séries e aquilo não acabava bem. E se eu morresse? Que pena não ver a Isabel a brincar com a Luísa. A Luísa não vai conhecer a mãe, não vai ter o meu embalo, ouvir a minha voz a cantar para ela, a Isabel nunca se irá lembrar de mim, irá construir memórias só através de fotografias e vídeos. Mas o David vai dar conta do recado, que sorte que as minhas filhas têm em ter um óptimo pai. Irá ele ficar a viver na mesma casa, com a minha mãe? Espero que sim, para ter ajuda. E de repente sinto que tenho de deixar este recado, entre soluços: "Se algo não correr bem, digam ao David que ele é um óptimo pai e que vai conseguir dar a volta". E, nesse momento, tenho as enfermeiras e auxiliares já de lágrimas nos olhos a pedirem-me para não dizer aquelas coisas, que tudo ia correr bem. Recebi um beijinho de uma delas. "Eu sou feliz, digam-lhes que eu sou feliz". Aí pensei que era injusto. Que não precisava de nenhuma lição, que não era necessário passar por aquilo para dar mais valor à vida. Pensei no quanto gostava de viver e que não merecia. Senti mesmo que ia morrer. Tive medo, tanto, tanto... Antes da anestesia geral, para a qual não estava preparada por achar que podiam ser os meus últimos segundos, disse, entre soluços: "Digam-lhes para não ficarem revoltados, para não perderem tempo com isso. Que sejam felizes". Lembrei-me do olhar do David, preocupado, com a nossa filha Luísa no colo, quando lhe pedi para sair do recobro, para não assistir àquilo tudo, àquelas perdas de sangue de filme da idade média.

Só nos voltámos a falar às 4 horas da manhã, através do telemóvel que uma enfermeira me emprestou. Chorámos muito, os dois. E choro agora, ao recordar o dia mais assustador da minha vida. O medo dava lugar ao alívio. O David tinha ido para casa para que a minha mãe - que estava a cuidar da Isabel - não desconfiasse de nada, não quis preocupá-la. Tive pena dele, do enorme susto que tinha apanhado, ao longo das várias horas numa operação de urgência. Chorei todas as lágrimas que tinha por não ter estado com a Luísa nas primeiras horas de vida dela e por estar longe da minha cria. Chorei por estar, afinal, cheia de pontos na barriga, depois de um parto tão simples e sem episiotomia.

Tive uma hemorragia pós-parto (acontece a aproximadamente 2% das mulheres que dão à luz e é uma das principais causas de morte materna) provocada por uma coisa chamada atonia uterina (útero não contrai e os vasos uterinos ficam abertos). Não sendo gravidez gemelar, não tendo tido muitos filhos antes, não sendo a Luísa uma bebé enorme, não tendo excesso de líquido amniótico, não tendo sido um parto prolongado, entre outros factores de risco da atonia, ainda mais raro se torna. Antes de partirem para o corte na barriga (laparotomia ou lá como se chama), ainda usaram uns quantos procedimentos via vaginal - já comigo anestesiada - para tentar resolver a atonia. Nada. O último dos procedimentos seria a histeroctomia, remoção do útero, mas felizmente, através de suturas compressivas no útero (técnica de um português, chamado Alcides Pereira) conseguiram apertar o útero, obrigando-o a ficar contraído, como um chouriço, o que fez parar finalmente a hemorragia [registei com agrado, e já com o sentido de humor reposto, o facto de não ter sido necessário corte em T na barriga por ser magra eheh]. Dentro do horrível, correu tudo muito bem, conservaram-me o útero e estou cá para contar a história e para cuidar das minhas meninas. Fiquei, claro, com a pulga atrás da orelha sobre o que poderá ter originado tudo aquilo e gostava de fazer exames ao sangue mais exaustivos para perceber se poderei ter alguma anomalia no sangue, se coagulo mal... eu sei lá. A revisão, passado um mês, correu muito bem e a médica até brincou, dizendo que eu estava pronta para outra.

Tenho muito a agradecer. A todos os profissionais, sem excepção, que me trataram com toda a simpatia e generosidade durante o parto, em todas as suas fases (até o cuidado com que a primeira trouxa da roupa foi preparada e dobrada pela enfermeira - seria antes auxiliar? - me comoveu). Foi importante todo aquele ambiente de descontracção, foi importante sentir-me bem cuidada pela médica, pelas enfermeiras e auxiliares, sempre com um sorriso na cara.

Mais importante ainda, o momento da expulsão. Nunca esquecerei a enfermeira Guadalupe, nem os olhos meigos da outra enfermeira de cabelo curtinho, Lidia, a quem vou dar um abraço se com ela me cruzar na rua..., que me encorajaram na hora h e com a ajuda das quais tudo me pareceu (ainda) mais fácil.

Mais importante ainda, o momento crítico e todo aquele sangue frio e profissionalismo misturado com lágrimas, de uns seres humanos fantásticos que se preocupam e que, nos dias seguintes, lá estavam, no quarto, prontos a dar-me palavras de conforto. Até abraços recebi. E que falta eles me faziam...  

Além de me terem salvado a vida, aquelas pessoas quiseram devolver-me o coração, que ainda estava com muitas mazelas, e conseguiram-no. É possível - tenho duas provas disso, e passei por diferentes equipas nos dois partos, tanto no Hospital da Luz, como no Hospital de Santarém - ter partos "humanizados" (termo agora muito em voga), em que nos sentimos amparadas e felizes num hospital, seja ele público ou privado. Nem quero pensar no que poderia ter acontecido se tivesse tido a ideia romântica (?) de ter o parto em casa... teria havido tempo?... Estava à hora certa, no local certo.

Obrigada Dr.ª Rita e Dr. Carlos pelo cuidado e atenção e obrigada a todos os profissionais do Hospital Distrital de Santarém que se cruzaram comigo nesses dias. Há gente boa no mundo que se dedica, de corpo e alma, ao que faz.


A tentar esboçar um sorriso, no dia 1

Toda torta, coitadinha (era para condizer com a mãe)

O melhor pai do mundo (em ex aequo com o meu, pronto)

Luísa, com 3 dias de vida

*grávidas que me lerem, confiem: vai correr bem. Se não correr (o que é muito raro!), vão estar no sítio certo, à hora certa, com as pessoas certas. Desfrutem do vosso parto, os momentos bons vão prevalecer e os vossos filhotes vão compensar cada dor. 



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7.27.2016

Fomos ao Zoo do alentejo!

Por sugestão vossa, fomos, na semana passada, até ao Monte Selvagem, em Montemor-o-Novo. Está muito bem pensado para crianças porque, além do tractor, do qual podem observar inúmeras espécies, vai tendo espalhados pelo recinto, vários parques com escorregas, pneus nas árvores e balouços em madeira, "lutas" de mangueira (com duas mangueiras para fazerem um frente a frente e se molharem uns aos outros), assim como muitas zonas arborizadas e com sombras, para eles descansarem ou lancharem (a Isabel e a Luísa dormiram um bocadinho nos respectivos carrinhos numa sombra). Tem bar que serve sopa e duas refeições, além de snacks e sandes, o que também ajuda. Gostei, aliás, gostámos! A Isabel fez birras e a Luísa praticamente não desgrudou da mamã, mas fez-nos bem sair de casa e desfrutar do único dia em que não fez um calor abrasador no alentejo, na semana passada. Nunca fui ao Badoca Park, por isso não tenho termo de comparação, mas achei o Monte Selvagem muito giro!

Para a semana vamos estar no Douro, em Mesão Frio, e depois no Porto e Matosinhos. Alguma sugestão de passeio e de paparocas por essas bandas? :)















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