2.24.2016

Última semana na creche de sempre

Ui. Como vos explicar o quão pequenino o meu coração está?

Imaginem terem de deixar a vossa filha, tão bebé, com desconhecidos. Imaginem que a vossa filha conheceu estas pessoas com 5 meses e meio (aqui). Imaginem que, no meio de tantas inseguranças (normais de mãe) com leitinho, depois sopas, colo, sestas, amor, atenção, doenças, tudo corre bem. Que a vossa filha se habituou de uma forma fácil ao ambiente e às pessoas (aqui). Que tem uma amiguinha, a Laura, com umas bochechas maravilhosas e um sorriso lindo, que está com ela desde o início.


Nem precisa de legenda. Foi a 1 de setembro de 2014.

Imaginem que aquele bocado de coração que vos foi roubado no início, voltou a crescer e que se apercebem que a vossa filha gosta de lá estar, que é feliz, que foi bem tratada, estimulada, acarinhada. Que lhe deram muito colinho. E regras. E que por lá come sempre sopa (coisa que em casa é quando o rei faz anos...). Que sabe de cor o nome de todas as educadoras e auxiliares (chateia-me chamar-lhes auxiliares, por mim ficam todas educadoras!). Que não gosta muito quando a vamos buscar mais cedo. Que corre para a aula de música às terças feiras (mesmo que vá sempre atrasada, pais desnaturados!) e que em casa pede para lhe pôr as músicas da Vera (professora de música), que já sabe trautear. Que já consegue fazer um resumo do que fez no dia, que me conta se fez cocó ou xixi na sanita, toda orgulhosa.
Imaginem agora que este ano e meio foi bem melhor do que esperaram no início. Que tudo se fez, que a bebé se tornou numa criança traquinas (e que faz moche aos colegas...) mas também carinhosa, que dá beijinhos à Ana e à Guida e que adora a Lola e a Ana e a Fátima e "todaaaas", como ela diz. Sinto-a feliz ali. E vai acabar.

"Obrigada por me terem ajudado a crescer" é a frase que mais se vê por aí escrita nas lembranças que se oferece às educadoras.

Eu agradeço por terem ajudado a Isabel a crescer. Mas também por terem ajudado esta mãe e este pai a sentirem-se um bocadinho menos culpados, quando se atrasam a ir buscá-la, por saberem que ela está bem entregue. Por estarem lá, quando nós não estamos. Por terem sido a segunda casa dela, numa fase tão importante no seu desenvolvimento. Por terem passado mais horas com ela do que nós e por terem dado tanto de vós. Reconheço que o vosso trabalho é muito, mas muito cansativo e de uma enorme paciência e responsabilidade, mas tenho a certeza de que também compensador. Que se lembrem sempre do sorriso da Isabel, das caretas e disparates. Ela não se vai lembrar de vocês daqui a uns anos, mas eu farei questão de lhe contar que foi muito feliz aí.

Obrigada.


2.23.2016

Coisas que uma mãe feliz faz.

Já estive do outro lado, do lado infeliz, do lado cansado... ao mesmo tempo que, por uns minutos, tinha laivos do lado feliz da maternidade. Esta mudança deveu-se muito a dormir melhor (já vos falei disso aqui e aqui), mas também a tratar da minha ansiedade (aqui) e a voltar a trabalhar (aqui). 

Já chega de links, caramba. 

Mais fotos aqui


Coisas que noto em mim, agora que está tudo mais calmo: 
(não sei quanto tempo durará, mas sei que não será assim sempre e para sempre)

  • Quando a Irene me chama de manhã para acordar, vou cheia de vontade de a ver e entro no quarto com alegria e a brincar com ela e cheia de vontade de a mimar. - Dantes entrava triste, cabisbaixa, sem lhe passar alegria nenhuma por estar tão cansada e até zangada por ter sido acordada. 
  • Consigo arranjar estratégias mais criativas para contornar problemas temperamentais. Dantes, assim que ela me dissesse que não queria trocar a fralda (assim que acorda), ficava logo enervada. Agora, brinco e lá se muda a fralda até de uma maneira divertida. 
  • Tenho mais vontade de a integrar nas minhas tarefas. Em vez de a privar de ver a mãe a cozinhar (como se  eu cozinhasse) ou a maquilhar-se, tenho vontade de lhe mostrar o que são batons, as cores, etc. Dantes ela ficaria excluída e dir-lhe-ia só "isto é dos crescidos". 
  • Preparo-lhe os lanchinhos (e para mim também). Ontem lavei e cortei os morangos todos para, sempre que ela quiser, ser só servir. 
  • Presto mais atenção aos detalhes dela. Às vezes ela anda com as unhas mais tortas ou com o cabelo menos penteado ou, quando vamos à rua, visto-lhe a primeira coisa que me aparece à frente. Agora, até as unhas limei, tive finalmente paciência para inventar uma brincadeira para lhe conseguir secar o cabelo, ponho-lhe creminho da cara na cara, faço-lhe massagens nos pés depois do banho e escolho com imenso gosto e carinho a roupa que ela vai usar (se depois resulta, isso é outra coisa). 
  • Menos ipad e mais livros. Estou mais disponível para lhe dar de comer e para lhe contar histórias e ler coisas que impliquem paciência e não a despacho para o ipad. 
  • Mais dança! Mais vontade de por música a tocar, inventar coreografias, mais actividade física. 
  • Mais gosto em adormecê-la. Adormecê-la deixou de ser uma tortura e passou a ser um momento maravilhoso em que contemplo e saboreio e depois sinto um prazer enorme em que ela se "entregue ao sono" por se sentir protegida pela mãe que está ali ao lado dela. 
  • Mais carinho físico. Acaricio-a mais vezes, dou-lhe mais mimos, olho mais para ela, sorrimos mais juntas. Há mais silêncio. 
  • Maior vontade de fazer planos diferentes. Principalmente agora que o tempo não tem estado grande espingarda, apetece-me ensiná-la a descascar a banana para os bolos, a mexer nos ovos cozidos, a experimentar aulas de natação (ainda tenho de ir ver disto).
  • Vejo-a mais como ela é e o crescimento dela. O tempo abranda um bocadinho e consigo vê-la a crescer, que qualidades tem, como será a personalidade dela...
Isto tudo para vos dizer: se tiverem algo que vos esteja a impedir de serem felizes, resolvam! Ajam! Cada dia que passa é mais um que poderia ter sido muito mais fabuloso. E o bom disto é que, assim que descubramos como é bom quando as coisas correm assim, não queremos outra coisa e facilmente voltamos ao nosso equilíbrio. 

Assim, sim! ;)