5.12.2015

A mãe desbronca-se (#10) - Que carrinho?

Já conhecem a nossa rubrica "a Mãe desbronca-se", não já? Então por que não colocam por lá as vossas questões fofinhas em vez de nos encherem a caixa de email? Hehe
A Sara (e não digo o apelido para não ficar muito envergonhada, fica descansada Sara Branco) fez-nos a pergunta (apesar de ter sido por email!!!), mas eu respondo, porque sou super compreensiva. E querida. Só que aviso já que sou um bocado suspeita. Ofereceram-me este, adoçaram-me a boca, mas a verdade é que não quero outra coisinha. 






É super leve, anda lindamente na calçada, é prático, cabe na bagageira e, mais importante de tudo, é 100% reciclado (tive de ir ver às minhas cábulas: com 5,6 kg de plástico reciclado fazem o chassis e o assento é feito de 62 garrafas PET.).

Se não tivesse gostado, podem crer que não ia estar aqui a elogiá-lo. É como aquela prenda horrível que nos oferecem no Natal e que só desejamos que venha com talão de oferta. Agradecemos, esboçamos um sorrisinho (pela simpatia e pela intenção, que era a melhor), mas não vamos ser hipócritas e desfazer-nos em elogios, dizer que era mesmo o que queríamos e postar fotos no Facebook com a legenda "melhor era impossível". Não ganho absolutamente nada por estar a escrever este post, fiquei mesmo contente com o dito cujo e, caso não conheçam bem esta marca, a Greentom, sinto que estou a fazer quase serviço público.

A Isabel tem ido sempre virada para a frente, a ver a paisagem, para se desenjoar da cara da mãe dela, mas o carro é reversível e os vossos filhos podem levar convosco o passeio todo e vocês aproveitam para não desgrudarem nem um bocadinho das gracinhas deles.

E agora a parte fútil da coisa: tem cores tão, mas tão giras à escolha. Claro que o verde menta tinha de ser a minha escolha (mais que óbvia). Só se houvesse salmão é que a coisa se tinha complicado.

5.11.2015

A culpa foi do hospital.

E acredito mesmo nisso. Tudo bem que não sou médica nem enfermeira (se houver profissionais da saúde por aí, por favor, elucidem-me com factos e com bons argumentos, até porque gostava muito de acreditar que não se cometem crimes deste género em Portugal, que eu é que estou a ser estúpida). 

Gostava muito que tentassem ler o meu texto ignorando o facto de ser uma daquelas "fundamentalistas da amamentação", como as outras mamãs nos rotulam. Não tenho problemas com esse rótulo. 

Adiante. 



O meu parto foi complicado, blá blá, suspeitou-se que eu tivesse apanhado uma infecção e a Irene também e, então, a Irene teve de passar a segunda noite sem mim no hospital. Acho que isso quer dizer ficar numa sala ali ao lado. Tiveram de lhe controlar a febre, acho eu, fazer análises várias vezes e, por isso, ficou longe de mim. 

Quando voltou, veio uma enfermeira com ela ao colo e com uma garrafa de leite artificial a dizer: "Já viu? Ela bebe sozinha!" - parecia que a miúda estava a agarrar a garrafa sozinha.  

Confesso que, na altura, não era tão informada como agora e tinha as minhas mamas em sangue porque a enfermeira que a pôs a mamar em mim depois do parto, infelizmente não ajudou a Irene a fazer uma boa pega e, não tendo eu sensibilidade por estar toda drogada, ela esteve uma hora a mamar ao lado do mamilo, mas na aureola. Vi a Irene a beber o biberão, não gostei, mas pensei: "é só enquanto as minhas mamas estão assim, já volto a tentar". 

E tentei. Tentei durante o dia inteiro. Queria muito dar de mamar. Muito. Apesar dos meus mamilos, na altura, não parecerem grande espingarda para isso. Não queria desistir. Sempre que ela chorava, convenciam-me (os profissionais) de que era fome e lá lhe espetávamos mais um mini-biberão já preparado de leite artificial. 

Continuei a tentar. As enfermeiras também tentavam ajudar-me, mas "sempre de passagem". Nunca ninguém ficou ali comigo, a tentar perceber por que é que eu estava a chorar, por que é que eu estava a sentir-me falhada, a melhorar a pega...  Uma delas até pôs "um doce" (uns dias depois vim a perceber que podia ser Aero-Om - bitch please... tinha um dia de vida!) no meu mamilo para ver se a Irene agarrava melhor.

Saí do hospital muito triste com isto da mama. Só tinha colostro e fizeram-me crer que o que eu tinha para a minha bebé não era suficiente, que já me devia ter descido o leite. Tinham passado dois dias. Do que li, além dos bebés não precisarem mais do que o colostro nos primeiros dias, também não têm estômago para muito mais. E dar mais, faz-lhes mal. Alarga-lhes o estômago, entre muitas outras coisas. 

Viemos, com a simpatia das enfermeiras, apetrechados de umas 4 garrafinhas ou 5 daquelas do hospital (ainda me lembro da marca, claro, espertos os tipos da Nestlé) e depois comprámos uma lata na farmácia. 

A Irene andou a leite artificial durante os primeiros dias de vida. 

Não morreu, não. Mas ficou alérgica à proteína do leite de vaca. 

Está mais do que provado que um contacto tão precoce com leite artificial pode provocar esta reacção do organismo. O hospital onde tive a Irene não era "amigo do bebé", não tinha os devidos apoios para a amamentação (deviam ser todos os hospitais "amigos do bebé ou não"?) e, então, lá distribuíam aquelas garrafinhas de leite que, na altura, pareciam mágicas. 

Assim que me desceu o leite, passei a amamentar a Irene em exclusivo até aos 6 meses. Custou-me muito. Um dia falo sobre isso. Tivemos de ultrapassar, em família, muitos desafios e com muita perseverança. Muita mesmo. Conseguimos e é a minha coisa preferida de sempre, dar maminha.

Aos 6 meses, eu ia trabalhar e as papas que fazíamos com o meu leite ficavam demasiado líquidas para o meu marido (que ia ficar com ela) lhe dar. Ficava enervado e eu não queria que o momento deles fosse assim, não iria ficar descansada. Pensei: "também, se for uma papa com leite artificial, não há de morrer por causa disso". 

Passado uma semana ou duas, teve uma reacção enorme de alergia ao leite artificial da papa, vieram cá, de ambulância, observá-la e tivemos de ir para o hospital para ela apanhar uma injecção de adrenalina. 

Desde aí, só leite da mamã e muito cuidado para não comer nada com leite. Nada. Nem as bolachas Maria da Isabel da Joana Paixão Bras, o que me ia escapando. Ainda para mais, quantas mais vezes se contacta com o que provoca a alergia, pior o ataque. 

Tive também de deixar de consumir tudo que fosse de leite ou contivesse leite e derivados. Sabendo que não lhe iria fazer bem, não tive outra hipótese.



Para confirmar que era alérgica à proteína do leite de vaca (APLV), tivemos de fazer análises ao sangue da Irene. Foi a pior coisa da nossa vida. Tiveram de picá-la mais de 15 vezes em cada braço. Não conseguiam encontrar uma veia com sangue suficiente e, assim, o sangue também coagulava mais rápido. Chorei. Chorei. Chorámos. Chorou. Parou de chorar como medida de protecção do cérebro por causa do nível de stress (cortisol). E foi aí que os mandei à merda: "não mexem mais, não quero saber". Já tinham o suficiente para a análise à alergia, era o que interessava (escrevi sobre isso aqui). 

Uma alergologista, colega da nossa pediatra, disse que não podíamos averiguar se ela ainda é APLV ou não, dando-lhe leite sem antes fazer análises ao sangue. Fora de questão. Fora de questão.

Fomos pedir uma segunda opinião e hoje fomos fazer testes de alergia cutâneos (aqueles das mini picadinhas com gotas) e... que descanso. Se foi o melhor dia das nossas vidas? Não. Muito demorado. Estivemos no hospital desde as 9h30 até ao 12h30 sempre a dar gotinhas de leite para ver como reagia. 


(sim, era para mostrar a tatuagem :))




E, pelos vistos, agora está boa!

Temos de ir introduzindo as coisas com cuidado e vamos começar com iogurtes (ainda tenho de investigar se são uma mais valia ou não). 

Isto tudo seria desnecessário se o hospital não cometesse este género de crimes. Sabiam que, no Brasil, dar leite artificial aos bebés no hospital é crime? Foi o que me disse uma obstetra. Se houver aí gente do Brasil que me ajude a esclarecer melhor isto.

Fica o aviso para as mamãs to be. Escolham hospitais "amigos dos bebés" ou informem-se o máximo que puderem sobre amamentação antes ou orientem já uma estratégia de apoio caso seja necessário. 

Há ajuda na Linha SOS Amamentação e em vários grupos no Facebook sobre amamentação. Procurem por Conselheiras de Amamentação (CAM). 

Não quero que passem o mesmo com os vossos bebés que eu passei. Podia ter sido pior? Podia. Podia nem sequer ter sido? Epá, podia. 

A culpa também foi minha que devia ter-me informado, mas continuo a achar que isto não deveria acontecer em lado algum, muito menos num hospital. 

Pelo menos que me informassem dos riscos, tal como fazem quando há operações ou recomendam medicamentos esquisitos. 

É isto. 

Afinal Havia Outra (#24) - O dilúvio

Pois bem, todas nós (a grande maioria, vá) das mulheres já passou, passa atualmente ou irá passar um dia esta maravilhosa fase da vida que é a maternidade, mais nos vale saber de tudo e encarar tudo com a maior naturalidade. Se possível, rir-nos dos momentos mais estranhos ou sensíveis. No fundo, não levar isto demasiado a sério e não se desfazer em ranhos porque, para nós, ser mãe não é tão bonito e glamoroso como se lê na maioria dos livros ou se vê nos mais bonitos e delicados blogues.
A minha gravidez foi um mar de rosas, eu fui aquela grávida que evangeliza todas à sua volta para fazerem o mesmo! Relatada por mim, a gravidez era o tal estado maravilhoso, em que inchamos um pouco, mas estamos lindas de morrer, porque estamos a fabricar um ser fofinho. Tiramos fotos lindas, e mesmo que não estejamos muito bem, não faz mal, porque toda a gente vai adorar e dizer que estamos super bem e vamos ter mil likes onde quer que publiquemos a foto.


No meu caso, como vivo em Edimburgo, na Escócia, era ainda mais fácil de fazer a todos os amigos em Portugal acreditar que era tudo lindo e maravilhoso.
E a verdade é que era.
Enjoos? Nada.
Pés inchados? Nunca tive.
Aumento de apetite? Também não (mas não quero que me odeiem já. Nunca fui magra e no meu caso a barriga fofinha a quem sempre carinhosamente chamei de pipo, até serviu para me disfarçar aquelas gordurinhas típicas da zona lombar. Pneu! )

A única coisa que tinha eram de facto, algumas dores de costas, mas convenhamos, temos uma mini pessoa a levedar dentro do nosso corpo! Acho que é o mínimo que temos que sentir!

Tudo corria realmente impecável, até ao dia em que completei 27 semanas (6 meses em tempo de gente normal).
Estava no sofá com o marido, depois de decidirmos faltar a uma festa de aniversário em prol de um documentário sobre o 11 de Setembro (foi a 13 de Setembro) quando senti que se me escapava algo líquido. 
“JÁ?” –pensei eu, lembrando alguns textos lindos sobre perder o controlo dos músculos vaginais ao espirrar ou tossir no final da gravidez. Era um pouco cedo, mas se calhar já estaria em tal estado cachalote que já não me segurava.
Discretamente me levantei (tão discreta quanto pode ser uma pessoa redonda, em modo pino de bowling) e fui ao quarto de banho, não querendo por nada deste mundo partilhar tão belo momento com o marido.
Sento-me de novo e de novo um pequeno geiser. Neste momento a minha vontade de chorar já era bastante, mas controlei-me pois visto estar a perder liquido por outros meios, estava obviamente preocupada com uma desidratação.
A verdade é que o controlo de choro de uma grávida é tão resistente como um guarda chuva dos pequenos num dia de vento extremo. Virou.
Lembro-me de, entre baba e ranho, divagar sobre como iria conseguir sair de casa nos três meses que faltavam, naquele estado de incontinência grave. O marido, coitado, tentava de tudo para me acalmar. Em vão, claro está!
Preparamo-nos para ir ao hospital, e nos entretantos, eu já tinha molhado dois pijamas, umas calças de ganga e ensopado duas toalhas de banho. Das grandes.

A verdade é que aos 6 meses de gravidez, rebentaram-me as águas. Nem queria acreditar no que diziam os médicos e enfermeiros. Foi o maior susto das nossas vidas e estávamos sozinhos, noutro país.
Não foi fácil, mas correu tudo bem! Acho que nestas situações o melhor é seguir em frente e ter esperança!
O bebé era pequenino, mas estava bem e felizmente não achou que era hora de nascer. Fiquei de repouso e aguentamos assim mais um mês.
Fiz tricot para me entreter, apesar de não me ter entretido muito, pois a única peça que teve vida não serve nem para cachecol do puto. E olhem que o puto é bem pequeno!
Aos 7 meses (ou 31 semanas) nasceu o Vasco, com 1,530kg e uns bons 38cm. Um pequeno campeão.
Apesar de todo o perigo inerente a esta situação, ele esteve 1 dia no ventilador (apenas 1, ainda há quem não acredite), 15 dias na incubadora e 24 na Unidade Neonatal.
Até agora, não teve problema nenhum e é um bebé relativamente calminho e bastante fofinho.
Tem olhos azuis, o que é estranho pois nem eu nem o pai dele os tem, e começa agora, depois dos 3 meses, a ficar um pequeno buda e a encher os refegos das pernas, como se quer!
É uma alegria passear com ele na rua, e explicar que não, ele não acabou de nascer e sua mãe inconsciente anda já a arrastá-lo pelo frio escocês. É sim, um prematuro de 3 meses e meio que até nunca esteve doente. É só mais compacto que o normal, uma pocket version.

Ou então às tantas digo que sim, nasceu há duas semanas e eu é que já recuperei dos 15kg que ganhei.
Era capaz de não fazer muitas amizades!!!

Elsa Maria Gomes
mãe do Vasco