11.02.2015

Como sobreviver ao primeiro dia de trabalho depois de ser mãe?

O regresso ao trabalho pode ser muito muito complicado. Seria de pensar que, quanto mais tarde, menos nos custasse, mas não. Fui trabalhar quando ela tinha 5 meses e agora quando ela tem 19 e não custa menos. 




Hoje foi o primeiro dia de regresso ao trabalho. Ficam algumas dicas para quem vá passar pelo mesmo em breve: 


Maquilharmo-nos.  - Temos de entrar a matar. Nem é por quem nos vai ver. É por nós. Já vamos ter coisas suficientes para nos deixarmos desconfortáveis que, se tivermos algumas a darem-nos um boost é melhor. Se, no meu caso, tiverem um problema de pele, é capaz de ser mais agradável não parecerem um fiambre passado do prazo. 

Protegermo-nos. - Não queremos que o nosso aspecto físico seja tema de conversa, a não ser que sejamos a Carolina Patrocínio. Vestirmo-nos de maneira a não chamar muita atenção para não levarmos com comentários que, mesmo que não sejam maldosos, como estamos mais em baixo, poderão ser entendidos assim. Vesti uma tenda da Quechua. E há tendas giras. Vocês, mais gordinhas, sabem ;)

Evitar estar sempre a fazer beicinho. - Queremos ser "respeitadas" e, por isso, não devemos mostrar exageradamente a nossa vulnerabilidade. Já sabem que sentimos falta dos nossos filhos. E, se estiverem num local de trabalho como o meu, onde quase ninguém tem filhos, ninguém quer mesmo saber as coisas que temos para partilhar e se já lhes passou a diarreia.

Atenção às fotografias. - Temos de personalizar o wallpaper do computador com uma foto dos filhos? Claro. Também temos de por uma moldura na secretária com uma fotografia? Claro. Sempre gozamos interiormente com essas pessoas, mas agora está na altura de nos juntarmos à manada. Porém, aconselho que não seja no primeiro dia. No primeiro dia não sorrimos a pensar "que saudades". Não sorrimos sequer a olhar para elas. 

Evitar olhar para o relógio. - Claro que vamos olhar. Claro que sim, mas seria melhor não estarmos constantemente a olhar para o "dantes". "A esta hora estava a dar-lhe o lanche". Evitar fazermos isso a nós próprias, não podemos ser as nossas principais inimigas. 

Não esperar uma festa. - A vida continuou enquanto fomos parir e de licença. O mais provável é que não vos recebam com um bolo e confetis. Chegaram, momento dos beijinhos e tudo segue em frente. Menos para nós. 


É o que eu tenho para vocês, hoje. Mais dicas de mães que já tenham mais balanço? 

É hoje.

É hoje que volto ao trabalho, mas mais ou menos. Afinal hoje vou só a uma reunião para me designarem as minhas tarefas. Ontem foi um dia complicado. Tanto me parecia um dia normal, como rebentava em ataques de choro. O pior foi quando acordei da sesta (aproveitei para fazer a sesta dela porque as noites têm sido do piorio). Acordei com um peso enorme em cima do peito (e não é das maminhas descaídas de amamentar há 19 meses). Acordei com aquela sensação de que algo tinha mudado imenso na minha vida e que não havia como voltar atrás. Sensação semelhante a quando acabamos um namoro e nos apercebemos disso no dia seguinte, não sei como explicar. 

O desafio agora é grande. A Irene e eu estamos habituadas a um ritmo, a partilharmos tudo uma com a outra a toda a hora. Não digo que, com esta mudança, não surjam coisas óptimas para nós porque vão surgir, mas vai custar o desmame. Talvez me custe mais a mim. As músicas que eu danço e canto com ela são as que vou ouvir no meu trabalho, ela vai ficar em casa com o pai e ele vai enviar fotografias...  Sei que são tudo "problemas", mas vai ser difícil. 

Acima de tudo preocupa-me como vai ela interpretar as minhas saídas. Ao longo da vida dela, quando saí, foram raras as vezes em que saí com ela acordada. Agora vou ter que me despedir. Sei que isto são "problemas", mais uma vez. Sei que tudo podia ser pior, mas não deixa de se fazer sentir como mau para mim, no momento. 

Resta a pergunta, como é que se aproveita todo o tempo quando o tempo deixa de ser todo? 

Entretanto vou focar-me em comprar um bloco novo para o trabalho, uma caneta, maquilhar-me e vestir qualquer coisa que me fique bem. Não sei porquê mas ajuda. Comprar cadernos e canetas sempre me ajudou, vá-se lá saber porquê. 

Bem sei que isto não é "um post", é mais um desabafo, mas não conseguiria escrever sobre outra coisa hoje. 

Estou pronta para o pior e depois para o menos mau e depois para um novo "normal". 



Obrigada pelo apoio <3