1.06.2015

Socorro! O meu bebé está em stress!

Isto foi o que pensei quando, às 20 e tal semanas, senti pela primeira vez pontapés ritmados na minha barriga. Pum, pum, pum, pum, num ritmo constante e assustador.
Imaginei logo a Isabel em stress a bater com a cabeça na minha barriga, com espasmos ou em sufoco. Achei que ela estava mal. Eram umas 4h da manhã e ela estava assim há uns bons minutos. Sei que nestas alturas se deve perguntar a toda a gente menos ao Sr. Google, mas eu não resisti.

Afinal eram soluços, minha gente! Que parva! Que drama queen!

Agora o que eu não percebo é por que é que ninguém nos avisa que isto pode acontecer e que é normal? 
Pronto, lá fui eu descobrir de coração a mil que os bebés podem ter soluços no útero e que até é um bom sinal: estão a treinar os movimentos respiratórios. E podem estar naquilo horas.

Pronto, futuras mães avisadinhas. Quem é amiga, quem é? A Mãe é que sabe a evitar ataques cardíacos desde 2014.

Força, suas leiteiras (#01)

Estarmos informadas sobre a amamentação serve para podermos sermos uma fonte de apoio para as mães que optem por amamentar e que possam passar por algumas dificuldades (nem sempre há problemas).

É também muito importante para não sermos repetidoras de informação incorrecta, porque tal pode ser o factor decisivo para a desistência de algumas mães.

A OMS recomenda o aleitamento materno em exclusivo até aos 6 meses. Além de estarem provados os benefícios da amamentação prolongada (com desmame natural), a OMS também sugere a amamentação até, pelos menos, os dois anos de idade.

A questão é: serão as possíveis dificuldades na amamentação que provocam tantas desistências ou será a falta de informação?

Para tentar ser mais produtiva neste assunto e com a ajuda de uma amiga (Patrícia Paiva, co-fundadora do projecto Mamar ao Peito cujo site está cheio de informação útil), pensei nalgumas perguntas para fazer a uma CAM. Se calhar, começando, pelo princípio:

1 - O que é uma CAM?

Uma CAM é uma pessoa, profissional de saúde ou não, que fez um curso de formação em aconselhamento sobre aleitamento materno. O curso é certificado pela Organização Mundial de Saúde e consiste em adquirir conhecimentos técnicos de amamentação. Normalmente é feito por pessoas que querem ajudar mães a amamentar ou para complementar uma profissão relacionada com mães e bebés.

2 - O que te fez querer ser uma? 

Tudo começou no fórum PinkBlue que comecei a frequentar quando o meu filho tinha cerca de quatro meses. Na altura, amamentava o meu filho em exclusivo e ajudava outras mães com dúvidas iniciais, achando eu que era uma expert no assunto… Sempre foi um tema que me interessou e felizmente comigo sempre correu tudo bem, mas li muito sobre amamentação e no fórum comecei a dar conselhos com base naquilo que lia. Quando o meu filho tinha 5 meses e meio fui mal aconselhada por uma médica, procurei a ajuda do SOS Amamentação pela primeira vez, porque não queria ir contra a opinião da médica sem me informar primeiro. A médica queria que eu desse papas ao meu filho, porque não estava a engordar o suficiente e por ter um percentil baixo. Mesmo depois de ouvir os conselhos sábios da CAM que me atendeu, não consegui ter força suficiente e cedi à pressão, não correu nada bem e não foi por ter iniciado as papas 15 dias antes que ele engordou mais ou subiu no percentil. Acho que foi nessa altura que decidi que queria saber mais sobre o assunto, mas apenas fui fazer o curso quando ele já tinha 8 meses, juntamente com a minha amiga Bárbara Correia, que conheci no fórum também, através do interesse comum pela amamentação e que também me incentivou a fazer o curso.

3 - Por que é que há cada vez mais CAMs? 

Quando fiz o curso, em 2008, quase ninguém sabia o que era uma CAM, mas aos poucos fui assistindo à divulgação desta actividade através de fóruns, sites, artigos em revistas e até na televisão. Hoje em dia, com o facebook, penso que já é um serviço bastante divulgado e quando uma mãe num grupo diz que tem problemas na amamentação, alguém aparece e sugere uma CAM, explicando o que é e dando contactos. Com o aumento da procura foi havendo uma maior oferta de CAMs e, felizmente, hoje já somos umas quantas espalhadas por todo o país.

4 - Quando te pedem ajuda, que meios utilizam?

Sou contactada de várias formas, através do chat ou grupos no facebook, emails, telefonemas… O meus contactos estão no site do Mamar ao Peito que criei em conjunto com a Bárbara. Por isso, muitas mães chegam a nós por aí, ou porque são recomendadas por uma amiga. Se for algo que se consiga resolver por telefone ou chat, o contacto fica por aí, mas em alguns casos mais complicados pode ser necessário um acompanhamento presencial e nesses casos vou ter com elas, se for dentro da minha área, ou encaminho para outra CAM, se ficar fora de mão, ou se ultrapassar as minhas capacidades.

5 - Haveria a necessidade de haver CAMs se os médicos tivessem uma formação adequada sobre amamentação?

Penso que sim, porque não acho que este seja um assunto de médicos, normalmente é um assunto de mães! E o ideal seria que fosse como antigamente, em que a sabedoria da amamentação era passado de mãe para filha e a ajuda vinha das mães, tias ou irmãs que tinham amamentado também.

6 - Existe leite fraco?

Não, não existe leite fraco, o leite que cada mãe produz é adaptado ao seu bebé e, para que este não tenha as propriedades suficientes, seria necessário a mãe estar num estado grave de desnutrição, e aí viam-se primeiro os sinais na mãe e só depois no bebé. O que pode acontecer é haver uma baixa na produção de leite, ou o bebé não estar a conseguir receber leite suficiente e, para se resolver esse problema, é preciso perceber o motivo que o provoca e é normalmente isso que fazemos com as mães.

7 - Por que é que existe uma preocupação enorme em torno do aumento de peso do bebé nos primeiros dias de vida? Por que é que a primeira solução é sempre a sugestão do suplemento e não a correcção da pega?

A preocupação relativamente ao aumento de peso dos bebés faz sentido, porque é um dos sinais de que tudo está bem, uma perda de peso sem motivo aparente ou dificuldade em recuperar o peso pode ser um indicador de que algo deve ser visto e um dos motivos pode ser realmente a amamentação. Mas, normalmente, há motivos que justificam essas dificuldade em recuperar o peso, como um início complicado, um bebé sonolento, uma má pega, amamentação com horários estipulados… As possibilidades são muitas e essas devem ser avaliadas antes de se passar para outra solução.

A solução mais rápida e eficaz é, realmente, o suplemento, porque o bebé ingere mais leite e rapidamente começa a recuperar o peso. Mas antes de se sugerir a suplementação com leite artificial, devem avaliar-se outras questões e apoiar a mãe se a opção dela é amamentar. Compreendo que, por vezes, no hospital ou no centro de saúde, não haja disponibilidade para estar mais de uma hora a falar com uma mãe para tentar perceber o motivo por trás do pouco ou nenhum aumento de peso, mas se não há essa disponibilidade deveria haver um cartão com contactos de CAMs ou um grupo de apoio para dar às mães nessa situação em vez da prescrição do suplemento, se isso acontecesse tenho a certeza que se evitariam muitos desmames precoces.

8 - Existe o vício de mama?

Normalmente associamos a palavra vício a algo prejudicial, por isso não o consigo associar à mama. Há bebés que mamam muitas vezes, porque precisam ou simplesmente porque sim, vai depender da idade do bebé e do tempo em que tem a mama disponível, mas se não lhes faz mal nenhum, antes pelo contrário, não vejo porquê limitar essas mamadas. O que as mães têm de perceber é que o bebé não procura a mama apenas quando tem fome, mas sim por que precisa de contacto, calor, carinho, de nutrição emocional e o fantástico é que a mama consegue dar-lhes tudo isso.

9 - Quais são as vantagens da mama em relação ao biberão?

Além das vantagens nutricionais e de saúde, porque nenhum leite artificial consegue ter todos os nutrientes, nem os anti-corpos do leite materno, há muitas outras vantagens. O leite materno é o único alimento que se adapta ao nosso bebé, modifica-se ao longo da mamada e de mamada para mamada. A ciência ainda não consegue explicar bem como funciona mas a verdade é que o nosso corpo recebe a informação do que o bebé precisa, e vai produzir o leite consoante essas necessidades. Tem também vantagens para mãe, a nível de saúde também e acho que não vale a pena enumerar essas porque são muitas e estão disponíveis na maioria dos sites sobre o assunto. Além das vantagens de saúde, há outras: é mais económico e mais prático e o leite materno é um produto sustentável que não prejudica o ambiente.

10 - É possível uma mãe não ter leite?

Sim, efectivamente existe uma doença que pode afectar algumas mulheres, chama-se hipogalactia, que significa escassez de leite, e tal como várias outras doenças afectam algumas mulheres, esta também pode afectar. A questão é que é uma doença muito rara, apesar de muitas mulheres se queixarem de falta de leite. No entanto, a maioria dessas queixas dependem de outros factores e não de uma questão patológica. E tal como indiquei, muitas vezes é essa a função das CAMs, identificar o problema e ajudar a mãe a ultrapassá-lo.


(mais perguntas e respostas em breve)

O pânico da porcaria da mala da maternidade (#02)

A Joana lançou o pânico aqui. Ela tem razão, a verdade é que não temos de levar a casa às costas. Não vamos para o Big Brother, vamos continuar a ter contacto com o exterior e continuar a ter cérebro (apesar de parecer mirrar substancialmente).

A par de preparar o quartinho da Isabel, fazer a mala para a maternidade foi das coisas que mais gozo me deu fazer. Sou mega romântica, gosto de detalhes, sou apegada a coisas como a primeira fralda de pano, o primeiro conjunto, o primeiro babygrow. Sou muito de memórias visuais. 
Andei a namorar as roupinhas e o que eu adorava dobrá-las, fazer os conjuntos, definir qual a primeira roupa, a segunda e a terceira e ainda levar um conjunto extra. Um babygrow querido e quentinho (com golinha, óbvio) caso nascesse durante a noite, e foi o que aconteceu. As roupas (cueiros e respetivas collants, bodies e casaquinhos, pelo sim, pelo não) iam separadas por "envelopes" de fraldas de pano, fechadas com alfinetes de dama cor-de-rosa.

Para mim, uma mala normal de viagem com três camisas de dormir, um robe fininho e bonito, chinelos e pouco mais. Levei kit de banho, claro, cremes e - não gozem! - maquilhagem para a saída (sim, tipo estrela de cinema, pronta a ser fotografada pelos paparazzi).

Como ia para um hospital privado (Hospital da Luz), também não tinha de levar muita coisa. Mesmo assim, não dispensei:

- Spray de água termal da Vichy - Naquelas longas horas de espera em trabalho de parto em que não se pode comer nem beber, borrifar-me foi o que me safou, palavra! Sentia a cara e os lábios sempre hidratados.
- Purelan, da Medela - Pomada para os mamilos - os primeiros tempos da amamentação podem não ser a coisa mais maravilhosa do mundo, porque nem sempre a pega está a ser bem feita, por isso usar purelan ajudou-me bastante.
- Tena Pants - Ah, pois é, minhas amigas, também eu pensava que me ia guardar lá para os 70 anos, mas segui o conselho, experimentei e não quis outra coisa (quer dizer, quis, quis outra coisa, mas enfim, teve de ser). Ainda experimentei uma vez um penso numa daquelas cuecas de rede que nos dão no hospital e não tem nada a ver. Com estas cuecas (ou fraldas, chamemos as coisas pelos nomes) não há risco de nada sair de sítio, ajustam-se bem e estamos sempre confortáveis. Recomendo, sem dúvida!

OUTRAS DICAS:

- Fraldas de recém-nascido não vale a pena levar, fazem parte do "pacote"

- Sei que parece óbvio, mas quando (se) vos rebentarem as águas não se vão lembrar disto: elástico para o cabelo.

- Se forem esquisitinhas aqui como eu, levem máquina fotográfica "à séria" porque, mesmo que não seja para emoldurar ou partilhar no Facebook, vão adorar rever fotografias como deve ser do vosso bebé acabadinho de sair, ainda ensaguentado no vosso colo ou a mamar, com minutos de vida (ainda hoje me comovo a ver essas imagens).

VISITAS:

- Como podem chegar a ter lá 40 macacos enfiados no quarto na hora das visitas, umas 23 horas por dia (não é tanto, mas é essa a sensação), decidam já como querem fazer e vão pedindo - sem vergonhas, porque o momento é VOSSO! - a algumas pessoas para vos visitarem depois em casa. Aquilo já é quente, então com muita gente, não se torna nada confortável.
Para decidir quem vos pode visitar, aconselho a usarem um medidor de décibeis - acreditem que não vão querer a tia surda a perguntar-vos 5 vezes o peso da criança.

Respirem fundo e lembrem-se: é mais fácil do que parece!