2.03.2015

Afinal havia outra (#05) - Vida em nós

Sete meses depois de perder a minha Mãe descobri que estava grávida. Engravidei em Maio de 2013, na semana do Dia da Mãe, o primeiro que vivi sem a minha. Curiosamente, um dos últimos pedidos que a minha Mãe me fez foi que lhe desse um neto. Um pedido feito na cama do Hospital, rodeada de fotografias e de objetos desnecessários aos olhos dos outros, mas que a aproximavam de casa. Lembrou-me que a vida passa depressa, que os sonhos não devem ser adiados. Nesse dia, pensei de forma ainda mais séria sobre o assunto: ser Mãe. Eu que estava cheia de medo de perder a minha, que enfrentava a desilusão de perceber que os pais não vivem para sempre - o que não é o mesmo que dizer que “não são eternos”. Porque os pais são eternos. As Mães são feitas de uma massa tal, que conseguem estar presentes na beleza de uma flor, nos pingos da chuva que nos fazem cócegas no rosto, no bolo acabado de fazer, no som do mar que nos embala a alma. Não é à toa que no final da gravidez a nossa barriga se assemelha a uma lua cheia. Lua, o único satélite natural da Terra cuja superfície se mantém intacta há milhões de anos, tal como o amor de Mãe, que é feito de matéria imaculada e inalterável, da matéria que são feitos os sonhos e o amor incondicional, amor que nunca morre, que com o tempo só cresce e permanece.



Estas palavras que escrevo não são sobre a perda, mas sim sobre a vida. Ou melhor, sobre o prolongamento da vida garantido no momento do nascimento dos nossos filhos.

A minha filha Clara nasceu no dia 7 de Fevereiro de 2014 e desde esse dia passei a viver com metade do coração fora do peito, porque é também dela este músculo que há um ano pulsa dentro de mim de forma surpreendente e inesperada. A Clara é muito mais do que imaginei. É plena de luz, de uma serenidade que contrasta com a sua curiosidade, tem uma alegria contagiante e um entendimento fora de série. E apesar de (quase) todos dizerem que é a cara do Pai, tem o meu sorriso e um olhar expressivo como eu. Pelos olhos dela vejo o Mundo pela primeira vez.

Quanto à Avô Juca, não tenho dúvidas da cumplicidade que tem com a neta, construída não neste plano físico, mas num outro qualquer que as palavras não explicam. E sei que a visita em sonhos, desde o dia em que nasceu, e que é por isso que a Clara sorri tanto enquanto dorme. Imagino-as a percorrerem campos povoados de girassóis, com os cabelos ao vento, a encostarem búzios ao ouvido para escutarem o som do mar, a abrirem todas as janelas de casa para deixar o sol entrar, dia após dia.
As Mães jamais se perdem, porque as Mães são ternas e eternas, porque cada filho que nasce acrescenta vida à (nossa) vida. 
 
Palavra de Mãe (da Clara).

Sandra Torres
mãe da Clara, de 11 meses (quase 12)

(O crime da) banana com bolacha

Sei que "banana com bolacha" parece o nome de mais uma loja de roupa compostinha (para não dizer betalhona) no facebook mas, por acaso, não é disso que venho falar. No outro dia, o meu marido sugeriu que desse banana com bolacha (umas Maria especiais visto que a Irene é APLV) e a miúda adorou. O problema é que não foi a única. 

Enquanto que com a sopa o meu principal objectivo é que ela coma tudo (sem birra) ou praticamente tudo, esta sobremesa veio mudar a nossa dinâmica alimentar - sempre que se usa a palavra "dinâmica" parece que tudo fica muito mais credível, não é? 

Ora, eis que me começo a aperceber que não insisto muito que ela coma a sobremesa toda. Inicialmente disse a mim própria que era porque "a banana faz prender o cocó", por isso, se ela não quer, melhor para ela". 



Depois apercebi-me que não era bem isso que estava a acontecer. Eu queria, afinal, comer-lhe a sobremesa. Se não abria a boca cheia de vontade uma vez ou duas, dizia logo: "não queres? não faz mal filha, não há problema". Zinga! Tudo para o bucho da mãe. Porquê? Porque é das coisas mais deliciosas de sempre. 

Se é ou não... agora não sei! Como estou numa espécie de dieta, até os individuais da mesa de refeições me parecem estar a piscar o olho.

O meu pai sempre me disse: "ser pai é tirar da nossa boca para dar aos filhos". Yewwww. 

No meu caso, sou mãe e tiro da boca da filha para pôr na minha, mas é porque a banana prende muito o cocó, claro.